Introvertendo 39 – Mulheres Autistas

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o Introvertendo traz um episódio só sobre mulheres autistas. Nesta edição, falamos sobre os diagnósticos, os desafios particulares que diferenciam as rotinas das mulheres e homens e relatos particulares sobre relacionamentos.

Participam desse episódio Thaís MöskenTiago Abreu e Yara Delgado.

 

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Transcrição do episódio

Tiago: Olá pra você que ouve o podcast Introvertendo e acompanhando todas nossas novidades, inclusive nesse dia especial que é o Dia Internacional da Mulher. Eu sou o Tiago Abreu e estou nesse episódio só pra cumprir tabela e hoje nós vamos falar sobre mulheres autistas e elas que estão aqui pra falar sobre e a partir delas. 

Thais: Meu nome é Thais Mösken, vocês já me conhecem, acho, se vocês viram os outros episódios, e o marido bom não é o marido que te ajuda, é o marido que faz junto com você. 

Yara: Uhuu! Apoiadíssimo. Depois dessa fala eu vou dizer o quê? 

Thais: Essa fala é cópia, depois eu espero explicar no episódio. 

(Risos)

Yara: Aqui é a Yara Delgado, pra mim é uma alegria também participar desse podcast especial em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, falando justamente sobre a mulher autista ou “aspie”, ou a mulher no TEA.

Bloco geral de discussão

Thaís: Como surgiu o Dia Internacional da Mulher? Na verdade, começando já explicando que foram muitos eventos que ao Dia Internacional da Mulher ser instituído, não foi apenas um, mas hoje em dia ele é comemorado no dia oito de março e foi uma ideia que originalmente surgiu no final do século XIX, início do século XX nos Estados Unidos e na Europa e a ideia inicial era ser uma manifestação pelos direito trabalhistas das mulheres. E logo no início já se juntaram as ideias não só de direitos trabalhistas, mas econômicos, sociais e políticos. E uma das primeiras celebrações foi em 1909 nos Estados Unidos, mas ainda não era instituído um dia da mulher. E aí, independentemente de qual é a sua inclinação política, hoje eu não vou aqui fazer propaganda política de nada, mas no início esse movimento era bem ligado ao socialismo, e a ideia de ter uma celebração anual partiu de uma líder socialista alemã chamada Clara Zetkin em 1910. É bem importante lembrar que, inicialmente, essa busca tava se desenvolvendo tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Era uma tendência, eu não vou dizer mundial, mas do Ocidente desenvolvido que a gente conhece.

E um episódio bem conhecido hoje em dia foi em março de 1911. Houve um incêndio em uma fábrica nos Estados Unidos e morreram mais de cem pessoas, acho que eram umas cento e quarenta pessoas. A maioria eram mulheres judias. Hoje em dia, esse é o evento que as pessoas mais relacionam quando se fala do Dia da Mulher. Mas isso não foi no dia 8 de março. Foi, acho que, 25 de março. Também não tenho certeza, mas foi depois. E isso foi em 1911. E em 1917, na Rússia, ocorreram várias manifestações de mulheres sérias. O principal objetivo dessas manifestações eram melhores condições de trabalho e também contra a entrada do país na Primeira Guerra Mundial. Na época, era a Rússia Czarista, se não me engano. Esses movimentos foram reprimidos de uma forma bastante brutal, como era costume por lá. O principal deles, acredito que o maior (o que eu li era principal), eu não consegui ver números de pessoas, mas o que acabou sendo mais conhecido foi em um dia 8 de março. Depois que ele foi reprimido e tudo mais, ele foi instituído pelo Movimento Internacional Socialista como o Dia Internacional da Mulher.

 A Rússia ainda não era socialista, tá? E só na década de 1970 a ONU instituiu o Dia Internacional da Mulher em 8 de março pra todos os países participantes da União das Nações Unidas. 

Formalmente o objetivo da ONU é lembrar as conquistas sociais, políticas, econômicas, das mulheres, independentemente do país, de onde elas vêm, de etnia, diferenças linguísticas culturais, de todas as mulheres. Então, não seria apenas relembrar a luta pelos direitos trabalhistas das mulheres na Rússia ou as mulheres dos Estados Unidos, seria uma coisa bem mais geral. 

Também é importante lembrar quando a gente olha só pelo aspecto do evento mais conhecido, que é justamente o do incêndio na fábrica, que hoje em dia existem muitos estudos falando sobre a importância das mulheres na economia se você pensar por um aspecto puramente lógico, puramente econômico você vai perceber que as mulheres são quase metade da população e você ter o dobro no caso as mulheres passaram a fazer parte da população economicamente ativa, você ter quase o dobro de pessoas economicamente ativas que são pessoas que contribuem pra renda familiar, pra renda do país em si, isso faz muita diferença, pra economia global até. É interessante estudar esse lado também até mais frio. Tem outra questão histórica que eu anotei que eu achei interessante relembrar que não só acrescentar as mulheres num grupo com mais direitos não é só de interesse econômico do país. Tem também a questão até de aumentar o contingente do seu exército. Então, apesar de eu não ter visto escrito explicitamente, eu realmente acho que com o início do século vinte foi uma época de muitos conflitos e que acaba nas duas grandes guerras que a gente conhece hoje, mas no meio tiveram várias outras guerras também. Então, acrescentar as mulheres ao exército mesmo que não diretamente ao fronte é uma coisa muito interessante até para o governo em si, para o governo de determinado país. Na Segunda Guerra já tinha esquadrões de mulheres na União Soviética em especial, tinha mulheres que eram pilotos de bombardeiros, tem até uma música do Sabaton, Michael deve conhecer aí a Night Witches, mas nos outros exércitos, os exércitos da Europa e o Exército dos Estados Unidos tinham também mulheres participando de forma não ativa no combate,  não combativa. Então tanto não apenas enfermeiras, mas inclusive pessoas trabalhando nas na parte de digitação. Então tinha mais mulheres participando da guerra também a partir do momento que elas passaram a ter mais direito. Então são vários interesses, não são só os interesses das mulheres que estão em jogo nisso daí.

Yara: Eu achei muito legal a questão de olhar pra mulher autista no próprio desafio de ser autista em si como é hoje, é muito recente na verdade a gente ter esse olhar mais inclinado pra mulher autista. Anteriormente você achava até que o autismo era uma coisa tão mais tão masculina que a mulher autista passava despercebida e aliás ainda passa. Existem muitos vídeos internacionais no YouTube falando exatamente sobre isso, sobre organizações que estão se formando em prol dessa dificuldade que existe em identificar o autismo na primeira mulher, primeiro porque ela é ignorada. A mulher se adapta tão “facilmente”, claro que existe o custo para nós nisso, mas ela se adapta tão bem ao mundo que ela passa despercebida muitas vezes e acaba se transformando numa mulher até em muitos sentidos mal compreendida. Vale muito a pena a gente ter esse olhar especial sobre a mulher que está dentro do do transtorno do autista sobre a “aspie”,  o autismo leve. 

No meu caso eu tenho trinta e cinco, quase trinta e seis anos, eu tenho quatro filhos, o meu mais velho tem oito anos e a minha mais nova acabou de fazer três anos. Eu sempre trabalhei, na verdade eu comecei a trabalhar com quatorze anos, cheguei a ser consultora na área de tecnologia e em 2006 eu comecei a trabalhar em home office como programadora de sites e sistemas pra internet. Então eu tenho uma vida, vamos dizer,   considerada bastante normal, embora eu seja uma mulher autista. Fica demonstrado que mulheres com TEA leve, elas conseguem se inserir no mercado de trabalho, seguem se casar, conseguem constituir família, tudo que uma pessoa sem TEA teoricamente também pode fazer.A principal diferença entre uma mulher autista e uma mulher não autista é que a gente paga um preço muito alto pra estar inserida nesse contexto todo de forma altamente adaptada. Ou seja, pra gente o desafio é sempre muito maior e exige resiliência monstro pra gente superar os desafios que existem nessa vida normal, vamos dizer. Mas uma pessoa que tem TEA pode sim ter uma vida relativamente comum, uma mulher com TEA pode sim ter uma vida relativamente comum e aí isso serve pra gente até de alerta, porque nós mulheres podemos passar despercebidas e nunca ser notado em nós que estamos dentro do do espectro autista, e aí é como se faltasse um pedaço da gente. 

Eu queria que você falasse um pouquinho, Thais, como foi pra você? Eu não sei exatamente em que idade você descobriu o TEA. Pra mim, foi completamente revelador. Eu descobri lá por fevereiro do ano passado. Eu tô recente, sou neném ainda nessa história. 

Thais: É, eu fui diagnosticada também em fevereiro do ano passado. Foi a mesma época. Hoje eu tenho vinte e sete anos. Eu tive que ir atrás disso. Então, não era algo que alguém virasse pra mim e falasse: “Nossa, você já foi ver se não é autista?”. Não. Tanto que eu cheguei a perguntar pra minha mãe quando eu tinha uns quinze anos. Passou uma novela. Eu não sou de ver novela, mas a minha avó via muita novela e tinha uma moça autista. Só que ela não era Asperger. Era uma severidade maior, mas eu percebia muitas características ali que eu sentia do meu dia a dia. E aí eu perguntei pra minha mãe: “Nossa, será que tem chance de eu ser autista?”. E ela achou que não. “É um absurdo. Você vai bem na escola. Você tem o desenvolvimento normal. Que ideia louca é essa?”. E aí só depois de muito tempo que eu acabei descobrindo o que era Síndrome de Asperger e fui atrás de um psiquiatra pra ver, pra ter certeza. E pra mim, como você falou, foi muito revelador, fez muita diferença na minha compreensão das coisas em perceber porque eu era de algum jeito diferente em muitas coisas. E algumas coisas eu já percebia que eu era diferente, mas outras eu achava que as pessoas eram como eu e só não falavam. Então, coisas bem simples, como por exemplo, a forma de pensar no dia a dia, ouvir uma frase e aquela frase ficar repetindo na sua cabeça, você vai ficar ecoando aquilo na cabeça por um tempão. E eu achava que todo mundo fazia aquele tipo de coisa só ninguém comentava. E descobri depois que não é bem assim. E é uma coisa que você falou que eu já também comentei e acho que no podcast acrescentamos. A gente paga um preço muito alto. E acaba sendo escolhas, claro, que a gente faz. Às vezes, pra ter uma vida “normal”, a gente escolhe pagar um preço por algumas coisas. E depois que eu descobri, depois que eu tive o diagnóstico, eu passei a considerar melhor essa questão do preço. Então, algumas coisas que eu sou capaz de fazer, por exemplo, eu posso chegar em um lugar e sair abraçando todo mundo. Sempre odiei, eu não gosto que as pessoas me toquem, sabe? Exceto em alguns casos muito específicos, mas de forma geral, eu não gosto que as pessoas me toquem. E eu passei a considerar: qual é o preço que eu tô pagando em fazer isso? E geralmente hoje em dia, eu viro pras pessoas, pra maior parte as pessoas, e peço pra que elas não me toquem, para que elas não me abracem, pra que quando elas forem se despedir de mim, elas façam isso só com um tchauzinho, levanta a mão ou fala qualquer coisa, mas não, não vem aqui, não coloca a mão no meu ombro. Pra maior parte das pessoas, eu faço isso, inclusive as pessoas no meu trabalho, como lá, eles sabem que eu sou Asperger tenho essa facilidade. Já existem outras coisas que eu acabo aceitando pagar o preço, mesmo que sejam coisas que as pessoas não notem, mas era um preço que eu aceitei pagar conscientemente. 

Tiago: Essas questões que vocês falaram me fizeram pensar em uma série de questões e eu acredito que tem muita gente ouvindo talvez o Introvertendo pela primeira vez a partir desse episódio, porque o tema do autismo em mulheres não é um tema muito comumente debatido na questão do autismo, ainda mais considerando o fato de que na própria podosfera, se a gente pode usar esse termo, está tendo uma reivindicação cada vez maior de participação de mulheres em podcasts. Então, só pra efeito de contexto, o Introvertendo, ele foi originalmente fundado só por pessoas dentro do espectro, homens, por uma falta de mulheres dentro do espectro no ambiente social pelo qual ele foi fundado. A partir de um certo tempo, algumas pessoas foram entrando e frequentemente por e-mail eu recebia algumas mensagens bastante interessantes, que toda vez uma grande parte, quando eu recebi e-mails de mulheres, elas falavam da dificuldade que elas tinham de ser diagnosticadas no Brasil. Isso também impacta em umas questões, isso eu quero perguntar pra vocês, é que no episódio 77, que é o episódio que eu gravei com o Luca, chamado “masculinidade tóxica”. Eu falei que, justamente, esses critérios que fazem o autismo ser uma área, um ambiente, também se a gente for falar no sentido de comunidade, muito frequentado por homens, também é um espaço de abusos e relações às vezes negativas de homens autistas com mulheres. Vocês já viram isso? Qual a opinião de vocês acerca dessas questões? 

Thaís: A questão que você falou do diagnóstico do Tiago, eu concordo muito com você, de uma questão cultural. Quando eu comecei a pesquisar sobre a síndrome de Asperger antes do meu diagnóstico, eu tinha visto que, acreditava-se haver uma proporção de quatro pra um, em relação, homens e mulheres. Então, quatro vezes mais homens Aspergers do que mulheres. E aí, no meu diagnóstico, o próprio psiquiatra falou que essa proporção – os novos estudos já indicam que não é – só que é mais difícil diagnosticar as mulheres. Foi o que ele disse, tá? A fonte tá bem explícita aqui e pra mim faz muito sentido.

Eu acho engraçado que lá na minha empresa, lá onde eu trabalho, a outra menina, também a outra pessoa Asperger também é uma moça. E a gente não tem nenhum homem a se perder que se saiba lá com diagnóstico, pelo menos.

Yara: É uma aqui eu acho que também é interessante, é que é o seguinte, quando se vai diagnosticar o autismo leva-se muito em consideração a questão da fala. E nós mulheres parece que a gente tem mais facilidade em falar mesmo, não tem jeito, é uma coisa natural, feminina.Então, por exemplo, Thais, você teve algum atraso, teve alguma dificuldade pra desenvolver a fala? 

Thais: Não, eu não tive nenhum tipo de dificuldade tanto de fala quanto do resto também.

Yara: Então, eu também não tive absolutamente nenhuma dificuldade com a fala e eu ainda tenho a questão de que eu consigo olhar pras pessoas, eu consigo olhar nos olhos, inclusive eu não gosto daquele olhar incisivo. Mas é engraçado porque o próprio fato de ser mulher me ajudou a ter um traquejo nisso. Então quando alguém me olha muito incisivamente, eu tenho aquele lado que demonstra uma certa timidez que até parece bonitinho, as pessoas até falam: “Ah que bonitinho, você fica com vergonha.”

Aí eu tipo dou aquela risadinha e saio de fininho. Tipo, “Ah, é, é só timidez, faz de conta que é só timidez.”

(Risos)

Thais: Nossa, cê faz isso também? Pra mim, não em relação ao olhar, eu não tenho costume de olhar as pessoas nos olhos e eu sei fazer isso, eu aprendi, minha avó me falava esse tipo de coisa. Então, eu aprendi a fazer isso, mas só se eu achar que eu preciso muito. Então, nas entrevistas de emprego eu fazia isso, por exemplo. Mas essa questão de, às vezes, fazer algo e as pessoas: “Nossa, você é tímida, tá com vergonha.” E aí eu penso, “Ah, é mais fácil deixar a pessoa achar que eu tô com vergonha, dar uma risada, achar que tá tirando sarro de mim e eu não tenho que explicar mais nada e posso ficar na minha.”

Yara: É, a gente tem essa, por ser mulher, a gente tem essa facilidade. Entre homens, eu acho que o negócio é mais complicado nesse sentido. Para mulher, é bonitinho ser tímida, entendeu? (Risos)

Thais: Para homem, acho que seria, talvez, um alvo de algum tipo de preconceito, do jeito que as pessoas gostam de ter preconceitos sobre todas as coisas. 

Yara: É porque a timidez para o homem às vezes pode, entre homens, ser levada como fraqueza, o que não tem absolutamente nada a ver. É uma idiotice, mas a gente sabe que existe isso no mundo. Tipo, se você não se mostrar como o cara, então você vai ter que ser aquele que se submete ao resto do grupo, que é uma coisa muito tonta na minha concepção de mundo, mas OK. 

Thais: E eu sempre tive muito mais facilidade em lidar com homens do que com mulheres, tá? Isso desde que eu era criança, e as outras meninas Aspergers que eu conheço falam a mesma coisa. Até eu acho muito estranho que hoje em dia eu converso mais com mulheres, mas todas elas são Aspergers, e essa é uma característica que todas nós temos em comum, que é termos nos dado bem com homens a vida toda e não termos nos dado bem com mulheres. 

Yara: A gente tem uma capacidade tão grande de se adaptar que, às vezes, a gente chega a se anular, e isso aconteceu comigo drasticamente.

Desde criança, nós Aspergers, a gente é normalmente oito ou oitenta. Então, eu era completamente passiva, muito calma. As coisas aconteciam e eu só observava e, enfim, eu observava e racionalizava em cima daquilo. Eu era como se o mundo estivesse ali e eu tivesse o tempo todo que aprender como viver no mundo. E eu não me preocupei nunca, até o ano passado, em como fazer para que as pessoas vivessem comigo. E aí, o quê que aconteceu? Chegou num momento em que eu percebi que eu simplesmente não sabia quem era eu, porque é tão complicado isso. A gente vai se adaptando, se adaptando, se adaptando. É aquilo que eu falei sobre o custo que existe. Por exemplo, com dezessete anos, já tinha desenvolvido uma comorbidade que era a fibromialgia, e eu não sabia nada sobre TEA. Então, eu fui procurar o médico especialista nisso, nem lembro qual que era o médico agora, e ele virou pra mim e falou: “Você é nova demais. Eu não vou te dar o remédio. Você precisa aprender a se divertir.” E eu fiquei olhando pra ele com a maior cara de tipo: “Eu preferia que você me desse o remédio porque eu não sei o que é se divertir.” E aí eu fiquei na minha cabeça um tempão tipo: “Nossa, mas o quê que é se divertir? Eu não gosto de me divertir como as outras pessoas. Eu não acho divertido ficar saindo com um monte de gente. Sei lá o quê que é se divertir.” Eu não sabia. E até mais ou menos uns três anos atrás, eu percebia que eu era completamente adaptada à minha realidade, mas que eu não ditava a minha realidade. A realidade meio que acontecia pra mim, e eu me adaptava a ela. Eu não ditava a minha realidade. E aí, eu percebi o seguinte: a minha vida era o tempo todo relacionamento, trabalho, cuidar de casa, e eu era tão hiperfocada em fazer essas coisas que eu simplesmente não vivia outros tipos de coisas. E eu não me preocupava em relacionar-me com outras pessoas, e aí a minha comunicação ficava sempre restrita a quem está comigo. No meu caso, eu era casada, então a comunicação era restrita basicamente a conversar com o meu ex-marido.

E é uma loucura, gente. Você conversar com uma pessoa neurotípica e de repente você tem um desentendimento a respeito do significado de uma única palavra. Porque a gente teve brigas homéricas por causa disso, que pra ele eu estava dizendo uma coisa e pra mim eu estava dizendo outra, e vice-versa. Então comunicação no mundo autista é complicada, mas eu ainda acho que viver num mundo neurotípico é dez vezes mais complicado do que autista.

Thaís: Eu também acho, porque a gente consegue até colocar muito mais lógica no nosso mundo, né? Do que, claro, não cem por cento, eu acho que nós somos seres muito mais lógicos, mas nem sempre isso funciona cem por cento para todo mundo.

Yara: Acontece que existe um problema que a gente tem, que às vezes, pra argumentar, você precisa primeiro entender o que está acontecendo com você. Então, por exemplo, eu estou me sentindo mal com tal situação. Só que se você não entende que você está se sentindo mal com a situação X? E isso acontece muito comigo. O meu namorado, ele dá risada porque ele fala “você não sabe de você mesma”. É eu que tenho que ficar observando, porque muitas vezes eu não percebo que eu estou com fome, eu não percebo que eu estou mal posicionada e eu não percebo o que que está me angustiando. Existe um nome pra isso, eu não lembro agora, mas tem o nome dentro da literatura médica, que é o “você não conseguir reconhecer em si mesmo as coisas que estão te acometendo”. E teve até um dia que foi muito engraçado, porque eu estava super estressada e eu não conseguia entender o porquê que eu estava super estressada. Eu só sabia que eu estava surtando e de repente, ele colocou uma mesinha de computador, uma cadeira e falou “sai da cama, senta aqui” e se posiciona direito e colocou tudo no lugar. Nossa, veio uma paz na minha vida. Eu falei, nossa, era isso. E eu não sabia e ele falou “como é que você consegue digitar desta porcaria dessa posição?” Então é engraçado, porque pra você conseguir argumentar bem às vezes com alguém, você tem que ter muita consciência do que está te fazendo mal e o problema é que dentro do transtorno, nem sempre a gente consegue ter essa consciência, entendeu? 

Thais: Eu percebo que eu tenho uma consciência boa de forma geral, eu me conheço bem, é bem raro eu não saber o que está acontecendo comigo, eu estar irritada e não saber por que, é muito difícil e inclusive, não me lembro da última vez que isso aconteceu. Pra mim, a maior dificuldade é entender o que está acontecendo com a outra pessoa, então, por que a outra pessoa está irritada, eu levanto hipóteses, falo “ah, pode ter sido por esse motivo, por aquele outro motivo”. E aí, às vezes, eu decido por um, falar, “maior chance é que tenha sido isso, parece pior”. Se a pessoa não me fala, às vezes a gente pergunta e a pessoa acha que você tem que saber, vocês talvez já tenham ouvido isso, quando eu pergunto “ah, mas você está irritado comigo?” e a pessoa vira e fala “você sabe o que aconteceu? Você sabe o que você fez.” e você pensa “não, eu estou perguntando porque eu não sei” e muitas vezes as pessoas esperam que você saiba, descubra, adivinhe e até entre os neurotípicos já me falaram isso, que é difícil pra eles. Então, imagina com a gente numa situação dessas? Então, para mim, esse é o ponto principal: é a pessoa, as pessoas, me explicarem o que fez com que elas se sentissem mal. E não tanto eu entender o que faz com que eu me sinta mal. Em geral, a minha autocompreensão é boa. 

Yara: É engraçado que eu sou o exato oposto do seu caso. Tipo, eu consigo detectar com muito mais facilidade o que está se passando com as outras pessoas. Acho que é porque eu tenho uma certa facilidade em entender a sutileza de mudança facial, uma mudança de comportamento dos outros, mas eu não consigo enxergar isso em mim. Eu não compreendo isso em mim. Tanto é que só passei a identificar que eu tinha sobrecarga sensorial de um ano pra cá. Eu não sabia que eu tinha isso. Eu estava tendo crises horríveis. Eu estava ficando muito no quarto, muito no escuro, com depressão. Eu estava tendo crises de síndrome do pânico, tremedeira. Eu acordava com o coração disparado, não sabia porquê. E eu comecei a ficar muito muito mal. Eu não sabia por que, e a culpa é horrível, porque quando você é mãe, você quer cuidar da sua família. E aí, de repente, você não consegue, e é incapacitante. Você quer cuidar bem, você quer dar carinho, você quer ter paciência, mas não consegue. No fundo, no fundo, o seu organismo meio que parece que grita: “Me deixe sozinha pelo amor de Deus!” E eu não conseguia saber o que estava acontecendo comigo. Então, quando eu descobri o TEA, foi quando realmente a minha vida deu um salto, eu falei: “Agora eu entendi. Agora eu descobri que existe essa droga de sobrecarga sensorial e que os gritos me deixam maluca e que brinquedo pela casa me deixa surtada e que eu preciso de organização ao meu redor, porque senão, internamente, fico completamente desorganizada também.” E é uma loucura lidar com tudo isso, tendo família, entendeu? Mais um desafio da mulher autista. 

Tiago: É que, se você consultar associações, espaços onde geralmente tem mães, você vê que a maioria das vezes, 95% das pessoas presentes são mães. É muito pouco frequente terem pais. E aí, no caso, por exemplo, da Yara, que é mãe de autista e autista também, é uma carga dobrada, triplicada, a níveis gigantes. Você, como uma pessoa que se divorciou, o seu marido dá uma contribuição grande ou é meio distanciado? 

Yara: Então, isso é engraçado. Eu tenho uma sensação, na verdade. Deixa eu te contar, meu nome não é Yara, esse é um pseudônimo e não é o nome que eu usava na internet até começar a me expor como autista. Justamente porque eu quero ter liberdade de poder falar tudo o que eu sinto e aquilo que eu acredito sem manchar a imagem de ninguém. Porque uma coisa que eu percebi é que o meu ex-marido ou minha família não têm noção do que eles causaram ou causam na minha vida. Porque eles não fizeram para me atingir, mas me atingiram. Então, o que acontece? O meu ex-marido passou, na minha concepção, a ser pai agora que eu me divorciei. Porque tudo ficava nas minhas costas. Eram quatro crianças e eu tinha que trabalhar, lidar com a casa, com as crianças, correr atrás de médico e lidar com tudo isso sozinha, sendo autista. E eu simplesmente cheguei num ponto de entrar nesse meltdown louco que misturou tudo e, graças a Deus, que o meu filho é autista e eu descobri isso porque senão eu nunca ia descobrir o meu TEA. E por incrível que pareça o meu filho é o mais simples de lidar de todos os meus filhos, porque ele é muito parecido comigo. Então, ele tem aquela passividade que eu tinha quando era criança. Por conta do divórcio, tudo tem que estar no papel. Então, inclusive, eu passei a ter dias na semana em que o pai fica com os filhos e eu fico livre. Nunca tive isso quando casada. Então, para mim, melhorou muito porque meu ex-marido realmente não entendia como eu funcionava e eu também não. Eu também nunca consegui entender como ele funcionava. Para mim, era muito estranho. Ele levava as coisas de forma muito emocional e eu tentava mostrar para ele o lado racional das coisas buscando socorrer. E para ele, era como se eu tivesse dando um tapa na cara dele. Eu falava “não, mas como assim, eu estou tentando te ajudar, estou tentando me desculpar, eu estou tentando explicar e isso estava virando uma coisa pior ainda?” E eu cheguei a sofrer violência doméstica. Eu fui agredida. E eu saí de casa com os meus filhos e eu na verdade só voltei para o casamento porque mais ou menos um mês depois que eu saí eu descobri que eu estava grávida da minha filhinha. E aí eu falei “é putz grila, eu estou grávida bem agora”, e para mim foi uma loucura isso e aí eu falei “eu não vou dar conta. Vou ter que voltar porque como que eu vou trabalhar e dar conta de quatro crianças?” Enfim, eu voltei, dei toda a oportunidade, conversamos, agressão nunca mais aconteceu, nem mesmo os gritos que aconteciam, muito frequentemente, não aconteceu mais. Eu tenho uma cicatriz na sobrancelha porque um dia eu enfiei a cabeça na janela até quebrar a janela e sair a maior sangueira da minha testa. Porque ele me fechou no quarto e ele ficava falando, falando, falando, falando, e eu precisava desesperadamente sair daquela situação, ele não deixava eu passar. Esse é o problema da fragilidade feminina, ele não deixava eu sair do quarto e eu falei, “o único jeito de eu sair daqui é se eu precisar ir pro hospital. Então eu vou fazer alguma coisa e eu vou pra um hospital.”

E de fato eu fiz isso, eu dei um murro na janela e ele virou e falou “ah, isso não vai adiantar”, aí eu peguei e dei uma cabeçada até sair bastante sangue, e enfim virou a maior sangueira. Eu olhei pra ele e falei “dá licença”, aí ele saiu da frente e eu saí pela rua que todo mundo olhava pra minha cara e “falava você precisa de ajuda?” Aí eu “não, não, está tudo bem” e fui sozinha pro pronto socorro pra poder tomar ponto, enfim, então eu passei momentos horríveis enquanto esposa, justamente porque as brigas eram homéricas em torno de a pessoa levar as coisas muito pro lado emocional. Quem é emocional demais espera uma resposta emocional na mesma altura e espera uma resposta sempre muito subserviente. O que pra mim não fazia nenhum sentido porque eu olhava e falava, não é justo, eu não fiz nada de errado. Então é muito complicado lidar com isso, porque nós que somos Aspies, a gente é tão ligado a valores e ao que é verdade que eu chegava e eu falava, eu não posso pedir desculpa porque isso é uma mentira. E eu pensava “eu entrei nesse casamento, agora eu tenho que dar conta dele.”

E eu fiquei casada até o dia em que eu estava lavando louça e eu falei assim: “Ele não fica em casa. Ele não cuida das crianças. Agora depois de quase dez anos que o cara começa a trabalhar. Olha que foi bem complicado esse processo. E foi tudo muito assim, ele foi o namorado perfeito e ele mudou da água pro vinho exatamente no dia que eu assinei o casamento.

Então pensa em alguém que ficou… Cara os meus pastores eles falaram “Yara, você precisa sair desse casamento.” 

E eu “não, mas e se eu estiver errada?” Olha como é a cabeça de um autista, gente. A fidelidade que a gente é capaz de ter é o ponto que, às vezes, leva a gente ao perigo. Porque eu falava: ‘Mas e se eu estiver interpretando tudo errado? E se eu estiver sendo injusta? E se ele for uma ótima pessoa e estou julgando mal?’ Então, enquanto eu olhava e eu falava: “É, eu preciso ir até o fim. Eu preciso descobrir se o problema está em mim ou está nele.” Enquanto eu entendia que podia ter uma chance, eu tentei. Até o último segundo. Quando eu me divorciei, as pessoas bateram palmas para mim. Eles falaram: “Finalmente! Eu achei que você nunca ia conseguir fazer isso.” E aí eu falei: “Eu só consegui me divorciar porque entendi que aquele casamento era uma mentira.” Cara, eu demorei um minuto para tomar essa decisão. Olha que engraçado, dez anos eu não tomei a decisão. Mas em um minuto, eu olhei e falei: “Esse casamento não é de verdade. Ele é uma mentira e eu não quero viver uma mentira.” Pronto, divorciei sem crise. 

Thais: É que a gente precisa chegar na conclusão, né? Todos esses anos que você passou, na verdade, as informações estavam entrando no sistema, estavam sendo processadas, até sair o resultado ali. A questão que percebo é que, quando a gente tem o resultado, não tem como voltar atrás, porque já definiu. Pronto. 

Yara: Não tem, não tem. Eu lembro que não derramei uma lágrima, não sofri nem um segundo. Então, eu fiquei super bem, aliás, eu até melhorei de saúde depois que me divorciei, simplesmente porque tinha uma certeza tão grande de que era o certo… Enquanto tinha dúvidas, não conseguia me mover, ficava paralisada. Tipo, ‘Eu não posso tomar uma atitude errada com alguém. E se eu, às vezes, é engraçado, isso em mim. Eu não sei se vocês têm. Eu tenho uma questão de justiça tão forte dentro de mim que, se prejudico alguém, sem querer, obviamente, eu não vou querer prejudicar ninguém por querer, mas, digamos, que se isso aconteça, sem querer, cara, eu me martirizo tanto tempo por causa disso. Preciso de muito tempo para conseguir esquecer e, aí, voltar a ficar bem. Para mim, a justiça é tão importante que não posso fazer nada errado. 

Thais: Apesar de, em geral, não acreditar que tenha um equilíbrio justo das coisas, quando acho que agi errado com uma pessoa, aquilo também me incomoda muito. Nem sempre as pessoas concordam que eu agi errado quando eu acho que eu agi, e nem sempre eu concordo que estou agindo errado quando elas acham que eu estou. Então, da mesma forma que você falou que eu não consigo pedir desculpas se eu acho que não fiz nada de errado, às vezes eu consigo me forçar com comandos curtos para meu corpo tentar melhorar uma situação. Já consegui fazer isso, mas é muito difícil. Já fui muito acusada de querer ter sempre a palavra final, mas não é uma questão de querer ter a palavra final. É que eu não vejo motivo para mudar de ideia. E eu não consigo chegar para você e falar: ‘eu mudei de ideia só para você ficar feliz, tchau”. 

Yara: Essa honestidade que temos é muito importante, principalmente com nós mesmos, porque é a nossa essência. Dizem que os autistas não mentem, mas eu consigo mentir se eu quiser. No entanto, isso me causa um transtorno mental tão grande que fico presa naquilo, é horrível, é como se a minha cabeça estivesse andando em círculos e eu não conseguisse pensar em outra coisa, então isso me faz extremamente mal. Que eu olho e eu falo, não quero mentir nunca, porque é horrível. E eu não consigo entender porque os neurotípicos mentem com tanta facilidade e inclusive mentem pra se gabar. Não lembro isso na minha cabeça. 

Thais: Então eu já li algumas teorias sobre mentira, sobre como mentira funciona e tudo mais. Eu acho muito divertido pra ser sincera, eu acho muito engraçado até. Talvez por ser um negócio meio bizarro, eu tenho muita dificuldade também em mentir, eu lembro aí de um episódio que eu acho que foi um episódio 03, que o Tiago tinha contado a história de que ele não conseguiu mentir de jeito nenhum. E aí eu mandei um e-mail falando que hoje consigo mentir, eu aprendi como uma habilidade que eu considero de sobrevivência. Então, em alguns casos eu posso usar isso como sobrevivência, mas tem que ser uma coisa bem extrema mesmo, tem que achar aquilo bem importante.

Tiago: Clássico de relação abusiva. Ele tem todas as características que nos relacionamentos neurotípicos, são consideradas abusivas. E me fez lembrar também de outra coisa que a Thais falou no episódio 36 sobre a série Atypical. Em que ela diz que, pelo menos da percepção dela, era muito mais fácil uma pessoa dar a experiência dela certo com a pessoa mais parecida do que uma pessoa totalmente diferente naquele conceito dos opostos que atraem. E parece que essa lógica está funcionando com você.

Yara: Eu casei tão rápido. Eu trabalhei cinco meses e cacete. Na verdade  eu tenho muito meses e casei. Parte desses cinco meses foi o correspondência. Então, me atraiu bastante e os valores eram exatamente iguais, os planos eram iguais também. Pensei, nossa, encontrei a pessoa perfeita. Ele me tratava extremamente bem. Eh, demonstra que queria cuidar muito bem de mim e que gostava de crianças e eu me apaixonei e ok. Nos casamos e tal e quando casamos eh a gente tinha o acordo de que iríamos trabalhar juntos. E eu nunca soube antes, a família dele não tinha me falado que ele não trabalhava, o que fiquei sabendo é que naquele ano ele não estava trabalhando, só. Então quando a gente casou a ideia sempre foi, ah vamos trabalhar juntos. Mas eu notei que ele não suportava receber instruções de uma mulher. Então  eu era da área técnica ele ia ser uma estagiario, vamos dizer, que ele ia mudar de área e iria começar nessa parte de informática, programação e tal. Mas ele simplesmente não conseguia receber ordens minhas. E aí eu falei então veja o que você quer fazer para trabalhar e aí você me fala e fica na pra trabalhar com o que você gosta. Acontece que ele fazia mil projetos, mas fazia, começava, não terminava, começava, não terminava e nisso foram mais ou menos oito anos que ele ficou sem um trabalho de receber salário e colocar algum dinheiro em casa. Eu sustentei meus filhos e minha família. Durante todo esse e até que chegou num ponto que eu não aguentei, virei pra ela e falei, meu, você é um vagabundo, por quê? Eu estou pedindo ajuda, eu estou grávida e eu estou falando que eu não aguento mais. E você está querendo escolher o trabalho que você vai fazer e esperar concurso e essas coisas todas e graças a Deus ele passou num concurso então de mais ou menos um ano e meio pra cá ele está trabalhando. E é por conta disso que ainda consigo receber pensão. Foi um casamento em que o namoro foi perfeito. O noivado foi perfeito a cerimônia em si foi perfeita. A lua de mel foi legal, mas eu passei aquele da noite em branco pensando se eu devia anular meu casamento. A mudança no tratamento dele foi tão drástica que eu falei “fiz besteira”. Só que eu fiquei quase a noite inteira pensando sobre anular. Mas aí eu pensei cara, mas vão falar um monte, todo mundo ajudou no casamento, vai ter que devolver coisa, vai ser um vexame horrível. Falei não, vou dar uma chance. Essa chance se estendeu até eu ter certeza absoluta que não é uma boa pessoa pra estar comigo. Enfim, quando veio o diagnóstico do TEA isso foi determinante pra mim, porque aí eu determinei que eu ia colocar para fora a minha personalidade. Eu chutei o balde, chutei o balde totalmente. Eu lembro que eu tive um dia que eu cheguei e eu orava muito, falava muito com Deus. E eu falei, eu não falo palavrão, eu não faço nada de errado. Eu mal saio de casa, tudo deu errado. Então agora eu vou fazer tudo do meu jeito. E aí eu falei que você vai ter que ter polícia comigo Deus. E eu fui pro mercado e comprei umas bebidas e eu falei eu vou ficar bêbada na minha casa. E eu virei pra Deus e falei você vai ficar comigo ainda por cima porque eu quero começar a fazer coisa errada. E foi engraçado porque eu estava no grupo de autistas e eu falei pessoal olha eu comprei um negocio pra eu beber aqui vocês me acompanham porque eu nunca fiz isso e aí eu fui indo nessa coisa de repente eu virei pra Deus e eu falei. “Deus eu tenho tanta coisa guardada dentro de mim que eu preciso pra fora e não adianta eu falar”. Putz grilas isso não resolve mas eu tenho que falar ali para o padre Américo. E eu falei desculpa Deus mas isso é autêntico. Entendeu? E eu falei que eu preciso ser autêntica, eu preciso me descobrir. E aí eu me dei liberdade pra começar a falar palavrão e aí eu me dei liberdade pra conversar com quem eu quisesse e eu fui me dando liberdade para descobrir quem eu era e eu sou muito certinha de fato. Então eu faço pequenas coisas erradas. Falar palavrão e beber alguma coisa, mas ok. Para quem nunca fez nada errado, isso é uma grande evolução. E aí eu comecei a me impor também, foi a primeira vez que eu senti que eu comecei a me impor. Eu cheguei e eu falei não, eu não quero. Não vou fazer desse jeito é não eu penso de tal forma. E você é obrigado a me respeitar e acabou. Foi o divórcio mesmo e foi a melhor coisa que me aconteceu. E então se você for pegar na verdade o meu diagnóstico do TEA, a descoberta do TEA na minha vida foi determinante. Para tudo isso, foi muito importante mesmo.

Thais: É como você falou, é uma descoberta. Então para gente muda bastante coisa mesmo. Eu lembro que em um episódio que ficou bem antigo quando eu ainda não estava falando nada aqui. Acho que foi o Michael que teve o diagnóstico cedo. Foi ele Tiago que teve o diagnóstico bem cedo? 

Tiago: Foi com 15 anos.

Thais: É para gente, é considerado bem cedo em comparação com o resto. E ele falou que pra ele o diagnóstico não mudou nada. E eu achei engraçado na hora porque eu pensei às vezes justamente por ter sido cedo. Porque pra gente que passa muitas e muitos anos tendo que se adaptar a muitas coisas sem entender muitas coisas eh eu acho muito difícil alguém ter um diagnóstico bem tardio e falar que não fez diferença, acho que sempre no mínimo esclarece muita coisa pra gente 

Yara: E quando eu era, sei lá, adolescente, eu tive uma crise de asma e eu fui passar no pronto-socorro e o médico que me atendeu ele virou pra mim e falou, olha, na verdade eu sou psiquiatra. E eu quero te dizer uma coisa, você é certinha demais, você é muito chata. E eu dei risada, porque eu nunca imaginei que o médico virasse pra mim fosse falar, você é muito chata. Pois ele falou, você precisa aprender a fazer coisa errada e isso eu tinha umas sei lá, uns quatorze, quinze anos por aí, sei lá. E na verdade neurotípico é estranho, porque na verdade eu ando não tem padrão, neurotípico não tem padrão. Tem de tudo que é tipo. Mas na minha cabeça é como se o mundo tivesse regras e eu tivesse que estar nessas regras. E era horrível, era horrível. E hoje, especialmente por conta do meu relacionamento ter saído de um relacionamento que foi até abusivo e tal. E hoje estar com alguém que está dentro do espectro também me dá uma liberdade tão grande, porque ele conhece os meus mais altos e os meus mais baixos. Ele me chama de lua. Porque tipo cara às vezes eu estou cheio e às vezes eu estou só um risquinho. Às vezes eu estou cheia de energia, toda animada e às vezes eu estou um bagaço completo. E para mim é ótimo porque ele lida com isso de uma forma que respeita muito, então pela primeira vez eu tenho liberdade pra ser eu mesma e não tenho uma consequência negativa. 

Thais: Então mas sobre a questão que você falou de ser certinho e tudo mais eu acho que quando a gente acha que uma coisa é certa ou que uma coisa errada pode nascer os ácidos mesmo. E isso se torna muito bem definido na nossa cabeça. E quando a gente não tem certeza, isso se torna também muito nebuloso. Então, por exemplo, eu já sempre que eu falo certo ou errado, eu tento mostrar qual que é o referencial que eu tô usando. Porque hoje eu enxergo a mais relativa, não cem por cento, mas eu acho que muita coisa é bem dependente de qual é o parâmetro que você usa, qual é a cultura que você usa. Então, a maior parte dessas coisas que a gente considera certas, erradas, são construções sociais. Só que quando a gente acredita nelas, quando a gente acha que aquilo é certo é é muito difícil nós sermos errados entre aspas. Eu sempre fui também uma pessoa entre aspas muito certinha seguindo tudo aquilo que eu achava que tinha que ser seguindo todas as regras que eu achava que faziam sentido também se não fizesse sentido eu conseguia seguir aquilo só porque alguém mandou e isso eu acho que é é em pessoas como nós. 

Yara: Eu acho que nós hastes morremos pela verdade que nós acreditamos.

Thais: É justamente por acreditar demais né em algumas coisas. Agora outra coisa interessante você falou que eu percebi também foi da questão da sobrecarga que eu já percebia por exemplo, não gosto de barulho, não gosto de calor, não gosto de muita luz, eu saí e tem aquela luz pra todos os lados, já me incomodava demais. Mas pelo que eu entendia do que as outras as falavam parecia ser frescura. Eu falava, “ah, eu é que sou meio esquisita, choro” e tal. E hoje eu entendo, depois do diagnóstico que eu passei a entender que é a sobrecarga sensorial. Então, também foi algo engraçado. E sempre minha família falou que eu era um bebê que demais continuava sempre chorando e hoje eu acredito que tivesse algo disso, que talvez algo que não incomodasse as outras pessoas pra todo ano tivesse tudo certo e pra mim não tava, pra mim é uma coisa que devia tá errado, não tem como eu me lembrar porque isso é desde que eu nasci, Mas pra mim faz muito mais sentido hoje que que eu aprendi esses outros detalhes.

Yara: Ajuda bastante quando a gente consegue evitar. Que nem uma coisa que eu percebi da questão de sobrecarga sensorial auditiva é que na verdade eu fui me tornando mais sensível com os anos. E eu consigo até ouvir alto e uns sons que pra mim são ordenados. Uma música que eu gosto muito. Eu consigo ouvir mais alto. E agora vamos dizer a um monte de pessoas falando gritos e eu não consigo ouvir nem a metade do volume que eu conseguiria ouvir de uma música que eu gosto, por exemplo. Porque aí eu eu saquei que na verdade é porque existe desordem naquilo. Pra mim é um monte de sonho misturado e e não é ordenável na minha mente. Então aquilo me faz extremamente mal. Me deixa muito irritada, muito irritada. E tem uma coisa que eu detesto que é grito, então eu detesto gritar também. Mas tem hora que eu fico tão transtornada com o barulho que eu acabo gritando. E aí é um um ciclo que se retroalimenta porque você grita isso e já se sente mal porque gritou. Aí já vem aquela coisa toda do da racionalidade autista que é não mas espera aí uma boa mãe olha os padrões uma boa mãe não grita com seus filhos então eu não quero gritar eu quero ser sempre gentil e amorosa e fica essa coisa como se tivessem imagens que fossem os bons padrões. E viram metas que muitas vezes é devido ao ambiente ou ao tempo em que se vive é inalcançável para aquele momento. Mas a gente se cobra demais e enquanto mãe autista é bem complicado vou dizer pra vocês se eu soubesse que eu era autista e que eu fosse passar por essa sensibilidade sensorial e tal porque eu não reconhecia isso em mim eu só passei a reconhecer estudando o TEA, mas se eu reconhecesse meu autismo, eu não teria tido quatro filhos 

Thais: Eu não pretendo ter filhos inclusive eu não sei se algum dia eu vou conseguir morar com outra pessoa e se eu for morar com outra pessoa preciso ter um quarto só meu, é aquela coisa que eu preciso poder ficar sozinha. Acho muito legal ter justamente no mesmo podcast uma outra pessoa que tenha filhos, uma mulher, que tenha filhos e tudo mais pra mostrar que não é o padrão, porque muita gente acha que, “ah, os autistas não ter filhos porque eles não não eh falam bem com as pessoas e não se comunicam bem ou não podem ter filhos porque são problemas genéticos e eles estão passando uma doença quase”   umas ideias bem idiotas. E eu acho bom ter esse contraponto que a sua opção foi já a minha opção provavelmente será não ter. E a minha vida toda as pessoas falavam ah mas quando crescer você vai mudar de ideia. E eu tenho vinte e sete anos. Eu não sou exatamente, acho que você não cresce mais não. É pra mim em vários aspectos eu não acrescento mais. Então não sou exatamente uma menininha e eu também, mas eu ainda tenho tempo pra ter filho se eu quiser só que eu não mudei de ideia quanto a isso e é uma outra coisa que me incomoda muito e sempre me incomodou. As pessoas falarem de mim considerando um um padrão geral, então quando você crescer você será de tal jeito, quando você tiver família você será de tal jeito. E como eu disse, eu sempre tive um autoconhecimento, uma autoconsciência muito grande. Então eu sei que olhava pra pessoa e pensava que essa pessoa não sabe do que ficar falando, porque ela não me conhece só eu me conheço.

Yara: Mas é engraçado você falar nisso porque, eu não consigo me imaginar sem filhos e mesmo eu falando “ah se eu soubesse do TEA eu não teria quatro”, tá? Eu não teria quatro, mas eu acho que eu teria pelo menos dois.

Thais: Na hora que você falou eu até pensei que você diria “ah se eu soubesse sobre o TEA eu não teria filhos”, aí você falou, ”ah eu não teria quatro”. Eu falei, “ah, mas então ela teria alguns pelo menos”.

Yara: É uma experiência que é muito boa, porque pra mim, pra mim foi. Porque eu era muito autocentrada, eu, pra minha vida, era trabalho. Para mim  ser uma boa mulher quando não uma boa esposa, uma boa mulher. Foi o lado feminino. Sendo uma boa mulher é cuidar bem da sua casa, trabalhar para ajudar a sustentar a casa. E cuidar bem dos filhos, vamos dizer. Cuidar bem do marido, cuidar bem dos filhos e tal. Então eu sempre tive essa perspectiva muito tradicional, talvez por ter sido criada pela minha avó, não sei. Mas eu gosto dessa perspectiva, eu acho bonito. Mas eu vejo que dentro do TEA é totalmente possível ser uma excelente mãe, excelente. Mas tem que saber lidar e cara, a quantidade de filhos influencia. Não vou me e eu vou te dizer, o meu filho dentro do espectro, pra mim é a criança mais fácil de lidar do mundo. Porque eu sei como ele funciona. Então, ele, por ele mesmo, ele nunca vai gritar, mas ele acaba gritando porque ele também se irrita. Então, a gente se dá muito bem, vamos dizer, só ele existia uma troca de afeto entre a gente que era muito única. Claro que aí quando vai tendo mais e mais filhos, a atenção fica decidida e eu percebo que ele sente isso até hoje. Mesmo tendo oito anos, ele sente falta de quando era o único filho e recebia toda atenção. Mas é muito fácil pra mim lidar com ele. Agora, com os outros que são neurotípicos, vamos dizer  , é bem complicado, porque eles não tem essa coisa, que eu tenho de gostar de organizar, de gostar de padronizar. E é meio caótico. Não sei, parece que o mundo neurotípico é muito caótico.

Thais: Isso eu não posso falar porque eu sempre fui uma pessoa bagunceira em termos de não arrumar o quarto e coisas de não arrumar a sala. Mas eu sempre queria deixar as coisas ordenadas de determinada forma. Então por exemplo se eu lavo a louça pra mim os pratos grandes tem que ir atrás. Os pratos menores na frente tem a separação de como os talheres tem que ficar se tiver pratos de várias cores tem que ser em escala de cores então eu eu e eu sempre organizei muito o computador então eu ficava louca quando logo que a gente comprou o primeiro computador que era compartilhado da família. Que a minha mãe não organizava as paz e ficava um caos e pra mim aquilo tinha que ser organizadinho, tinha que tá cada coisa no seu devido lugar. Então, apesar pra mim muitas coisas físicas, eu ter sido bagunceira, eu só fui me tornar mais organizada hoje, que eu tenho a minha própria casa e que eu percebi que pra limpar é muito mais fácil quando as coisas estão arrumadas mas eu sempre tive organização em alguns pontos que eu achava importante. E agora outra coisa que eu tava pensando que eu achei engraçado eh a gente tá fazendo justamente o Dia da Mulher e ter essa essa diferença entre nós mostra justamente como hoje nós temos essa liberdade de escolha. Apesar de ainda ter preconceito, ainda ter muitas características machistas, eu acho até que nem tanto quanto alguns grupos fazem acreditar em alguns aspectos e mais do que algumas pessoas percebem em outros aspectos a gente tem muito mais liberdade do que teria há alguns anos em que a nossa única possibilidade seria casar e ter filho ou se não casasse ia ter que depender do pai e depois do irmão e hoje em dia inclusive eh existe ainda uma pensão para a filha e militares solteiras que muitas vezes entra, cai na mídia. De como existem alguns gastos bizarros, porque antigamente fazia muito sentido uma mulher ter que receber um auxílio, já que ela dependeria de um homem, então se ela fosse solteira, ela precisaria desse auxílio, se o pai morresse agora hoje em dia isso já não faz mais tanto sentido. Porque a mulher tem essa possibilidade de ir atrás, de buscar emprego e tudo mais. 

Yara: Eu acho que a tecnologia ajudou muito a internet absurdamente. Inclusive como isso facilita para o autista geral se a gente parar pra ver até quem tem autismo com algumas dificuldades maiores para se expressar, pra falar ou pra sair de casa tem possibilidade de ganhar dinheiro em casa hoje em dia por causa da internet. Antigamente a pessoa ia ficar restrita ao quê? Seria bem mais complicado lidar com essa parte de independência financeira, eu particularmente nunca gostei de depender de absolutamente ninguém. Simplesmente porque como eu cresci só com a minha avó e eu pensava eu pensava muito   se eu não cuidar de mim ninguém vai cuidar então eu tenho que e se eu depender de alguém eu estou lascada. Mas essa questão da dependência até mesmo eu acho que pra quem é casado não é bom. E eu sempre falei   já pensou se é casado depende eh do marido por exemplo e o marido morre. Pronto está lascado.

Thais: Concordo plenamente. E eh sinta-se que a gente tem que depender de outra pessoa é complicado, mesmo que a pessoa não morra. Mas por exemplo você está casado e de repente o casamento acaba por outro motivo vamos dizer que o seu marido por algum motivo não queira continuar casado tá quem mora em outro país sei lá de novo se você também pessoa está sempre correndo esse risco. 

Thais: Então pelo menos pra finalizar o que eu estava falando eu vou retomar a primeira frase que eu falei o marido bom ele não não ajuda ele faz junto. Na verdade foi uma frase que eu ouvi em outro que chama xadrez verbal, que é sobre política internacional, tem nada a ver e o Mathias Pinto que é casado na época que ele teve o primeiro filho dele que ele tava falando que tava lá trocando as fraldas e alguém falou, ah, cê tá ajudando, ele falou, não, eu não tava ajudando, eu tava fazendo uma coisa que é minha responsabilidade. Acho que eu acho muito importante hoje em dia justamente nessa questão de ir contra o machismo e ter um diálogo, as pessoas vão pensar em dividir homens e mulheres, tentar justamente aproximar as duas coisas. E eu não gosto da forma como muitos dos movimentos feministas age hoje em dia, sinto que existe uma busca, parece por só os direitos das mulheres e os homens que se calem, os homens que não falam nada, até foi essa brincadeira que eu fiz com o Tiago mais cedo. Eh que ah você é homem, então fique quieto. E não fale sobre sobre as mulheres, podem falar sobre as mulheres? Acho isso muito errado. Eu acho que tem justamente a gente precisar se aproximar um do outro e não se dividir. E aí eu quando ele fala isso que é responsabilidade dos dois eu acho que é uma coisa muito verdadeira. Se duas pessoas estão construindo uma vida juntas, se tem um filho ou mesmo se elas tiverem um cachorro, um gato, qualquer coisa. Elas precisam dessa ajuda em fazer aquilo, não pode ser só responsabilidade ou. Se for uma decisão deles, eu até acho razoável que um continue em casa trabalhando em casa e o outro trabalhe fora. Não acho que isso seja hoje em dia, hoje em dia, como a Yara já falou, dá pra trabalhar de casa e tudo mais. Não precisa também ser a mulher, pode ser a mulher trabalhando fora e o marido em casa. Mas eu acho que hoje essas diferenças são muito mais uma construção social mesmo. As pessoas se acostumaram que a mulher tem que cuidar dos filhos, que a mulher tem que fazer comida, a mulher que tem isso. E aí se torna aquela jornada dupla,  , Que a mulher cuida da casa e a mulher também trabalha fora e isso que eu acredito que com o tempo vá mudando, eu acho que a gente vai ficando cada vez mais unido, eu espero. Se não, vai ter um caos em breve. 

Yara: Eu concordo plenamente com você, acho que a vida se constrói junto a partir do momento que você decide estar junto, você vai ter que dar conta junto. Responsabilidade é sempre dos dois. Eu prefiro, é, nesse momento então, fechar a o que eu digo falando um pouco sobre a questão do TEA para a mulher, dizendo que os desafios são muito grandes mesmo. Ser diagnosticado ainda é difícil a gente até pra nós mesmos descobrir isso é bastante difícil. Sozinho não dá nem pra comentar. Vou dizer que é mais forte do que qualquer outra coisa, mas por outro lado eu também quero dizer que eu amo fazer parte do Tea. Porque pra mim mudou a minha vida e sinceramente se eu fosse escolher você quer ser uma pessoa eh neurotípica ou no espectro eu continuo preferindo estar no pra mim esse caos e essa dificuldade ou sei lá a falta de fidelidade com valores ou não sei talvez esteja sendo radical mas eu ainda acho que estar no TEA faz de mim uma pessoa melhor. Eu gosto de todos os desafios que tenho tendo, meltdown, slowdown. Ficando uma montanha russa aqui de vez em quando, ainda precisa estar no TEA do que eu eu não procuraria uma cura não.

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Equipe Introvertendo Escrito por: