Introvertendo 60 – A Arte do Fleetwood Mac

O Fleetwood Mac possui uma das histórias mais intrigantes da história da música. Com muitas formações, sendo a mais famosa formada por Mick Fleetwood, John McVie, Christine McVie, Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, envolve relações de amor e ódio, brigas, uso de drogas e discos consagrados, como Fleetwood Mac (1975), Tusk (1979) e o recordista Rumours (1977). Neste episódio, nossos podcasters passeiam pela discografia do grupo, as tensões entre os ex-casais e até a recente expulsão do guitarrista e vocalista Buckingham.

Participam desse episódio Luca Nolasco e Tiago Abreu.

Links e informações úteis

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Transcrição do episódio

Tiago: Um olá pra você que escuta o podcast Introvertendo e todas nossas epopeias musicais e também as nossas discussões sobre autismo, porque nós somos um podcast que traz neurodiversos para entreter neurodiversos e também neurotípicos. O meu nome é Tiago Abreu e como vocês sabem, todo episódio terminado em zero é episódio sobre música. E estamos aqui com uma pessoa que vocês já estão cansados de ouvir também episódios de música, então ele se apresenta pra vocês.

Luca: Olá, eu sou o Luca Nolasco e esse é outro episódio de música.

Tiago: E hoje nós vamos falar sobre um dos atos mais famosos da música popular, tanto em termos de música quanto em termos de rock que é a banda Fleetwood Mac, que também por coincidência é uma banda britânica e ao mesmo tempo uma banda americana e vocês vão entender o porquê.

Bloco geral de discussão

Luca: Pelas coisas que eu li, Fleetwood Mac é uma banda muito difícil de explicar o que é, porque não dá nem pra saber (se você não souber o momento certo) quem que tá nela, . Então, como é que você começaria a definir alguma coisa sobre essa banda tão confusa, Tiago?

Tiago: É verdade, eu acho que o Fleetwood Mac, antes de tudo, é quase uma entidade. Passa por várias formações e dependendo do período que você ouve, são bandas totalmente diferentes, não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas a banda nasceu no ano de 1967 ou menos com a fusão de duas bandas de blues e ela era caracterizada como uma banda de blues rock. Na década de 70 ela passa por uma reformulação muito radical e ela se transforma numa banda de soft rock. E é a partir desta formação que ela fica bastante famosa, inclusive radicada nos Estados Unidos, então primeiro surge como uma banda britânica. Essas formações dentro dessas duas grandes formações que a gente pode falar tem miniformações com vários integrantes que entraram e saíram da banda. Atualmente a banda é um sexteto, tem seis integrantes, desse seis tem quatro integrantes que são de longa data da banda que tão há muito tempo, que é o que é o baterista Mick Fleetwood, o John McVie que é o baixista, a Cristine McVie que é tecladista, toca piano e também canta. Tem a Stevie Nicks, que é vocalista e com mais dois integrantes que entraram em 2018, um deles é o Mike Campbell, que era da banda Tom Petty & the Heartbreakers, o Tom Petty morreu recentemente, então agora o Mike entrou no FM e o outro  guitarrista que também agora é vocalista da banda se chama Neil Finn. O Finn era vocalista da Crowded House e tanto ele quanto o Mike entraram na banda substituindo o Lindsey Buckingham, que entrou na banda em 1974, fez parte da banda por um longo tempo, compositor de vários dos sucessos da banda ao lado da Stevie e da Christine e que está fora da banda desde 2018. Mas, em resumo, tanto o Mick Fleetwood quanto o John McVie são caras que vem desde o início da banda. O nome da banda vem do sobrenome deles. É uma fusão de duas bandas de blues, que tinha outros integrantes como Peter Green, que era a grande figura criativa da banda, o Jeremy Spencer e o Bob Brunning e o John McVie entrou substituindo ele. E a banda gravou o primeiro álbum num formato de jam session, bem experimental, feito em um dia e o disco foi muito importante quando se fala de blues dos anos 60.

Luca: Até onde o meu conhecimento limitado sabe, o blues não era algo muito mais presente nos Estados Unidos do que na Grã-Bretanha pelo menos dos anos 60? Você acha que isso inicialmente foi alguma coisa que impediu que eles fizessem algum sucesso estrondoso, o estilo, não sei exatamente, o que o povo curtia no lugar?

Tiago: Eu acho que isso foi bom pra eles porque o blues realmente era um negócio mais underground no Reino Unido, só que você tinha muitas bandas que tinham uma influência que misturaram isso e conseguiram se destacar como o próprio Led Zeppelin, o Black Sabbath. E o Peter Green inclusive já era um reconhecido guitarrista, ele chegou a substituir o Eric Clapton em outra banda com quem ele tinha participado. Então mesmo assim eles não eram uma banda de sucesso comercial. O que você acha assim basicamente desse trabalho inicial meio blues você acha bom ou não chama tanta atenção?

Luca: Eu achei bom mas genérico mas também eu digo que é genérico com conhecimento de músicos que eu tenho hoje. Na época talvez tenha sido algo mais impressionante mas diria que é algo que não faria tanto sucesso em época alguma assim. É só algo comum, muito bem executado, mas comum.

Tiago: O que acho muito engraçado nesse início é que algumas das principais músicas da banda não estiveram em álbuns, eles foram singles ou músicas separados que depois aparecem em coletâneas. Teve uns sucessos como Albatroz, Rattlesnake Shake, eles só foram assim a ter alguns primeiros singles lançados nos Estados Unidos em 69 quando eles lançaram o Then Play On que foi o terceiro disco, o segundo disco é o Mr. Wonderful que não é um disco muito muito destacado na carreira da banda, mas o terceiro disco foi o que teve os dois primeiros sucessos. E é nessa época que o John McVie conhece uma fã da banda que também tinha uma outra banda de blues chamada Christine Perfect. Ela era muito fã da banda e depois que ela conheceu o John foi uma paixão instantânea, os dois começaram a se relacionar, ela casou com ele em menos de um mês e ela deixou todo do mercado da música pra virar uma dona de casa e se dedicar ao marido. Mas um pouco depois ela entra na banda sendo chamada de McVie e ela tá até hoje na na banda. Mas essa fase inicial do Fleetwood Mac também não me chama muita atenção não. É muito interessante porque essa primeira fase do Mac ela tem um diferencial até de gravadora. Os primeiros discos deles eram distribuídos pela Columbia que hoje é subsidia da Sony. Então, tudo que a Sony lança deles é o chamado do Original Mac e o que sai da fase mais popular é da Warner. Então, aí as pessoas falam, “ah, é o Fleetwood Mac clássico do Peter Green” sabe? Então, você tem duas bandas distribuídas por gravadoras diferentes que tem se diferenciado. E depois que a outra formação ganhou o sucesso nacional, essas foi recebendo mais atenção. E tem aqueles fãs mais radicais que falam que essa foi a melhor fase da banda.

Luca: Qualquer banda que você pegar pelo menos a maioria sempre vai ter uma comunidade de fãs que vai falar que o começo era muito melhor do que é na época mais famosa, você pega qualquer banda: Beatles, Pink Floyd, tudo tem esse tipo de fã e eu acho que o não ia ser exceção pra isso.

Tiago: E eu acho que a fase menos interessante em termos de popularidade é exatamente uma fase que é marcada pela transição, porque tanto o Peter Green quanto o Jeremy Spencer seguem caminhos de vida muito engraçados. O Peter acabou tendo vários problemas com relação a LSD, então a gente falou lá por exemplo, lá no episódio do Pink Floyd que o Syd foi expulso da banda, né? Porque mentalmente ele já estava incapacitado por causa do vício em LSD, o mesmo aconteceu com Peter de certa forma, embora o próprio Mick Fleetwood diga que no início da banda achava que o Peter não ia ficar muito tempo no grupo. Então ele acabou saindo e a banda continuou com os demais integrantes. E o Jeremy era muito anti-religioso, fazia piadas com religiões. Mas um dia ele saiu na rua e foi abordado por um cara de um grupo religioso chamado Meninos de Deus e nunca mais voltou. Ele se tornou um adepto e permaneceu. E aí, ele saiu da banda. Então, dois integrantes que deixaram a banda, isso num período de dois dias, então, foi muito rápido. A Christine que participava como integrante convidada foi oficialmente integrada, mas ela era diferente, ela tinha uma versatilidade muito maior, ela era tecladista e então essa fase de transição é o Mac convivendo com o seu passado mas também talvez fazendo uma leve migração pro pop que era o caminho que eles iam alcançar. E o integrante central dessa fase é um guitarrista chamado Bob Welch, porque ele era um músico muito versátil, muito elogiado pela banda e foi ele quem fez a banda ficar unida. Durante esse período lá no início um dos integrantes da formação original era o Bob Brunning, que era um dos guitarristas, né? E ele foi demitido nessa época porque ele teve um caso extraconjugal com a esposa do Mick Fleetwood, que por acaso era irmã da ex-mulher do George Harrison e mulher do Eric Clepton, então né? Esse cenário aí sempre a galera mexendo com parentes aí o tempo todo. E nesse processo da banda vivendo essas tensões e discos não muito elogiados, lançaram vários álbuns durante entre 1970 a 1974, e nenhum desses discos obteve uma popularidade significativa. Inclusive pra cumprir a cereja do bolo, o empresário da banda monta um novo Fleetwood Mac usando o nome da banda nos Estados Unidos e fala que os integrantes originais iam ficar fora por um tempo. Obviamente eles ficaram muito bravos com isso, entraram na justiça e ganharam na justiça. Nesse período eles, junto com o Bob Welch, perceberam que era importante mudar a sede da banda pros Estados Unidos. A partir desse momento eles estavam começando a construir o nome deles ali embora como uma banda meio ainda meio underground e aí eles lançaram o Heroes Are Hard to Find, que foi último disco com a participação do Bob que saiu em 1974.

Luca: Geralmente quando uma banda ou até um movimento social tem nessa fase de transição ocorre muito de eles tentarem negar ou contrariar o passado deles, no caso da banda é tomar um estilo completamente diferente de maneira abrupta para negar o passado que tiveram. Você acha que isso ocorreu bastante com o Fleetwood Mac, ocorreu pelo menos em alguma medida ou não?

Tiago: No caso deles, não. A gente gravou por exemplo um episódio sobre Pink Floyd, que teve uma mudança gradual. Eu acho que foi o mesmo caso do Mac, porque a banda foi inserindo novos elementos, mas foi uma coisa dentro da estrutura que já existia na banda. A partir do momento que as composições da Christine foram ficando mais pops num período aí de cinco discos, então eram muito discos para fazer mudanças E o Bob era um cara muito versátil, então ele carregava o passado da banda, mas ao mesmo tempo ele sabia também se adaptar a outros aspectos. Então, eu acho que de forma muito centrada a banda conseguiu criar uma transição muito agradável, mas mesmo assim não foi suficiente pra que o disco e a formação seguinte fosse muito diferente de tudo que eles fizeram antes. E aí nessa época que a sonoridade ficou mais palatável. Eles conseguiram que o Heroes fosse o primeiro disco da banda a figurar no Top 40 dos Estadus Unidos, e aí nessa época mesmo o Bob resolve sair da banda porque o Fleetwood Mac não estava tendo estabilidade e ele poderia se lançar como artista solo. Mas ele não conseguiu muita relevância depois que ele saiu da banda. Inclusive tem uma coisa que se fala muito que é uma injustiça do Rock and Roll Hall Fame com ele. O Mac teve muitas formações. Então quando a banda foi indicada ao prêmio somente integrantes da formação original e os integrantes da formação mais famosa foram indicados e o Bob não foi colocado e aí ele ficou chateado com isso e a própria banda achou isso um pouco injusto também porque ele foi considerado pelo Mick Fleetwood como o cara que foi responsável por fazer com que a banda não tivesse acabado antes mesmo do estrelato. Depois disso, aí quem chega na versão do grupo que a maioria das pessoas conhecem, dos que pelo menos já ouviram falar sobre o Fleetwood Mac. O Mick encontrou uma fita demo de uma dupla de música folk e com influência de outras coisas chamada Buckingham Nicks, que era um casal, e ele achou um negócio muito bom e foi correr atrás dos dois que achou bastante interessante. Depois da saída do Bob eles queriam um novo guitarrista, mas queriam só um guitarrista. E aí, apesar de achar a musicalidade folk muito diferente do que o Mac fazia, ele gostou do que ele ouviu, ele achou muito criativo e chegaram até eles por meio da fita demo. Só que eles, como eu disse, só queriam o Lindsey na banda, né, que era o guitarrista. E o Lindsey falou: “eu só entro na banda com a Stevie”. Eles escreviam as músicas juntos, né, eles cantavam juntos. Então, eles toparam e a banda virou um quinteto. Então esse quinteto que é a formação clássica da banda: é formada pelo Mick Fleetwood, John McVie, a Christine McVie, o Lindsey Buckingham e a Stevie Nicks. É muito interessante você perceber que durante o período da banda, a banda era formada por dois casais e isso é um ponto muito fundamental pro que vem depois. Então, ao mesmo tempo que eles tinha uma relação de trabalho, eles chamavam atenção pela relação de amor também.

Luca: Ambientes onde você trabalha, geralmente, as pessoas não aconselham a manter um relacionamento neles porque é um ambiente onde você primeiro não planeja largar tão cedo geralmente. E é um ambiente onde tá todo mundo sob muito estresse então as chances disso afetar o relacionamento e afetar todo o ambiente, todas pessoas que trabalham ali, é muito grande nessa banda e não seria diferente. Qualquer pessoa sensata veria isso e diria que uma hora vai ser ruim.

Tiago: Sim, sim. Mas no início estava fluindo muito bem. Inclusive quando eles começaram a preparar esse disco, era muito pop em comparação aos outros, é aí que teve a ruptura de fato, eu acho. Porque a Stevie e o Lindsey trazem um olhar sobre a banda que era uma diferença em termos de temática e em termos de instrumentação. O Lindsey era instrumentista, tocava violão, guitarra, um monte de coisas, e a Stevie trouxe pra banda um aspecto meio místico, porque ela tinha ela tinha um jeito de vestir e se portar no palco, misterioso assim, essas eram as características dos dois. E uma definição que a crítica deu pra ele, eu não sei qual foi o veículo, que eu amei, é que o Lindsey é um gênio pop louco. Ao mesmo tempo que ele tem um um lado musical que combina muito com as rádios, com o formato comercial, ele é louco o suficiente para extrapolar esse próprio formato. E além disso, a Christine McVie revelou um olhar romântico e equilibrado nas músicas dela muito forte e é isso tudo que gera o álbum auto intitulado de 1975, o que é totalmente justo, porque é uma banda nova. Nesse álbum de 75, eu acho que já mostra um pouco também a dominância do Lindsey na banda, porque tem histórias de que ele mal entrou na banda e nesse disco ele já queria fazer algumas sessões de baixo e bateria e ia entregar pro John McVie e o Mick gravar e aí teve o John chegou pro Lindsey e falou assim: “olha, eu não sei onde você acha que está, mas você tá no Fleetwood Mac e eu sou o Mac. Então, sou eu que faço a linha de baixo”, eu que mando aqui nessa porra. E aí, o Lindsey abaixou um pouco mais a bola, mas não adiantou de nada que lá pra frente, no Tusk, ele já assumiu mais o controle da banda. Então, pra mim o Lindsey é quase um Roger Waters assim tipo no sentido de que se deixar faz tudo e não deixa ninguém fazer nada. É um disco que foi sucesso imediato nos Estados Unidos, ele vendeu se eu não me engano 400 mil cópias na época, o que fez eles saírem da Reprise Records e subirem ao nível da Warner. O primeiro sucesso desse disco foi a música Rhiannon, que é da Stevie Nicks. Ela se acabou se estabelecendo logo que ela entrou como a principal vocalista da banda e isso pra uma banda que a princípio não queria ela lá dentro. E o disco teve vários outros hits que subiram as paradas e fizeram com que a banda logo após esse disco que tava recomeçando a sua história dentro dos Estados Unidos se tornou um sucesso nacional e internacional também de certa forma. Então, esse disco tem muita música como Monday Morning e a Christine McVie entra ali nesse aspecto das loucuras da Stevie e do Lindsey com uma música mais centrada e os três juntos formam uma banda extremamente entrosada, como se fossem também experientes, só que no primeiro disco.

Luca: Mas como se diz, cada pessoa ali tem um estilo muito particular, cada uma delas. Então você acha que pra um álbum eles conseguiram manter uma coesão do álbum inteiro, sendo que cada música que se fosse escrita por uma pessoa levaria um estilo por outro ele levaria outra? Você acha que mesmo se conseguiu manter uma coesão ou foi algo meio largado e separado assim, músicas boas só que não conectadas?

Tiago: Eu acho que o Fleetwood Mac de 75 é coeso mesmo nas diferenças de todo mundo, porque todas as músicas carregam elementos em comum, como por exemplo a questão dos arranjos vocais, uma questão da instrumentação, então até as músicas da Christine soam muito diferentes das músicas dela na época do Bob, porque elas tinham um aspecto na instrumentação muito diferentes e nesse disco as músicas são mais limpas, as músicas do Lindsey eram limpas. Então, eles tinham os excessos característicos deles, mas os outros integrantes colaboraram muito no aspecto instrumental. Então, acho que pelo menos até 78 eles conseguiam manter essa imagem coletiva de banda mesmo nas diferenças entre eles. O que você acha mais ou menos, acha muito diferente ou funciona?

Luca: Eu não escutei o disco inteiro, eu escutei só uma sessão dele, ainda assim eu achei ele muito melhor do que os anteriores, mas absurdamente melhor. Mas aí eu acho que é uma um uma certa predileção minha porque eu acho o estilo melhor, não necessariamente as músicas. Então eu gostei bastante dele mesmo não achando que ele merecia uma nota 10 eu achei que tinha uma outra coisa que as vezes me incomodava mas como o estilo musical, como álbum eu gostei bastante.

Tiago: Eu também acho a mesma coisa, eu gosto muito de muita coisa nele, inclusive Fleetwood Mac não é uma banda com que eu geralmente gosto do álbum inteiro. Eu comecei a ouvir a banda durante muito tempo, mas ela só vai se tornar um vício a partir do momento que eu comecei a ouvir vários álbuns em sequência e fui escolhendo músicas dentro deles pra gostar. Porque mesmo assim não tem nenhum disco da banda que eu consiga ouvir tudo e isso não é uma questão de que o repertório não seja bom o suficiente, mas porque as vezes as diferenças são tão grandes que eu tenho um um gosto maior por certo integrante do que outro.

Luca: Com os Beatles eu tenho algo parecido. Músicas escritas geralmente pelo George Harrison e ou cantadas pelo Ringo eu geralmente gosto mais com as escritas pelo Lennon/McCartney.

Tiago: Chegamos a época que começam as crises de relacionamento. Então tanto o Lindsey e a Stevie estavam se separando e a Christine McVie e o John McVie estão se divorciando. Uma coisa muito importante sobre a relação da Stevie é que a gente tá falando esse período 75 e de 77, mas antes mesmo deles entrarem na banda o relacionamento estava se desfazendo. Eles se conheceram na época do ensino médio, ele é um ano mais novo que ela e aí eles desenvolveram uma certa afinidade musical mas eles não tinham relacionamento eles só começaram a namorar se não me engano dois anos depois. E aí eles começaram a morar juntos e se mudaram para outra região dos Estados Unidos para tentar a vida na música. Nessa época, justamente pra ter mais chance na música, eles fecharam o seguinte acordo: o Lindsey não ia trabalhar e ela ia trabalhar sozinha enquanto ele ia desenvolver as técnicas dele de guitarra, de violão e tudo mais que ele que ele estudava. A Stevie trabalhou em muitos lugares assim de subemprego, sabe? Ela foi garçonete, ela foi um monte de coisas e ela odiava a vida que ela levava. Ela falava que na época que eles moravam juntos, por exemplo, eles só tinham um colchão e um quarto, sabe aquela coisa que a gente falou até no episódio do Queen, né? Que todos tinham uma vida desgraçada? É basicamente isso. E aí eles juntaram muito dinheiro, gravaram o primeiro disco, foi esse disco que chegou na mão do Mick Fleetwood, que tinha a música chamada “Frozen Love”. Só que nessa época a própria relação entre eles já tava muito desgastada, a questão da música as coisas não dando certo, eles não ganhando dinheiro e tudo mais. E um dos episódios que eu acho que é um momento assim muito grande que você vê a percepção diferente que os dois têm sobre a arte é quando eles foram fazer a capa do disco. Porque a é a seguinte história é a seguinte: Stevie trabalhou, juntou um dinheiro pra comprar uma roupa especial pra ela usar na capa do disco. E aí o fotógrafo que ia fazer a capa convenceu os dois de tirarem a foto da capa do disco nus. E ela lidou muito mal com isso, ela chorou durante a sessão de fotografia e o Lindsey fez pouco caso disso falando: “isso é arte”, e isso é horrível, né?

Luca: Não, é perfeitamente justo da parte dela se recusar porque é o corpo dela e é mais babaca ainda da parte dele fazer pouco caso disso.

Tiago: E eu acho que a gente percebe ao longo que a gente for avançando na história da banda, que essa visão do Lindsey em nome da arte, muitas vezes ela subverte totalmente as relações pessoais em nome da arte. Ele comete um monte de absurdos, eu acho que é isso que fez ela inclusive dizer que quando ele era novo ele não era uma pessoa muito legal e que ele só começou a melhorar depois que ficou mais velho, se tornou uma pessoa mais agradável de conviver. E aí você pensa o seguinte, por exemplo, se a gente for levar isso pra vida particular, por exemplo, nesse podcast se tivessem duas pessoas que tivessem se relacionado, terminado o relacionamento e tivessem sido obrigadas a trabalhar juntos no podcast, já seria um peso muito grande para essas duas pessoas. Agora você imagina uma banda de sucesso internacional, você sendo condenado pela sua vida inteira a trabalhar com seu ex ou com a sua ex.

Luca: Eu acho que é um que é uma responsabilidade muito grande e precisa de muita maturidade pra lidar com isso. Coisa que diversos movimentos não tiveram nenhum deles.

Tiago: Exatamente. E tudo isso começa a partir do momento em que eles começaram a trabalhar no disco seguinte, que era o Rumours.

Luca: Muita gente diz que é o disco mais famoso da banda, eu não sei dizer, mas pelo menos aqui tem a minha música favorita, é.

Tiago: Sim e é o mais famoso. Inclusive ele é um mais vendidos da história da música, vendeu mais de 30 milhões de cópias, se não me engano mais de 40 milhões de cópias, que é um número altíssimo, acho que ele é o quarto álbum mais vendido da história da música, que só perde pra um do Michael Jackson, do Pink Floyd e um do AC/DC. Ele no caso seria o quarto. E esse disco foi regado a muitas tristezas amorosas, muita melancolia e muita cocaína também. Tinha um cara que o Mick disse isso no livro dele sobre a banda que tinha um cara que fornecia uma cocaína da boa assim pros integrantes que usavam, né? E eles decidiram até homenagear esse cara na capa, só que ele foi executado antes do disco ser terminado. Então é um negócio assim super pesado, sabe? E eles falaram que que isso ia ser uma ideia meio maluca né? Trazer a imagem de um traficante na capa do disco.

Luca: Pessoas quando estão sob efeito de drogas tendem a não ser muito sensatas (risos).

Tiago: Tão fora de sensatez, porque durante eles foram pros Estados Unidos gravar no Record Plant Studios, e engraçado que durante esse período justamente como as relações estavam se desfazendo, a própria colaboração entre eles se tornou mais individual e o que era coletivo eram entre integrantes que não se relacionavam antes disso. Então, por exemplo, a Cristine McVie começou a trabalhar muito com o Lindsey, e a Stevie começou a ter um affair com o Mick Fleetwood, o baterista. E a Christine McVie ao mesmo tempo tava começando a ter um namoro com o roadie da banda, então assim a falta de fidelidade dessa banda era total a partir desse momento. E eles ficavam durante várias horas trabalhando em músicas usando drogas, mas no final das contas o disco foi concluído. O título Rumours veio a partir de muitos boatos que vinham sobre a banda, sobre os relacionamentos deles. Porque imagina, quando relacionamentos se desfazem, a mídia cai em cima e as músicas falam tanto dessas questões dos boatos quanto dos relacionamentos e a sensação que eles tinham como base nisso. Então a Stevie Nicks, por exemplo, nas músicas elas sempre falavam alguma coisa mais ou menos assim tipo “o relacionamento acabou, eu amei você de verdade, mas você não me amou”. E o Lindsey falava a mesma coisa dela nesse período. Já a Christine ficava fazendo músicas superalegres e apaixonadas pro roadie da banda. E é engraçado que a Christine ao longo da carreira tem vários relacionamentos e toda vez que ela entrava num relacionamento você via que as músicas dela são extremamente apaixonadas, sabe? Como se fosse o amor da vida dela, ela representa muito bem esse tipo de pessoa que quando inicia um relacionamento nas redes sociais no primeiro mês de namoro a pessoa já tá fazendo uma festa de arromba falando “um mês juntos”, sabe? Ou aniversário de quinze dias de namoro.

Luca: Atualmente ela seria a pessoa que usa aliança de compromisso com duas semanas de namoro, possivelmente.

Tiago: Exatamente, eu acho que esse é o conceito perfeito. E aí eu acho que o ponto alto que representa esse rompimento de relações no disco são duas músicas do disco, uma delas foi o single e outra foi o lado B. A música que foi que até hoje é praticamente o maior sucesso da banda, que é a música Go On Your Way, e o que é música do Lindsey. E ele escreveu essa música falando, “ah, já que você não quer mais, então siga o seu caminho, mas eu não sei se foi certo ter gostado de você”, sabe? Essas coisas assim. E a Stevie gravou como lado B do disco a música Silver Springs, que depois ganhou um destaque na banda só em 1997 quando eles fizeram um disco ao vivo que é uma música basicamente falando que “você nunca me amou de verdade e você me fez sofrer”, sabe? E tem uma coisa muito engraçada: as músicas do Fleetwood Mac tem backing. Então além de você conviver com seu ex-relacionamento, você tem que cantar músicas que são indiretinhas pra você. Imagina o nível de tortura psicológica que era pra essa galera tá tá junto (risos). E Silver Springs é uma canção que quase dividiu a banda duas vezes. Quando eles tavam Rumours, produzindo ela era uma música destinada para estar no disco principal. A Stevie queria que essa música fosse porque ela fez inspirada como como o que ela sentia com relação ao fim do relacionamento do Lindsey. O Lindsey ouviu e compôs a outra como resposta que foi o single, só que nem ele e parece que os outros integrantes da banda permitiram que Silver Springs entrasse no negócio e ela ficou muito chateada com isso, muito brava, eles brigaram muito e afinal das contas ficou como lado B do single. O Richard Dashut, que é um dos produtores do disco, longo colaborador do Lindsey, ele diz que é a melhor música lado B que ficou fora de um álbum, que era uma música que seria justo ficar na parte principal de Rumours mas acabou não entrando. E é uma coisa muito engraçada que ela ficou como lado B da resposta do Lindsey. E uma das coisas que mostram o peso da da relação negativa entre os dois é que o Lindsey ficou tão ressentido pelo fato dela ter terminado o relacionamento com ele, que tem um trecho que ele basicamente fala assim “fazer sexo com os outros é o que você quer fazer” e aí ela disse isso anos depois em entrevistas que o Lindsey sabia que isso não era verdade e que ele escreveu aquilo só pra magoar ela. E que ela pediu pra ele tirar isso da música, mudar o verso, mas ele não quis mudar o verso e que toda vez que essa música era tocada em shows isso causava um mal-estar muito grande pra ela, inclusive essa música saiu dos setlist de shows depois de um certo tempo porque apesar de ser a música do até hoje mais pela crítica e uma das músicas que mais famosas deles talvez, é uma música que tem esse contexto ruim principalmente por causa desse verso.

Luca: Cara é um dos ambientes mais infernais que eu acho que pra trabalhar seria esse, não tem como, não tem como. Dá pra entender perfeitamente por que que muitos momentos brigaram e não aguentavam mais a banda porque é um ambiente desgastante demais, eu não consigo nem imaginar o quão difícil dá pra ser.

Tiago: E é engraçado porque assim, apesar disso, o disco foi recheado de músicas muito bem construídas. Então, por exemplo, tem uma música só que tem um de todos os integrantes e se não me engano é a única música da banda que tem o crédito de todos eles, que é a música The Chain, que inclusive fez trilha sonora de uma novela da Globo recentemente. E essa música é uma junção de um monte de músicas inacabadas da banda, então ela se não me engano tem melodia que é do Lindsey, um pedaço de letra que é Stevie, tem uma sessão instrumental no final com muito solo, com muito baixo e bateria que é do Mick e do John e é uma música que os primeiros versos acho que representam muito bem o clima que eles tão passando porque eles dizem assim, “dane-se o seu amor, dane-se as suas mentiras e se você não me ama agora, você nunca me amará de novo, eu ainda posso ouvir você dizer que nunca quebraria a corrente”. Esse disco é todo cheio de verdades universais sobre amor e desilusões amorosas. O peso desse disco é exatamente por esses temas até um pouco banais, mas ao mesmo tempo que vão estar presente na trajetória humana e eles não envelhecem.

Luca: Não só não envelhecem como pelo fato de eles estarem passando por isso naquele exato momento de sensação de traição, da raiva, de terminar o relacionamento, da melancolia de terminar o relacionamento e ver outra pessoa do seu lado, como eles tavam passando por isso naquele momento, acho que eles conseguiram exprimir muito bem pela letra e pelos acordes todos. E se tem uma coisa que em qualquer momento é a dor de corno, então todo mundo que escutar vai conseguir se identificar um pouco com isso e vai ter um pouco do sentimento que eu acho que é o objetivo do disco.

Tiago: Além dessas músicas, o disco também se destacou por Dreams que é uma música da Stevie Nicks, Never Going Back Again, que é mais uma música de sofrência do Lindsey executada no violão, que é uma música muito legal, Don’t Stop, que é uma música da Christine que ela basicamente escreveu essa música junto com o Lindsey e é uma música meio contrariando o John McVie, e é uma das mais positivas da banda até hoje muitas das vezes ela é usada no final, a música que encerra os shows, é uma música que eu gosto bastante. Só que Go Own Your Way fez um sucesso muito superior em alguns aspectos, mas é uma música que trouxe muito mal-estar e aí é nesses momentos que cê começa algumas assim, entre eles, porque nessa nesse rompimento de relacionamento, muita coisa tava em jogo. Tava em jogo a saúde das relações entre eles, as músicas que eles estavam escrevendo, os temas das músicas, as relações comerciais…

Luca: Os shows também, né? Porque cada um teria que cantar ali o que te traz dor e ninguém quer isso.

Tiago: Sim. Então, começariam as brigas nas turnês. O negócio foi descarrilhando pro pior nesse momento. E é claro, quando um disco dá certo, o que a gravadora quer? A gravadora quer a continuação desse disco e eles queriam um Rumours 2.

Luca: Não (risos).

Tiago: E o Lindsey não queria isso e ele começou a ter um crescimento muito grande na banda, porque ele deixou de ser o guitarrista, o vocalista e o principal compositor para ser o produtor da banda. Então, ele começou a dominar a banda de um jeito que isso trazia um estresse muito grande pra ele e isso também aumentava as tensões dele com os outros integrantes. Ele falou pra gravadora: “não, a gente vai fazer um disco aí e a gente vai entregar pra vocês ele pronto, vai ser ótimo”. E eles começaram a trabalhar no disco chamado Tusk, que é totalmente surtado. Surtado porque as gravações também foram assim. Ele é um álbum duplo, tem 20 faixas. O Lindsey escreve a maioria delas e são músicos que variam entre “tudo vai terminar bem e eu quero morrer”, sabe? E é um disco que tem muita influência da new wave apresentada pelo Talking Heads, o pós-punk. Então, o Tusk é aquele disco dos anos 70 que mostra muito bem os excessos da época num período em que não existia HIV, num período que o mundo parecia andar numa direção de loucura total, você tinha Guerra Fria, é um disco muito representativo pra esse período.

Luca: E eu acho que é nesse momento que se não surge é o momento que é mais representado o apelido do Lindsey de “gênio louco” da música porque é ali onde coloca realmente pra valer a loucura dele.

Tiago: Exatamente. Porque tem algumas histórias a gravação desse disco que são muito curiosas contadas tanto pelo produtor quanto pelos outros integrantes. Então eles trabalharam não somente o próprio Lindsey, que entrou mais diretamente na produção, embora a banda tenha assinado muita coisa mas eles trabalharam com dois caras: o Richard Dashut, que é um cara que depois muitas vezes em outros discos e um cara chamado Ken Caillat. Inclusive o Ken Caillat disse em um certo momento de que o Lindsey estava completamente surtado na gravação desse disco. Ele disse assim que a ideia primeiro foi gravar um disco que também tivesse gravações domésticas, então o Lindsey queria gravar umas coisas separadas de toda a banda e o Mick Fleetwood primeiro falou: “olha, mas é importante a banda toda participar”. Então, já começaram as tensões. O Lindsey queria tomar o controle, e aí o próprio Lindsey disse nessa época que essa ideia de fazer um disco muito diferente do Rumours foi uma ideia intencional, de certa forma, prejudicar o Warner sabe, pela aquela intenção infame de querer fazer um Rumours 2, Rumours 3 e por aí vai, porque senão ele se tornar um piãozinho dentro de um tabuleiro gigante que era a indústria da música.

Luca: O Mike Oldfield exatamente com isso porque ele fez um álbum de sucesso que era o Tubular Bells que a música apareceu até no Exorcista, fez muito sucesso, aí quiseram gravar o 2, ele foi lá, o 3 e são todos muito ruins (risos). Então, acho que pelo menos nesse sentido de, cara, eu não vou fazer porque não dá pra forçar isso, acho que ele tá correto.

Tiago: Sim. E primeiro a banda queria construir um estúdio só pra gravar esse disco e gravar outras coisas, o estúdio da banda. A Warner recusou em construir um estúdio só pra ele. O Lindsey ainda gravou três músicas sozinho pro disco, totalmente ausentes da banda, tocou bateria, tocou um monte de coisas. E aí o Mick e os outros integrantes só fizeram coisas em cima do que ele já tinha feito, pra substituir, né? E sobre as gravações, o Ken disse o seguinte, sobre o Lindsey: “ele era um maníaco. No primeiro dia montei o estúdio como de costume. Aí ele disse: gire cada botão 180 graus de onde está agora e veja o que acontece. Ele gravava microfones no chão do estúdio e entrava em uma espécie de posição de flexão para cantar”. Ou seja, ele plantava bananeira pra poder gravar as músicas (risos). Aí ele disse: “no início ele entrou e surtou no chuveiro e cortou todo o cabelo com uma tesoura de unha”. Então, ele tava muito estressado esse período, se você pegar vídeos do Fleetwood Mac na época ele tinha um cabelo grande, uma barba grande e um cabelo que chegava ali no pescoço e no Tusk ele ficou um cabelo curto. Ele tava apaixonado por uma por uma banda chamada Talking Heads, que o Luca inclusive gosta muito e a gente vai gravar um futuro episódio sobre eles, e aí ele queria fazer coisas como lo-fi, como folk, pós-punk, misturar tudo isso numa numa coisa e aí ele foi e fez um monte de músicas nesse sentido. Quando o disco ficou pronto e eles foram ouvir isso, que era um álbum duplo e eles foram dentro da sede da Warner pra ouvir o disco, o Lindsey anos depois que ele queria ser uma mosca dentro daquela sala de estúdio por causa da reação deles. Então, assim. O Tusk vendeu bastante, ele vendeu dez milhões de cópias, mas pelo preço que o custou, ele foi mais de um milhão de dólares para ser gravado, foi o álbum mais caro da história até aquele momento. Então, foi um prejuízo tão grande e Warner ficou muito brava especialmente com Lindsey, que ele foi o culpado por tudo aquilo que tinha acontecido e isso pesou muito nele, ele já tava estressado e tudo mais. Mas o Tusk tem muita coisa legal, a própria faixa título ela foi gravada como orquestra de mais de 300 músicos, tem músicas experimentais, tem músicas melancólicas da Stevie, e a Christine segue aquela linha sempre muito espirituosa, é até muito engraçado.

Luca: Ela sempre tá muito feliz independente da desgraça que tá ocorrendo, acho muito fofo. Eu gosto muito da faixa título, a Tusk. Conheci ela por conta de um mangá e ela é muito boa.

Tiago: Eu gosto muito de uma faixa chamada Thanks All for Everyone, que é uma música que é bem no meio do CD que é uma composição do Lindsey e uma influência muito grande pra esse disco era os Beach Boys. E a Christine namorou o Denis Wilson que era o baterista do Beach Boys. E o disco também foi regado a muita cocaína. A cocaína é um aspecto muito forte na banda, principalmente pra Stevie Nicks, ela criou uma dependência de drogas muito forte que ela vai teve que lidar um pouco depois até ficar totalmente limpa. Para superar o comercial que o fracasso que foi, eles começaram a fazer muitas turnês e lançaram um álbum ao vivo duplo em 1980 chamado Live, que pegou algumas gravações da turnê de Rumours junto com a turnê de Tusk. Esse disco vendeu um pouquinho, não é o ao vivo que me atrai tanto, sabe? Não tem muita coisa. Eu acho que a música deles em termos de arranjo vocal é uma banda muito complexa, tanto se você fazer diferente, soa estranho, se você fazer muito igual, fica uma coisa muito de estúdio, então não é uma banda que eu acho que funciona muito ao vivo.

Luca: É nesse aspecto me lembro Black Eyed Peas ao vivo porque simplesmente não dá pra reproduzir com a mesma qualidade ao vivo e tentar fazer algo muito diferente simplesmente fica ruim. Então não é uma banda que funciona ao vivo, mas ainda sim eu acho que os shows ajudaram muito a banda não ficar no negativo com a Warner.

Tiago: Sim, com certeza. E aí nesse período eles começa a separar digamos assim momentaneamente pra fazer discussões solos. O Mick se não me engano começou a trabalhar, a Stevie foi a que teve o maior sucesso lançando discos solos e isso despertou um ciúme muito grande do Lindsey porque ele já se considerava o cara que tava levando a banda a frente, produzindo, criando coisas novas, como o arquiteto da banda e ele lançou sim carreira solo, teve sucesso, mas não teve o mesmo sucesso dela. Inclusive ela fez algumas parcerias e o Lindsey ficava assim, nossa, extremamente enciumado, sabe? Logo em seguida, eles se juntaram de novo pra gravar um novo disco e isso não me engano, em meados de 1981, que é o disco Mirage. Inclusive Mirage é um disco muito interessante porque de todos os álbuns clássicos do Fleetwood Mac é geralmente o álbum menos elogiado, é considerado o disco mais fraco por um motivo básico: o Lindsey tava se sentindo culpado pelo problema que ele causou com Tusk. Então eles resolveram fazer principalmente partindo do Lindsey uma espécie de releitura do Rumours, não uma cópia mas canções que vinham mais com o pé no chão como no passado. Só que eles não eram os mesmos músicos. Eles tavam aprendendo a transformar ex-relacionamentos em uma relação de trabalho, o que não deu muito certo. Em Mirage isso fica claro. Porque é um disco de uma banda que tem todo aquele perfeccionismo, aquela técnica dos anos 70 mas sem a mesma paixão. É um disco frio. É um disco melancólico, as músicas do Lindsey são meio tristes, tem uma música chamada Can’t Go Back, eu gosto bastante, que é uma música basicamente tipo “eu quero voltar mas eu não posso”, tem outras músicas chamada Book of Love, que é uma música assim tipo “ah ela só me quer como amigo e droga, por que que relacionamentos são tão difíceis? Quem foi o otário que escreveu esse livro, esse manual chamado amor”, sabe? E enquanto a Stevie escreveu um sucesso que foi Gypse e a Christine escreveu Hold Me do que foi outro sucesso também. Então, o disco atingiu as paradas e vendeu muito mais do que o Tusk, mas em termos de criatividade não tem tantas músicas do ponto de vista criativo muito boas como os dois álbuns anteriores, mas eu gosto de muita coisa dele.

Luca: Esse álbum já entra na fase onde eu não escutei quase nada. O que eu consegui escutar foi genérico, foi tosco até. Dá pra ver que a produção tá normal, não sei o que. Não é nada excepcional, só esquecível.

Tiago: É a partir desse álbum que o Lindsey começa a ter uma cara mais forte como produtor da banda. Ele chama alguns caras que tinham colaboração com ele também, mas ele se encarrega pela direção. Inclusive até as próprias músicas com mais excessos, com mais experimentações, são geralmente dele, que ele começa a imprimir e em carreira solo o Lindsey fazia uma coisa diferente dos dos outros colegas de banda. Ele tocava todos os instrumentos, ele era tipo o Paul McCartney em carreira solo, sabe? Todos os discos solos dele ele tocava todos os instrumentos, tinha uma participação de outros músicos, mas basicamente ele fazia tudo sozinho. Então, ele é um cara assim, meio surtado mesmo do ponto de vista criativo. E aí, depois do Mirage eles fizeram mais uma turnê. Sempre aí, uma turnê acompanhava um álbum, brigas, tensões, carreira solo pra dar uma afogada. A Christine lança um disco solo em 1984 chamado Christine McVie, sendo que o primeiro disco solo dela em 70 foi Christine Perfect. Esse disco teve participação do Lindsey, do Eric Clapton e de outros músicos. O Lindsey participou da trilha sonora do De Volta para o Futuro.

Luca: Isso aí eu não sabia, é uma música extremamente marcante.

Tiago: Depois disso, exatamente no ano de 1985, ele começa a trabalhar em um disco solo, que seria o terceiro álbum dele, e ele é convencido pelo Mick Fleetwood a transformar isso num disco da banda. E aí ele começa a juntar a galera, mas em meados de 1985/86 a relação entre eles estava cada vez mais estranha. O então namorado da Christine morreu. A Stevie Nicks tava deslanchando em carreira solo. O Lindsey com a função controladora dele de produtor. Então, o que ele fez em grande parte no disco seguinte que se tornaria Tango in the Night de é um disco em cacos. É uma banda que tem a perfeição a pretensão comercial que eles sempre tiveram, mas é uma banda em cacos, então ele pegou esses de pequenos cacos e construiu um disco.

Luca: É quase um mosaico musical.

Tiago: Então, é tão mosaico que nessa época a Stevie Nicks tava com muitos problemas de drogas e ela foi pra uma clínica de recuperação, inclusive usou um nome falso pra não chamar atenção da imprensa, dizem que o nome que ela usava era Sara. E tem uma música no álbum, Welcome to the Room… Sara, é basicamente uma música sobre o processo na clínica de recuperação. Ela ficou só duas semanas gravando com a banda, então ela quase não teve participação nesse disco e ela escreveu três músicas que foram Seven Wonders, que é um dos maiores sucessos do disco, Welcome e When I See You Again, que é uma música que ela nem conseguiu terminar, a voz dela tá muito ruim nessa música, muito frágil, é um disco que ela que ela fez com muita dificuldade e o Lindsey terminou a música. Então, você vê que a banda tava ali se desfazendo de uma forma bem pesada. Já a Christine McVie com aquele estilo equilibrado dela, ela conseguiu escrever dois sucessos pro disco, que foi Everywhere, que é a terceira música do disco, e Little Lies, que inclusive virou um meme da internet muitos anos depois com base em um cara chamado Toddy Howard que o Luca conhece melhor, ele vai explicar mais ou menos o porquê que Little Lies se tornou um meme com a imagem dele.

Luca: Cara, muita gente reclama porque ele ele é a cabeça da da empresa Bethesda da que fez os jogos Fallout, essas sequências assim e em qualquer evento de jogo ele sempre anuncia mil coisas e não sei o que… e o jogo vai ser foda e quando chega lá o jogo é péssimo, o jogo tem muito bug, os jogos geralmente são são razoáveis ou até bons mas são jogos que parecem muito incompletos e geralmente muitas coisas que ele diz que vão rolar nos jogos não rolam, são pequenas mentiras mesmo.

Tiago: E aí essa música da Christine depois anos depois ela acabou sendo usada pra memes pegaram vídeos dele falando coisas específicas sobre grandes coisas em jogos com a música do saindo no fundo o refrão porque a música fala “diga-me mentiras” e é como se fosse um pedido pelas mentiras. E eu gosto do Tango in the Night, ele é bem datado em grandes aspectos, mas ele tem um repertório mais criativo, você vê que a banda tava tentando fazer coisas novas, tem Big Love do Lindsey, que é a minha música favorita da banda, principalmente tem uma versão dele só violão, que ele lança depois, mas as músicas da Christine eu gosto bastante. Tem duas músicas do Lindsey que pra mim também tão entre as melhores composições dele que é Caroline, que é uma música bem experimental assim e a faixa título, que tem agressividade na experimentação então é um disco que pelo menos o Lindsey entrou tentou trazer aquele aquele fator de novidade de criar coisas novas pra banda que já tava dificuldade de reciclar e ele foi o cara da banda que basicamente fez com o Fleetwood Mac ainda tentasse fazer coisas novas se não eles iam ficar presos na fórmula.

Luca: É eu acho que isso foi uma coisa muito positiva da parte dele porque ocorre de diversas bandas, inclusive eu acredito que se os Beatles não tivessem acabado isso teria rolado com eles. Os compositores eles se acostumam com as coisas que mais tem facilidade, então só produzir aquilo e a banda vira a mesma coisa e logo cai no esquecimento público, porque o público geralmente quer algo novo e revolucionário se você fizer a mesma coisa três, quatro vezes seguidas ninguém quer ouvir. Então o fato dele ter tentado toda hora, mesmo que não necessariamente saísse algo bom, eu acho que foi positivo pela banda, pelo menos ver algo diferente.

Tiago: Tanto é que como você falou dos Beatles o cara que insistia com que a banda continuasse gravando era o Paul McCartney. Inclusive alguns fãs de outros integrantes dos Beatles falam que o Paul foi o culpado pelo fim da banda e na verdade o próprio George Harrison disse que se não fosse a insistência do Paul a banda teria acabado muito antes disso e eu acho que o caso do Fleetwood Mac é mais ou menos assim, a banda teria se desmoronado muito antes se não fosse o Lindsey, mesmo com as loucuras dele. Mas o próprio Lindsey estava insatisfeito porque ele chegou no final desse disco e ele disse isso em entrevista muitos anos depois que quando ele terminou o disco e ele viu o disco pronto ele pensou o seguinte: “essa foi a pior gravação da minha vida”. E ele ficou muito insatisfeito com o resultado porque ele tinha uma série de ideias pra um álbum solo, isso acabou virando o álbum da banda muitas ideias dele foram ignoradas pra esse disco e no final das contas foi algo que não agradou ele. E o Mick disse isso no no livro que ele escreveu que depois que que o tempo passou ele percebeu que na época a banda não tava ouvindo o Lindsey o suficiente até com relação às ideias com o que ele tinha com relação ao próprio disco e isso afetou muito a relação até chegar a um caso muito curioso que é o que a gente vai falar que é o seguinte: o disco foi pronto, os clipes foram gravados, quase todos os clipes do disco trazem o Lindsey e tudo mais, mas aí a Christine marcou uma reunião na casa dela. Todos os integrantes foram. Na hora de começar a reunião pra definir onde lugares seriam as turnês, como é que seriam os ensaios, porque eles já tinham fechado algumas primeiras datas, o Lindsey chegou: “e aí galera, eu tô saindo da banda, tá? E aconteceu isso, isso e eu não tô satisfeito, eu vou sair da banda”. A Stevie Nicks ficou furiosa e ela pulou em cima dele e começou a bater nele no meio do caminho. Tanto os textos jornalísticos quanto as entrevistas não falam exatamente claramente como é que se desenrolou isso. A Stevie disse que ela não se considera uma pessoa ameaçável, mas que ela ficou tão brava que ela começou a agir com extrema agressividade com ele e aí parece que eles saíram pro lado de fora da casa e aí o Lindsey reagiu a agressão dela empurrando ela pra perto de um carro, parece que foi de frente de um carro assim. E aí logo depois que ele fez isso ela ficou mais brava ainda e começou a xingar ele de tudo quanto era nome. E aí ele virou as costas e foi embora. Então foi aí se encerrou o capítulo anos oitenta da formação clássica do Fleetwood Mac. É isso.

Luca: Encerrou no grande estilo anos oitenta que é surto e briga então fez jus um pouco a época.

Tiago: Se a gente teve uma uma formação de transição nos anos setenta, a gente tem uma uma formação que é meio clássica, meio transição, que começa em 1987, quando a banda substitui o Lindsey com dois guitarristas. A saída do Lindsey provocou com que a banda entrasse para ela dois guitarristas, não era só um mais. Era o Billy Burnette e o Rick Vito e isso foi recebido de uma forma meio de dividir opiniões. Alguns disseram que era a melhor coisa que aconteceu pra banda… A Rolling Stone com as suas opiniões equivocadas ao longo da história. Enquanto outras análises diziam que a saída do Lindsey provocava um problema enorme pra banda, porque ele era a peça central no ponto criativo. O Lindsey aí por si só foi seguir carreira solo e lançou um disco muito bom em 1992 que a primeira música basicamente ele diz que ele não vai voltar, não vai olhar pra trás. É não olhar pra trás com relação não a banda mas de sempre fazer coisas novas. Ele disse que é o lema da vida dele que enquanto ele estiver vivo ele quer fazer música nova, não quer se prender ao passado. E aí o que a banda fez? A banda fez com disco de Greatest Hits em 88, pegou os maiores sucessos e juntou mais duas músicas inéditas se não me engano, uma da Stevie e uma da Christine e essas músicas tinham a participação vocal do Billy Burnette também que era o cara que entrou pra substituir o Lindsey. E aí é muito engraçado essa fase que eles entram como uma banda mais pesada as que já começa a ter uma certa instabilidade criativa. Esse disco, essa coletânea de maior sucesso, ela foi feita em homenagem ao Lindsey, foi um início da melhora da relação entre eles. Mesmo ele estando fora da banda, as tretas diminuíram, parece que começou a ter um um perdão ali, mas ele não voltou pra banda, ele continuou fora. E aí em 1990 eles começam a trabalhar em um novo disco chamado Behind the Mask que é um disco que afasta desse padrão experimental pop que o Lindsey imprimiu na banda e virou um disco daquele formato de música adulta contemporânea, sabe? Que é um disco medíocre. Esse disco teve um sucesso que é Save Me, composição da Christine McVie. Essa fase ela carregou a banda nas costas basicamente. Foi o único sucesso da banda, mas mesmo assim ele chegou sei lá a posição quarenta nas paradas, era um número muito baixo, não vendeu muito e a Cristhine queria sair da banda, mas aí a própria Warner pediu pra que ela continuasse na banda pelo menos um pouco pro próximo disco porque a Stevie saiu da banda também. E aí aconteceu que em 1993 a formação clássica se juntou na posse do Bill Clinton nos Estados Unidos para tocar Don’t Stop que é uma música do Rumours, porque a música foi tema da campanha dele e foi a primeira vez que a banda se juntou durante muito tempo. Mas não voltou.

Luca: Acho que chegaram na maturidade de ver que não conseguiriam trabalhar muito tempo uns com os outros, então é melhor não voltar.

Tiago: Isso. E aí aconteceu que o Rick Vito sai da banda também, além da Stevie Nicks. Então a banda tem que continuar. A Christine quer sair da banda, como eu falei, mas a Warner pede pra que ela fique pelo menos naquele momento e aí ela começa a trabalhar junto com o John McVie e o Mick com mais dois integrantes novos era a Bekka Bramlett, que é uma cantora de country que não tinha muito a ver e um guitarrista chamado Dave Mason, que é da banda Traffic. E aí eles gravaram esse disco chamado Time que foi um disco horrível também, só teve um single que foi I Do, que é a composição da Christine e tinha garantido metade do disco pra ela porque ela era a única vocalista de longa data mas ninguém gosta desse disco porque é um disco correto, mas não tem nada a ver com o Mac que as pessoas conheciam.

E aí nós vamos a última fase da banda que se começa no ano de 1997. Porque em 1996 a banda já começa a se reunir com formação clássica, de novo, Lindsey volta pra banda, a Christine que tava saindo ficou mais um tempo ainda, imagina a Christine já tava há anos querendo sair da banda e não podia sair porque os outros estavam fora. A Stevie Nicks voltou e aí eles foram chamados para gravar um disco ao vivo no formato MTV acústico que é um formato que sempre dá certo assim pro sucesso. Nos anos noventa foi assim, uma enxurrada de artistas lançando disco nesse formato e eles fizeram um álbum ao vivo The Dance que foi o maior sucesso da banda nas paradas desde Mirage de 1982, então foi um disco muito vendido, se não me engano ele vendeu mais de cinco milhões de cópias, o que faz ele um dos álbuns mais vendidos nos Estados Unidos. É um disco que digamos assim, ele tem uma coisa legal, que é o mesmo tempo uma coisa ruim, ele tem muita coisa inédita e isso foi um problema porque é um disco que tem a pretensão de ser nostálgico, porque ele pega as músicas antigas da banda e faz releituras, algumas bem fiéis, outras bem diferentes, mas mistura com inédito, o que quebra um pouco o ritmo do disco. E tem algumas inéditas boas, eu gosto muito de My Little Demon, que é uma música do Lindsey. Silver Springs, que é aquela música triste da Steve Nicks na época do Rumours, foi gravada e ganhou o Grammy se não me engano, foi indicado ao Grammy de melhor performance vocal e acho que se não me engano ganhou. E eu acho que o maior peso dessa gravação ao vivo é o Lindsey fazendo Big Love em versão violão que ele fez a música inteira sozinha cantando tudo. E uma coisa que também é criticada nesse disco é porque o Lindsey além dele ser injustiçado pelo sucesso ele foi injustiçado pela natureza, pelo futuro mesmo porque a Stevie e a Christine envelheceram muito bem com a voz e o Lindsey ficou com a voz cada vez mais enfraquecida ao longo do tempo que ele ficou mais velho, então ele não conseguiu mais ter o mesmo alcance nas músicas e cê percebe isto. A banda não alterou o tom das músicas, mas ele sofreu pra poder cantar as músicas desse disco e você percebe que a voz dele não tá tão boa quanto no passado.

Luca: Isso é algo que ocorre com alguns artistas e eles conseguem lidar melhor às vezes ou às vezes pior. Dá pra ver que no Pink Floyd o David envelhece muito com a voz, mas ele lida razoavelmente bem com isso, consegue manter alcances interessantes mesmo que diferentes. Mas nesse caso chega até a ser triste você vê que tá dando tudo de si para fazer algo que pra ele antes era bem comum e fácil.

Tiago: No caso do Gilmour eu acho que a voz dele ficou muito bonita depois que ele envelheceu porque ele tem um aspecto de rouquidão que combina muito bem com o estilo de música dele, que é música de velho contentado a falar sobre a natureza e é uma coisa bem contemplativa, o que funciona bem. Já o Lindsey carrega sobre si uma responsabilidade popular e também muito experimental. Então, as músicas deles sempre exigiam agudos muito altos ou variações que você percebe que a voz dele foi perdendo cor, foi ficando uma coisa meio voz de velho tentando fazer música jovem, que é um que foi um problema pra ele e ele reagiu como? Ele reagiu mantendo o tom das músicas. Ele não deu uma de Jon Bon Jovi diminuindo o tom de músicas, mas ao mesmo tempo tendo que fazer alguns malabarismos vocais para conseguir levar essas músicas até o final.

E aí o que aconteceu? Teve a introdução ao Rock and Roll Hall Fame. Então Peter Green, Jeremy Spencer, a formação clássica foi indicada, o Bob Welston não foi indicado, que foi um peso bastante grande, nessa época em noventa e oito. Nessa mesma época a Christine McVie finalmente sai da banda, ela finalmente teve o descanso dela e isso foi lamentado pelos outros integrantes porque eles falavam que a banda não seria a mesma sem ela. E aí aconteceu que ela ainda teve algumas coisas pré-gravadas que seria um próximo disso do FM que se dá em 2003, que é o álbum Say You Will, que é mais um disco produzido por Lindsey que tem aquele aspecto de de não conformismo, volta mais uma vez a querer fazer coisas novas, mas é um disco que exatamente por ser disco muito grande, ele tem dezoito faixas, metade são da Stevie e metade são do Lindsey e aí justamente pela ausência da Christine você vê que tem um ponto de equilíbrio que falta por causa da ausência dela. É tipo o Rick do Pink Floyd, né? Quando ele não estava presente a coisa ficava muito irônica, muito seca e com ela fora da banda a falta disso. É tipo você comer cereal sem leite.

Luca: É, você consegue, é gostoso, mas não é legal fazer um pratão nisso, né? (risos)

Tiago: E esse disco tem dois singles que eu gosto bastante, são músicas muito boas assim, perto que tudo que eles fizeram fora da formação clássica são músicas muito boas que é Say You Will que é a composição da Stevie e Peacekeeper. E aí eles continuaram nessa formação de uma forma muito muito sólida por muito tempo, gravaram um álbum ao vivo que foi lançado em 2004 chamado Live in Boston. Nesse meio período alguns integrantes da formação original morreram e das outras formações também, o Bob Weston inclusive se suicidou em 2012 porque ele foi diagnosticado com uma doença degenerativa e ele estava com depressão e se suicidou pra não ser um peso na vida da mulher dele. A mulher dele morreu pouco tempo depois também e aí outros integrantes foram morrendo, Danny Kirwan não me engano morreu em 2018 e mesmo assim a banda continuou porque a formação era totalmente diferente. O LIndsey saiu de fazendo disco solo paralelo já que a banda não tava lançando discos e a Stevie chegou num momento que ela decidiu focar na carreira solo dela, também ela disse que não fazia sentido mas lançar um disco porque as pessoas não ouvem CDs mais, que não havia mais nada relevante pra eles fazerem no momento da carreira mas ela ainda topou em 2013 em fazer um EP que eram quatro músicas novas, três do Lindsey e uma dela. E a música dela era uma reciclagem de uma música lá da época do Buckingham Nicks, uma música que ficou perdida e ela encontrou no YouTube, alguém postou no YouTube, ela resolveu refazer a música e lançaram nesse EP. E esse é um EP que musicalmente é mais ajeitadinho do que o Say You Will. Então, se ele tivesse evoluído para um álbum, seria um disco até legal pro FM nos anos 2010.

Luca: Talvez não seria tão legal porque se fosse pra fazer um disco completo, talvez ficasse com muitas lacunas vazias e secas. Então, acho que como EP ficou bom.

Tiago: É provavelmente porque também é só a Stevie e o Lindsey que estavam escrevendo. E aí a Christine foi assistir um show da banda em 2013 e em 2014 ela voltou oficialmente pra banda e a banda voltou a ter a formação clássica que não tinha desde 1998. E a partir desse momento que o Lindsey chama a Christine pra escrever músicas novas e aí eles escreveram uma enxurrada de músicas e chamaram o Mick e o John McVie pra trabalhar, chamaram a Stevie e ela falou que ia acrescentar depois.

Aconteceu que eles escreveram muitas músicas, a Stevie colaborou em nenhuma durante esse período. E aí chegou um momento que ela disse numa entrevista que não tem porque gravar um disco do Fleetwood Mac. E o Mick já disse em outra entrevista torcendo pra que ela aparecesse porque tinham muitas músicas que na visão dele eram boas, que poderiam gerar o primeiro disco da forma clássica da banda desde 1987, então seria um disco com muito peso, mas ela se posicionou contra, não quis gravar no fim das contas. E aí a opção que Christine Mac viu e o Lindsey tiveram foi ser como disco solo duplo dos dois, né? E aí eles fizeram o álbum Lindsey Buckingham Christine McVie. Foi lançado em 2017 e que era pra ser tudo um disco do Mac. Inclusive quando eu ouço pra mim ele é um disco do Fleetwood Mac que tem a mesma lacuna do Saw You Will, mas ainda tem muito mais cara do Mac que o Saw You Wil em certo aspecto.

Luca: Podia muito bem ter lançado pela banda em vez de lançar pelo solo, teria mais alcancance.

Tiago: Mas o problema é que isso ia causar um problema imenso dentro da banda, né? Porque a Stevie tava dentro da banda, ela não era ex-integrante. E aí o que aconteceu foi que eles lançaram esse disco de forma solo teve um alcance nas paradas, fizeram uma mini turnê e aí em 2018 que começam algumas das maiores tensões recentes da banda e que chegam ao estado que a gente tá agora do Lindsey fora da banda que foi o seguinte. A relação dele com a Stevie com relação ao olhar que ele tem pra banda são olhares muito diferentes, a Stevie quer só fazer apresentações com as músicas que todo mundo já conhece e o Lindsey quer criar coisas novas.

Qual é o motivo que a Stevie Nicks principalmente não quer ter discos novos? É o fato de que na visão dela toda criação de disco novo gera briga, briga pela concepção das faixas, pela produção, pela gravação e briga na hora de formar a turnê. Então ela não queria passar por isso, foi o que ela disse em entrevistas e o Lindsey na visão dele acreditava que a banda tinha que criar coisas novas até o fim e não ficar preso ao passado. Então, eles chegaram a um ponto de impasse muito grande nesse período, então isso já já conta com uma cereja muito forte dentro do bolo. Segundo histórias, eles foram fazer uma apresentação e aí a Stevie foi fazer um pronunciamento e aí o Lindsey no fundo lá com a Christine porque tem uma piada interna dentro da banda a quando a Stevie vai fazer pronunciamento ou falar coisas assim, ela começa a falar muito. E ele começou a achar isso engraçado e ela não gostou disso, ela ficou muito chateada. E ao mesmo tempo eles tiveram uma minibriga porque a Stevie queria iniciar o show com a música Rhiannon, que é do álbum de 75 e o Lindsey falou que não, essa música não serve porque essa música não tem o estilo adequado para ser o início de um show e ela ficou brava com isso.

E aí o chegou um certo momento que o Lindsey parou de receber notícia da banda. Ele recebeu uma ligação se eu não me engano do empresário da banda falando que a Stevie não tinha gostado da dessas coisas que ele tinha feito e foi só isso. Ele pensou: “uai, mas ela tá saindo da banda?”. E aí ele parou de receber coisas novas da banda e ele recebeu um email, um comunicado, falando que ele tava expulso da banda. E aí a primeira reação que ele teve foi entrar com um processo contra a banda porque ele já alegou ter sido demitido sem uma justificativa muito clara, sem terem conversado com ele, o que gerou uma tensão financeira também, né? E imediatamente a banda anunciou dois novos integrantes que foram aqueles que eu falei lá no início. E as histórias dos bastidores que a Stevie Nicks não quer subir num palco com Lindsey nunca mais.

A Rolling Stone fez uma longa reportagem bastante interessante com Lindsey e pegando o dia a dia dele, o que ele achava sobre esse negócio aí perguntaram pra ele se ele tinha esperança um dia voltar pra banda ele falou que esperança sempre tem mas que a situação agora é totalmente diferente do que de todas as brigas que eles tiveram antes né? Porque dessa vez ele foi expulso da banda. E aí eles acabaram seguindo agora com uma nova banda e isso gera muita crítica de fãs porque tem a galera dos fãs. E porque também a banda teve um sem ele que foi um desastre, né? E aí no ano de 2018 o Fleetwood Mac lançou uma coletânea comemorativa de cinquenta anos da banda chamada Don’t Stop. E o Lindsey no mesmo período quase que com uma coincidência fez uma coletânea também comemorativa do trabalho solo dele, ele fez antologia da carreira solo dele muito bem feita inclusive e ficou essa coisa assim, os dois trabalhando de forma meio independente. O Lindsey anunciou no final de 2018 um disco pra 2019. Engraçado o próprio Mick disse isso em entrevistas que a banda possivelmente pode gravar um disco novo, então enquanto o Lindsey tava na banda era toda essa dor de cabeça pra lançar um disco, agora que ele saiu ele já anunciou que a banda tem planos de fazer disco em 2019.

Luca: Então, significa que na visão de muitos deles o problema era o Lindsey. 

Tiago: E a gente não sabe como é que eram as coisas dentro da banda, né? E tudo mais. Então é essa epopeia de uma banda de pessoas que se amavam e no final foram obrigados a conviver o resto da vida somente uma questão de trabalho. Inclusive o Lindsey disse nessa entrevista que o maior lamento dele é esse porque o John McVie mora perto da casa dele e que os filhos dos integrantes da banda se conhecem e tudo mais, o clima tá chato nesse sentido, porque apesar das relações serem muito profissionais, as famílias de certa forma se relacionam entre si.

Então, pessoal, só fazendo uma interrupção básica no caminho desse episódio, esse episódio foi gravado em janeiro de dois mil e dezenove e ocorreram várias novidades sobre essa epopéia relacionando a banda de lá pra cá. Então, vou fazer um resumo, tá. Em fevereiro o Lindsey teve um ataque cardíaco, quase morreu e ele foi hospitalizado, a banda prestou condolência nas redes sociais, o Mick e a Stevie foram bastante atacados falando que eles eram os culpados porque a esposa do Lindsey fez um comunicado dizendo do histórico familiar que o Lindsey tinha com relação a questão cardíaca, ele também passou por muito estresse durante o ano de 2018 meio que fazendo uma indireta à expulsão dele da banda, logo depois a Stevie foi introduzida ao Rock and Roll Hall Fame como artista solo e ela inclusive citou o Lindsey nos agradecimentos porque ele foi uma parte importante da carreira dela da mesma forma que ela foi um ponto fundamental da carreira dele.

Mas o Lindsey continuou hospitalizado por um tempo inclusive os médicos disseram que tinha dado um certo dano nas cordas vocais, ninguém sabe ainda mais ou menos como é que tá o estado da voz dele, depois de alguns meses, se não me engano no final de maio o Lindsey apareceu publicamente na formatura de uma das filhas dele tocando no violão e a filha dele juntos com umas colegas cantando a música, então ele não abriu a boca, mas ele tava aparentemente bem, né? Ele conseguiu sobreviver, se recuperou, escapou, mas esse projeto dele de lançar um disco em 2019 pode talvez não ocorrer. Ninguém sabe mais ou menos como é que tá a voz dele, ele tem feito um silêncio nas redes sociais, inclusive ele tava publicando muita coisa no Facebook, nas redes dele falando sobre o trabalho solo dele, os planos que ele tinha e aí quando ocorreu esse problema de saúde tudo foi interrompido e ele tem feito bastante silêncio com relação a isso.

Sobre o Fleetwood Mac, eles tem feito bastante shows. Depois que ocorreu esse problema do Lindsey a Christine deu uma entrevista para a revista Mojo e ela disse que a saída do Lindsey, ao contrário do que o Mick tinha dito em algumas ocasiões falando que a saída dele foi porque o Lindsey queria uma turnê solo e que a banda parasse, na verdade a expulsão dele foi por causa dos conflitos dele com a Stevie Nicks e aí a Christine diz nessa entrevista de que a relação tava insustentável para própria saúde da banda tinha que ser resolvido de alguma forma. O Fleetwood Mac tá fazendo uma turnê bastante lucrativa, a banda tá bastante em alta, né? Inclusive o Harry Styles que é ex-integrante do One Direction, ele é um grande fã do FM, ele tinha cantado com a banda do último show que o Lindsey estava, a música The Chain e ele foi quem introduziu a Steve Nicks ao prêmio que ela recebeu. E aí nós vamos ver quais são os próximos capítulos, né? Será que o Lindsey volta pra banda algum dia? Será que ele vai se recuperar e continuar a carreira solo? Então os próximos capítulos é que a gente vai saber depois. E agora com vocês a volta da discussão com a gravação original do episódio.

Tiago: Luca, como você resumiria o que é o Fleetwood Mac a partir de tudo isso que a banda viveu em sua história?

Luca: Cara, eu diria que é muito mais movimento do que uma banda, só que diferente do movimento ele é organizado demais e acho que o maior problema é ele ser organizado assim, porque isso traz diversos transtornos para todos eles. Acho que é isso.

Tiago: É, e eu diria que o é basicamente uma narrativa das relações sociais comumente, que sempre ao longo da sua você vai ter pessoas com quem você teve uma certa ligação em que essas relações se desgastaram e de alguma forma isso vai te afetar mesmo você mantendo distâncias dessas pessoas. E aí o que eles fizeram foi vivenciar isso em escalas gigantescas e que afetaram muito a relação entre eles. A gente comentou no episódio sobre o Queen, sobre Bohemian Rhapsody, no final das contas foi bem frustrante, como a gente previa. Como é que você acha que seria a cinebiografia do Fleetwood Mac, afinal?

Luca: Eu acho que seria semelhante a do Queen e até a do Johnny Cast, no sentido de que é impossível fazer uma adaptação da vida onde você consegue retratar todos os pontos baixos que na banda tiveram muitos. Geralmente eles tratam os pontos alvos, o sucesso e às vezes a decaída, mas nunca conseguem retratar muito bem até pra não ferir a imagem dos autores os momentos de abuso de drogas, de discussões realmente muito sérias que por exemplo o Queen tiveram muito que sequer foram retratados no filme e eu imagino que no Mac também não seriam e que é um um ponto fulcral para banda é essa questão de discussões de abusos tanto ou de drogas quanto verbais e coisas assim.

Tiago: É, eu penso da mesma forma, acho que do ponto de vista narrativo da banda, tem uma história muito legal a ser desenvolvida, que eles poderiam, digamos assim, que é a história basicamente de pessoas que se amavam e depois tiveram que aprender com muita dor a se relacionar profissionalmente. Isso daria um plot muito legal pra um filme, mas eu acho que seria meio difícil. Inclusive tem uma história muito engraçada sobre isso, porque a Stevie tem um diário que ela escrevia diariamente sobre cada dia dela no Fleetwood Mac desde que ela entrou na banda, então ela tem a história dela, e se não me engano tem uma biógrafa que queria comprar o diário dela pra fazer um filme. Aí perguntaram para Stevie numa entrevista a possibilidade de ter um filme da Stevie Nicks e aí ela respondeu: “só por cima do meu cadáver! Essa louca querendo se apossar das minhas coisas, dos meus textos sem falar comigo, sem me conhecer, sem nada”, sabe? E se você gosta de coisas, se você quer fazer correções, algum apontamento aqui pra nós, envie sua mensagem com a sua música favorita. Daqui a alguns episódios a gente tá de volta e com artistas novos e com muita coisa e muita coisa interessante.

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Equipe Introvertendo Escrito por: