Introvertendo 147 – Raça: Pessoas Negras do Brasil

Há mitos significativos em torno de como a sociedade brasileira lida com o racismo. Nesta conversa com a historiadora Luana Tolentino, destrinchamos o porquê o racismo no Brasil ainda não constrange o suficiente e o efeito disso no dia a dia da população. Locução: Luca NolascoTiago Abreu. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Tiago: Este episódio é o terceiro da nossa série sobre Raça. Se você ainda não ouviu os dois anteriores, recomendo bastante que ouça.

(Abertura Introvertendo)

Tiago: O professor Milton Santos, que nasceu em 1926 e morreu em 2001, é reconhecido mundialmente como um dos maiores geógrafos brasileiros. Em um texto de 2000 chamado “Ser negro no Brasil hoje”, ele disse:

Luca: “A naturalidade com que os responsáveis encaram a discriminação, o racismo e o preconceito é indecente, mas raramente é adjetivada dessa maneira. Trata-se, na realidade, de uma forma do apartheid à brasileira, contra a qual é urgente reagir se realmente desejamos integrar a sociedade brasileira de modo que, num futuro próximo, ser negro no Brasil seja, também, ser plenamente brasileiro no Brasil.”

Tiago: Com base nessa reflexão, começamos a pensar nas formas como a questão negra está intrincada com o nosso país, seja pela cultura, mas também ao longo da história. Meu nome é Tiago Abreu, e esta é a terceira parte da reportagem Raça.

Luana: Bom, então, Luana Tolentino, educadora, sou formada em história, e desde 2018 atuo como professora da educação básica e aí eu eu fiz uma pausa, dei aula em escolas de ensino pública, escolas públicas, de ensino fundamental tal em média até…

TiagoFoi, então, que eu pedi para que ela fizesse um panorama da luta antirracista no Brasil e explicasse para nós o porquê a questão do racismo não é apenas um detalhe dentro da nossa sociedade.

Luana: É um equívoco grande achar que tá tudo bem, que o preconceito dá somente de maneira velada. A gente tem visto cotidianamente, diariamente, manifestações cada vez mais violentas de racismo, seja por parte da polícia nessa coisa do genocídio da juventude negra. Nós estamos num país que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado. E com essa coisa da internet, todo dia viraliza um vídeo de agressão, de agressão física, de agressão verbal, de perseguição e aparecimentos de estabelecimentos comerciais, de ataques na internet. Então, eu entendo que nós estamos com período de arrefecimento da luta, antirracista. As pessoas estão se sentindo cada vez mais autorizadas a serem racistas. Eu falo que os racistas deliberadamente saíram do armário. Então, não dá, de forma alguma, pra gente pensar que como as pessoas falaram muito tempo que racistas são os norte-americanos que implantaram o regime do Apartheid e aqui é como que fosse um paraíso racial, quando na verdade não é. Então há mais de um século, sujeitos negros por meio de iniciativas individuais tem denunciado os impactos do racismo na caminhada dos sujeitos negros. Nós vivemos em uma sociedade em que nega esse sujeitos o direito à educação, a saúde, a moradia. O professor fala que no Brasil a pobreza tem cor, a pobreza é negra. Então, a maioria da população pobre em estado de miséria nesse país é a população negra. E aí, com a questão da pandemia, isso torna ainda mais evidente. Porque quando pegamos os números da Covid-19, é a população negra que tem apresentado os maiores índices de mortalidade. Então não dá pra achar porque hoje nós temos uma presença maior da população negra na universidade, temos uma presença maior da população negra nos espaços midiáticos, mas isso é resultado de uma luta histórica. Isso não é o suficiente, ainda não foi o suficiente pra mudar esse quadro de exclusão de marginalização em que a população negra está imersa.

Tiago: Nessa luta, Luana aponta que a expressão ‘lugar de fala’ foi deturpada para ser o lugar do conforto, da omissão diante das injustiças que ocorrem no cotidiano.

Luana: Quando se pensa no lugar de fala, é o lugar social que a pessoa ocupa. Então, eu não sou autista, mas isso não me impede de aprender, de estudar sobre algo. Eu posso falar do ponto de vista de quem estuda, eu não posso falar do ponto de vista de quem vive, de quem sente. Mas isso não me silencia, não me imobiliza. E a questão do racismo e da negritude é a mesma coisa, você enquanto mulher branca, você jamais saberá o que eu vivo enquanto mulher negra vive. Mas, isso não impede você de participar nessa luta.

Tiago: Luana Tolentino afirma que as mulheres pretas acabam por ser atravessadas em várias questões, como gênero, raça e de classe, já que a maioria dessas mulheres convivem com a pobreza.

Luana: Nós, mulheres negras, somos atravessados pela questão de gênero e a maioria das mulheres negras são pobres. Então, as mulheres negras são triplamente discriminadas, então, quando você traz ainda essa perspectiva da deficiência, eu posso falar com muita tranquilidade que essa mulher vai encontrar ainda mais dificuldade para acessar os bens públicos do SUS. A gente sabe as dificuldades que a pessoa com deficiência encontra para acessar a educação, as salas de aula.

Tiago: E como ser antirracista?

Luana: O brasileiro não se assume racista. Então, eu não sei se você lembra daquela pesquisa da Folha de São Paulo, lá na década de 90, em que o resultado foi o seguinte, quando perguntado se você é racista, 95 por cento disse que não. Agora, você conhece uma pessoa racista? 100 por cento diz que conhece. Então, racista é sempre a outra, né? Então, é isso. Eu acho que é um momento urgente, já passou da hora de reconhecer quão racista somos. É duro dizer isso, né? Mas pensando que vivemos numa sociedade extremamente racista, o racismo tá em nós também. Então, é reconhecer e a partir desse reconhecimento pensar, refletir de que maneira pode-se contribuir para superação, pra extinção do racismo. Então, pensando aí na empresa que você trabalha, na emissora que você trabalha, quantos negros, há negros nos cargos de chefia? Há quantos negros na linha de frente? E quando eu falo isso, não quer dizer que amanhã na empresa todo mundo tem que ser negro, não é isso, mas é promover a equidade, é dar oportunidades iguais.

Tiago: Amanhã é o Dia da Consciência Negra. Pra fechar a reportagem com chave de ouro e para pensar as vidas negras, questionamos: Qual a importância desta data? Como realmente falar sobre a identidade negra sem uma estigmatização? A resposta você ouvirá logo logo.

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Equipe Introvertendo Escrito por: