Introvertendo 206 – Idosos Autistas

As experiências de autistas idosos ainda são pouco abordadas nos debates sobre o autismo, ainda mais no Brasil. Em comemoração ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo de 2022, Thaís Mösken conversa com Nairan Ballesta, que tem 62 anos, é professor de filosofia e diagnosticado com autismo depois dos 50 anos. Ele aborda as dificuldades que teve na vida escolar e profissional e o impacto que o diagnóstico teve na sua qualidade de vida. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Thaís: Um olá pra você que é ouvinte do Introvertendo, esse podcast feito por autistas para toda a comunidade. O meu nome é Thaís Mösken, eu sou autista, hoje eu trabalho como administradora de sistemas, tenho 30 anos e fui diagnosticada em 2018. E hoje eu vou ser host deste episódio em que a gente vai falar sobre autismo na terceira idade e que é o nosso episódio especial de 2 de abril. E a gente está aqui com o Nairan. Nairan, por favor se apresente.

Nairan: Então eu sou o Nairan, estou dentro do espectro autista. Tive um diagnóstico sobre isso somente com 52 anos de idade. Eu atualmente sou professor, já trabalhei com muita coisa, acho que a gente vai ter um tempinho pra falar um pouco sobre isso e tô com 62 anos, indo pra 63, é isso.

Thaís: O Introvertendo é um podcast feito por autistas com a produção da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Thaís: E aqui no podcast a gente já fez algumas entrevistas, já falamos sobre autismo na infância. Mas eu acho bem interessante falar agora com alguém que teve um diagnóstico tardio. E hoje em dia, quando a gente fala de diagnóstico tardio, a gente está falando de coisa de quem é diagnosticado aos 20 anos, aos 30 anos.

Então sendo diagnosticado depois dos 50 anos, Nairan, uma das coisas que você contou pra gente foi que você passou por várias e várias profissões, né? E eu queria saber quais foram as principais dificuldades que você teve aí na sua vida profissional, inclusive que acaba fazendo com que você tenha tido que passar às vezes de uma profissão pra outra.

Nairan: Eu desde muito cedo olhei o mundo, a vida, o que eu percebia, a realidade que eu notava sempre como alguma coisa externa a mim, algo em que eu estava realmente numa posição de observação. E como eu sempre me senti nessa posição de observação e realmente nunca tive aquela construção que eu vejo que é muito comum perguntarem pra pras crianças, “O que você vai ser quando crescer”. Isso sempre pareceu pra mim uma coisa sem sentido. Como você vai ser? Eu sou, eu sou eu.

É claro que quando começou a chegar a adolescência eu percebi que nem tudo eu poderia realmente fazer. Porque a minha capacidade nas dificuldades sociais me impediam de exercer atividades comerciais, de venda, e eu percebi também que atividades que envolviam, por exemplo, corte, sangue, injeção, agulha, as coisas assim, me causavam uma angústia muito grande. Então, eu toda essa parte de medicina, de coisa assim, também já tava fora. A parte administrativa, eu sempre tive uma dificuldade muito grande com burocracia. Na tentativa de conseguir recursos, porque pra mim acabou sendo assim, a tentativa de conseguir recursos porque eu tinha que sobreviver, tinha que conseguir dinheiro ou as coisas que eu necessitava.

Então eu acabei focando mais pras áreas técnicas e eu sempre tive muita facilidade. Só que ao lado disso eu tinha uma dificuldade muito grande de convivência e de entender o que se esperava de mim. Eu era muito espontâneo, eu falava as coisas sem filtro. Você tinha que criticar alguém superior eu criticava e acabava perdendo o emprego por causa dele de coisas assim (risos).

Eu lembro bem de um emprego que eu tive que eu fui contratado para cuidar da parte de serigrafia só que era de uma indústria, não era serigrafia de teste ou coisa assim, era uma indústria que dependia dessa parte de circuitos impressos e fazer coisas assim. E na primeira semana eu fui lá e ajeitei toda a parte dessa serigrafia com emulsões, com a forma de limpeza de telas e com uma série de coisas da maneira como eu achava mais eficiente. O dono da empresa mais ou menos depois de uma semana ele veio lá pra ver. Eu estava fora e ele modificou todo o sistema que diz que não gostou da forma como estava arrumado.

E a hora que eu cheguei que eu vi tudo aquilo bagunçado lá e vi mudado da maneira como eu tinha deixado e ele também trocou a emulsão que eu tinha escolhido uma, ele trocou por uma outra e eu sabia que aquela emulsão ia dar problemas, no meio da fábrica eu confrontei ele. Eu cheguei e perguntei: “Por que o senhor mudou tudo aquilo lá?”. “Ah, porque eu pus o que eu achava melhor”. E eu assim, sem papas na língua, eu falei: “o senhor não sabe do que o senhor está falando. O que o senhor fez lá vai ser dinheiro jogado fora porque aquela emulsão não presta. E o senhor simplesmente fez foi jogar fora o seu próprio dinheiro. O senhor não sabe do que o senhor está falando”. O resultado foi que eu não terminei nem o dia. Ele me mandou embora na hora, né.

Então eu acabei passando por uma série muito grande de trabalhos. A minha média de permanência nos empregos era de 3 a 6 meses. Eu não conseguia passar disso. A única coisa que eu realmente fiz por minha vontade mesmo quando eu era mais novo foi a minha tentativa de trabalhar na aviação. Quer dizer, tentativa não, porque eu trabalhei na aviação. Porque uma das paixões que eu tinha desde pequeno era aviação, só que eu queria ser piloto, mas não pude ser piloto. Trabalhei como eletricista de aeronaves.

A minha história de trabalho foi sempre assim começando e começando com expectativas grandes das pessoas que me contratavam a respeito do meu trabalho e essas expectativas morrendo de pouco em pouco porque eu não conseguia suprir o que esperavam não pela parte técnica, mas pela parte de trabalho mesmo. E eu acabava faltando de profissão em profissão.

Thaís: Bom, realmente você teve vários empregos diferentes, eu imagino que tenha sido uma fase bastante desgastante, pelo menos pra mim essas mudanças de rotina são bem cansativas. E eu queria saber então se não só durante esse período, mas principalmente durante esse período em que você precisa buscar um novo emprego ou precisava tentar entender o que estava acontecendo em um emprego em que você estava… Durante esse período você teve apoio seja da sua família, de amigos ou de qualquer outro tipo assim de outras pessoas?

Nairan: Durante quase toda a minha vida, até perto dos 40 anos, dependi financeiramente da minha família. De coisas que meus irmãos davam, minhas irmãs, ajuda financeira, roupa, comida, moradia, eu vivia na casa dos meus pais. Essa parte toda financeira sempre foi muito complicada. Quando eu atingi mais ou menos meus 18 anos eu saí, e eu fui rodar o Brasil. E durante mais ou menos uns dois anos eu rodei simplesmente todas as regiões do Brasil, praticamente todas as cidades ou grandes cidades com uma mochila nas costas e só. Nesse tempo eu sobrevivi através mesmo da boa vontade e da caridade das pessoas com quem eu encontrava. E assim também fazendo pequenos serviços, consertar uma questão elétrica ou de encanamento em alguma casa, em troca disso eu conseguia um prato de comida e um lugar pra dormir uma noite. Vivi dois anos assim rodando. Desde Porto Alegre até a divisa lá com Colômbia e com a Venezuela. Manaus, Belém… Eu rodei o Brasil inteiro.

Agora em casa mesmo, quando eu estava em São Paulo, eu sempre dependia dessa ajuda que vinha dos meus irmãos. Algumas vezes eu trabalhei assim em empresas, por exemplo, que o meu irmão tinha. Tenho uma irmã que atualmente mora lá nos Estados Unidos, que ela sempre me ajudou muito também. Eu não tinha praticamente nada. Eu não comprava roupas. Porque eu não tinha condição de gerar uma constância que me permitisse ter aquela solidez.

Thaís: E uma coisa que eu já ouvi muito, principalmente da minha mãe, é a questão de que as vezes tem um jeito de você fazer uma coisa, a mesma coisa pode ser feita de jeitos diferentes e supostamente tem o jeito certo. Então eu achei interessante você falando a forma como você criticava algumas pessoas do trabalho e acabava sendo retalhado por isso. E supostamente para algumas pessoas existe um jeito certo de se fazer essas coisas que não necessariamente a gente descobre qual é o jeito certo.

E pra mim isso tem a ver com a forma como as pessoas ensinam às vezes alguns assuntos pra gente. Então assuntos técnicos eu também tenho mais facilidade de entender porque pra mim é uma questão lógica, é assim, então tal coisa. Mas algumas outras coisas como essas questões sociais não são tão simples de se ensinar. Pelo menos o jeito como elas são ensinadas nunca funcionou muito bem pra mim.

Então eu queria saber de você Nairan a questão de estudos em geral. Sabemos que você já concluiu a sua faculdade, mas a gente sabe que durante muitos anos e nem sempre a forma como ensinam pra gente os assuntos é adequada. Então como foi a sua experiência estudando, seja na faculdade, seja na escola, a forma de você aprender era compatível com a forma como era ensinado?

Nairan: Essa coisa do estudo sempre foi pra mim um problema muito sério. Quando eu chegava na escola, eu sempre tive uma capacidade grande e eu sempre preferi o conhecimento explanado. Então acontecia muito na época que eu estudava que tinha assim o primeiro, segundo quando vinha uma um tema novo, uma matéria nova que o professor, a professora, explanava o que que eles iam dar. E eu ficava super atento ali ouvindo aquela explanação e aí pra mim aquela explanação bastava. E aí depois vinham exercícios e os colegas, alunos que ficavam perguntando de novo e repetia e tal. Só que aquilo já não me interessava mais. Então o que acontecia é que eu dormia na sala de aula. Eu também tive muita dificuldade sempre de manter cadernos.

Só que quando chegava as provas, eu ia bem nas provas. E aí gerava problemas sérios porque eu fui acusado muitas vezes de colar e professores diziam: “não, ele cola, é impossível, ele cola porque ele fica dormindo o tempo todo na sala de aula e aí chega e vai bem na na prova, eu só não sei como que ele tá colando”. O resultado disso é que eu abandonei a escola quando tava lá no que antigamente era chamado de sétima série, né?

Eu só retomei essa coisa de estudos quando eu já tava casado com os meus 40 e poucos anos que eu precisava, foi por necessidade. Na época minha esposa falou pra mim: “não, você tem que fazer”. Aí eu tentei voltar pra escola e não deu certo porque eu não conseguia me adaptar àquilo. Depois do diagnóstico, eu já estava com 52 anos, fiz o ENEM, passei e ganhei a bolsa de estudo integral que me possibilitou estudar, porque eu não tinha recurso também para pagar uma faculdade. Não tinha como. E aí eu optei por filosofia.

Eu simplesmente adorei a faculdade. Por quê? Porque na faculdade não tinha ninguém me pressionando, me dizendo que eu tinha que ver o que eu… quer dizer, davam as listas livres e a gente podia conversar direto com os professores, era dada a explanação, era dadas as as explicações. Eu podia fazer justamente aquilo que eu queria fazer quando era pequeno e não conseguia. Mas ela só veio depois do diagnóstico.

Thaís: Então, Nairan, aproveitando que você estava falando sobre o seu diagnóstico e a importância que isso teve até pra você saber lidar com as várias coisas, a gente queria que você contasse um pouco como foi o processo do seu diagnóstico. Então como que você chegou no diagnóstico de Síndrome de Asperger, que eu sei que hoje em dia não é mais chamado assim, mas que você próprio gosta que prefere que seja assim.

Nairan: Eu prefiro manter essa denominação. Mas é assim, eu digo que o diagnóstico foi construído ao longo do tempo e que ele foi construído por uma percepção mínima, uma insistência minha. O final desse processo é que foi o profissional ou, no caso a profissional, porque foi uma doutora infelizmente já faleceu, que fez com tudo aquilo que eu fui amealhando, né? E trouxe pra ela, ela examinou, verificou, aí teve todo um processo junto comigo e tal e fechou o diagnóstico. Mas isso foi o final do processo, né? Por quê? Porque essa questão da busca por um diagnóstico ou a busca por entender quem eu era, isso começou lá de muito pequeno.

Eu percebia que eu era diferente. Até pra tentar entender essa diferença, eu criei uma metáfora do aquário. Eu percebia que o peixe lá dentro não estava no lugar que ele deveria estar, ele parecia meio diferente, às vezes parecia maior, às vezes: “poxa vida, é isso que acontece comigo”. Existe uma distorção na percepção da realidade. Eu estou vendo tudo como se estivesse olhando pra um aquário. Então eu comecei a imaginar inicialmente que as pessoas estavam dentro de um aquário e eu estava do lado de fora olhando e seja lá o que for que estivesse servindo de água, causava uma distorção na minha forma de perceber as pessoas, como as pessoas se comportavam, faziam essa coisa toda. E aí eu comecei a usar isso pra me dar uma referência minha pra eu entender a minha situação.

Depois foi passando o tempo e eu percebi que eu é que olhava tudo distorcido e não eram as pessoas. As pessoas pareciam estar muito bem. Então eu mudei esse conceito. Então espera aí! Então não são as pessoas que estão dentro do aquário! Sou eu que estou dentro do aquário! Porque elas estão vivendo a vida delas muito bem. A minha vida é que não se adapta. E e com o tempo eu fui considerando que a água do aquário seria realmente as relações sociais. Seria justamente as relações sociais que eu não conseguia ver. E aí se o problema está comigo, então cabe a mim buscar uma forma de superá-lo, de enfrentar ou de pelo menos me virar a respeito disso.

Por isso é que eu acabei chegando até com a ajuda da minha irmã daqui de São Paulo no diagnóstico do déficit de atenção. Mas eu percebia que não era só isso. E nessa alguma coisa a mais, eu acabei chegando na questão do Asperger. E aí a hora que eu vi que eu me aprofundei, que eu comecei a estudar, pensei: “O que eu tenho é isso. Isso explica a minha realidade, isso explica o meu aquário”.

Thaís: E como foi pra você, uma vez que você tenha chegado a essa conclusão e tido seu diagnóstico, o que isso mudou na sua vida, o que isso impactou pra você?

Nairan: Isso pra mim mudou tudo. Tudo, absolutamente tudo. Porque aí eu já não estava mais perdido em alguma coisa que eu não entendia. Aí eu já sabia pra onde olhar. Foi a grande virada da minha vida. Nessa época do diagnóstico, eu encontrei também várias pessoas que me criticaram bastante por causa dessa coisa de buscar um diagnóstico. E eu encontrei assim por exemplo falas do tipo: “essa coisa é só um rótulo, nós não podemos ficar presos a rótulos”. E aí eu percebi o seguinte, peraí, essa fala não tem lugar de direito.

Rótulos, tudo bem, dá pra perceber, dá pra perceber claramente que se rotula, mas os rótulos nesse sentido pejorativo da palavra, isso também é uma construção social. E eu já tive durante todo o meu desenvolvimento, problemas com essas construções sociais. O diagnóstico não era me rotulando de alguma coisa. Ou seja, não era uma dizendo algo pra mim que era arbitrário, que era simplesmente alguém apontando e fala: “ah, você é isso”. Não!

O diagnóstico pra mim era a constatação de um ponto de partida. Então, eu passei a entender dessa forma. Se eu quero chegar em algum lugar, eu quero ir sei lá pra Fortaleza, eu preciso saber onde eu quero chegar. Mas eu não vou chegar nunca lá se eu não souber de onde eu tô partindo, tá? E eu não estava conseguindo chegar durante a minha vida, eu não tava conseguindo chegar nos lugares que eu queria porque eu não sabia a partir de onde eu estava partindo. Então o diagnóstico foi isso. Me deu a referência que eu precisava pra saber meu ponto de partida.

Thaís: Pra mim também é bem importante essa questão de a gente usar o diagnóstico como autoconhecimento e como uma forma de entender o que vai funcionar pra gente, o que vai fazer com que a gente realize o que a gente quer realizar, né? Claro que existem muitas dificuldades no caminho e as pessoas são muito diferentes, mas eu acho que autoconhecimento também é bem importante pra esse tipo de coisa.

Então, só pra fechar, Nairan, eu queria que você falasse um pouco sobre as suas experiências com relacionamentos. Não necessariamente relacionamento amoroso, mas relacionamento de amizade e outras interações sociais agora mais na sua vida adulta e antes e depois do diagnóstico também o que que isso pode ter influenciado. Você falou um pouquinho da sua infância já, mas e depois que você cresceu e passou a ver as coisas de outro modo?

Nairan: Eu sempre tive dificuldades de relacionamento. Sempre. Mas eu sempre gostei das pessoas (risos). Eu sempre tive interesse pelas pessoas. Mesmo elas me parecendo uma incógnita em muitos aspectos. Só que eu não conseguia criar convivência social em larga escala. E eu nunca consegui viver totalmente sozinho, totalmente isolado. Eu sempre estive no meu mundo, na minha, mas eu sempre precisei de alguém do meu lado.

Então, o resultado é que, por exemplo, na escola, eu sempre tinha um amigo que eu ficava colado nesse amigo. Na igreja eu também tinha um ou dois amigos que eu também ficava colado nesse amigo. Por que? Porque era sempre essas pessoas com que eu estava junto, essas pessoas é que enfrentavam a parte social mesmo. E eu ia assim no embalo, né? Aproximava, colava na pessoa como referência de como me comportar, do que fazer, quando chegava numa situação, num lugar, numa festa, num evento, numa coisa e tal, eu sempre tinha as pessoas de referência para saber o que que eu fazia, onde eu ia, até o que eu comia, o que eu pegava, o que eu bebia pra pra parecer tão fora da realidade, né? Meio que foi assim a minha vida social.

Thaís: Você teve bastante experiência em várias áreas diferentes aí, achei legal você ter compartilhado isso em diversos aspectos, não apenas em um deles. E eu queria saber então como é a sua vida hoje se você quer deixar alguma mensagem final aí, qualquer coisa que eu não tenha perguntado e que você queira falar, fica a vontade pra gente encerrar.

Nairan: Minha vida hoje está transcorrendo de uma forma que eu não imaginei mesmo que fosse possível eu estar vivendo assim nos momentos piores lá no passado, que eu não não conseguia ver nada de de perspectiva de futuro. Eu hoje vivo bem, simplesmente vivo bem. Eh vivo dentro das minhas possibilidades, dentro daquilo consigo fazer, daquilo que eu consigo perceber. Adoro estar em sala de aula. Hoje eu tenho uma estabilidade financeira, coisa que passei quase minha vida toda sem ter. Hoje eu tenho uma companheira, que não estamos casados, mas assim cada um vive (como o pessoal fala) no seu quadrado. Mas que a gente consegue conviver muito bem, repartir coisas, dividir coisas que nós temos.

Então tenho essa minha companheira que também está dentro do espectro autista, eu estou com sessenta, ela está chegando na fase cinquenta. Mas enfim, é isso.

Thaís: E atualmente a pesquisa sobre autismo em idosos ainda é pouco comum no mundo. E teve um estudo em 2021 que revelou que só 0,4% dos estudos sobre autismo na última década são a respeito de idosos. Recomendamos o artigo e o link que está na descrição do episódio lá no site. E a partir desta semana até o final de maio vai ter episódio do Introvertendo toda semana. Até mais!

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Equipe Introvertendo Escrito por: