Introvertendo 100 – Especial 2 Anos: Revolution Chicken 100

Hoje o Introvertendo completa, ao mesmo tempo, 100 episódios e 2 anos de existência! Para relembrar grandes momentos com a participação de nossos fãs e amigos, contamos histórias dos bastidores. E, claro, também explicamos o porquê nosso especial se chama “Revolution Chicken 100”.

Participam: Luca Nolasco, Michael Ulian, Thaís MöskenTiago Abreu. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Tiago: Um olá pra você que escuta o podcast Introvertendo, que é o principal podcast sobre autismo do Brasil e que comemora hoje 2 anos de história. Meu nome é Tiago Abreu, sou jornalista e host deste podcast e hoje estou nessa missão deliciosa de conversar com os meus colegas de podcast e relembrar os grandes momentos desta produção que a gente ama.

Luca: Eu sou o Luca Nolasco, estou presente desde o começo. Não que seja grandessíssima coisa (risos), mas tô aí.

Michael: Eu sou o Michael, mais conhecido como Gaivota, também estou aqui desde o primeiro episódio que nunca foi para ser e tamo aí.

Thaís: Olá pessoal, aqui é a Thaís de Florianópolis. Eu sou a integrante mais recente entre todo mundo que tá aqui conversando agora e na minha opinião aniversário só serve para a gente ter comida gostosa. Se não tem comida gostosa, não faz sentido comemorar aniversário.

Tiago: (Risos)

Michael: Tanto é que eu estou aqui preparadíssimo com um excelentíssimo copo de água.

Thaís: Eu tô com uma garrafa do lado aqui também (risos).

Tiago: Eu também estou com a minha garrafinha aqui. Infelizmente a gente não pode se encontrar pessoalmente, estamos numa época bastante difícil no mundo, mas a felicidade continua.

Thaís: Recentemente, inclusive, fiz um churrasco virtual com alguns colegas meus antes da época de quarentena e hoje acho bem interessante que agora as pessoas estão fazendo eventos virtuais e estão surgindo muitas ideias novas que valem a pena.

Tiago: Desse churrasco virtual, a carne também foi virtual?

Thaís: Um de nós estava comendo carne. Três quartos da carne foi virtual.

Luca: Eu tô cogitando seriamente fazer meu aniversário de maneira virtual (risos).

Tiago: Opa! Vamos chamar a audiência do Introvertendo todinha para comemorar os 20 anos do Luca…

Luca: Vamos fazer uma live no canal do YouTube do Introvertendo…

Thaís: Nossa, é verdade.

Luca: 2 anos de podcast, 20 anos de vida, vamos lá!

Tiago: Recentemente nós lançamos um formulário com uma pesquisa de opinião para vocês que acompanham o Introvertendo. E algumas pessoas falaram algumas coisas bastante interessantes que nós vamos levar em consideração daqui para frente. Algumas dessas pessoas disseram que sentem saudade dos nossos episódios mais descontraídos, então esse episódio comemorativo de dois anos também é um presente para você que sente falta dessas conversas aqui do Introvertendo. Vale lembrar que o Introvertendo atualmente é formado por 10 artistas que participam ativamente da comunidade do autismo produzindo conteúdo e que hoje a gente tem a parceria com a Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Tiago: Quem acompanha o Introvertendo ao longo desses dois anos sabe que eu particularmente sou uma pessoa extremamente nostálgica. Então foram várias vezes aqui dentro vendo que nós relembramos a nossa trajetória. Então se você quiser saber exatamente como foi passo a passo como a gente se desenvolveu, eu recomendo que você ouça o nosso episódio 83, que se chama Nossa História Até Aqui e que eu conto mais ou menos a nossa história com algum pouco dos bastidores. Então este episódio é para a gente também trazer outras questões, conversar um pouco com você que enviou um áudio para gente falando quais eram os momentos marcantes do Introvertendo. Muito obrigado a todo mundo que mandou mensagem para a gente nos parabenizando, enfim, esse episódio é para vocês. Para quem não sabe, a gente começou num ambiente universitário, na Universidade Federal de Goiás em Goiânia. O Michael e o Luca estão aqui desde o início, a Thaís entrou poucos meses depois e o Introvertendo é formado hoje por 10 pessoas, delas 5 são da formação original. Luca, Michael, vocês tem lembranças do começo?

Luca: Eu sou uma pessoa extremamente pessimista, então para mim só o fato de ter conseguido levantar do chão essa ideia foi algo a se comemorar, porque eu não imaginava que ia dar certo de maneira alguma. Ver que isso deu certo e ver que alguém que sequer eu conhecia estava escutando isso, foi sensacional. Não teve um momento específico, esse sentimento perdurou por vários dias e várias semanas.

Tiago: Inclusive o Luca deu muito trabalho no início. Nunca contei aqui no Introvertendo, mas quando apresentei a ideia de fazer um podcast, o Luca foi o que mais ficou receoso, dizendo: “Eu tenho muita dificuldade me comprometer em um projeto que provavelmente talvez lá no décimo episódio já vou estar desanimado”. Mas a gente sempre conseguiu equilibrar as coisas e o Luca tá aí com a gente até hoje.

Luca: Olha, é recorde de qualquer coisa na minha vida.

Michael: É engraçado que eu não estava pessimista, mas como praticamente tudo à minha volta, simplesmente não tava ligando muito se de repente a gente tivesse lidando com 100 mil pessoas ouvindo a gente todo dia e se uma pessoa tivesse ouvindo a gente depois de um ano. Eu estava participando só pela diversão. E aí quando o Tiago começou a fazer aquelas reuniões e quando eu vi o negócio subindo e aumentando assim eu realmente fui pego de surpresa.

Tiago: Com certeza. E tem uma questão também muito importante: Além do que vocês sentiram naquele processo de gravação, porque era algo inédito e a gente já conversava informalmente mas se juntar para fazer uma gravação é outro nível de comprometimento, mas talvez quem esteja ouvindo o episódio neste momento ainda esteja se perguntando porque chicken no título, que é galinha em inglês. Então, Michael, explica para gente por que a gente tá fazendo essa referência a galinhas neste episódio.

Michael: Interessante você pensar que, quando a gente fala do primeiro episódio que a gente fez, há uma certa diferença entre o primeiro episódio que a gente fez e o primeiro episódio que deu certo. Porque, no nosso primeiro episódio gravado, tudo o que podia ter dado errado deu. Para começar, a gente não sabia sobre o que íamos gravar. Então meio que na hora a gente decidiu falar de um tema simples. Daí eu não sei exatamente como que surgiu, talvez tenha influência de alguém aqui que gosta bastante de pássaros, mas eu acho que foi o Luca que deu a ideia de que a gente falasse sobre galinhas.

Tiago: Eu lembro que o Luca dizia que a figura da galinha era desconcertante para ele e que ele sente incomodado com galinhas.

Luca: Até hoje eu sinto isso profundamente (risos).

Michael: E eu lembro que, na época, para a gente foi uma ideia simplesmente fantástica. Porque você não precisa de um background muito grande para saber o que falar sobre galinhas. Tinha alguém que tem uma certa aversão por galinhas, que era o caso do Luca, alguém que provavelmente ia saber qualquer coisa absurda sobre galinhas como o meu caso e um monte de gente que pelo menos com certeza tem uma história sobre galinhas. No final das contas, a gente se viu que era um pouco difícil fechar a conversa. Quando a conversa engatava, tudo bem, mas criar o assunto em volta desse tema foi bastante difícil, na verdade.

Tiago: E o pior dessa gravação das galinhas é que, depois de gravar todo o conteúdo, cada um gravou no celular. Mas o Michael não tinha um que pudesse gravar, e aí ele usou o celular do Abner (que hoje não é mais integrante do Introvertendo). E aí eu lembro que o Abner voltou para casa dele e, assim que ele chegou na casa dele, o celular dele morreu. O Michael foi a pessoa que mais falou no episódio, então não tinha como fazer nada. O episódio de Galinhas virou apenas uma parte na nossa memória.

Michael: Não bastasse a gente ter que conseguir desenvolver o assunto para o episódio, as gravações do geral ficaram horrorosas. Eu lembro que você falou que o primeiro episódio lançado, em comparação com o piloto (que foi o das galinhas) ficou com áudio consideravelmente melhor. E eu acho que hoje em dia todo mundo que tá aqui já deu uma olhada no primeiro episódio como ele era na época e viu que, se aquilo era considerado melhor do que a gente teve, vocês conseguem imaginar o tipo de áudio que a gente tinha. E o melhor áudio que a gente tinha, que era do celular do Abner, que na época era o que tinha melhor capacidade de gravação e provavelmente o áudio mais limpo, como o Tiago falou, foi o celular que queimou no dia. Tudo o que tinha pra dar errado deu.

Tiago: Literalmente, o universo conspirou contra a gente. Mas tem uma questão aí porque aqui temos a Thaís e outras pessoas do podcast que não fizeram parte dessa fase presencial. Como é que foi esse contato com Introvertendo, Thaís? Como você avalia esse período da gente no início?

Thaís: Antes vocês estavam falando que eu fez um episódio sobre galinhas e tal, e eu acho muito engraçado que geralmente eu confundo com o episódio sobre dinossauros. Aí eu lembro que eu achei ele muito divertido, ele não é um episódio tão popular assim, mas eu lembro que eu ri naquele nível de babar o canto da boca. Então foi muito bom ter ouvido aquele episódio e imagino que não seja um tipo de humor que as pessoas gostam tanto, mas eu achei muito divertido. O meu primeiro contato com o podcast foi através de um post no Facebook que o Tiago colocou. Eu nunca fui de usar muito Facebook, mas logo que eu tive o diagnóstico eu entrei em um grupo de aspies para ter contato, entender o que as pessoas faziam com relação a isso, se elas precisavam de alguma ou auxílio ou ter ideias mesmo de como lidar com isso… não que fosse um problema, afinal quem tem o diagnóstico tardio já teve que lidar com isso a vida inteira. Mas é interessante ouvir outras experiências parecidas com as nossas e eu acho que inclusive é por isso que muitas pessoas vem ouvir o podcast aqui. E aí eu vi o post do Tiago lá falando que eles estavam lançando um podcast, resolvi dar uma olhada. Eu demorei um pouco para começar a ouvir em relação a quando vocês começaram a produzir porque vocês demoraram um pouco para começar a lançar. Assim como eu, o Tiago também armazena um pouco o conteúdo para garantir que vai dar para lançar sem ficar gaps. Então meu primeiro contato foi esse, eu achei bem interessante ouvir os episódios. Alguns eu gostei, de outros nem tanto. Eu não consigo separar muito bem os episódios porque eu fui ouvindo em blocos. Eu parava uma época e eu via, por exemplo, Xadrez Verbal. Aí eu ouvia uma semana de Xadrez Verbal, vários episódios, outra semana eu ouvia vários Dragões de Garagem e depois eu voltava para o Introvertendo. Então eu passo horas e horas de semana só ouvindo uma mesma coisa e misturo um pouco. Mas eu lembro que eu mandei um email de feedback para o Introvertendo na época e o Tiago chegou a perguntar em um episódio quem queria participar de uma gravação sobre o mercado de trabalho. Como eu tinha começado a trabalhar recentemente, eu achei que seria interessante eu participar. Mandei o email falando a respeito disso, foi o primeiro episódio que eu participei e depois eu me tornei membro mesmo do podcast.

Tiago: E foi numa época muito importante, porque o Introvertendo passava por muitas mudanças. O Michael foi embora para o Paraná, inclusive o último episódio que o Michael gravou presencialmente se não me falhe a memória foi pouco tempo antes dele ir, então ele estava com uma certa pressa naquele dia que a gente gravou o episódio 10, sobre empatia. O episódio seguinte que o Michael participou, o Hans Asperger e o Nazismo, já foi à distância do Paraná. Eu comecei a trabalhar no meu TCC, que era um livro, o Luca já não podia ir tanto a UFG, o Marcos estava com problemas emocionais e também não podia ir, a Letícia que fazia parte do podcast foi para os Estados Unidos e indo para os Estados Unidos ficou muito difícil manter esse contato… Geralmente eu falo isso entre a gente, mas o Introvertendo original é principalmente a cara do Michael. E eu digo que a Thaís e o Paulo, que entraram logo depois, solidificaram o que é o Introvertendo de hoje. E a gente conseguiu se manter mudando essa coisa do presencial para a distância justamente por causa dos dois. Eles salvaram o nosso podcast.

Thaís: Eu lembro que, quando a gente começou a fazer as gravações, as primeiras eram sempre eu e o Paulo e raramente a gente interagia com o resto da equipe. Eu costumava falar que vocês eram o núcleo jovem e o núcleo velho era a gente (risos).

Tiago: Verdade. Eu acho que o primeiro episódio que houve essa intersecção mais direta foi o episódio 41, de regras sociais, que o Michael gravou com vocês e tinha a entrada recente da Yara. E foi também um dos episódios mais populares de 2019. Começou a mudar bastante o intercâmbio, porque o Marcos também foi embora de Goiás, o Otávio se organizou para gravar à distância, eu já tava fazendo à distância e o Luca também começou. Porque, apesar de morarmos na mesma cidade, todos nós do Introvertendo morávamos muito distantes uns dos outros. Então definitivamente tava todo mundo tão separado que era impossível não fazer pela internet.

Michael: Vale lembrar que, para não conhece Goiânia, Goiânia é uma cidade grande, tem mais ou menos a mesma população de Curitiba, porém é completamente horizontal. Então você leva as vezes uma hora para chegar no outro lado da cidade de carro.

Luca: Isso se você tiver um carro, né.

Thaís: É, eu tava pensando nisso também.

Michael: Boa sorte pra você que vai gastar quase duas horas em horário de pico para percorrer metade da cidade de ônibus.

Thaís: Mas agora que estamos passando por uma fase de quarentena por coronavírus e etc, as pessoas estão aprendendo a fazer bem mais as coisas virtualmente. Acho que foi também um aprendizado que a gente acabou tendo, principalmente vocês, já que eu já entrei com isso, mas foi uma coisa que a gente foi introduzindo e se tornando natural.

Tiago: Sim, com certeza, tanto é que muitos podcasts grandes, por serem gravados em estúdio, não conseguiram se adaptar ainda esse contexto sem perder a qualidade. Alguns ainda estão aprendendo essa coisa de gravar de casa e nós estamos tirando de letra porque nós estamos fazendo isso há mais de um ano. Mas enfim, uma coisa muito importante que a gente está trazendo neste episódio é trazer alguns recados que algumas pessoas mandaram para gente, sejam ouvintes, alguns parceiros e eu quero tocar então o áudio do Abner, ex-integrante que, junto com seus cachorros, mandou um recado para gente, então vamos ouvir.

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Abner: Lembro que foi muito inusitado uma pessoa como eu que, muitas vezes, tem dificuldades de se expressar em frente de muitas pessoas atuando em um podcast, nas primeiras edições do Introvertendo. E acabou que eu estive no início também e só no início porque eu me ocupei com outras atividades acadêmicas na época e eu não pude participar mais no grupo com meus colegas autistas. Para quem não sabe, eu curso Arquitetura na UFG e comecei a participar dos encontros com a galera aí em 2017. E hoje estou a poucos anos de me formar. É isso. Brigadão!

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Tiago: Um abraço ao Abner, que mandou seu áudio para a gente. O Abner ele entrou no grupo terapêutico em 2017. O grupo surgiu em 2016, então ele já entrou um pouco mais para frente e o Abner participou de apenas dois episódios, o 2 e o 9. Eu lembro que até no episódio de galinhas o Abner deitou no chão e foi dormir enquanto a gente gravava. Ele é uma pessoa muito legal, ele fez parte desse início com a gente, um abraço pra ele.

Thaís: Só quero saber: por que que o Abner foi dormir durante o episódio? Ele tava de saco cheio, ele tava com sono?

Tiago: Ele tava com muito sono nesse dia e eu acho que o Abner achou o tema aleatório demais.

Thaís: Ah, entendi.

Luca: Compreensível da parte dele.

Michael: (risos)

Tiago: Além do Abner, outra pessoa que fez bastante parte nesse início do Introvertendo é a Letícia, que eu até comentei agora pouco. E a Letícia também mandou uma mensagem para a gente, então vamos ouvir.

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Letícia: Oi gente, aqui é a Letícia Lyns, quando eu participei do meu primeiro episódio no Introvertendo, foi assim que eu tive meu diagnóstico. Foi falando sobre o meu diagnóstico, como que foi para mim, a minha reação, como que eu era quando eu era criança e, enfim, foi muito engraçado, porque era um assunto que eu já tava estudando há um ano e eu não esperava que eu fosse ter o diagnóstico de Síndrome de Asperger. E, no dia que a gente gravou esse primeiro episódio, foi em uma aula de Educação Inclusiva na Faculdade de Educação da UFG com a professora Ana Flávia. Eu acho muito importante os autistas leves adultos falarem sobre o assunto porque acaba que a gente serve de inspiração para famílias de autistas e para outros autistas leves que são crianças, adolescentes e que um dia vão se tornar adultos, até para dar um pouco de esperança para eles. O Tiago é jornalista, eu sou atriz e professora, então eu acho bastante importante a gente continuar nesse pique. E continuem ligadinhos no Introvertendo porque ainda tem muito assunto para ser discutido pela frente, um beijo.

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Tiago: Valeu Letícia. Só um comentário sobre o áudio dela, é que ela está se referindo ao episódio 8 – Conhecido Letícia Lyns, que foi gravado ao vivo durante um evento na Faculdade de Educação pela professora Ana Flávia. A Letícia participou de vários episódios nossos até o 16 – Sexualidade: Uma Introdução. E dali para frente acabou ocorrendo que a Letícia teve que ir para os Estados Unidos, não permaneceu no podcast, mas frequentemente a gente ainda tem um contato com ela ainda. Hoje ela é diretora do Naia Autismo, que é uma das associações de autismo daqui de Goiânia e até onde eu sei a única que têm autistas à frente na direção. Uma coisa que a gente já falou umas vezes aqui no Introvertendo é que talvez nada disso teria acontecido se não fosse uma psicóloga chamada Tatiana Dunajew, que foi a pessoa que entrou em contato comigo em abril de 2016 falando que tinha um aluno da Medicina chamado Otavio que não conhecia outras pessoas dentro do espectro. Por intermédio dela a gente conheceu o Michael e acabou gerando o que dois anos depois se transformaria na formação inicial do Introvertendo. E eu queria bastante que vocês fizessem lembrança a essa época e o apoio que a Tatiana nos deu durante o período.

Luca: Eu fazia parte do grupo, que era uma espécie de terapia coletiva de alunos da UFG com Transtorno do Espectro Autista. Foi uma experiência muito única para mim porque eu já fazia terapia só com uma psicóloga que me ajudava bastante. Mas ela tinha uma abordagem voltada uma pessoa neurotípica, que muitas vezes não era exatamente como eu iria conseguir responder ou até agir. Então vendo a reação de outras pessoas que se encaixam no mesmo diagnóstico foi incrível, mudou muitas coisas da minha vida. E além disso, obviamente, teve a questão de que eu fiz amigos lá. Antes de entrar eu já conhecia o Tiago, mas os amigos que fiz lá são os amigos mais duraram para mim, então para mim foi experiência única e perfeita.

Michael: Tô me perguntando até agora: Esse é o jeito que se fala sobrenome dela, então?

Tiago: Eu não sei se é essa pronúncia, sempre falei dessa forma.

Luca: Eu sempre li “Dunadigil”.

Tiago: Porque o sobrenome dela é russo, então eu já tenho certeza que eu vou errar de qualquer forma (risos).

Thaís: Você já pensou em colocar o sobrenome russo isso dela no Google e ouvir como o Google fala? Porque às vezes achando um pouco.

Tiago: (risos)

Luca: Posso falar o exato momento que o podcast surgiu?

Tiago: Sim, sim.

Luca: Foi quando a nossa terapeuta, a Tatiana, comentou: “Poxa, vocês podiam tentar fazer algo assim que vocês não precisam se reunir só aqui. Vocês continuam a conversa em outro lugar, vocês tentam fazer alguma coisa tipo sair junto, porque vocês se encontram aqui, se dão muito bem, mas fora daqui nem se veem, né?”. Aí o Tiago na mesma hora: “Meu Deus, um podcast. Vamos fazer um podcast, tem que ser um podcast”. E o Tiago já começou encabeçando tudo desde o primeiro segundo da ideia.

Michael: E detalhe, foi um podcast que, no começo, a gente fazia somente dentro do grupo.

Tiago: Sim a Tatiana conseguiu que a gente fizesse ali naquela sala. Ela reservava um horário a mais, só que aí a gente começou a fazer tanto barulho que ela foi proibida disso. E aí a gente teve que mudar para outro lugar. Então imagino que a Tatiana teve que ouvir muita coisa por causa da gente. Ela deu um suporte inestimável.

Thaís: É engraçado que, provavelmente, quando ela falou de vocês se encontrarem fora de lá, ela queria dizer alguma coisa tipo: “Ah por que vocês não saem juntos, sei lá, no parque juntos, não conversam na hora do almoço junto” (risos).

Luca: Era exatamente isso. Ela queria que a gente fosse para o cinema (risos).

Michael: E, para nossa defesa, a gente tentou.

Luca: É verdade, foi para ver o filme do Star Wars.

Michael: Não antes disso, ainda vem. Antes, foi quando a gente tentou ir no parque.

Tiago: Foi antes de você fazer parte do grupo, Luca, foi no final de 2016. Ficou marcado entre eu, Otavio, Michael, e Marcos que frequentavam mais frequentemente para poder ir no parque estadual que fica na saída de Goiânia para Anápolis. E aí eu lembro que o Michael teve alguma coisa ruim no dia anterior e ele ficou acordado até de madrugada fazendo um trabalho. Quando deu 7 horas da manhã ele dormiu e aí ele não conseguiu levantar. E aí foi só eu, Otavio, e o Marcos mesmo.

Michael: Ou seja, deu 50% certo. Quer dizer, 75% certo.

Luca: (risos)

Tiago: E agora, depois que a gente aí tocou o áudio do Abner e da Letícia, que são pessoas que fizeram parte da nossa história como integrantes, eu quero também trazer outras pessoas. E o nosso terceiro áudio é do Caio Sabadin, que é nosso ouvinte e que trouxe também um recado bastante legal para nós.

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Caio: Oi, eu sou o Caio, não sou autista, e o Introvertendo é o único podcast que eu gosto. É muito difícil escolher um episódio que me marcou porque eu gosto de vários, como sobre a sexualidade e o 15 que foi sobre a sofrência, que me mostrou o termo incrível “chorunheta”. Mas se for para escolher um de verdade eu acho que o meu favorito é o número 80 dos Manic Street Preachers, porque eu já queria conhecer a banda há muito tempo. Eu sempre ouvia uma música ou outra que alguém me mandava, enquanto eu tava numa bad cósmica, que essa pessoa sempre sumia da minha vida depois. Eram sempre pessoas diferentes. Aí viciava na música até a exaustão, superava a bad e nunca mais escutava nada dos caras. Aí, depois desse episódio do Introvertendo, finalmente consegui conhecer mais músicas apesar de eu ainda ficar sempre na bad quando eu ouço elas. Mas enfim, foi um ótimo episódio, bem informativo, com análises pontuais, um clima mais descontraído, tudo que eu sempre gostei nos quadros de música do podcast, o que me fez pensar que esse episódio foi uma ótima escolha de encerramento para o quadro. A banda merece toda atenção do mundo e a galera do Introvertendo também. Toda felicidade e sucesso para vocês. E, por favor, não me odeiem pelo meu sotaque carioca playsson.

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Luca: (risos). Cara, pessoalmente eu amo o sotaque carioca, então eu não posso opinar muito.

Michael: Cara, se eu te falar que ele não tem um sotaque muito forte, se não tivesse falado eu nem tinha reparado que o sotaque dele tem essa puxada.

Thaís: É engraçado que eu pensei a mesma coisa. Eu não reparei que ele era carioca até ele falar.

Luca: Eu tinha reparado no primeiro segundo, só que eu adoro esse sotaque. Eu também adorei a expressão “bad cósmica” e provavelmente vou usar o resto da vida.

Tiago: o que eu mais achei legal nesse áudio do Caio é que ele relembrou o episódio de sofrência, que talvez para mim é um dos episódios mais difíceis que eu fiz. Eu gravei uma das piores é por causa da minha vida desde que eu comecei o podcast. Tenho até certa vergonha por algumas coisas que eu falei que hoje penso totalmente diferente, mas é um episódio que significou muito para gente. No início do podcast, ele era um dos episódios mais importantes. E ele gostar do episódio do Manic Street Preachers, que é um dos episódios menos populares, também demonstra que o Caio é um ouvinte muito fiel do podcast e pessoa muito gente boa que acompanha a gente há muito tempo. Um abraço para ele.

Michael: Eu só quero te dar uma dica preciosa. Se qualquer dia você se encontrar fazendo parte de algum projeto voltado para a internet e você não ter lá um background profissional e você não quer sentir vergonha, não veja e não ouça. Você não pode ter vergonha de algo que você nem recorda.

Tiago: Tem um episódio do Introvertendo que, se não me falha a memória foi o 44 – Falando em Público, que inclusive a Thaís participou e eu falo que o bom de você ter uma boa memória é que você lembra das coisas. E o ruim de você ter uma boa memória é porque você lembra das coisas. Então eu não necessariamente precisava ouvir o episódio para poder relembrar porque foi um momento tão ruim, mas tão ruim da minha vida, que eu não esqueço do período, como eu me senti e como foi gravar o episódio 15.

Michael: Você tem que tentar pensar pelo lado bom. O problema de ter uma memória ruim é que você não lembra das coisas boas, você não lembra das coisas neutras e as coisas ruins ficam amplificadas porque só lembra delas.

Tiago: Olha, eu nunca parei para pensar nesse sentido.

Thaís: Eu acho engraçado que, no meu caso, a minha memória é assim: Tem coisas que me marcam e eu nunca consigo dizer exatamente um padrão, porque tem coisas muito boas que eu me lembro bem e coisas muito ruins que eu me lembro bem e outras que parece que resetaram meu cérebro. Tipo, época da faculdade, o meu cérebro parece que foi resetado aquele período. Então é meio estranho isso.

Tiago: E já que a gente começou a falar aqui sobre os episódios de música, que foram extintos do podcast, temos também o áudio do Pedro Henrique Quiste, que é um parceiro nosso e que participou de alguns episódios sobre música. E ele também mandou um recado aqui para gente.

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Pedro: Eu sou o Pedro Henrique Quiste, sou do projeto e podcast 4theWin, em que a gente fala principalmente sobre NBA, o basquete norte-americano. E gravar com Introvertendo, e principalmente com o Tiago, foi uma experiência totalmente diferente que estava acostumado. Porque quando eu mudei para Goiânia, no final de 2018, eu não conhecia praticamente ninguém que tinha os mesmos gostos musicais que eu. E eu pesquisei por Beatles no Twitter e pesquisei por Goiânia na minha região e encontrei o perfil do Tiago, segui ele lá e do nada a gente começou a conversar. Ele me introduziu ao podcast Introvertendo, explicou o que era, e me convidou para gravar um episódio sobre Paul McCartney, que é o meu artista favorito de todos os tempos, o mago da música. E a gente foi para a UFG, tivemos que andar uns três campos até encontrar uma sala vazia, foi a maior complicação do mundo mas no final foi legal. A gente ficou duas horas falando sobre música, sobre os álbuns do Paul McCartney. Depois disso eu cheguei a gravar mais duas vezes. Uma falando sobre música mesmo, Oasis, britpop, Blur; e a outra falando sobre retrospectiva dos esportes na década passada, entre 2010 a 2019. E é um pessoal que tenho muito carinho, principalmente o Tiago que me convidou três vezes pra participar do podcast e a gente sempre troca ideia no Twitter, no WhatsApp, é um cara que eu tenho muito carinho falando sobre tudo… política, esporte, televisão, tudo mesmo. Eu fico muito feliz por esse projeto do Introvertendo, maior podcast sobre autismo no Brasil, ter chegado a 100 episódios, um número marcante com certeza, e que se Deus quiser só vai aumentar e ter mais sucesso ainda, mais gente vai conhecer esse projeto sensacional que eu tenho muito orgulho de ter feito, mesmo que seja um pouquinho. Aprendi bastante com o pessoal lendo e ouvindo que ele já produziram. Então é isso, um abraço para todo mundo e boa sorte nessa caminhada, que venham mais 100 episódios.

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Tiago: Tem duas coisas que o Pedro falou aí nesse áudio que eu queria comentar antes de tudo. É que, quando ele fala que a gente passou um sufoco na UFG para poder gravar o episódio do Paul McCartney, parte da culpa é do Marcos. Nós publicamos o episódio de vida após a morte, que foi o episódio 52. E aí esse episódio foi gravado duas vezes porque a primeira vez deu errado. Mas enfim, nessa primeira vez tava eu e o Marcos gravando lá na Faculdade de Educação da UFG, dentro de uma sala, aí chegou uma moça e a moça precisava almoçar porque ela não tinha uma sala para ficar. Ela perguntou: “Eu posso almoçar aqui?”. E o Marcos respondeu imediatamente: “Não”. E aí ficou um clima super pesado, o Marcos olhou para mim e falou assim: “Eu não consigo gravar se tiver uma pessoa aqui na sala”. Tempos depois eu conheci o Pedro pessoalmente lá na UFG e aí nós estávamos andando e procurando uma sala na Faculdade de Educação. Eu falei: “Pedro aquela sala ali a gente costuma gravar às vezes alguns episódios do Introvertendo, acho que vai ser um lugar bom”. Quando eu cheguei na porta da sala quem tava lá dentro? Era exatamente a mulher daquele dia. E aí eu perguntei para ela se a gente podia entrar para fazer a gravação e ela respondeu imediatamente que não. Ela deu o troco. Depois andamos por outros pontos da Universidade e acabamos achando uma sala na Faculdade de Farmácia. E foi lá que eu gravei alguns dos últimos episódios do Introvertendo feitos pessoalmente, gravei ali com Pedro e gravei também com Marcos. O Pedro é uma pessoa super gente boa, uma das melhores pessoas que eu conheci a partir da internet e um cara muito gente fina mesmo. O Luca também teve uma oportunidade de gravar com o Pedro em uma das ocasiões. E o Pedro é um cara que eu sempre mantenho essa proximidade.

Luca: Sim, até agora uma coisa que eu fico muito feliz com o podcast é que até hoje eu nunca tive uma experiência de entrevistar ou de conversar com alguém que tenha sido desagradável.

Michael: E olha que eu tento!

Luca: (risos). O Pedro foi mais uma dessas pessoas agradabilíssimas que eu conheci enquanto gravava o podcast, foi muito legal.

Tiago: Uma coisa que eu preciso acrescentar também sobre o Pedro é que uma vez, conversando com Pedro, montamos um coletivo de podcasters de Goiás. E a gente encontrou muita gente que produz podcast em Goiás. Então uma das coisas que me deixa mais feliz com o processo de Introvertendo é que ao longo desses dois anos a gente conseguiu dialogar com a comunidade do autismo e também com gente de fora. Nossa vida não seria a mesma se não fosse essa produção. A gente fala que muito sobre glórias. mas também tivemos nossos momentos baixos e uma coisa que eu queria trazer aqui para o público são os nossos episódios de maior desastre na história do podcast. O nosso episódio de menor audiência da história é Telefone Esperto, de número 12. Ele foi gravado junto com o Luca, Otavio e o ex-integrante Guilherme.

Luca: Minha maior vergonha…

Michael: Pra repartir uma parte da vergonha de vocês, vale lembrar que de quem deu o nome brilhante do episódio fui eu, então vocês não estão sozinhos.

Luca: Mas não foi você que fez um monólogo de 15 minutos no podcast (risos).

Michael: (risos)

Tiago: Geralmente temas não correlatos ao autismo sempre acabaram esbarrando em termos de audiência. Então a gente pode destacar alguns outros episódios que foram entre “desastrosos” em termos de audiência: Copa do Mundo, Comportamento na Internet… esse é um episódio muito bizarro porque nós gravamos muitos meses antes das eleições e um trecho que o Michael falou que a eleição seria um battle royale de político e provavelmente teria político morto como foi a última eleição, e aí, meses depois, quando eu tava editando foi quando o Bolsonaro levou a facada, e aí eu tirei esse trecho porque senão as pessoas iam pensar que o Michael tava fazendo referência ao presidente. Outros episódios que não tiveram muita audiência foram os mais antigos: Religião, Autistas na Balada e um de 2019 que é o da Wikipédia. Mesmo assim a gente se permitiu a fazer coisa diferente e não falar somente sobre autismo e isso foi muito legal para nós também. A gente aprende também muito com os nossos picos e as nossas baixas.

Thaís: Engraçado que tem vários desses episódios de menor audiência que eu gostei, como o do Telefone Esperto e achei o nome divertido também.

Tiago: E eu queria perguntar para vocês, ao longo aí desses dois anos que a gente grava junto, qual foi o pior episódio ou aqueles que vocês menos gostaram fazer no Introvertendo? 

Thaís: Não tem nenhum episódio que eu achei terrível. Mas apesar de eu ter gostado muito de participar da Wikipédia por alguns anos, eu percebi que eu não lembrava muito bem do que eu tinha feito ali e aí conforme eu fui abrindo, na hora do episódio, eu fui lembrando. Depois eu pensei que se eu tivesse me preparado para ele, eu teria falado coisa diferente. Não acho que a audiência seria muito diferente nesse aspecto porque eu acho que tem mais a ver com o assunto, mas foi o episódio que eu não acabei não gostando do resultado da minha performance na gravação.

Michael: Indo nessa veia de não estar preparado suficiente, o episódio que eu achei que eu não falei muita coisa que tinha sentido foi o episódio do Hans Asperger porque na época que eu gravei, eu tinha acabado de voltar para o Paraná e estava, de longe, passando pelo pior perrengue já tinha passado na minha vida até aquela época. Então contei o meu humor para levar em cima dele e faltou muito preparo da minha parte. Fiz aquele episódio naquela época porque eu precisava fazer literalmente qualquer coisa para me desconectar da situação que eu tava passando.

Luca: O primeiro que a gente gravou, que foi de galinhas, não chegou a ir no ar mas a minha amargura dele é tão grande que eu não consigo expressar. Porque não é culpa de absolutamente ninguém, mas eu sinto como se fosse parcela de culpa minha porque eu sempre tenho receio de fazer coisas despreparado. Eu pensei: “Poxa, a gente não tem equipamento, a gente não tem nada, como é que a gente vai fazer um episódio?”. E fizemos. Mas, nossa, para mim foi terrível gravar aquilo. Mas depois eu peguei o jeito de conseguir gravar.

Tiago: A gente aprendeu a gravar até rápido. O episódio que eu mais lamento é na verdade um que no início eu gostava bastante, mas a medida que a minha opinião, o meu posicionamento sobre as coisas foram mudando, eu acho que tudo que grande parte do que eu falei nesse episódio tá completamente errado ou não representa aquilo que eu penso hoje, que é o episódio 28 – O Poder do Rótulo, em que eu parto do pressuposto de que você se assumir autista é você ficar partido socialmente. E hoje é algo que eu penso de forma totalmente diferente. Independentemente de você assumir um diagnóstico ou não, você sempre vai ser marcado socialmente. A gente passou a vida inteira sendo rotulado de várias outras coisas, então não é um diagnóstico de autismo que vai mudar muita coisa. Mas a gente mantém tudo nossa história para as pessoas verem as nossas mudanças de posicionamento e visões ao longo do tempo. Afinal ninguém nasce pronto.

Thaís: No meu caso, no caso do Michael e no caso do Luca foi por falta de preparo. E hoje eu estava justamente falando com o Tiago que eu não me sentia preparada para gravar esse episódio aqui. E uma coisa que acontece bastante é a como a gente sente a necessidade de se preparar para as coisas e pelo podcast a gente acaba se forçando a improvisar um pouco, a gente vai aprendendo habilidades novas, mas muitas vezes essas gravações só acontecem porque o Tiago realmente coloca esse incentivo, o que é uma coisa boa. Muitas vezes a gente tá com medo de fazer alguma coisa, aí o Tiago meio que dá um “empurrãozinho”, mas é uma coisa legal e eu gosto disso.

Luca: Grande parte da minha permanência no podcast, inclusive, é em virtude do Tiago ter dado um empurrãozão em mim. Em diversos períodos da minha vida eu tive momentos horríveis, como todo mundo teve, mas eu já tenho naturalmente a tendência de pular fora do barco de qualquer coisa que eu tô fazendo. Então ele sempre fez questão que eu ficasse até não aguentar mais. E, bom, ainda tô aqui.

Tiago: Eu entendo particularmente que nós sermos pessoas dentro do espectro nos trazem algumas vantagens, mas ao mesmo tempo muitos desafios. E um desses desafios é justamente lidar com as pressões e com demandas. Alguns de nós tem certas habilidades, outros tem outras, e eu acho que a minha função como uma pessoa que de certa forma exerce uma visão de liderança é identificar em todos vocês 9 pontos fortes e pontos fracos e aproveitar isso em cada episódio de forma que eu consigo extrair o melhor de vocês sem sobrecarregá-los. E eu acho que o fato de termos um podcast de 10 pessoas ajuda muito nisso. Se fosse umas quatro ou cinco pessoas provavelmente não teria ido tão longe porque os compromissos seriam maiores e as funções seriam mais concentradas. A maior quantidade de pessoas diferentes também traz o desafio de conseguir lidar com tanta gente diferente, mas ao mesmo tempo me traz a vantagem de conseguir trabalhar com certas pessoas em períodos específicos, até porque algumas pessoas aqui que estão ouvindo a gente não sabem mas nós frequentemente no Introvertendo trabalhamos com desfalque, nunca nós tivemos os 10 integrantes disponíveis para gravar. Inclusive eu queria aproveitar esse momento para falar que nós recebemos algumas críticas construtivas e elas nos ajudaram bastante a crescer. Uma das críticas foi a baixa participação de mulheres no Introvertendo e quem tá ouvindo episódio até agora entende também porque o nosso podcast começou bastante masculino. Dentro do nosso grupo terapêutico não tinha mulheres e, por exemplo, atualmente a única mulher que tem podido gravar com a gente é a Thaís. E agora vamos ouvir o nosso quinto e pelo último áudio que vem do Fábio que é administrador da página Aspie Sincero, lá no Instagram. O Fábio também participou de um dos episódios e ele vai contar isso para gente.

*

Fábio: Olá pessoal. Eu sou Fábio, administrador da página do Aspie Sincero no Instagram e eu acompanho o Introvertendo desde os primórdios, desde os primeiros episódios. Porque eu acho que não tem nada mais eficiente do que autistas falando de autismo para a compreensão do espectro. E o que me marcou nessa jornada foi o momento em que passei de ouvinte para participante do Introvertendo quando eu participei do episódio especial de Dia dos Pais. Foi muito interessante, foi muito bacana poder fazer parte desse projeto, foi algo que me marcou nessa jornada. Um abraço para todo mundo aí, até.

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Tiago: Um abraço ao Fábio. E lembrando que o episódio Pais Autistas foi um dos episódios mais populares de 2019. E aproveitando que eu já tô falando de audiência, então vou listar alguns episódios que nós temos entre os mais tocados da história do podcast. O nosso episódio de maior audiência é obviamente o episódio número 1 – Diagnóstico de Síndrome de Asperger. Isso é legal porque mostra que as pessoas que conhecem a gente talvez vão lá no começo. Isso é ruim porque as pessoas muitas vezes podem ter o contato com aquele episódio ruim, desistirem de ouvir o resto e conferir a nossa evolução. Mas além desse episódio nós podemos destacar alguns outros que são: Regras Sociais, Namoro Entre Autistas, O Que É o Autismo?, A Saga do Diagnóstico e O Problema das Interações Sociais, que é o episódio de sofrência do Marcos, o episódio mais bad vibe da história do Introvertendo. E qual foi o episódio que vocês consideram mais difícil de fazer aqui no Introvertendo?

Thaís: O episódio que eu considerei mais difícil de fazer foi o dia das mulheres. Eu não sou uma pessoa normalmente muito ligada a causa feminista, hoje em dia eu tenho aprendido um pouco mais através de uma colega minha, a Jéssica, que me explica esse tipo de coisa de forma muito lógica. Eu descobri, inclusive, que algumas pessoas esperam que a gente compreenda certos tópicos de forma instintiva e isso não funciona para mim. Então, com uma pessoa me explicando de forma lógica, eu até consigo me interessar, mas isso foi depois da gravação do episódio. Quem ouviu percebeu que eu falei de forma muito mais teórica a respeito desse tema e, para mim, foi uma preparação difícil.

Michael: No meu caso, o episódio mais difícil para gravar foi o episódio da Saga do Diagnóstico. Naquele episódio a gente tinha que gravar com outras pessoas de fora e também foi a primeira vez que eu gravei com alguém que não era de dentro do Introvertendo.

Luca: O episódio mais difícil de gravar, de longe, é o episódio 89 – Negar ou Aceitar o Autismo?, com a Andréa Werner. Por milhares de razões, mas as principais delas são que a Andréa é uma das pessoas de maior calibre no assunto no Brasil e lidar com uma convidada tão importante, tão conhecedora do assunto me deixou estressado. Ela foi incrível na gravação, mas ainda assim me preparar para um assunto tão difícil e tão complicado e que muita gente sente muito pessoalmente foi algo difícil para mim. Mas ainda assim foi o meu episódio favorito, foi perfeito.

Tiago: Essa pergunta para mim é muito fácil, na verdade. Para mim particularmente é muito claro que o episódio mais difícil de fazer do Introvertendo foi o 84 – Retrospectiva da Década de 2010, porque eu tive que participar dos 7 blocos. Foram 7 horas de episódio e eu tive que editar aquele episódio. Foi o episódio mais editado que a gente já fez, tiveram blocos que eu tive que editar 8 vezes para dar certinho o tempo de uma hora e depois disso juntar com os outros blocos, combinar as vozes. Foi um episódio que a gente extravasou de verdade, eu acho que é o episódio mais intenso que a gente já fez na entrada e eu gosto muito, eu tenho muito carinho. As pessoas que curtiram o episódio disseram que a gente se aproximou do MdM e ultrapassou o Xadrez Verbal em termos de duração.

Michael: Tiago, e ainda teve áudio que teve que ser regravado, né.

Tiago: Ah, é verdade. Uma coisa que, talvez muita gente não consiga perceber, mas o bloco de jogos que foi gravado pelo Michael e pela Thaís teve um sério problema. O áudio do Michael deu erro no final. E ele teve que usar suas habilidades para poder relembrar o que ele tinha falado para encaixar com as vozes da Thaís e a minha. Tive a ideia de fazer esse episódio desde agosto de 2019 e tivemos os meses seguintes para nos preparar, produzir e lançar na época certa. Foi o nosso último episódio totalmente independente.

Thaís: O adjetivo que eu usaria pra esse episódio é “mirabolante”.

Luca: O Tiago citou o MdM, mas a gente precisa de muito para superar isso porque eles já estão com a ideia de fazer um episódio 24 horas, então a gente precisa fazer um esforcinho aqui da próxima vez para conseguir fazer um episódio maior…

Tiago: Ah, nós somos 10 pessoas, isso não é difícil. Cada um faz uma hora, aí Alguns dormem…

Luca: (risos)

Tiago: E gravam de novo…

Luca: Não Tiago, não tô te dando ideia real, por favor!

Tiago: (risos)

Michael: Vamos lançar o desafio aqui: 72 horas contínuas!

Luca: (risos)

Michael: Um desmaia e o outro entra no lugar!

Luca: (risos)

Tiago: (risos). Enfim, pessoal, nós vamos trazer aqui o sexto e último áudio de uma pessoa que particularmente mora no meu coração, uma fã do podcast que ao mesmo tempo é uma pessoa que eu tenho proximidade, que é a AnaLu Oliveira e vou deixar ela se apresentar.

*

Ana: Oi pessoal do Introvertendo, eu sou a AnaLu Oliveira, sou publicitária e podcaster no Loka dos Áudios, eu me tornei uma grande fã do trabalho de vocês. Foi uma indicação muito feliz do meu namorado, que é um devorador de podcast. Murilo tem indicação de podcast para todo e qualquer assunto e foi muito bom receber a indicação dele. Eu gosto muito do trabalho de vocês e um dos episódios que me marcou foi o episódio 19, que fala sobre autismo na cultura pop. É um episódio bem gostoso de ouvir e também é bom para a gente ver quem são os autistas artistas. O episódio 81 também me chamou muita atenção, mas ele me chamou muita atenção porque nos dois primeiros minutos o Tiago dá um cotó no Luca que me deixou muito espantada e levemente desconcertada, mas hoje eu fico até rindo disso, até falei para o Tiago pessoalmente. O Tiago vira para o Luca e fala assim: “Você só está aqui porque é namorado da Mariana”. E aí não tem uma risada depois, e eu fiquei: “Meu Deus do céu, virou ringue isso aqui!”. Mas depois o Tiago me explicou que é uma piadinha interna. Eu desejo sucesso a todos vocês e que o Introvertendo faça muitos e muitos aniversários, parabéns, um grande abraço dessa grande fã de vocês.

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Tiago: AnaLu Oliveira, que é do podcast Loka dos Áudios, é uma das pessoas que eu conheci a partir do coletivo que eu montei junto com o Pedro. E o namorado dela que é o Murilo também é podcaster e fez, por muitos anos, o Filosofia Pop que é um dos maiores podcasts do Brasil. E o Murilo recebeu o diagnóstico de autismo.

Luca: Explicando o que aconteceu nos bastidores, é que a gente já tinha gravado um outro episódio antes e eu tava realmente muito cansado e como eu não conhecia nada de fanfics, que é o tema central do episódio, quando eu levei essa tirada comecei a rir e fui jogar videogame. Eu estava ali porque era o namorado da Mariana, então ele não tava mentindo (risos).

Tiago: Inclusive o episódio que a gente gravou antes foi o bloco de música do episódio da década.

Luca: Né? Ficou gigantesco, então foi um dia cansativo.

Tiago: Eu queria agradecer muito às seis pessoas que mandaram áudio para gente, a quem nos acompanha nas redes sociais, então toda vez que alguém fala para gente que o nosso podcast foi importante que um conteúdo ajudou a ter maior qualidade de vida em algum tema é certamente algo que nos engrandece. Eu queria muito agradecer a você que ouve o Introvertendo e que puxa a nossa orelha quando você concorda ou discorda de alguma coisa, quando você se propõe a participar do debate. Eu acho que o maior valor que a gente tem, quando a gente produz conteúdo, é exatamente quando a gente se permite dialogar dentro da comunidade. Ao longo desses dois anos nós conversamos com muita gente do nosso público, nós conversamos com gente da comunidade do autismo, nós promovemos encontros de pessoas que nunca tinham gravado juntas e eu espero que a gente tenha muitos anos fazendo o que a gente já faz.

Luca: Um grandessíssimo agradecimento a todo mundo que já mandou algum email, alguma mensagem, porque qualquer feedback, absolutamente qualquer feedback mesmo, é importante para a gente.

Thaís: É, realmente isso que o Luca falou é verdade, é muito importante a gente receber os feedbacks pra saber mesmo como que tá sendo para as pessoas e esses debates podem nos dar ideia.

Tiago: Eu queria agradecer bastante a todo o pessoal da Superplayer & Co que nos apoia, que tem sustentado o Introvertendo, queria agradecer a todo pessoal mas especialmente o Glauco, que é o cara que faz a edição e a mixagem dos novos episódios, e queria muito agradecer o Vinicios, vulgo Vin Lima, que faz o design todos os nossos episódios e faz as nossas capas. Além deles eu queria agradecer às pessoas que nos patrocinam lá no Padrim e as pessoas que já fizeram doações para a gente pelo PicPay, queria agradecer a todo mundo da podosfera que divulgou os nossos episódios e eu queria agradecer bastante ao Francisco Paiva Júnior, da Revista Autismo.

Michael: Pra finalizar esse episódio, eu não tenho as palavras bonitas do Tiago, na verdade que eu não lembro o nome de mais ninguém fora os que estão aqui. Mas eu tenho algo muito importante para dizer para vocês do meu coração. Eu queria dizer que Mike, um frango que viveu no final dos anos 1940 numa cidadezinha do Centro Oeste dos Estados Unidos, conseguiu o incrível feito de viver por 18 meses sem praticamente toda a cabeça, só com a jugular intacta, metade de um ouvido e o toquinho externo do cérebro. Então ele é meu herói e eu queria que todo mundo deveria ouvir a palavra do Mike, a galinha sem cabeça.

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Equipe Introvertendo Escrito por: