Introvertendo 203 – As We See It

Nosso Jeito de Ser (As We See It), nova série da Amazon Prime, apresenta três jovens autistas que moram juntos em um apartamento e precisam desenvolver autonomia no dia a dia. Neste episódio, Tiago Abreu recebe Bianca Galvão, Bruno Soares e Nicolly Amaral para analisar o elenco da série, enredo, representação do autismo e outras questões.

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Transcrição do episódio

Tiago: Olá para você que ouve o podcast Introvertendo que é o principal podcast sobre autismo do Brasil. Meu nome é Tiago Abreu, sou jornalista, um dos integrantes aqui dessa produção que é feita por autistas. De tempos em tempos a gente fala um pouco também sobre produções culturais, já falamos sobre várias séries como Atypical, Good Doctor, Amor no Espectro, e hoje a gente tem o episódio sobre a série Nosso Jeito de Ser e tenho aqui também três pessoas pra conversar comigo sobre a série. Enfim, fiquem à vontade, podem se apresentar.

Bianca: Meu nome é Bianca Galvão, eu tenho 23 anos, eu sou autista também e eu tô na internet falando sobre autismo desde abril de 2020, agora na página Sorriso Atípico e acho que é isso. Hoje eu vim pra conversar sobre essa série nova.

Nicolly: Oi, gente. Eu sou a Nicolly, eu também sou autista e tô na página Autista e Agora no Instagram, desde fevereiro de 2021, foi quando eu tive o meu diagnóstico tardio e lá eu falo um pouco sobre o autismo, minha vivência como autista e um pouquinho do que a gente vai aprendendo sobre nós mesmos.

Bruno: Oi, meu nome é Bruno, eu sou autista, tenho 28 anos e eu não tenho nenhuma página, mas tenho opiniões.

Tiago: (Risos)

Bianca: Forte (risos).

Nicolly: Ótimo (risos).

Tiago: E hoje nós vamos falar sobre a série Nosso Jeito de Ser, que está disponível na Amazon Prime desde o início deste ano, analisando vários aspectos como elenco, enredo, representação do autismo, assim como outras séries que nós já apresentamos aqui no Introvertendo. E só lembrando que esse episódio tem spoilers. Então, se você não assistiu a série ainda, ouça com a sua conta em risco. Agora, se você não quiser spoiler, dá um pause, assiste a série e volta aqui pra saber o que a gente achou sobre ela. Vale lembrar que o Introvertendo é um podcast sobre autismo feito por autistas e com produção da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Tiago: Como dito na introdução, Nosso Jeito de Ser é uma série que é produzida e lançada pela Amazon Prime. É uma série sobre autismo que traz como protagonistas três personagens autistas que moram juntos e precisam desenvolver a autonomia em múltiplos aspectos. Na verdade, essa é uma adaptação de uma série israelense que se não me engano saiu em 2018 chamada On the Spectrum, que atualmente é exibida pela HBO. E essa adaptação norte-americana traz uma peculiaridade em relação a versão original em que os três protagonistas são pessoas dentro do espectro do autismo, são atores autistas interpretando personagens autistas. E aí eu queria perguntar pra vocês qual a avaliação que vocês têm em relação ao elenco. Não só em relação a esses três protagonistas, mas aos outros atores, vocês acham que o elenco dessa série foi bem legal?

Bianca: Eu adorei o elenco da série, eu gostei muito dos três personagens principais que são os três autistas que moram juntos. A minha única crítica desse elenco todo é o irmão da Violet, que é a menina autista que mora com os dois meninos. Eu achei ele extremamente exagerado em tudo porque eu achei ele muito superprotetor com ela. Eu achei errado porque infantiliza demais a Violet. E eu assisti a série com a minha mãe e a minha mãe também ficou chocada com o jeito que ele trata ela, como se ela fosse uma eterna criança infantilizando ela constantemente. E acho que isso atrapalha um pouco no processo de desenvolvimento social dela.

Nicolly: Em relação ao elenco, eu gostei muito primeiramente do fato de que não realizaram cripface. Então personagens autistas são representados por atores autistas. Isso pra mim já ganhou muito e me incentivou a ver a série. O elenco secundário eu gostei muito dos atores, eu acho que eles não estavam exagerando, estereotipando. Sobre os personagens autistas, eu ainda tenho uma opinião sobre isso, mas talvez mais pra frente. Mas gostei bastante, não tenho nenhuma crítica a fazer assim. Agora em relação aos personagens especificamente tem uma lista.

Bruno: Eu achei interessante eles colocarem a quantidade de atores autistas que colocaram. A princípio eu não sou do campo de rejeitar totalmente um autor neurotípico fazer um papel de uma pessoa autista. Mas eu acho que a gente tem um problema quando é uma coisa constante na cultura. Eu acho bom que tenha dado esse espaço para atores autistas. As atuações deles são boas, mas eu não senti muita química entre os atores, sabe? Eu acho que muito por culpa da série em si, do roteiro, eles não deram muitas oportunidades pros personagens interagirem uns com os outros. Os autistas dificilmente falam uns com os outros. Nem parece que eles se conhecem às vezes. É uma coisa estranha.

Tiago: Eu concordo com vocês no geral. Eu gosto muito dos três atores autistas. Eu acho que os três estão atuando muito bem. Desde o Rick Glassman, que já é um ator mais experiente, até o Albert que interpreta o Harrison, que foi o primeiro papel dele. E uma coisa que eu achei muito legal nessa série é que ela foi além da questão de pessoas autistas interpretarem personagens autistas. Também há autistas interpretando personagens não autistas. Então inverter um pouco esse jogo da indústria que o Bruno falou e que a Nicolly também pontuou que eu acho que é interessante.

O Bruno tocou numa coisa que eu acho que a Bianca e a Nicolly também vão falar, que é como o autismo é representado e como os autistas são vistos até pelos outros personagens. E eu particularmente tenho só o incômodo em relação ao elenco que está muito relacionado a essa questão do enredo e eu já quero já desenvolver isso que alguns personagens são mais bem desenvolvidos do que os outros.

Eu acho que o arco do Jack, que é o personagem do Rick Glassman, ele é um personagem bem completo, bem desenvolvido. A personagem Violet também é uma que tem um peso muito grande assim, tem episódios que ela é praticamente protagonista da história. Já o Harrison é um personagem menos da trama. No início da série ele me passou a má impressão que a personalidade dele no enredo era ser gordo, sabe? E isso me incomodou um pouco assim. Depois o personagem foi se desenvolvendo com mais camadas e eu até conferi a original da israelense. E eu percebi que eles seguiram um pouco a personalidade dos personagens, mas eles mexeram bastante no Harrison e deixaram ele com menos substância do que o personagem original da série israelense.

Mas eu queria jogar essa pergunta pra vocês, o que vocês acharam do enredo? Acharam legal, poderia ter sido melhor? Enfim.

Nicolly: Eu tenho um pouco de receio em falar sobre isso porque principalmente no começo da série também, mas ao longo dos episódios eu achei um pouco mais leve essa minha percepção. Mas me parecia que era isso, era raso mesmo, tanto o desenvolvimento dos personagens quanto o roteiro em si. E essa questão do Harrison também me incomodou um pouco no começo. Os outros personagens tiveram um melhor desenvolvimento. Tanto que eu me identifiquei muito mais com o Jack e não acho que só por características do autismo mas porque ele foi um personagem um pouco mais bem desenvolvido. Então deu pra gente criar um pouquinho mais de conexão. Já o Harrison a gente não teve um foco tão grande nele. Parecia que era aquilo mesmo. Ele fica em casa e o problema dele é a obesidade e pronto, sabe? Ao longo do tempo foi desenvolvendo um pouco melhor isso. Mas eu acho que a série ela pecou um pouquinho do roteiro, pareceu uma coisa um pouquinho rasa sim.

Bruno: Os meus maiores problemas assistindo a série nem estão diretamente relacionados com autismo. Eu não gostei muito de como eles estruturaram a narrativa da série. A premissa me parece um pouco boba, parece até um experimento social, sabe? Porque a princípio são famílias que se juntam para tentar dar mais independência pros filhos. Mas essas pessoas mal parecem se conhecer, sabe? Nenhuma das tramas envolve os três. Tem tipo uns três episódios em que aparece os três. As famílias nunca se comunicam umas com as outras, sabe? Então tipo fica tudo muito desconexo na série. Fica cada um fazendo a sua coisa. Então acho que podia ter sido feito muito mais interação e eu acho que tu teria também uma visão muito mais positiva do autismo dessas pessoas interagindo e socializando. Socializar não é um ponto forte dos autistas, mas essas pessoas nem parecem que se conhecem. O máximo de interação que tu tem é o Jack xingando o Harrison.

Bianca: Eu ia concordar com isso agora que o Bruno falou e também que a Nicolly falou. Apesar de ter gostado muito da série, ela não teve uma história com um começo meio e fim que nem que nem você vê em Atypical por exemplo. Que começa lá com o Sam e depois ele vai pra na escola, depois ele arruma uma namorada e aí desenvolve relacionamento, depois ele vai pra faculdade. E tudo bem também que essa série teve só 8 episódios, mas em 8 episódios em uma temporada dá pra você pelo menos criar um início de história e eu não senti isso também com essa série, achei bem raso.

E isso que o Bruno falou de que parece que os três nem se conhecem, é muito bizarro, porque é verdade. Eles moram os três juntos e eles praticamente não se falam, não se olham na cara. É muito esquisito, porque eu fico pensando: eles moram juntos e aparentemente se conhecem desde crianças, porque chega uma hora que eles comentam alguma coisa de jardim de infância e eles não parecem ter laço afetivo nenhum entre eles. É só as patadas que o Jack dá no Harrison de vez em quando e a Violet faz uns comentariozinhos assim entre eles. E a única cena que eu vi os três realmente interagindo e ter algum tipo de laço é no final, no último episódio, quando eles estão jogando ping pong. Porque de resto parece que eles pegaram três autistas estranhos e colocaram dentro de uma casa. A gente sabe que a socialização não é o nosso forte mas eles parecem realmente três desconhecidos, isso ficou esquisito.

Tiago: É basicamente um Big Brother Brasil? (risos)

Bianca: É (risos).

Nicolly: Exatamente isso (risos).

Bruno: Uma coisa agora relacionada a parte da representação do autismo é que eu achei os cenários que eles desenvolveram para a trama me pareceram todos um pouco excessivamente críticos do autismo, que exacerbavam características negativas. Sempre que precisava mover a trama era algum dos personagens autistas fazer alguma coisa “idiota”, sabe? No primeiro episódio o Jack chama o chefe de idiota. Daí a Violet fica várias situações chegando perto ou exatamente fazendo assédio sexual de pessoas desconhecidas. Ou tipo o Harrison faz amizade com criança, sabe?

São as coisas que… Tá, são comportamentos que tu poderia ver com autistas normais, autistas na rua. Mas não são comportamentos comuns, sabe? A maioria das pessoas não vai xingar o chefe de burro. É ensinado pra nós ao longo da vida que tu não fala essas coisas. O Jack com certeza no passado já chamou gente de burro e já disseram pra ele que não faz isso. Pelo jeito que é o personagem.

Tiago: Eu conversei com o Bruno sobre isso em outro momento antes da gravação e eu concordo com a linha de raciocínio dele, mas eu só discordo de um ponto que até muitos outros autistas levantaram que é a questão da Violet. Eu acho que o arco da Violet é o que levanta mais debates dentro da série. Acho que foi você, né Bianca, que falou sobre o irmão dela, o Van?

Bianca: Sim.

Tiago: Então, esse arco bem complexo da relação dela com o Van… E ela sendo uma representação do autismo que eu nunca tinha visto ainda na ficção, que é a representação de autistas hipersexuais. Tem vários na comunidade do autismo, é uma parte dos autistas muito invisibilizados e às vezes até meio discriminados entre outros autistas. E a forma de lidar com essa questão da hipersexualidade é sempre algo bastante polêmico.

Algumas pessoas chegaram a falar que a personagem dela seria tipo uma predadora. Eu não concordo muito porque eu não acho que ela oferece uma ameaça real. Muito pelo contrário. A série vai colocando ela em situações em que ela acaba sendo vítima. E levanta esse debate sobre abuso de autistas e tal. Mas eu queria saber a opinião de vocês sobre isso. Principalmente da Nicolly e da Bianca que são mulheres e que podem ter uma leitura até mais particular sobre isso, sabe?

Mas pelo menos no primeiro episódio eu fiquei um pouco desconfortável com alguns diálogos, sabe? Ao mesmo tempo eu fiquei pensando: “poxa, eu nunca tinha visto esse tipo de representação de personagem autista na ficção”, sabe? Achei corajoso. Então, enfim.

Bianca: Esse negócio da Violet, logo no primeiro episódio tem aquela cena que ela está no caixa e ela acaba falando lá pro cara e depois aparece a esposa dele e dá aquele rolo todo. E a minha mãe ficou chocada porque eu assisti com a minha mãe. E aí a minha mãe ficou chocada, ela falou assim: “nossa, mas isso acontece mesmo? Tem autista que é assim?”. Eu falei: “mãe, realmente tem”.

Só que é aquilo que eu falei no início do podcast agora. Se o irmão dela tivesse tido uma conversa com ela como seres adultos que são os dois e isso não só aos 25 anos de idade, que é a idade que ela tem, essa conversa tinha que ter começado lá atrás lá na adolescência, quando começa a mudança hormonal, quando começa a acontecer esses interesses por outras pessoas, quando começa a acontecer a relação sexual, tinham que ter tido essa conversa desde lá atrás.

E a gente sabe que o número de mulheres autistas abusadas é muito maior do que o número de mulheres típicas abusadas. Mas se fosse por exemplo um homem no lugar da Violet, ia ser muito mais problemático. Essa cena seria muito mais polêmica. Porque aí sim as pessoas iam cancelar, iam falar que era abuso e que é assédio, não precisava chegar naquele ponto.

Então, assim, eu achei que algumas atitudes da série foram exageradas por causa disso. Porque foi o que o Bruno falou também. Sempre que dá uma reviravolta na série é porque algum deles fez alguma coisa. E é exatamente isso, são coisas que não precisavam chegar nesse ponto se tivesse conversado como se fossem adultos e não como se fossem crianças. “Não, não vamos falar de sexo com autistas porque são são anjinhos e são seres puros que não podem falar disso”. Então eu acho que nisso a série errou um pouco também.

Nicolly: É, eu concordo com a questão da quando a Bianca estava falando agora… antes, na verdade, sobre a relação que o Van tem de ter umas atitudes um pouco erradas e só podia ter conversado com ela como seres humanos adultos fazem. Eu estava aqui gesticulando loucamente… tipo, sim, é isso! E concordando aqui.

Uma coisa que me incomodou muito com a Violet durante a série toda foi a superproteção que as pessoas têm com ela. E eu entendo que talvez seja mesmo uma forma de falar: “olha, autistas às vezes estão vulneráveis a ter mais casos de serem abusados”, mas eu não sei se foi abordado isso de uma forma muito boa. Porque me passou só uma questão de superproteção desnecessária.

Então, por exemplo, a questão da Violet com Julian. Pra mim é o discurso que a Mandy fez depois que tudo deu errado e a Mandy falou: “é normal. É normal você encontrar um cara babaca que só quer transar com você e ir embora”. Isso é normal. Tudo bem que pode ser uma pessoa ingênua, porque a gente vê muita ingenuidade em muitos autistas, mas o problema que ela teve realmente foi uma coisa que não só autistas estão vulneráveis, qualquer mulher, qualquer homem, qualquer pessoa está vulnerável a encontrar uma pessoa babaca e às vezes criar expectativas erradas. Isso acontece com todo mundo mesmo.

Achei o Van um personagem muito problemático. Ele não sabe como ajudar a Violet e tendo 25 anos eu também acho que ela já deveria ter teoricamente passado por outros terapeutas e que isso já deveria ter sido abordado.

Bruno: Eu gosto que a série representa esse lado da sexualidade que é difícil de tu ver representado pra pessoas autistas na mídia. Mas como as duas meninas falaram, é muito mais provável uma mulher autista, um homem autista também, sofrer abuso do que executar o abuso. Da mesma forma, eu diria que sim existe uma chance de um autista ofender alguma pessoa.

Mas eu diria que nós somos muito mais ofendidos e somos vítimas de bullying do que necessariamente os vilões da história, as pessoas cometendo bullying. Nisso que eu quero dizer que a série sempre toma uma posição de nuance, sabe? Tenta adicionar nuance numa coisa que não necessariamente deveria ter. E acaba passando essa ideia que na minha opinião é falsa, sabe que os autistas são um perigo sexual pra sociedade, que são tipo rudes com chefe, sabe? Que eu não acho que seja verdade. Acho que era muito mais fácil as pessoas estarem ofendendo o Jack no trabalho do que o Jack ofender as pessoas. Da mesma forma como é mais fácil a Violet ser abusada do que ela abusar outras pessoas. Então eu acho que nisso a série peca, porque ela dá a impressão de que é uma relação de igualdade, sabe? Os dois lados estão errados.

Também não é um aval, tipo, uma crítica que não pode ter qualquer forma de autistas fazendo coisas negativas, mas é uma coisa constante nessa série. Todos os episódios são movidos por isso, sabe? Pelos autistas fazendo alguma coisa repreensível! E começou a me incomodar pela metade da série. Primeiro episódio, na verdade (risos).

Tiago: Isso que vocês falaram acaba também se conectando a um ponto muito importante da série e que na verdade está dissolvido em todas as séries sobre autismo, ou pelo menos a maioria delas, que é a questão do cuidado. O cuidado no contexto da deficiência é algo bastante importante principalmente porque quando a gente fala sobre autismo, tem aquela ideia: “ah, o autismo leve, é super leve, é tranquilo, levíssimo”. E eu acho que uma coisa que a série acaba fazendo, não sei se intencionalmente, é desmistificar um pouco dessa ideia de que o autismo dito “leve” também tem algumas dificuldades a nível de que muitas vezes pode dificultar a própria independência, autonomia, que é um ponto muito importante da deficiência.

A gente está aqui a maior parte do tempo falando coisas negativas da série, mas ainda vai chegar ainda nas partes boas, eu espero (risos). Mas antes de chegar nisso, uma personagem, que é a Mandy, é um pouco controversa entre autistas. Eu vi alguns autistas reclamando dizendo assim: “ah, mas tudo parte do ponto de vista dela. Ah porque ela é a cuidadora e é esse olhar neurotípico que sustenta tudo”.

Eu não sei muito bem porque quando a gente fala sobre produção ficcional, a gente tem que ter um narrador. E nenhum dos três personagens autistas têm como serem narradores na lógica desse universo narrativo, porque eles não interagem diretamente, cada um está em um núcleo trabalhando em alguma coisa. Então a Mandy é como se fosse a narradora da história. E isso pode ser problematizado.

Só que, ao mesmo tempo, quando vocês falam sobre essa questão dos personagens fazendo coisas estúpidas, teimando, a gente também pode falar que a Mandy é incompetente, não? Porque ela ensina e as coisas não dão certo.

Bianca: Sim, totalmente, que é o que eu falei da Violet. Que não é possível que em nenhum momento da vida dela ela tenha ouvido de algum terapeuta ou de alguém que goste dela que aquela atitude que ela estava fazendo não era legal. Então claramente mostra que o trabalho que a Mandy está fazendo não está sendo efetivo porque nenhum dos três conseguiram paz na série. Porque é o que o Bruno falou: toda reviravolta que tem é porque eles fizeram alguma caca.

Eu apesar de ter gostado da série e perceber que eu estou criticando muito a série agora (risos), realmente fica meio problemático se você for olhar com esses olhos porque daí cria essa visão de que o autista não aprende. E que você vai falar, falar, falar, vai entrar para um ouvido e sair pelo outro e vai continuar fazendo coisa errada.

Tiago: Ah, mas o Jack até que se deu bem no final. Não foi tão ruim a finalização dele (risos).

Bianca: Sim, ele foi. A dele eu gostei.

Nicolly: Sim (risos).

Bruno: Não sei. Eles deram uma coisa boa pro Jack e tiraram logo em sequência, né? Porque eles escreveram a Ewatomi pra fora da série. Não sei se na próxima temporada vai ter, porque eles tem que estar sempre em sofrência pelo jeito.

(Risos)

Bruno: Acontece uma coisa boa. Em vez de adaptar o enredo, eles vão tirar ela do país.

Nicolly: Então, sobre o Jack ter se dado bem no final é mais uma perspectiva de como eles colocaram um personagem como uma pessoa que não liga. Então ele está gostando bastante dela, ela vai embora. E isso é uma coisa triste porque ele estava começando a gostar mesmo se envolver. E aí foi tipo: ah, ela vai embora mas ele se deu bem no final e ele está ótimo, ele não liga. Me passou muito essa coisa de “Jack não liga”.

Tiago: A minha leitura foi um pouco diferente porque é aquela coisa: a gente está se despedindo, está triste, mas a gente vai transar e eu tô feliz por isso. E terminou naquele clima romântico entre os dois, eu achei fofinho, sabe? (risos).

Nicolly: Também (risos).

Bruno: Eu acho que não é triste. Eu acho que a narrativa é preguiçosa. É a mesma coisa do: “a cuidadora tem namorado no começo da série, como é que a gente vai fazer? Ah, ela tem que viajar”. Todos esses problemas são jogados pro ar, sabe? “Ah, ela vai ter um caso com o irmão da outra, agora ela largou o namorado. O Jack agora tem uma namorada, vai pedir em casamento, talvez abandone o trio, como é que a gente vai manter isso? Ele não pode ficar no relacionamento, vai complicar a trama da série. Ah, só manda ela de volta pra África”. Tipo, é uma forma preguiçosa de tu lidar com o desenvolvimento da trama na minha opinião.

Bianca: Gente, eu estou rindo muito porque a série é autista tomando tombo o tempo inteiro (risos).

(Risos)

Bianca: É rasteira da vida o tempo inteiro, meu Deus! (risos)

Bruno: Sim (risos).

Nicolly: Autistas também levam rasteiras da vida, é isso (risos). Moral da história.

Bianca: (risos)

Nicolly: Mas voltando na questão da Mandy, eu acabei deixando passar, isso que o Tiago comentou e que a Bianca respondeu sobre talvez ela esteja sendo um pouco incompetente eu senti muito no começo também. Porque acho que ainda no primeiro episódio ela tenta incentivar o Harrison a ir pra cafeteria e aí o incentivo dela é tipo: “não, ignora tudo e vai”. E aí tipo precisou aparecer uma criança, uma criança que não tem estudo de autismo, psicologia, nada, pra falar: “pô, por que você não coloca um óculos escuro e um protetor de ouvido já que você não gosta de luz e som?”. E a Mandy é terapeuta deles há muito tempo, por que ela nunca pensou nisso, sabe?

Bianca: Uma coisa óbvia. Tipo, até uma criança conseguiu pensar.

Nicolly: Sim, sim. Eu entendo a parte de: “ele tem que conseguir suportar um pouco mais os estímulos” porque às vezes ele não vai ter um protetor de ouvido, ele não vai ter um óculos escuro. Mas poxa, ele estava indo na cafeteria só. Ele podia usar uma coisa que deixasse ele mais confortável e não se expor ao desconforto para tentar “vencer os demônios” dele e algo assim que a série passou.

Bruno: Ela não tem uma relação saudável com eles também. Ela não não tem uma relação terapêutica, ela age como mãe deles em várias partes. O próprio fato dela sabotar o futuro dela porque ela não pode largar essas pessoas eu acho meio suspeito, sabe? Parece que ela está se martirizando durante a série inteira.

Tiago: Mas agora que a gente já meteu o pau bastante na série, uma coisa que eu achei legal assim também é o quanto que a série… a gente já falou na verdade um pouco disso, que além de ter os personagens autistas a gente tem uma diversidade étnica também dos personagens. Porque dos três protagonistas tem o cara branco, tem um cara que tem ascendência judaica e tem a personagem da Violet que poderia ser considerada amarela. Mas tem um episódio, eu acho que é o penúltimo episódio, que faz um comentário que eu acho muito ácido e que ao mesmo tempo se conecta muito a uma certa ironia que a gente tem quando a gente fala sobre deficiência, sobre diferença, que é aquela cena em que a Violet está tentando a vaga de emprego lá na livraria e aí a moça que está entrevistando ela falou assim: “ai, que bom! A gente está precisando de mais diversidade aqui”. Aí a Violet para assim e fala: “o quê?”. Ela: “não, é porque você não é branca”.

E há essa acidez em alguns diálogos. Achei muito muito boas as sacadas, as críticas que ficam implícitas assim. Tem alguns momentos específicos da série que eu acho que são muito bons assim. Eu acho o humor do Jack muito bom. Aquele momento ali que a Mandy faz todo o discurso inspirador quando ele pergunta se as pessoas percebem ele como autista, ela fala assim: “ah, mas não importa porque você é maravilhoso”, não sei o que… Aí ele só responde: “isso me dá vontade de vomitar”. Eu gostei muito dessas coisas na série.

Bianca: Eu gostei muito do Jack também. Foi o personagem que eu mais me identifiquei porque eu sou muito assim também de falar essas coisas, de ter esse tipo de humor que muitas das vezes os neurotípicos não entendem. E aí a gente sai como mais esquisito ainda. Nossa, eu achei o máximo aquela cena que o Harrison tá sofrendo, o Jack vira pra Mandy e fala assim: “eu vou lá consolar ele”. A Mandy fala: “não Jack, agora não é hora pra isso”, porque ela acha que ele vai lá zoar com ele, fazer gracinha. Aí ele fala: “não, eu vou praticar a empatia, porque agora que eu tô num relacionamento eu preciso começar a fingir que eu me importo com coisas que normalmente eu não me importaria”.

Tiago: (risos) Sim.

Bianca: E eu achei o máximo essa cena, porque durante toda a minha vida ou desde que eu tenha consciência da minha vida, eu fingia me importar com vários tipos de assunto, tipo, na rodinha de amigos assim, que geralmente eu não daria a mínima, mas eu fingia me importar pra eu poder estar inserida naquele grupo e naquele círculo de pessoas. Mas que normalmente se eu não tivesse que me adaptar pra caber, eu não daria a mínima e não estaria nem aí.

Mas é aquela coisa. Quando a gente começa a conviver em grupo, conviver com outros seres humanos, a gente é obrigado a lidar com certas coisas e até às vezes fingir que se importa com coisas que a gente não está nem aí.

Nicolly: Eu me identifiquei exatamente nesse ponto também. Bianca descreveu minha vida agora (risos). Que é essa coisa da gente se convencer de que a gente se importa muito com alguma coisa porque o grupinho se importa, então a gente quer se inserir nisso. Eu gostei bastante do Jack também, foi o personagem que eu mais me identifiquei e principalmente porque ele tá mais próximo do que é a minha realidade, eu acredito de muitos autistas que tiveram diagnóstico tardio.

Porque ele passa uma impressão de que ele se vira muito. Ele tem um emprego, ele xinga o chefe dele (o que eu acho que não aconteceria muito), mas ele tem um emprego, ele está morando sozinho relativamente. Ele age como se dali ele fosse o mais “eu consigo conviver, eu consigo viver no mundo, eu consigo me virar muito bem”. E tem uma conversa dele com o pai dele falando sobre isso. Ele fala: “não, eu consigo me virar, eu não sou completamente dependente”. E o pai dele aponta várias coisas pequenas em que a gente percebe até onde essa independência vai, sabe? Então são coisas que acontecem mesmo.

Eu já morei sozinha, eu trabalho agora também e tal, mas eu esqueço de almoçar às vezes e às vezes eu esqueço de almoçar e jantar e ter qualquer refeição durante o dia. Então até onde vai bem essa “eu me viro sozinha”, sabe? Eu pensei primeiramente que pudesse passar a impressão de que nós, autistas, então, nunca podemos ser completamente independentes. Mas eu analisei de uma forma diferente. Pra mim passou essa nuance de: sim, você consegue ser independente, mas você ainda é autista. E eu acho que passou bem isso: o autismo leve não é tão leve assim.

Tiago: Eu concordo com você, Nicolly. Eu gosto muito do personagem do Jack porque a ideia do autista que é muito inteligente já foi representada várias e várias vezes na mídia. Inclusive tem várias críticas nesse sentido, principalmente quando tem aquela imagem do autista savant. Mas o Jack é um personagem que traz uma distorção pessoal que é muito comum na comunidade do autismo. Eu acho.

Tem muito autista que tem certas habilidades em algumas coisas, é inteligente, mas ele não se vê tão “deficiente” quanto as outras pessoas. “Ah, eu não tenho tanta dificuldade”. E tem essa distorção sobre as próprias dificuldades. Não consegue identificar as próprias questões que dificultam a vida. Porque às vezes nós autistas nós tendemos a dizer assim: “ah, a gente entende o que é o autismo porque a gente vive o autismo”. Mas não necessariamente todos os autistas conseguem ter uma boa percepção sobre si mesmos.

E ao longo dessa primeira temporada ele tem um desenvolvimento de ele perceber primeiro que ele não é tão normal quanto todo mundo, não há um problema dele não ser normal, que ele tem pontos positivos nesse sentido com a peculiaridade no humor como o timing que ele tem em relação a algumas coisas, esse sentido dele se aproximar mais aos outros que tem dificuldades práticas né? Eu acho que isso é uma coisa bem legal. Se tiver uma segunda temporada e explorar isso melhor acho que é uma coisa bem legal assim. Queria ver o Jack assumindo mais uma uma função até de liderança assim. Se ele em tese têm menos dificuldades pra ele ajudar mais, auxiliar mais os colegas dele. Eu acho que isso é uma coisa interessante.

Bruno: Eu sei que era pra falar mais positivo agora, mas o Tiago mencionou a parte da diversidade da série. Eu notei uma coisa que eu não tinha reparado antes, mas é uma coisa que eu reparo em muitas séries e muita mídia que é lançada recentemente que é uma tendência a criar um elenco extremamente diverso porém os papéis de protagonismo são sempre preservados para pessoas brancas. Então tu vai ver isso em vários filmes, em mídia, em coisa assim, tem um monte de gente, o mais diversos possível, tem gente LGBT, tem gente negra, tem gente asiática, tem gente de tudo quanto é tipo, mas o protagonismo é de uma família de brancos, um homem branco, uma mulher branca, é exatamente o que acontece aqui nessa série.

Tu tem essa figura central, o eixo de todas as histórias, é a cuidadora. Ela se envolve em cada enredo que se passa nessa série. E é uma mulher branca, neurotípica. Então isso é uma escolha consciente que foi feita, sabe? Eu não sei se eles precisavam desse personagem, porque ela nem tem um papel tão ativo assim, sabe? A maioria dos enredos realmente são sobre os autistas. Mas é sempre ela como mediadora do caso. Ela sempre tá aparecendo. Em vez de ter ela, eles podiam só de repente conversar uns com os outros, já que eles vivem juntos, podiam resolver os problemas juntos, sabe?

Mas a história do Jack de não ser tão independente assim, eu concordo, achei que foi relativamente bem executado, apesar das minhas críticas.

Tiago: Depois dessa bateria de detalhes sobre a série, eu queria que vocês então dessem a opinião de vocês. Série aprovada? Desaprovada? Recomendam que as pessoas assistam?

Bianca: Gente, agora que a gente passou 40 minutos falando mal da série, eu tô até com vergonha de falar que eu recomendo a série (risos). Mas eu recomendo a série de coração porque é importante a gente ver a gente ver essas coisas de outras maneiras também. Mesmo que às vezes você assista série e não goste e veja esse tanto de problemática que a gente viu, é bom a gente assistir porque a gente vai aprender mais, a gente vai refletir mais sobre o que é certo, o que é o que não é certo.

Então por mais que a gente tenha feito várias críticas em relação a série, eu acho que é uma série que a gente pode recomendar principalmente pelo fato de ser atores autistas mesmo que eu já acho que sim é um grande passo e que é muito importante, então apesar dos pesares eu recomendo a série.

Bruno: Eu acho que eu ainda posso recomendar a série, principalmente que maioria das pessoas que escuta esse podcast é autista. E tem diversas séries autistas hoje sendo lançadas. Cada pessoa parece preferir uma ou outra, então de repente essa é a série pra você. Essa pode ser a nova série favorita de você, ouvinte.

Nicolly: Apesar de eu também ter falado um pouquinho mal da série e pessoalmente a série ter sido uma decepção no sentido da expectativa que eu tinha quando eu comecei a assistir e a realidade que eu encontrei, não é uma série ruim. Eu recomendo também. Eu acho que as séries e as coisas assim estão evoluindo a passos pequenos, estão eu acho que toda oportunidade é uma oportunidade de aprendizado.

Tiago: Eu também recomendo bastante a série. Eu assisti os oito episódios em sequência. A primeira experiência foi muito positiva. Eu gostei muito, muito mesmo. Pra mim tava no TOP 3 de séries sobre autismo. Eu gostei a princípio bem mais que Atypical. E eu acho que tem potencial. A primeira temporada de Atypical não era uma grande coisa e a série amadureceu bastante, eu acho que essa série pode amadurecer, apesar de que eu estou mais consciente sobre os problemas dela a medida do tempo, mas eu ainda coloco muito crédito e muita fé. Eu simpatizo muito com os atores, a interpretação, é uma série muito bem caracterizada.

Eu quero agradecer muito a participação de vocês e pedir principalmente para a Bianca e Nicolly que vocês falem sobre o trabalho de vocês, redes sociais, onde as pessoas podem encontrar e eu agradeço muito a participação de vocês aqui no Introvertendo.

Nicolly: Gente, eu escrevo pra página do Instagram, o perfil chamado Autista e Agora, tudo junto, sem nada. Não sou nenhuma profissional da área. Então eu escrevo mais sobre a minha vivência, algumas coisas que eu pesquiso, algumas coisas que as pessoas me mandam. Esporadicamente eu também posto coisas sobre biologia e sobre a minha vida (risos). Porque eu sou professora de biologia, bióloga formada, então de vez em quando surgem umas curiosidades aí.

Bianca: A minha página é basicamente a mesma coisa que a Nicolly falou. A minha página chama Sorriso Atípico e eu também não sou nenhuma profissional da área do autismo, mas eu falo sobre as minhas vivências, sobre as minhas experiências. E também sempre quando rola uma polêmica aí que é todo dia eu tô sempre lá me posicionando também, fazendo conteúdo. Eu particularmente adoro quando tem alguma polêmica. Porque eu falo que o criador de conteúdo no Brasil não tem um dia de paz. Porque está sempre acontecendo alguma coisa ruim que a gente precisa se posicionar. Então, particularmente a gente tem que ver o lado bom das coisas ruins também. Porque daí a gente gera conteúdo em cima das coisas ruins, né galera? Mas aí é isso. A gente tem que rir pra não chorar. E tô lá na minha página fazendo isso todos os dias, rindo pra não chorar.

Tiago: (Risos) Muito bom. E como já é tradição aqui no Introvertendo, chegou o momento de ouvirmos mensagens de ouvintes pelo WhatsApp. Então, vamos rodar o áudio.

Renato: Boa noite Introvertendo, meu nome é Renato, eu tenho 30 anos, eu sou de Brasília, sou pedagogo. Desde sempre eu percebi que eu não tinha alguma coisa certa comigo, né? Chegou 2019 tive um surto por besteira por uma agenda fiquei desesperada que eu perdi ela e comecei pelo meu conhecimento, pela minha formação, comecei suspeitar do autismo, né? E isso foi em 2019 em 2020 com a pandemia que tive outro surto foi bem complicado, em 2021 tive outro surto então foi me encaminhado uma neuropsicóloga.

Essa neuropsicóloga me encaminhou para uma psiquiatra e as duas em conjunto fecharam o laudo. E esse é o meu interesse, é o meu objetivo também. Compartilhar e falar mais conscientizar as pessoas, né? As pessoas.

Tiago: E só lembrando que se você quiser mandar mensagem pra gente áudio no WhatsApp, você pode mandar. Se identifiquem de onde vocês são e nada de áudio com mais de dois minutos, beleza gente? Então a gente volta daqui a duas semanas com mais um episódio do Introvertendo.

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Equipe Introvertendo Escrito por: