Introvertendo 70 – Britpop

O britpop foi um dos principais movimentos da música durante a década de 1990. Certamente você deve conhecer alguma música de Oasis, Blur ou outra banda que, na época, carregou a estética britânica de volta ao passado. Cercado de polêmicas, o britpop levantou uma geração em aspectos musicais e comportamentais e, neste episódio do Introvertendo discutimos um pouco sobre sua história e também sobre seus desdobramentos, como o post-britpop.

Participam desse episódio Luca Nolasco, Tiago Abreu e Pedro Henrique Quiste.

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Transcrição do episódio

Tiago: Um olá pra você que escuta o podcast Introvertendo, que a cada dez episódios, um é sobre música. E hoje, para discutir música, nós trazemos as pessoas que mais se interessam por música que a gente conhece em torno do podcast pra poder falar sobre o britpop. Meu nome é Tiago Abreu, e na guerra das bandas de rock alternativo dos anos 90, considerando, principalmente, Oasis e Blur, eu prefiro Radiohead e Manic Street Preachers.

Luca: Então, eu sou o Luca e, sinceramente, eu prefiro nenhum.

Pedro: Eu sou Pedro Henrique e, entre todas essas bandas, minha favorita é claramente o Oasis porque não tem nem discussão sobre qual banda é a maior do Reino Unido depois dos Beatles.

Luca: OK, a gente vai ter uma discussão (risos).

(Risos)

Bloco geral de discussão

Tiago: Então, pra gente falar sobre o britpop, inicialmente, a gente precisa fazer um contexto histórico, de certa forma, todos os nossos episódios sobre bandas e artistas aqui no Introvertendo até agora partiram de artistas mais antigos, mais 70s. Nós falamos de Beatles, nós falamos sobre Queen, nós falamos sobre Fleetwood Mac. A referência, obviamente, é o Reino Unido, não só a Inglaterra, mas também o País de Gales, a Escócia, as bandas vieram desses diferentes territórios, mais ou menos aí no início da década de 90 mas a principal tensão que eu acho que existe quando a gente vai falar sobre é se o britpop é realmente um movimento ou se ele foi uma coisa muito mais midiática e industrial da música. Qual a opinião de vocês?

Luca: Cara, eu não diria industrial, porque se dá entender que aí há uma larga escala e tudo mais. Parece muito mais só um movimento comercial mesmo, uma espécie de todo mundo na época viu que ia dar dinheiro, na época tentou, não deu tanto dinheiro quanto imaginava, mas deu certo.

Pedro: Talvez mais comercial mais no sentido de crescimento pela imprensa britânica do que qualquer outra coisa tipo motivada realmente como uma posição ao grão de ou algo assim que a gente sempre lê por aí. Eu acho que teve muita influência da imprensa em si, mas do que qualquer outro ódio aos americanos e tal.

Tiago: Eu tenho a impressão de que ele é muito mais algo de comportamento do que musical. É claro que existe uma origem musical, ele é designado ali do movimento Madchester, que principalmente era do Stone Roses e que lançou apenas um disco e depois não conseguiu fazer mais nada relevante, mas tinha muito aquela coisa da volta ao passado. Tem um jornalista brasileiro que, pra mim, é um dos melhores jornalistas quando o assunto é música, que é o Ricardo Alexandre, e ele disse uma vez numa entrevista de que o foi o primeiro movimento na história do rock em que ao invés de você olhar pra frente, você começou a olhar para o passado. Foi o início dessa visão, assim, que hoje a gente fala da galera que pensa no rock clássico. Aquela galera que não consegue ouvir rock que foi lançado depois de 1991, talvez o primeiro movimento que indicou isso, é claro que sob um outro aspecto. E aquela coisa da música dos anos sessenta, da influência dos Beatles, do ser britânico, isso foi muito forte, muito marcante em todo o movimento.

Pedro: Inclusive, a questão política foi muito importante pra isso, porque você teve ali em 1990, mais ou menos, o fim da da época de Margaret Thatcher, um período que deu uma divisão bem razoável entre as classes do Reino Unido, entre o Sul e o Norte. O Sul que era a classe mais alta e o Norte, que era a classe trabalhadora até hoje tem essa essa diferença de paridade e é mais ou menos algo que representa a diferença na música dessa época. Cê tem o Sul, por exemplo o Blur, que era uma música que era mais referente a classe média e o Oasis, a outra principal banda que falava com a classe trabalhista mesmo.

Luca: O contraste entre o que houve entre o e o movimento punk é semelhante ao que houve mais ou menos entre o movimento de contracultura aqui no Brasil, contra a cultura musical e o Roberto Carlos, onde a contracultura do próprio me diz, era algo onde tentava questionar, tentava polemizar muitas coisas e o Roberto Carlos era o lado da mesma geração, mais afável as classes médias altas, que não questiona muito. Talvez seja uma comparação válida.

Tiago: Eu acho que faz sentido porque no rock você teve vários movimentos, existiram muitos movimentos que faziam oposição a outros. Por exemplo, quando a gente gravou o episódio 40 sobre o Pink Floyd, a gente lembrou sobre as tensões que existiam sobre o rock progressivo e o punk que emergia. Porque o rock progressivo era a coisa mais status quo que se tinha, assim, mais elitizada que a gente tinha pela ação da música. Então, o vocalista do Sex Pistols fez uma camisa escrita “eu odeio Pink Floyd”. Então, você tinha muito disso, porque era a representação mais forte dessa elite. E o britpop em certa medida conseguiu conciliar isso um pouco com o comportamento, com uma coisa menos ideológica, menos politizada, mas que também tinha alguns artistas um pouco mais politizados ali coexistindo e tanto é que eu acho que isso colabora muito pra gente não saber onde exatamente o termina. Quando se fala em britpop, lembramos das quatro maiores bandas, e essas bandas carregaram características sonoras bem relativamente diferentes uma das outras, mas elas coexistiram em um ano específico, que foi o auge de 1994, mas em 1993, algumas dessas bandas já soltaram seus registros de estreia, principalmente o Suede, e eu acho que o Blur foi a banda que realmente inaugurou o conceito de britpop, que foi logo no segundo álbum deles, na verdade, porque o primeiro álbum deles é de 1991, que é um álbum que já não é tão ligado a essa estética. O de 1993 é o Modern Life Is Rubbish, que foi o início de tudo, assim, e eu acho que revelou uma coisa muito significativa que se revelaria nos anos seguintes, que o Damon Albarn é a grande mente da banda. Suede e Oasis tinham influências um pouco diferentes. A principal influência, a principal comparação que faziam, principalmente por causa do vocalista Brett Anderson, era o David Bowie dos anos setenta. Ele é um cara que tem uma extensão vocal muito superior ao Damon Albarn, ele era andrógeno, ele se definia pela imprensa como um bissexual sem experiências homossexuais, viciado em drogas pesadas. Ele desenvolveu um vício pelo crack e depois um pouco depois e ele tinha uma guitarrista com quem namorava e que depois saiu da banda, ela montou uma outra banda, a gente vai falar sobre isso depois. E entrou no lugar um cara chamado Bernard Butler, que foi um dos guitarristas mais cultuados da geração, a parceria entre Brett e Bernard, foi um negócio que foi muito importante no início, e esse álbum deles é muito respeitado, tanto é que a capa desse álbum é muito conhecida, que é a capa que cê tem duas pessoas se beijando, mas você não sabe se são duas mulheres, dois homens ou se são um casal heterosexual. É uma capa que duas pessoas andrógenas estão se beijando. Todas as músicas, se não me falha a memória, são escritas pelo Brett Anderson e o Bernard Butler. Os dois formaram essa parceria e várias dessas músicas estão frequentes entre os maiores hits da banda, So Young, Animal Nitrate, só que logo após esse álbum, quando eles já iam fazer o álbum seguinte, o Bernard Butler saiu da banda.

Pedro: Vamos falar um pouquinho, então, sobre o segundo álbum do Blur. O próprio título do álbum já fala um pouco sobre a tendência dele, que é falar sobre a vida moderna e fazer uma sátira sobre, sobre a época. Fala sobre a vulgaridade das pessoas, essas coisas assim. E eu achei um álbum um pouco mais pesado do que os álbuns seguintes do Blur. Não sei se é se era uma tendência da banda anteriormente, de ter uma tendência mais de punk do que um rock pop de verdade. Mas é um álbum que tem uma guitarra mais distorcida e umas músicas mais altas, mais pesadas. Diferente do álbum seguinte, Parklife, que foi o álbum que a banda estourou em si, que é o que é um álbum que que a banda já começa a ter uma tendência mais rock pop, um pouco mais leve, umas músicas mais calmas, mais baladinhas também.

Tiago: E como a gente falou, 1994 foi o auge do pop. Foi o ano em que as quatro maiores bandas desse movimento lançaram disco. O Pulp sempre foi a banda mais antiga desse movimento, eles surgiram originalmente em 1978, fizeram vários álbuns nos anos oitenta, mas digamos assim que a fase clássica deles começa em 1994, como se eles tivessem iniciado ali naquele período. E em 94, eles lançaram o álbum His ‘n’ Hers e esse álbum tem alguns dos vários sucessos da banda. Foi esse álbum que colocou eles realmente no estrelato, porque eles tinham lançado vários sem ter conseguido muito destaque e esse álbum eles apareceram basicamente com uma banda de estreia. O Blur, por sua vez, ao testar aquela fórmula que funcionou muito bem no Modern Life, lançou o Parklife, basicamente o disco que colocou eles como a banda mais importante do Reino Unido naquele momento, porque é um álbum gigantesco, é um álbum com um monte de faixas e tem vários sucessos nesse álbum, como por exemplo, Parklife, Boys and Girls, To the End, é um álbum que tem vários hits e é um disco também muito marcante. A capa do álbum é muito marcante, são dois cães de corrida disputando, eu acho uma capa sensacional.

Luca: O PH até falou que esse álbum menos agressivo do que o outro. Você concorda com isso, Tiago?

Tiago: Eu acho que do ponto de vista musical ele é mais diverso. Tem algumas coisas nesse álbum que vão numa corrente mais agressiva, mas acho que como o álbum como um todo ele é menos agressivo, ele é um álbum que tem mais baladas. E as baladas são muito marcantes nesse álbum, então acho que realmente faz muito sentido. E o álbum seguinte que eles lançariam mantém um pouco disso.

Pedro: Você falou das baladas e aproveitar pra falar que, como eu, eu não sou muito fã dessas mais agressivas, esse foi o meu álbum favorito entre eles que eu vi do Blur, porque tem música muito boa, tipo Tracy Jacks, Badhead, são duas músicas sensacionais, mais letras menos agressivas, são as minhas músicas favoritas.

Tiago: E Oasis, o que depois que tornaria a banda queridinha do britpop lançou seu primeiro álbum ainda, não com todo aquele sucesso, mas o Pedro, que é o fã número um de Oasis aqui, ele pode falar melhor sobre.

Pedro: Não, nem tanto assim também não (risos). Eu gosto de Oasis, eu acho um pouquinho superestimado, mas é boa sim. Era uma banda que era considerada indie. Não tinha nenhuma produtora e foi descoberta em um show e, finalmente, lançaram o primeiro álbum deles, que foi lá em 94. E esse álbum já é um álbum um pouco mais pesado. Tem algumas músicas um pouco mais pesadas, mesmo como são músicas um pouco mais mais upbeat mesmo e tem algumas baladinhas legais, tipo, é legal, uma musiquinha mais tranquila, mas o geral, ele é um algo um pouco mais agressivo mesmo, ele quase uma influência de punk e a banda acabou mudando nos próximos anos, lançou um álbum no ano seguinte que fez sucesso na mídia.

Tiago: Eu acho muito curioso você ter falado sobre a questão das gravadoras, porque eu preciso fazer esse pano de fundo que das quatro bandas do britpop, todas elas estavam em uma grande gravadora. O Pulp ele hoje é distribuído pela Universal Music, que é a maior gravadora do mundo, já o Oasis faz parte do catálogo da Sony. Blur e Suede já fazem parte da Warner, que é a terceira maior gravadora. Então, todos eles, hoje, têm o catálogo distribuído por grandes selos. Como eu tinha falado antes, o Bernard Butler saiu do Suede e foi exatamente durante a produção do álbum deles, que foi o Dog Man Star, qual que foi um dos principais motivos da saída do Bernard. O Brett Anderson estava muito afogado em drogas. E esse álbum é o mais perturbador e sombrio da história da banda, ele é o álbum mais sujo. Eu acho que é definido neste álbum em que eles fazem um caminho que é de afastar essa questão da estética do britpop e ser muito mais uma banda de rock alternativo. Enquanto Blur e o Oasis sustentaram essa estética por mais tempo, já saiu de fora um pouco bem mais rápido. E 1995 é considerado um dos, dos anos em que o britpop começa a sua decadência, foi o ano de que três dessas quatro bandas lançaram álbuns. O Pulp lançou Different Class, que foi aí talvez o penúltimo grande álbum deles, o Blur lança o The Great Escape, que é o último disco britpop deles que, inclusive, é o meu álbum favorito da banda. E o Oasis lança o grande clássico deles, que é o Morning Glory. Pra poder falar sobre 1995, a gente precisa falar sobre a batalha do britpop e na batalha eu sei que o Pedro prefere o Oasis.

Pedro: É, eu publiquei no Twitter isso. Mas é verdade. A batalha do britpop foi alimentada pela mídia, a gente até falou mais cedo que o britpop foi uma tendência alimentada pela mídia e nos últimos, nos últimos meses, tinha tido uma rivalidade crescente do Blur e do Oasis, mas frases dos integrantes das bandas tornavam essa rivalidade um pouco mais acirrada. E até que com a influência da imprensa, eles decidiram lançar os singles na mesma data, justamente pra ter essa concorrência, uma batalha mesmo. O single do Oasis na minha opinião era muito melhor, mas acabou que o Blur teve mais vendas com Country House. Mas o álbum acabou não sendo tão vendido como o do Oasis.

Tiago: Aliás tem uma frase que diz que o Blur ganhou a batalha, mas perdeu a guerra.

Pedro: Exatamente.

Tiago: Mas eu prefiro Country House, é uma das minhas músicas favoritas da banda de sempre.

Pedro: Eu achei ela tão chatinha, viu? Assim, eu não sou o maior fã de Blur também não (risos), então é um pouco tendenciosa essa opinião.

Tiago: E os dois foram lançados no dia 14 de agosto de 1995. Foi o grande auge. Mas aí, qual era a principal barreira do Blur? Era o sucesso nos Estados Unidos. O Oasis conseguiu isso.

Pedro: Pra falar um pouquinho sobre isso eu acho que vale a pena voltar um pouquinho o tempo e lembrar de quando o Noel Gallagher deixa a banda pela primeira vez em 94, depois de lançar o Definitely Maybe, a gente sabe que hoje os irmãos são brigados e tal, mas essa relação já é conflituosa desde 94, quando numa turnê na na América, nos Estados Unidos, antes de gravar o outro, os dois tiveram uma confusão, o Noel Gallagher saiu da banda por algumas semanas e ele fala numa entrevista depois que ele deveria não não ter voltado pro Oasis, porque daí ele teria gravado o (What’s the Story) Morning Glory? e teria todo o dinheiro só pra ele, que é clássico dos Gallaghers esse egoísmo e eu não consigo entender porque eles são tão manhosos assim, na moral.

Tiago: Eu acho que tem um pouco da síndrome do irmão mais velho com relação ao Noel e porque o Liam é um viciado. Historicamente já tava viciado em bebidas, então ele tinha um comportamento extremamente errático nos shows. Eu acho que isso, certamente, sempre incomodou muito o Noel, porque ele sempre foi mais certinho em termos artísticos.

Luca: Sim, eu acho que além disso, o Liam é muito provocativo com o irmão dele e isso é insuportável. Tudo que o Liam pode fazer pra xingar o Noel, pra falar mal do Noel, pra desmerecer o Noel, ele faz. O que não quer dizer que eu tô defendendo o Noel, porque eles ficam nessa briguinha pra sempre, isso é insuportável, mas eu consigo compreender, pelo menos, o lado dele do que o outro, porque é muito pior do que ele.

Pedro: O (What’s the Story) Morning Glory? teve uma vibe um pouco mais tranquilinha, diferente do último, que tinha uma guitarra bem mais distorcida e tal. Esse já tem algumas baladas muito boas, tem a famosa Wonderwall que todo mundo conhece, com certeza já ouviu uma vez na vida. Isso aí não tem dúvida não.

Tiago: Nem que seja a versão do Ryan Adams.

Pedro: Eu nunca ouvi essa, sabia? A versão remasterizada também vale muito a pena ouvir, porque tem alguns que foram lançados no lado B e não tão incluso no álbum. Então, é um álbum incrivelmente sensacional, um dos meus favoritos.

Tiago: Uma coisa que ficou muito clara sobre Oasis é que a musicalidade e as letras da banda são Noel, total. O Oasis nos seus primeiros anos dependeu totalmente dele para existir, porque sem ele não existiria música. Mas quem é a cara e a voz da banda é o Liam. E eu acho que isso é o grande ponto de tensão, porque Noel é um músico completo. Ele não tecnicamente não precisa de ninguém. Mas pro Oasis ter se estabelecido, de fato, eu acho que a personalidade do Liam contribuiu com tudo. Principalmente por ele querer ser esse John Lennon dos anos noventa, sabe? De ter essa essa postura que de certa forma chama atenção, inclusive ele carrega essa persona até os dias de hoje. Pedro, você acha que eles imitam os Beatles?

Pedro: Todo mundo já falou isso pra mim e eu sempre falei, cara, não tem nada a ver, mas eu parei pra pensar esses dias, porque pode ter muito a ver com as guitarras distorcidas. Que dá um efeito diferente na música, se você parar pra pegar alguma música e tirar a guitarra, provavelmente ela caberá em Revolver. Eles fazem diversas referências as Beatles. Inclusive eles fizeram um cover dos Beatles nessa época de I am the Walrus.

Tiago: Engraçado que, embora o Blur não tenha conseguido alcançar o mesmo sucesso do Oasis, foi nesse álbum que eles apareceram pela primeira vez nas paradas dos Estados Unidos. Então, de alguma forma, eles ainda conseguiram expandir um pouco da popularidade que eles tinham alcançado com Parklife. O Great é o último britpop da banda, mas eu já tenho a impressão de que ele começa a adentrar algumas coisas que eles inauguraram com mais força no álbum seguinte, que é um álbum em que ele já mostra a pretensão deles por adentrar o que a gente chamaria de indie. E é um álbum muito diverso, ele é o meu álbum favorito do Bur porque foi de certa forma o álbum deles que eu mais ouvi na época que eu comecei a ouvir a banda, não é que necessariamente seja o melhor. O melhor, eu acho que indiscutivelmente é o Parklife, mas é um álbum que eu gosto bastante. E depois desse álbum, eles fizeram um álbum ao vivo, se não me falhe a memória no Japão E aí, depois eles partiram pro álbum seguinte deles, que seria lançado somente em 97. Só que entre 95 e 97, tem uma série de outras bandas que ajudaram a formar essa cena, que também lançaram álbuns que tinham certa influência e que alcançaram muito sucesso, porque parar pra pensar bem, em 96, a única das quatro grandes bandas que lançam o álbum é o Suede, que foi o Coming Up, que é plenamente rock alternativo, não tem nada de britpop nele. Ainda em 95, você tem a Justine Frischmann que foi a ex-namorada do Brett Anderson e também do Damon Albarn, montou uma banda chamada Elastica, e eles lançaram o álbum autointitulado, um álbum bastante respeitado. E ela era guitarrista dessa banda. Você tem outra banda que também tava ali na esteira que era o The Verve. Outra banda muito importante foi o Supergrass. O Radiohead também é outra banda que às vezes foi associada o britpop, embora ele também siga um pouco dessa coisa de ser muito mais rock alternativo, mas o The Bends, que é o álbum dele de noventa e cinco tem alguns elementos e foi o álbum que deu a notoriedade pra eles depois que eles estouraram com Creep. O caso desse álbum é muito semelhante a uma outra banda do País de Gales chamada Manic Street Preachers, que nós vamos lançar um episódio só sobre ele já tá, inclusive, gravado, que é o álbum Everything Must Go. E outra banda que também conseguiu um sucessinho bom em noventa e seis, foi o Ocean Color Scene, que eles lançaram um álbum chamado Mosley Shoes. E é engraçado que essas bandas se dialogam, tá? A gente tá falando aqui sobre álbuns específicos pro episódio não ficar muito longo, mas em 94 o Manic Street Preachers tocou junto com o Bernard Butler e tocou a música The Drowners da Suede, o Ocean Colour tocou com o Noel, então você tem essas bandas tão sempre aí ligadas uma outra. Mas a gente precisa falar sobre a decadência do britpop e a decadência começa também em grande parte entre o relacionamento entre o Noel e o Liam com o acústico do Oasis pela MTV. Oasis foi convidado para poder aparecer no acústico da MTV, só pra lembrar o acústico MTV nos anos 90 tinha aquela força muito grande. Artistas mundialmente faziam seus registros acústicos e é claro que eles não iam perder a oportunidade de ter uma das maiores bandas da época para gravar um registro acústico. Então, a expectativa era muito grande. Chegou no dia da gravação o Liam falou que não ia participar, porque ele não estava passando bem, parece que ele estava gripado coisa nesse sentido, o Noel ficou muito bravo, com muita raiva e ele decidiu cantar essas músicas. E aí, o que aconteceu? O Liam, na hora da gravação, encheu a cara, subiu lá na parte superior do espaço de gravação, enquanto o Noel cantava todas as músicas e ele ficava lá de cima bêbado provocando e xingando o irmão dele durante a gravação do acústico MTV. Resultado: o acústico não foi lançado.

Luca: Esse é um dos casos que eu disse que o Liam era provocativo até por eles terem irmãos, ele quer provocar sempre, não tem nenhuma razão.

Pedro: No lugar do Noel, eu ficaria puto e saía na hora.

Luca: Eu também, cara.

Tiago: E aí, essa treta entre eles acabou crescendo ainda mais no álbum seguinte. Que foi, digamos assim, o que as pessoas dizem que foi o grande desastre do britpop, que foi o álbum que realmente enterrou o de vez.

Pedro: É um álbum que teve até umas críticas positivas no começo, mas é extremamente superproduzido, eu acho algo forçado até, não gostei muito não, tem algumas músicas que salvam, mas no geral é bem forçado. Tem algumas músicas legalzinhas e tal tipo Don’t Go Away, Stand by Me, mas no geral ele é muito superproduzido, uma produção exagerada e daí acabou tendo umas críticas demais.

Tiago: Eu acho que uma banda que entendeu muito bem isso foi o Blur no álbum deles autointitulado em 97, já deu uma certa mudança no som. E foi nesse álbum que eles fizeram um grande sucesso, que é a música Song 2. Esse aí não tem como não conhecer também, é a Wonderwall do Blur. E aí nesse álbum também, de certa forma, em 97, como a gente tava falando sobre as outras bandas, o Pulp, ele só lança o seu álbum seguinte, em 98, que é o This Is Hardcore, um álbum um pouco mais diferente. Isso, como eu falei, em 96, já há um ano antes desse fim do britpop, o Suede lançou o Coming Up, que foi o primeiro álbum sem a participação do Bernard Buttler, e é o álbum mais radiofônico da banda. Tem vários hits como Filmstar, Saturday Night e Thrash. Suede ficou cada vez mais experimental. Em 99 eles lançaram o Head Music, que é um disco que tem uma coisa mais eletrônica e foi o auge do vício em crack que o Brett tinha. O Blur flertou com o indie ainda mais no álbum 13 de 99, que foi um álbum que já começou a cair um pouco de nível. Tem algumas músicas muito legais nesse álbum, como Tender, mas é um álbum que já deu uma queda, assim, da popularidade deles. E aí, com as bandas do Panteão do britpop perdendo espaço, as bandas que ganharam espaço foram as bandas que assumiram o rótulo do rock alternativo. Então, o Radiohead ganhou um culto imenso em 97 com OK Computer e foram surgindo outras bandas mais novas que foram reavivando uma estética que o pessoal chama de post-britpop. Mas eu nunca consigo entender muito bem o que seria o pós porque ele está tão colado no britpop em si que a única definição realmente consistente que se tem sobre o pós é que o pós pega a influência do próprio britpop e junta com o pós-grunge dos Estados Unidos. E falando sobre essa questão do fim, a banda mais famosa do Reino Unido em 1998 foi o Manic Street Preachers, eles lançaram This Is My Truth Tell Me Yours, que apesar de ser muito radiofônico e ser um disco que vendeu cinco milhões de cópias no mundo, ele é um álbum muito politizado. Já o Elastica não lançou mais nenhum grande álbum depois, porque os integrantes se afundaram em drogas, Suede parou em 2003 e a banda só voltou em 2013. Nesse meio termo, Brett Anderson se juntou com Bernard Butler, os dois fizeram as pazes e lançaram uma superbanda chamada The Tears, que lançou um álbum em 2005 sensacional. Oasis continuou lançando vários álbuns até 2008. O Blur ficou uns anos como trio até que a formação retornou. O Pulp parou em 2002, reuniu em 2013, mas não lançou nenhum álbum relevante. Então, dá pra ver que o ponto de inflexão deles foi em 98. Como a gente tinha falado antes, começou a surgir uma cena musical, digamos assim, que era concomitante com o que era o pós-britpop, e tem algumas bandas que fizeram nomes, desses lugares. Como, por exemplo, Catatonia, que lançou um álbum muito importante em 98, que foi International Velvet. E também nós tivemos o Stereophonics em 99. E você tem a maior banda do pós-britpop, na verdade, nessa fase inicial, que foi uma banda escocesa chamada Travis, que teve auge em 99. E o The Man Who é um disco que tem várias músicas muito legais e foi produzido pelo Nigel Godrich, que se tornou o produtor musical mais importante, eu acho, do Reino Unido, durante um longo período. Pedro, muito obrigado mais uma vez pela participação do Introvertendo. Você é o nosso quinto Beatle.

Pedro: (Risos) Obrigado por me chamar, viu? É, tive o prazer de estar aqui com você. Agradeço ao Luca também por estar aqui com a gente. Então, só pra finalizar, já queria deixar uma frasezinha bem, bem reflexiva, lembrando que Skank é melhor e superior ao Oasis, é só isso, uma boa noite, um bom dia, uma boa tarde pra todo mundo.

Tiago: E só mais uma coisa, se você quiser acompanhar o Pedro, ele tem um podcast que é o 4theWin e também você tem o seu Twitter.

Pedro: Isso, exatamente, pode me seguir lá no Twitter. Se você gosta de basquete, gosta de esportes americanos, pode ouvir o nosso podcast lá. E é isso.

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