Introvertendo 36 – Atypical comentado por autistas

Popular entre muitos fãs de séries, Atypical é a produção da Netflix que se utiliza de uma história de âmbito familiar para discutir o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Neste episódio, como autistas, comentamos os pontos positivos e negativos da série, incluindo caracterização do autismo, roteiro, humor e sexismo.

Participam desse episódio Paulo Alarcón, Thaís Mösken e Tiago Abreu.

 

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Transcrição do episódio

Tiago: Olá pra você que escuta o podcast introvertendo, esta plataforma em forma que reúne pessoas dentro do espectro autista para discutir temas tanto da comunidade médica quanto da sociedade quanto da vida, da cultura pop para neurotípicos e neurodiversos. Eu sou o Tiago Abreu, estou aqui com a Thais Mösken e o Paulo Alarcón para falar de uma série que está bastante em alta aí entre a galera.

Paulo: E aí pessoal, aqui é o Paulo. Eu não ligava muito pra Atypical até receber meu diagnóstico. 

Thais: Oi, eu sou a Thais, falando hoje de Socorro, interior de São Paulo e eu tenho a impressão de que eu fui a última pessoa a descobrir a série. 

Tiago: Atypical, para quem não sabe é uma série produzida pela Netflix, inclusive é importante falar que este episódio está recheado de spoilers, então se você se incomoda com spoilers e quer assistir a série, é muito importante você dê um pause agora nesse episódio assista a série e depois venha ouvir novamente. 

Bloco geral de discussão

Tiago: Atypical foi uma série lançada pela Netflix no ano de 2017, se não me engano. É uma série que, a princípio, quando veio a premissa da questão do autismo, eu pensei que ia ficar uma série muito limitada ao circuito mesmo desses temas. Porque existem muitos filmes, muitas coisas da cultura pop que abordam o autismo. Mas elas chegaram a ser um fenômeno de popularidade e em duas temporadas já tem um público bastante considerável, já percebi que inclusive outros podcasts e sites costumam falar tanto da Síndrome de Asperger a partir do cenário da série, que eu acho assim fenomenal.

A premissa segundo aqui no site da Netflix, diz o seguinte: quando um adolescente com traços de autismo resolve arrumar uma namorada, sua busca por independência coloca a família toda em uma aventura de autodescoberta. Atypical é basicamente uma sitcom, que é uma uma série de comédia dramática que utiliza dessa base do humor com relação a questão médica, que é um tom que eu acho às vezes meio problemático, mas a série por enquanto está funcionando mais do que dando problemas, né? Qual é a opinião de vocês assim? Como é que vocês conheceram a série? 

Paulo: A minha esposa e a minha cunhada elas acompanharam a primeira temporada da série, mas eu não liguei tanto pra ela. Até que esse ano eu tive o meu diagnóstico e calhou também de aparecer a segunda temporada e eu resolvi dar uma chance pra série. Realmente assisti as duas temporadas numa tacada só e gostei bastante do que assisti. 

Thais: Para mim, depois que eu entrei nesse meu novo emprego, as pessoas começaram a falar dessa série pra mim. Eu não tenho costume de ver séries hoje em dia, né? Eu já vi bastante e no final eu só fui ver depois de muita gente comentar e eu pensei, poxa, eu tenho que saber pelo menos o que eles falam pra saber se a comparação que as pessoas fazem faz sentido ou não, né? Pelo menos pra eu poder comentar e dar minha opinião sobre ela. E agora eu não vi o último episódio e pretendo vê-lo hoje mais tarde. 

Tiago: Uma coisa muito curiosa sobre a Atypical é que você vai encontrar aí vários podcasts falando sobre, mas aqui o Introvertendo é o primeiro, infelizmente por enquanto o único podcast que vocês ouvirão dos autistas falando sobre uma série de autismo. 

Thais: A gente pode falar com bem mais propriedade sobre várias partes pelo menos, né? 

Tiago: Sim, sim. Vocês gostam de Atypical? 

Paulo: Gostei bastante da série. Principalmente a parte mais comédia e eu me identifiquei muito com as situações engraçadas que acontecem. Uma série bastante de não é o tipo de série que eu normalmente assistiria, mas o saldo é positivo aí. 

Thais: Assim como o Paulo falou, não é o tipo de série que normalmente assistiria que mostra aquele dia a dia, a questão romântica. Mas acho que justamente por eu ter realmente me identificado com com algum situações, algumas engraçadas, outras nem tão engraçadas, algumas que foram estressantes, coisas do tipo, eu acabei gostando da série, acho que vale a pena para o pessoal que quer conhecer um pouco mais sobre Asperger de uma forma mais geral.

Para gente é muito óbvio quando alguma coisa acontece, a gente já relaciona com alguma característica asperger, mas talvez pra uma pessoa mais leiga não fique tão claro e eu acho que tem um risco também de virar um um novo estereótipo, né? As pessoas acharem que todo mundo que é asperger é daquele jeito ou que todo mundo que é autista de forma geral é aquilo.

Tiago: É a minha experiência com Atypical foi o seguinte, eu gostei muito da atuação do Keir, eu não sei exatamente como pronunciar o nome dele, ele interpretou o Gardner que é o adolescente, o quase adulto de dezoito anos que tá no espectro do autismo. Eu acho a interpretação dele muito verdadeira, muito intensa, ele consegue dar um ar de naturalidade, a um tipo de diagnóstico que normalmente é visto de uma forma muito estereotipada.

Mas assim, como uma série dramática, de dia a dia de família, ela tem aquele problema da banalidade, né? Uma história muito banal, muito comum, inclusive aquela coisa do universo escolar de ensino médio, adolescente, americano, né? Que você não consegue encontrar muita profundidade, mas ele é um personagem que tem todo um arco assim, ele tem toda uma profundidade, as camadas, porque ele não é somente aquele autista de ter o hiperfoco e só consegue falar naquilo, você consegue ver todos os aspectos do sentimento dele a relação que ele tem social com as pessoas o quanto que ele sente o desprezo das pessoas.

E também eu não gosto do núcleo da família dele, sabe? Eu acho que tem os estereótipos com relação a série, eu acho que são muito mais relacionados aos personagens secundários do que necessariamente a questão do autismo, mas isso aí a gente detalha um pouco depois. Ao mesmo tempo, esses problemas que eu vi na série, principalmente na primeira temporada, foram um pouco resolvidos na segunda. Então a série eu acho que melhorou bastante.

E se a gente contar também que a maioria das interpretações né? Das leituras sobre autismo na cultura pop quando a gente fala de filmes e séries trazem muitos estereótipos principalmente a pegar casos muito graves de genialidade, aquela coisa né? Que nós sabemos, são raríssimas exceções e muitas vezes tão completamente fora da realidade, às vezes usam também a temática do autismo para fazer chacota, para fazer humor.

O personagem não tem profundidade ou quando ele tem profundidade, parece que tudo ronda o autismo. A gente pode usar um exemplo bastante claro de um personagem que teoricamente, né? Pela pelos próprios criadores, eles negam que ele seja autista, que é o Sheldon Cooper, porque ele é um personagem que você ri, não por causa das situações que envolvem ele, você rir dele, entendeu? Porque ele teoricamente em certo aspecto é ridículo e atípico ou sofre desses riscos às vezes assim ou menos para mim mas na maioria das vezes ou quase sempre quando a temática é o autismo eles tomam muito cuidado com relação a isso que eu acho que é um um um peso assim muito positivo que a série tem. Qual é a opinião de vocês sobre isso? 

Paulo: No caso do Sheldon é até importante falar dele porque ele é uma pessoa muito acima da média, ele é um gênio e é um caso raríssimo disso acontecer, seja com autistas ou com neurotípicos, né? 

Thais: É, mas essa questão que você falou da chacota, realmente, no caso, não só das séries, né? Mas quando alguém pensa em autismo, leva pra esse lado estereotipado mesmo e às vezes de reações meio que a gente tem, que parecem meio estúpidas para quem é neurotípico. 

Tiago: Eu acho que a série acerta muito no tom com relação ao personagem dele. Porque assim, eu também vejo que outro, outras produções na cultura pop relacionadas ao autismo quando não quer demonstrar o sujeito literalmente como um bobo ou etc. É a leitura do gênio. É a leitura do gênio sempre passa pela arrogância. E aí você vê que o seno ele tem todos esses aspectos que você vê em outras séries mas sempre numa carga muito cuidadosa. você vê a arrogância dele, mas ele não é definido pela arrogância. Você vê ele comentando deslizes, mas ele não é definido pelos pelos deslizes. E aí isso vai fazendo com que o personagem seja menos estereotipado mesmo nas suas estereotipias, né.

Thais: E uma coisa que eu eles colocam em vários momentos da série explicitamente, justamente não querem em termos da família, né? Não querem que o autismo seja o centro de tudo, por exemplo quando tem alguma situação entre ele e a irmã dele. Sempre para mãe, inicialmente o autismo era o foco, né? Da questão. E com o tempo eles passam a fazer com que não seja isso, com que os dois sejam vistos como indivíduos, cada um com suas peculiaridades. E eu achei legal eles deixarem esse explícito na série. 

Paulo: É, outra coisa também que eu acho bastante interessante é o fato de que ele se envolve nas situações engraçadas, né? Ainda que estereotipadas, mas ele tenta aprender, igual a cada um de nós aqui. Tentamos não cometer os mesmos erros e tentamos ser um pouco mais normais, digamos assim. 

Tiago: Sim, inclusive eu gosto muito do personagem interpretado pelo Nik Dodani, ele é um personagem que ele é inserido na série que teoricamente não tem tanta profundidade ele está ali está cenas mais engraçadas mesmo porque o próprio ator ele é um humorista mas ele registra de uma forma muito clara pessoas neurotípicas principalmente nesse ambiente mais adolescente que se juntam às vezes com pessoas dentro do espectro para ensinar coisas da vida digamos assim. Então quando eu ouvi esse personagem eu lembrei de muitas pessoas da minha vida pessoal. Não claro com todos os exageros que a série apresenta mas toda aquela coisa de você tornar uma pessoa social ou ensinar questões da que vença que parece tão natural pros outros mas pras pessoas dentro do espectro não é assim são as partes pra mim que que tentam pelo menos sair um pouco desse tom mais mais mórbido que às vezes tão sério. Que às vezes a gente fala e que isso encaixa muito bem na realidade.

Thais: Eu não sei vocês, mas quando eu vi o pela primeira  eu achei que ele ia ser aquele personagem que fica se aproveitando, sabe? Da pessoa mais inocente. Eu demorei para perceber que não, que ele estava lá pra ajudar mesmo. Logo no início eu quis dizer assim, nas primeiras cenas. 

Tiago: Eu vi ele mais como um amigo sem noção mesmo. 

Thais: É porque ele dava umas dicas muito muito bizarras que eu sentia, nossa, o Sam vai se dar muito mal seguindo isso. E é aí parecia que era de propósito, mas chega um ponto que eu achei bem legal, não lembro agora se foi na primeira ou na segunda temporada, já que eu assisti quase que num pacotão, né? Que o Sam comenta, que o Zahid fala que o, os autistas provavelmente são as pessoas normais já que a gente que tem essa essa questão mais lógica e que os neurotípicos que são os esquisitos eu achei bem interessante esse comentário partindo teoricamente do Zahid. 

Paulo: Gosto bastante do Zahid, até porque eu conheci pessoas muito parecidas com eles que tentaram ser mais sociáveis. 

Tiago: É, isso comigo aconteceu mesmo, inclusive algumas situações até parecidas, né, com isso. Porque aí ele entra tanto na questão de interações, quanto na questão dos relacionamentos, que é um que é um ponto muito forte, assim, de interesse para pessoas dentro do espectro é só a gente voltar um pouco assim e pegar os episódios que as pessoas geralmente mais procuram sobre o introvertendo que são os episódios que falam de relacionamentos pelo menos até uma certa época eram esses episódios mais populares então as próprias pessoas dentro do espectro que nos ouvem muitas vezes elas são muito curiosas nesse nesse cenário e fazer perguntas sobre isso. 

Thais: Eu já cheguei a ler bastante livros sobre isso, né? Na até então, só que eu tinha muitos colegas homens quando eu era mais nova, eu não nunca fui de me relacionar muito com mulheres, né? Nunca me dei tão bem. Teve alguns casos, mas mais raros. E eu sempre fui de fazer muita pergunta, nunca esperei tanto essa ajuda chegar até mim, eu chegava nos meus colegas e fazia as perguntas pra eles.

Tiago: Nesse aspecto eu acho muito interessante pela pessoa a qual ele se atrai logo no início que é sobre a acerca da terapeuta. Então de certa forma a série também enfatiza bastante o quanto que a figura terapeuta ou da terapeuta ela é um ela é um peso e eu falo peso no sentido positivo para pessoas dentro do espectro essa relação que é construída. 

Thais: Eu acho que tem a ver inclusive com a pessoa que vai te ouvir e tudo mais e muitas vezes os assuntos sobre os quais a gente gosta de falar não são interessantes a maior parte das pessoas, né? E o terapeuta tá lá pra ouvir tudo teoricamente pelo menos. Então, talvez tenha a ver com isso também, pra mim pelo menos seria um ponto de grande importância, se uma pessoa num num tá afim de ouvir um um tema que pra mim é é interessante, aí já nem dá, né? Para continuar. 

Paulo: E com aquele episódio das máscaras, né? A figura do terapeuta, a pessoa que você se mostra sem máscaras, né? Então, acaba criando uma relação ali de confiança. Eu, pelo menos, sempre me sentia atraído por pessoas que eram mais próximas, podia ser mais próximo de mim mesmo, sabe? 

Tiago: Sim, sim, entendo. Ah, a série eu acho que ela talvez só fique muito focada no universo restrito, assim, quando o assunto é autismo. Com a relação que ele constrói com a namorada de treino, digamos assim. Porque aí é é uma é uma que é o primeiro erro da da série pelo menos da primeira temporada é que cria essa relação muito fria e muito até seca pra uma pessoa até mesmo dentro do espectro mas para focar no humor porque tem muitas situações engraçadas né nisso? 

Thais: Também achei que foi um pouco extremo nesse sentido de relação muito fria, muito seca. Claro que a série tem a intenção de mostrar que ele está aprendendo a se relacionar com as pessoas e tudo mais. Mas acho que passa até uma imagem de que quem é autista não vai ter um um sentimento de verdade que sei lá, ele teria aquele platônico pela terapeuta e o resto mais um um teste ou ele tá só se divertindo, coisas do tipo. Até na questão de estabelecer regras, eu acho que não fica muito claro porque é importante pra gente estabelecer essas regras. Talvez pra gente que é asperger do fique, mas pra quem é leigo nesse assunto talvez pareça que é só estabelecer regras por simplicidade e não porque pra gente é importante mesmo entender o que está acontecendo. 

Paulo: É eu concordo muito com o que vocês disseram que pelo menos comigo sempre fui considerado um bom namorado pelas pessoas que tiveram a na minha vida ou um bom amigo ou não cheguei a ser uma pessoa fria que vai agir com regras rígidas.

Thais: E talvez também por terem colocado uma personagem bem o oposto dele que é a a page é bem extrovertida e fala o tempo todo e quer mexer em tudo. provavelmente ela tem… qual que é o nome? Hiperatividade ou alguma coisa assim? Porque ela é o outro extremo né? Então faz com que ele pareça ainda mais frio em determinados momentos.

Tiago: E aí ela é uma personagem que acaba ficando muito superficial né? Porque na vida real, digamos assim, se a gente for usar algum critério factível essa é uma relação que nem começaria pra falar a verdade.

Paulo: Realmente tem muita pouca coisa em comum entre eles mesmo, em gosto. Uma coisa que sempre me guiou sempre tive em comum as minhas namoradas eram uma série de gostos. Que eram pessoas que não iam se irritar de eu ficar falando sobre assuntos que eu gosto o dia inteiro. 

Thais: É, isso lembra aquela história do dos pinguins que a Paige coloca nos cartões, né? Que ele só pode falar três vezes por dia. Cada vez que ele fala sobre alguma coisa da Antártida, ela ele tem que dar o um cartão e aí já entra uma coisa se são duas pessoas que se gostam elas deveriam estar compartilhando aquilo de que elas gostam e não restringindo ó você tem que agora a partir de agora parar de falar sobre isso a impressão que dá e que eles comentam em alguns episódios é que de certa forma ele está procurando substituir a mãe por outra pessoa, né? Que outra pessoa vai determinar as regras para que ele não tenha que determinar sozinho essas regras. Então talvez até tenha a ver com a questão da superproteção. 

Tiago: Concordo sobre a questão da substituição da mãe. Inclusive o maior problema da série pra mim é a personagem da Elsa. Porque eu acho que é aquele ponto assim da série que pra mim já fica quase no intolerável porque eu acho que o arco que constrói sobre a mãe dele é um negócio extremamente sexista, sabe? Por um um único motivo básico, primeiro elas sustentam toda a relação do da questão do do filho do autismo porque é muito comum. É muito comum inclusive no Brasil o abandono dos pais em casos de filhos com autismo porque o filho tem algum tipo de problema e etc e eles saem ou eles deixam toda a responsabilidade nas mães e você pode consultar grandes e várias associações e etc e você vê muitas mães lutando sozinhas. Poucos pais e aí a série constrói essa imagem dessa mãe que um bom tempo lutou sozinha porque o pai se ausentou aí ele volta pra casa ele se torna um excelentíssimo pai ela está cansada, sobrecarregada e o que a série constrói constrói um relacionamento extraconjugal pra depois ela ser taxada… como uma vou usar os termos que a série usa, vadia e etc e a pra mim a série ela só contribui para criar a imagem do pai como herói, a mãe como errada sendo que ao longo da narrativa mostra que quem estava na maior parte do tempo sangrando era a mãe, então eu cheguei no final temporada pensando, isso foi uma porcaria. 

Paulo: É, esse ato da mãe dele é um, eu não gostei, sinceramente, porque eu concordo com tudo que você falou, a questão do pai ausente que de repente vira ou melhor do mundo, talvez pudesse ser explorado ao mais o pai errando ao tentar se aproximar do filho.

Thais: É, eu tive um pouco dessa sensação também de que o pai ele tentou inicialmente, errou bastante mas uma uma coisa que primeiro eu vou discordar é que eu acho que não é só na questão do autismo eu acho que muitas vezes os pais largam com com os filhos com a mãe e deixam a mãe virando nos mais diferentes aspectos mesmo que não tenha algum tipo de transtorno ou alguma doença mesmo que seja uma criança “normal”.

Eu acho que isso é uma questão cultural bem profunda que precisa ser repensada e tomara que ela vá mudando, mas no caso do pai teve a parte ausente totalmente ausente dele sim mas mostrou também um lado dele tentar se aproximar e não conseguir, talvez não saber como fazer isso. E eu acho que teve também o outro lado, porque depois ele assume que ele tinha vergonha e tudo mais. Antes dele assumir que tinha vergonha, a impressão que eu tinha era só que ele não sabia o que fazer mesmo, que ele tentava fazer as coisas e não dava certo e às vezes ele achava que estava mais atrapalhando do que outra coisa.

Porque eu percebo pelo menos isso um pouco em mim. Se às vezes eu não sei como lidar com alguma coisa e eu prefiro me afastar e achar que eu estou pelo menos não me atrapalhando, me parece melhor do que ficar ali no meio. Então foi a sensação que eu tive, eu não sei se era o que a série queria passar ou não né? Realmente foi um arco que podia ter sido explorado de uma forma diferente. Talvez a reaproximação pudesse ser uma coisa diferente.

Ao invés de simplesmente colocar a mãe pro lado, porque realmente mostra que ela era superprotetora, eu acho que em alguns aspectos de uma forma até ruim. Tem aquela aquele momento da loja que ela não quer que o Sam vá na loja porque teria muitos ruídos e ele quer ir pra aprender a comprar pra si mesmo mostra que ela tenta proteger demais e que talvez isso tenha prejudicado em alguns aspectos.

Acho que devia ter sido trabalhado, mas nesse sentido do que em mostrar que ela tentou ficar mais relaxada, vamos dizer assim, numa relação extraconjugal e depois todo mundo cai matando sua em cima disso como se só isso tivesse importado em toda a vida dela como se todo o resto não fosse mais levado em consideração. Não precisava né?

Tiago: É, eu também penso da mesma forma. E eu acho que a segunda temporada melhora esse problema gigante que eles criaram. Mostrando que ele não dá conta de uma série de coisas e que ele precisa dela. Mas eu acho que essa redenção que eles fazem é um embromation. Tanto é que uma das reações da crítica quando foi a primeira temporada é que o roteiro da da história é um pouco clichê demais e você não tem muita profundidade de história fora da questão do autismo para explorar de uma forma feliz. 

Thais: Então mas complementando só uma coisa do pai, que eu fiquei na dúvida qual era a intenção da série. No momento em que ele chega no grupo de ajuda de mães, principalmente mães pelo menos, né? Que tem a questão do politicamente correto, em você só poder usar determinados termos, você não poder usar a criança autista, tem que falar a criança com autismo, coisas do tipo, né? Em português a gente tem também muita coisa parecida que não pode usar um termo tem que usar o outro e não necessariamente esse termo vai fazer diferença pra quem realmente está no espectro.

A impressão que eu tenho é que são mais as mães que se relacionam com isso e se importam mais em usar um termo e não outro. Mas por outro lado eu também já percebi que tem muito asperger que não gosta de se definir como autista que prefere usar só o termo asperger. E então eu achei interessante eles levantaram essa questão de quais termos usar ou não usar, apesar de eu achar que que não é importante realmente no nosso dia a dia a gente fazer isso e eu não saber se eles colocaram isso como uma crítica a pessoas que não toleram que se use determinados termos ou uma crítica ao uso de determinados termos pelo pai que não estava tão dos assuntos.

E me incomodou especialmente que não deixavam que o pai falasse coisas que ele queria. Ele queria compartilhar coisas que ele achava boas sobre o Sam e ele não conseguia completar nem uma frase porque alguém parava e falava: “ah, não é esse termo que a gente usa, é o outro”. 

Paulo: Eu encaro uma crítica forte à questão do politicamente correto. Até porque muitos dos temas não me importo da forma como o pai falou. E também não acho muito correto por exemplo caso de falar “pessoa com autismo” ao invés do “pessoa autista”, porque como o autismo é uma coisa que faz parte de mim, nasceu comigo daí eu nasci autista então eu acho mais correto ser pessoa autista.

Tiago: Eu penso que seja uma crítica porque o meio autista tem uma série de problemas, a princípio ser fechado em si mesmo. As discussões são muito internas. Primeiro eu acho que a série mostra muito bem, é um negócio em que pais muitas vezes tomam protagonismo exagerado com relação ao que as próprias pessoas dentro do espectro pensam. E, de certa forma, mostra também, eu acho que é isso já fora de um aspecto mais crítico de que essas definições estão sempre em debate. Tanto é que quando nós fomos lá no episódio número 13, que é sobre Hans Asperger e Nazismo, nós estamos tendo uma movimentação internacional de pessoas dentro do espectro discutindo se vale a pena usar um outro termo relacionado a síndrome por pelo fato de ter as suas atividades ligadas ao nazismo como também tem as várias discordâncias com relação a definição feita pelo DSM 5 para que tudo seja englobado no autismo, que também é uma estratégia para que as pessoas que antes eram definidas definidas como desse diagnóstico de Síndrome de Asperger tivessem os mesmos direitos que as pessoas com diagnóstico de autismo mais grave. Então eu acho que a série tem esses dois eixos, tanto do eixo da crítica, quanto do eixo informativo de mostrar que essas discussões dentro do meio autista elas são uma uma parte muito cabeluda e cheia de dor de cabeça.

Paulo: Aliás, saindo um pouco do tema da série. Eu estava vendo esses dias uma matéria sobre casos de autismo mais grave, realmente o caso das pessoas é um mundo completamente diferente do que eu conheço por mim e todos os casos de asperger que eu joguei mais próximo de mim. 

Thais: E eu achei legal que eles colocaram de certa forma isso na série também quando algumas no caso de novo no grupo lá e as mães começam a comentar sobre os seus filhos e falam, ah, claro que a gente não está falando pelas pessoas com níveis mais severos. E eu achei bom eles terem colocado isso, apesar de ter sido só uma fala, então talvez para muita gente tenha passado despercebido, mas de qualquer forma não se esqueceram de colocar isso ali. 

Tiago: Mas eu acho que a série resolveu isso na segunda temporada porque eles receberam aquelas críticas de que não tinham muitos outros personagens dentro do espectro na série. E na segunda temporada eles apresentam um grupo inteiro e aí as pessoas lá são muito diferentes entre elas também. 

Paulo: Ah, esse ponto até que eu ia levantar aqui. eles mostram mais pessoas com autismo e que mostram cada pessoa de um jeito diferente com sintomas diferentes apesar de terem muitas coisas em comuns e principalmente com gostos diferentes

Thais: Eu não sei se foi na primeira temporada ou no início da que já mostra aquele o filho de uma das colegas da Elsa, né? Que eu esqueci o nome dele, mas é o que gosta de HQ que fica o tempo todo lendo HQ. E já foi legal mostrar que não necessariamente ele ia se dar bem com o Sam, tanto que eles não se gostam, eles só ficam conversando sobre mulheres lá. O único assunto que eles têm em comum acaba virando até uma parte um pouco cômica. E aí depois quando mostra aquele segundo grupo com cada pessoa completamente diferente com problemas diferentes assim em termos de sociabilização ou então com algum hiperfoco completamente diferente um do outro eu achei também. Inicialmente eu achei que quando fossem mostrar o grupo mostrariam de uma forma mais estereotipada e realmente foi um um ponto forte. 

Paulo:  Eu achei um ponto bem positivo o arco da irmã do Sam e também a questão de ela tentando também chamar a atenção das pessoas, né? E isso de tirar o se entrar tirar o foco do autismo e contar a história dela. E eu também passei por situação um pouco mais parecida com a do sempre foi de grandes amigos mudando de escola. Tendo que procurar outros amigos na escola onde não lidava muito bem com as outras pessoas. 

Thais: Eu achei muito engraçado a questão dele se importar tanto com o aniversário. eu já percebi que alguns ásperos já se importam muito e outros como eu, por exemplo, acham que não faz o menor sentido ter uma comemoração anual de estou mais velho, um ano mais velho do que há um ano. 

Paulo: Eu me identifico um pouco com a parte do ritual, mas eu nunca tinha um ritual tão elaborado quanto o dele. Normalmente eram coisas do tipo, eu não consigo ter começado o dia enquanto não tomar banho e tomar café. Exatamente nessa ordem. 

Thais: É essa coisa de ordem de coisas que eu tenho também. Então se de manhã eu eu acordo e não posso fazer as coisas na sequência que eu sempre faço. Isso me incomoda muito. Se tem alguém comigo que acaba me atrapalhando, ela acaba ficando muito irritada. 

Tiago: Eu acho que a leitura que a série faz com relação ao Sam é justamente de deixar isso mais explícito. 

Tiago: E desde outubro de 2018 foi anunciado que Atypical vai ganhar a terceira temporada e uma coisa que eu acho que a série vai se enveredar pela por essa terceira temporada é mais uma vez aprofundar na na questão da Casey eu acho que principalmente a última ou a penúltima cena não lembro da terceira da segunda temporada que a Taís ainda não viu então eu não vou comentar mas vocês sabem exatamente do que eu estou falando vai deixar um universo assim imenso de coisas sobre a vida pessoal dela ser explorada eu acho que o terceira temporada vai ser a redenção do relacionamento dos pais e talvez na minha visão eu acho que a terceira vai ser provavelmente a última que vai abordar a questão do Sam no curso que ele queria fazer no fim das contas. 

Thais: É, a parte que eu acho que vai ser mais interessante vai ser justamente o curso dele. 

Eu espero que eles abordem com as diversas características que a gente espera encontrar quando a gente tem que mudar de rotina, ir pra um lugar novo, conhecer gente nova, tantas dificuldades quanto as coisas que são muito boas, né? Então do jeito que ele se mostrou interessado no curso, eu acredito que que vá ter coisas boas também, que não vão só fazer um drama disso tudo. 

Paulo: Sim, eu também tô muito empolgado pra essa parte da faculdade também. Quero ver o que eu tenho em comum com ele, né? O que eu reparo nessa segunda temporada e também uma coisa que eu gostaria que eles abordassem é a questão de como ele se adapta ao meio acadêmico e essa tendência de querer saber de tudo e mostrar isso pro curso dele. 

Thais: É, tomara que levem mais pra esse lado de descoberta acadêmica mesmo, mas uma coisa que eu tenho receio é que acabem e colocando lá uma menina mais parecida com ele, que aí vai dar certo e que vai ser mais uma parte romântica da história. Porque apesar da primeira temporada ter o foco da sinopse por exemplo ser no lado romântico e ter tido muito isso não sei se é porque eu já olhei com já já procurando mais as características asperger na em todo o roteiro eu acabei não levando sim achando tão relevante a parte romântica em si, né? Mas eu não duvido que eles tentem fazer com que isso apareça de novo aí na terceira temporada. 

Tiago: Eu acho que se for a última temporada, muito provavelmente ele vai arrumar uma namorada e vai ser bem um clichezão. Infelizmente. Ah gente, assim, eu gosto de Atypical, mas eu acho a série muito family friendly, sabe? Em certos aspectos, claro, mas principalmente nesse espectro do autismo. Porque é tudo muito bem abraçado, porque há uma crisezinha, mas tudo se resolve. Então, eu acho que a série vai mais ou menos nesse caminho. Ele vai terminar conseguindo namorado ou então pode até ter uma uma questão diferente assim dele não conseguir, mas se dando bem com isso e tal. 

Thais: Eu lembrei do episódio de bullying, né? Que ele é bom, tem mais de um, mas aquele do celular e nenhum no máximo empurram e ele cai no chão assim de bunda e não acontece mais nada. Então realmente como você falou é uma série mais leve em eles acho que deixaram mais leve propositalmente em diversos aspectos. O que é também acaba sendo bom no sentido de que um público mais amplo pode acabar assistindo e entendendo um pouco melhor pelo menos alguns aspectos da Síndrome de Asperger.

Paulo: Eu acho que essa parte de deixar mais leve, principalmente a parte do bullying, pode ter a ver com as críticas que eles receberam, né? 

Tiago: Sim, muito provavelmente. 

Paulo: Eu gostaria, sinceramente, que mostrasse que ele continua no relacionamento com a Casey, não procurando uma pessoa mais parecida com ele, porque comigo eu tenho uma esposa que é que é extrovertida e que ela é um pouco parecida com a Casey e com o Zahid. 

Thais: É que no final não existe um padrão nisso né? Pode na na vida real pelo menos pode acontecer com qualquer pessoa. É só eu acho mais acontecer entre pessoas mais parecidas. Eu sei que tem essa história dos opostos que atrai. Até tem uma menina lá da do grupo do fã, aquela loirinha que o ela fala, ah o meu namorado é burro e eu sou inteligente e a gente se complementa. Um negócio assim. Mas eu não sou adepta dos opostos se atraem, eu sou mais adepta de uma pessoa parecida. Então você vê que no mesmo podcast tem duas pessoas que têm visões completamente diferentes desse aspecto. 

Paulo: Ah, podemos terminar com a dando uma nota pra pra série, né?

Thais: Nossa eu sou muito ruim da nota mas vocês podem dar. Eu vou ficar só de observadora aqui. É que eu só consigo dar dar usar valores numéricos para coisas que são mais específicas, sabe? É que nem quando o Tiago perguntou quanto que eu gostei e quais eram os meus três episódios favoritos, eu falei “ih não sei cara”.

Tiago: E eu daria notas assim por estrelas, igual notas de disco, sabe? De crítica musical eu dou três estrelas de cinco. 

Paulo: Ah, eu dou quatro estrelas de cinco. Acho que a série não é perfeita, mas ela acerta muito bem, não no que ela se propõe. 

Thais: Eu vou dar três estrelas e meia, eu tinha pensado na na hora que o Tiago falou três eu pensei, ah eu vou dar três e meio, na hora que falou, quatro, eu pensei, nossa, eu falo a três e meio, parece muito que eu tô fazendo a média, né? Mas eu acho que três e meio, tá ok. Então, é isso, pessoal. Como a gente falou, a série tem pontos positivos e negativos, com tudo. Então, acho que vale a pena vocês darem uma olhada e depois comentem com a gente, mandarem seus pra gente saber as opiniões de vocês. Até mais.

Paulo: Eu acho que o saldo é bastante positivo e vale a pena dar uma chance para série e tirar suas próprias conclusões.

Tiago: Acesse nossas redes sociais e registre a sua opinião. Até a próxima.

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Equipe Introvertendo Escrito por: