Introvertendo 35 – Bissexualidade

Terceiro episódio da nossa série sobre sexualidade, Bissexualidade conta um pouco acerca de nossas noções e experiências com o tema. Neste conteúdo, também falamos acerca dos preconceitos que rondam esta orientação sexual, tanto por parte de heterossexuais, quanto de homossexuais.

Participam desse episódio Luca Nolasco, Otavio Crosara e Tiago Abreu.

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Transcrição do episódio

Tiago: Um olá pra você que escuta o podcast introvertendo o que é feito para neurotípicos e neurodiversos. E que também faz uma série sobre sexualidade. Meu nome é Tiago Abreu e estou aqui com o Luca Nolasco e Otávio Crosara para discutir bissexualidade. E eu já quero adiantar uma coisa. Freddie Mercury não era gay. 

Luca: Olá, eu sou o Luca e me descobri bissexual aos 16 anos.

Otávio: Olá, meu nome é Otávio, eu sou heterossexual, gostaria de saber, eu posso falar nesse podcast? (risos)

Luca: Acredito? 

Tiago: Com certeza. 

Otávio: Eu sei (risos). 

Luca: Bom, Tiago, como é que são os métodos de contato do podcast? 

Tiago: Para você falar conosco, -jabá aqui- 

Bloco geral de discussão

Luca: Como eu tinha dito na introdução há uns 16 anos eu me descobri bissexual. Prefiro usar até a palavra descobrir do que me tornei porque quando você resolve temas assim, de maneira um pouco mais séria você acaba às vezes percebendo que poxa eu nunca não fui isso. Muitas vezes era só coisas que eu nunca tinha dado tanta atenção, ou que eu preferia ignorar meus gostos pessoais, ou os meus comportamentos. Que depois de atingir alguma maturidade eu pensei, poxa, até que eu gosto de homens também, eu gosto de homens assim como eu gosto de mulheres. Com o tempo, óbvio que inicialmente isso não é muito fácil de se lidar, principalmente vindo de uma cidade quase provinciana como é Goiânia, mas com o tempo eu lidei de maneira muito boa com tudo isso. E acho que ter feito essa descoberta quando ainda era muito novo foi algo que me permitiu ter vários conhecimentos que me trouxeram a maturidade. 

Tiago: Você falou sobre a descoberta aos 16 anos. Mas num período antecessor a isso você não tinha nenhuma suspeita? 

Luca: Então como como eu tinha dito antes talvez por não aceitar muito bem ou um pouco preconceito meu eu não sei dizer que muitos momentos da minha do início da minha adolescência e da minha infância que eu já me vi pensando em diversas coisas que que hoje em dia eu vejo como pertencente a um aspecto bissexual mas eu repreendia e tentava suprimir isso…

Tiago: Como se fosse coisa da sua cabeça.

Luca: Como se fosse só um pensamento momentâneo, como se não existisse por puro preconceito meu. 

Otávio: Existe um sexólogo em meados do século XX, chamado Albert Kinsey. Ele foi uma das pessoas mais revolucionárias no estudo do e da sexualidade. Os trabalhos dele foram justamente a chamada escala de sexualidade. Ele propôs que a sexualidade não seja deferida em absoluto.

Tiago: Como o autismo.

Otávio: Exato, ela é um espectro. Então você tem pessoas que são exclusivamente heterossexuais e pessoas que são exclusivamente homossexuais e pessoas que e pessoas que são agora vão ficar estranhas, exclusivamente bissexuais. Então as pessoas que estão…

Tiago: Que são predominantemente ou causalmente uma das coisas. 

Otávio: Exatamente. Então há pessoas que são mais heterossexuais do que homossexuais e pessoas que são mais homossexuais do que heterossexuais. Aí você pensa, poxa eu dormi com cem mulheres. Se eu dormir com um homem agora eu sou bissexual. A resposta é: isso importa velho? Vá curtir. Se você gosta de transar um homem para cada cem mulheres e depois transar com outro homem, vai.

Luca: Com proteção, óbvio. 

Otávio: É. Por favor. Lembrar que as doenças sexualmente transmissíveis acontecem em cima de todas as pessoas. E elas não fazem distinção de sexo. Elas pegam dos dois lados.

Luca: Eu estou muito contente com o fato de que na minha família e nos meus arredores todas as pessoas aceitaram muito bem. Pelo menos todos os que sabem da minha sexualidade. Aceitaram muito o meu processo de descobrimento de aceitação. Por parte da minha mãe, da minha prima, de todos os meus amigos, até da minha namorada, nunca foi algo que me trouxe transtornos, eu estou muito contente por isso, porque…

Tiago: Ela já sabia antes de você namorar com ela? 

Luca: Ah, minha namorada. Eu não me recordo, eu acho que sim. 

Tiago: Porque você não não esconde isso nas redes sociais, né? De certa forma.

Luca: Para quem não sabe eu nas redes sociais sou uma pessoa extremamente aberta. Então qualquer um que tem contato comigo lá consegue ver que eu não muito que eu sinto. Mas não com a minha primeira namorada eu acho que escondi durante alguns meses mas com a atual não, eu não escondi momento nenhum e ela desde sempre assim como com aceitação do do autismo ela teve problema, inclusive buscou saber mais. 

Otávio: É interessante você falar da sua namorada aceitar porque existe também esse estigma que pessoas sexuais são mais infiéis. 

Luca: É.

Otávio: Sabe? Como se a duplicação do espaço é mostrar o que você sente atração interferindo na sua capacidade de fidelidade. Sabe, se você tá casando com uma pessoa que já te traiu, não importa se ela é homossexual bissexual, o problema é outro, o problema é fidelidade, sabe?

Tiago: Aliás, essa questão da fidelidade e do preconceito, né? Com relação a isso, ela está presente tanto entre heterossexuais quanto homossexuais. Então por exemplo se você tem dois parceiros homens e um deles é bissexual muitas vezes o parceiro gay ele tem medo exacerbado. Ele não confia. E aí isso é bem complicado. E quando às vezes uma um relacionamento heterossexual, só o fato da mulher ser bissexual se acha que ela vai querer querer topar uma suruba, por exemplo, que é coisa de que muitos homens heterossexuais tem fantasias e etc. Quando o homem é bissexual, a reação pode ser pior.

Então eu falei no início do episódio sobre Freddie Mercury e porque a gente fez o episódio sobre o Queen lá no episódio vinte. E nós contamos lá a trajetória dele com a Mary Austin. A Mary Austin era a mulher da vida dele, ela era noiva, ele amava ela, ela amava ele. Essa é a premissa básica. Chegou o momento em 1965 que ele chegou pra ela e falou, olha, é porque ele tava um pouco tenso com relação a a conflitos que eles que ele estava passando, ele chegou pra ela e falou assim, olha, eu acho que eu sou bissexual, o que que ela fez? Ela ficou chocada, olhou pra ele e falou, “você é gay”. E ela terminou o relacionamento na hora.

Pessoas bissexuais ao longo da história sempre com com essa com esses estigmas assim de ou a pessoa heterossexual ou se diz se a pessoa tem desejos desviantes vamos dizer assim esse termo pejorativo mas não na intenção de né? De ser pejorativo se você tem esses desejos então você automaticamente gay. 

Luca: É bem triste porque dá pra ver que esse se esse preconceito é sempre muito associado, anda sempre ao lado do da homofobia. 

Tiago: Sim. 

Luca: Porque o estigma só existe que, poxa, ele é homem, ele fica com homens logo, ele é uma pessoa ruim, mas lógico que não, isso não tem absolutamente nada a ver. Eu tava pensando aqui muitas vezes ser que o ouvinte mesmo tenha dúvidas sobre a sexualidade dele, pode ser que ele talvez tenha dúvida se é bissexual ou não, então vamos tentar tratar um pouco disso e esclarecer quais quais quer que sejam as dúvidas que ele possa ter pra sempre ser o mais informativo aquele.

Otávio: Tem aquele negócio também você é heterossexual que esperar um jogo com mil mulheres aí você transa com um homem pronto você já não é mais heterossexual sabe? Mas se você fosse homossexual e você transasse com o meu homem depois que você transasse com uma mulher as pessoas continuam te chamando de homossexual ou seja tudo isso mostra essa ideia de sexualidade ela não está errada mas é vista de uma forma errada certo? Por exemplo eu vi Albert Kinsey também falava que não só a sexualidade é uma é um espectro mas ela também é um espectro mutável de uma pessoa ela pode ser multada ao longo dos anos. Ou seja, se um senhor passar anos casado ele pode terminar o casamento dele porque ele está interessado em homens assim como a mulher oh e isso importa se o cara irá e voltar no espectro sabe? Isso não faz diferença na questão de respeito, dignidade, competência, capacidade, integridade.

Tiago: Até porque a questão do comportamento por si só ele não diz nada porque uma pessoa bêbada numa festa ela pode acabar ficando com várias pessoas, a questão a questão que envolve a atração é o desejo etc. Então uma pessoa por exemplo um homossexual ele pode permanecer casado por um monte de tempo com a mulher se forçando a a ficar excitado e etc. Mas a atração dele ali no contexto não existe. Ele está só por pressão. E eu conheço alguns casos nesse sentido. Então é o universo né? Muito complexo.

Inclusive já que nós estamos nessas questões mais técnicas de bissexualidade eu lembrei de uma pesquisa que foi feita eu acho que isso saiu no El País ou foi um outro portal que era sobre um sistema de inteligência artificial que o qual foi juntado várias fotografias de várias pessoas de um banco de imagens e esse sistema de inteligência artificial por questões de rosto, de forma física saberia definir com91% de precisão quem era gay, quem era hétero entre homens e um 63% se não me engano de mulheres serão sexuais ou se eram homossexuais. Isso é bizarro porque é um GayDAR elevado à escala eletrônica, só que tem uma coisa curiosa, a pesquisa não incluiu bissexuais. 

Luca: Só um segundo, mas eu me lembrei de uma coisa, e muitas vezes surge aquela piadinha de poxa, “ele paga de machão”, o que inclusive não é nem necessariamente um um adjetivo correto de se usar. Mas ele paga de machão e basta beber duas doses de cachaça que está lá com vários homens. E surgem várias piadas quanto a isso e cara assim eu pessoalmente não sei vocês mas eu acho bem desconfortável porque muitas das vezes pode até ser uma pessoa que se quer se descobrir o bissexual e for até e daí cara? Não não eu acho que qualquer piada relacionada a sexualidade de uma pessoa por exemplo aquelas também de “ah ele fala tão mal de homossexuais, ele deve ser gay enrustido” não às não é, as vezes é só uma pessoa que trata mal homossexuais também. 

Tiago: Nesse contexto de política tem muito disso. Ah, político fala mal de gay porque ele também é.

Luca: Se você puder, assim, evite fazer esse tipo de piada, porque pra quem pertence a comunidade, às vezes não é o tipo de coisa que você vê com como se estivessem se trata exatamente bem, você só vê como pessoas e mais pessoas se tratam como um simples estereótipo. Eu acho isso um pouco desconfortável e talvez valha pensar um pouco sobre esse assunto. 

Otávio: Quando o político fala mal de homossexuais bissexuais na condição de político a perspectiva de político ele não está pode estar expressando a opinião dele ou não. Mas ele está falando aquilo porque ele tem uma base eleitoral que tem por parte aquela visão. Então ali ele está ele está mais é sobrevivendo que expressando qualquer coisa. Você falou mesmo aquele negócio Luca do homem que paga de machão mas bebe duas. macarrão depois de dois minutos, solta. Pra você ver o tanto que essa visão é furada. Imagina se o machão falasse isso e gostasse de um homem e daí? Todo mundo não não tem problema não. Não tem problema não. Tinha problema quando ele pagava de machão. Agora quando ele paga de machão mas ele é sincero, ele se abre com os amigos não tem mais. 

Tiago: Eu acho que não é uma questão de ser sincero ou íntegro, é a questão da heteronormatividade. Se você é um viado mas é um viado que se comporta como hétero não tem problema. E aí que é aí que está uma questão com piadinhas também sobre bissexualidade. Ah o bissexual ele é meio hétero, meio viado, já ouvi muito sobre isso. Cinquenta por cento, cinquenta. 

Luca: É. E talvez o ouvinte e pode se perguntar, poxa, e como é que eu saberia que eu sou? Como é que a gente consegue ajudar uma pessoa nessa condição? 

Tiago: Não, não tenho certeza, né? Mas eu acho que talvez seja algo meio intrínseca assim em algum momento a pessoa vai perceber ou ela pode ignorar elementos assim como sexualidade no geral ou sexual hétero sexual homossexual ela não consegue evitar que ela sinta, né? Alguma coisa. Então eu acho que começa por esse sentido.

Mas considerando que muitas pessoas que são assumidamente bissexuais elas tendem a ter relações duradouras com um gênero só que às vezes isso acontece né? Como por exemplo você Luca teve mais relacionamentos heterossexuais do que homossexuais então aí fica muito mais tênue né? Mesma coisa que o o Otávio falou da pessoa ter se relaciona sexual a vida inteira e eu acho que isso deve acontecer muito no interior então muita gente deve ter uma sexualidade mais fluida mas não sabe porque ele viveu a vida inteira naquele contexto em que os homens já estão prometidos para se casar com as mulheres, as mulheres já são protegidas é prometidas para casar com os homens e viveu a vida inteira feliz e ponto acabou. 

Otávio: E se você ouvinte está com dúvida, se você quer tanto um rótulo assim pra gente parecer que eu estou te julgando mas não mas às vezes um rótulo ajuda então no rótulo que você quiser sabe? Não é porque você gostou de mulheres até os trinta e cinco anos que achou um homem no qual você tem afinidade que você pode se você quiser você pode chamar de vício se não quiser você pode ser chamado de hétero o que eu quero dizer é não se sinta acuado quando falarem que você não é hétero esse violência a gente falturamente por etimologia da palavra você se você é do de um sexo igual ao sexo oposto, você é hétero, certo? Se você também gosta de pessoas do mesmo sexo, você é homem, então você é hétero e homossexual ao mesmo tempo. Aí se você precisa de um rótulo, use o que você quiser, mas não deixe isso te definir. Não deixe o negócio desse. 

Tiago: Eu acho não deixe isso te afetar, acho que a própria questão do indivíduo não geralmente não afeta o que afeta é a questão da relação social então por exemplo é como a nossa questão aqui como como aspergers, como autistas. Então nós temos um rótulo e nós precisamos desse rótulo para interagir socialmente e para constituir esse podcast. Mas a questão é, até quando o limite deste ponto vai, né?  É muito mais um problema com as pessoas.

Otávio: Vocês, meus amigos, que nos ouvem, héteros, bi, ou assexuais. Nós somos muito gratos a vocês por estarem escutando a gente. Não importa a sexualidade de vocês, sabe? Pelo menos ao ouvir esse episódio eu espero que vocês tenham se sentido um pouco mais acolhidos. 

Tiago: E por fim eu quero lançar uma questão que eu acho fundamental que foi discutida no episódio de homossexualidade. Que a questão é o seguinte, nós vivemos num nós temos um diagnóstico e existe uma comunidade autista com relação a isso. e com relação a comunidade autista quase não se fala sobre sexualidade é um tema muito rasteiro. Quando quando o assunto é homossexualidade que já é já um tema mais complicado ele já não aparece bissexualidade então mais ainda então eu questiono a vocês pra vocês nesse contexto de comunidade autista em que muitas vezes o a pessoa dentro do espectro autista é observada como assexual muitas das vezes qual é o espaço de uma pessoa bissexual no numa comunidade assim? 

Luca: Eu já vou até recuperar um pouco do documentário que eu fiz sobre como a pessoa saber o que é. Ah eu acredito que a melhor maneira de uma pessoa saber o que é é lendo e tendo noção porque ela já é o que é. Então a partir do momento que você busca ler, busque entender como é que é e vá atrás de pessoas que se veem homossexuais, você tem mais noção de que, poxa, às eu sou ou não sou ou me assemelho mais a tal coisa. Eu acredito que isso foi o que mais me ajudou no processo de descoberta.

E assim como no processo de descoberta do autismo, descobri o que eu era autista e descobri que eu era bissexual por meio de leitura, no caso do foi diagnóstico também mas eu fui atrás saber. Eu fui atrás de pessoas que eram também e acredito que tanto na comunidade autista quanto na comunidade bissexual as duas são muito cercadas de tabus e de preconceitos.

E a melhor maneira de tratar ambos assuntos é trazendo informação pras pessoas. É sempre esclarecendo pras pessoas que o autismo não é exatamente o que você pensa e ele é muitas vezes mais simples do que você pensa. A bissexualidade é a mesma coisa. Não é exatamente o que as pessoas pensam. Diversos dos conceitos delas não tão muito certos, acabam sendo equivocados e é muito mais simples do que elas pensam, eu sempre busco é mostrar isso até porque isso não até pra que isso possa não ser um tabu tão grande pras pessoas quanto foi pra mim às vezes na hora de aceitar e de trazer pras pessoas. Né? Acho que é isso.

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Equipe Introvertendo Escrito por: