Introvertendo 123 – Leo Kanner

Este episódio é o primeiro da nossa série de 10 figuras importantes na história do autismo que, uma vez a cada mês, contará narrativas rápidas de nomes que influenciaram diretamente a forma como pensávamos ou pensamos autismo, com locução de Luca Nolasco. Na estreia, o ponto central é o psiquiatra Leo Kanner. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio  

É comum a gente ouvir que é preciso estudar o passado para entender o presente. Pode-se dizer o mesmo quando se fala na história do autismo. Encontramos diversas discussões e polêmicas ainda hoje sobre a condição. Mas já parou para pensar o quão controversas foram algumas de nossas figuras históricas mais marcantes? É por isso que vamos fazer um resgate histórico simples e breve sobre essas personalidades uma vez por mês, nesta parceria entre o podcast “Introvertendo” e o portal “O Mundo Autista”. Com vocês, Leo Kanner.

Para começar, Leo Kanner era considerado um dos maiores psiquiatras infantis do mundo. Isso já na década de 30, quando a subespecialidade ainda era recente. Em 1943, ele foi o primeiro a descrever as características que levaram o autismo a se tornar um diagnóstico específico. Você provavelmente já ouviu a expressão “Autismo de Kanner”. De fato, a visão dele sobre o que seria a síndrome reinou soberana por quase cinquenta anos.

Kanner nasceu na Áustria-Hungria em 1894. Ele teve criação judaica, como boa parte dos moradores da região à época. O pai dele tinha alguns sinais dos pacientes que viria a examinar. Kanner herdou da mãe as boas habilidades sociais e a necessidade por aprovação. Ele ignorou os conselhos para se tornar rabino e formou-se em medicina em 1921, na mesma década em que se mudou para os Estados Unidos, onde se tornaria o pai da psiquiatria americana.

Kanner era uma figura bastante popular nos Estados Unidos pela sua boa relação com a imprensa. Durante a Segunda Guerra Mundial e a ascensão do nazismo na Europa, ele ajudou vários médicos judeus a saírem da Alemanha e Áustria, nas crescentes ameaças do Terceiro Reich. Entre as pessoas que ele ajudou e se aproximou, estavam George Frankl e Anni Weiss, que já trabalhavam com alguns casos possíveis de autismo na década de 1930.

Foi trabalhando como psiquiatra na Universidade John Hopkins que ele travou seu primeiro contato com Donald Triplett, a primeira pessoa a ser diagnosticada com autismo no mundo. Ele observou as semelhanças entre este primeiro caso e o de outras dez crianças e, daí, por meio de sua apresentação, começou a tomar forma o que hoje conhecemos como autismo.

Esta pesquisa se consolidou em uma obra chamada “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”, publicada na revista Nervous Children em 1943. Na visão de Kanner, as crianças de sua pesquisa eram emocionalmente e socialmente distantes, tinham comportamentos repetitivos, deficiência cognitiva e ausência de fala. Ele chegou a afirmar que a condição era extremamente rara, algo que foi se desconstruindo ao longo das décadas que viriam.

A contribuição do médico, claro, também envolve uma controvérsia ainda maior. Em um artigo na revista Time, de 1948, Kanner escreveu que os pais restritivos conservavam meticulosamente “as crianças com autismo em uma geladeira que não descongelava”. A metáfora gerou a expressão “mãe geladeira”. Este conceito, com base na psicanálise, responsabilizava as mães pelo autismo dos filhos como uma espécie de consequência da falta de afeto delas.

Antes de morrer, Kanner voltou atrás em suas afirmações. Por isso, as avaliações em torno de sua biografia são até hoje discutidas. O jornalista Steve Silberman, em seu livro Neurotribes, teceu várias críticas ao psiquiatra, especialmente por suas controvérsias. Por outro lado, John Dovan e Caren Zucker, em Outra Sintonia, estabeleceram-o como figura central na concepção do autismo como diagnóstico.

Na década de 1940, um outro pesquisador, também controverso, desenvolvia estudos similares sob uma perspectiva diferente. O nome dele era Hans Asperger e somente nos anos 80 a junção da visão de ambos por uma terceira pesquisadora, Lorna Wing, começaria a desenhar o espectro do autismo como conhecemos hoje. Mas tudo isso é assunto para próximos episódios. Não perca!

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Equipe Introvertendo Escrito por: