Introvertendo 20 – Um papo sobre o Queen

Mais do que uma das bandas de maior sucesso do mundo, o Queen é parte da história de quatro homens diferentes entre si e que, juntos, mostraram a complexidade humana mesmo em temáticas simples e românticas. Neste episódio, nossos podcasters exploram a discografia do grupo, as histórias e tensões entre os integrantes, e a expectativa em torno do filme Bohemian Rhapsody, a ser lançado este ano.

Participam desse episódio Luca Nolasco e Tiago Abreu.

Links e informações úteis

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Favoritas do Queen

Luca: The Show Must Go On (Innuendo), The Invisible Man (The Miracle), Sheer Heart Attack (News of the World), Lazing On a Sunday Afternoon (A Night at the Opera) e Sail Away Sweet Sister (The Game).

Tiago: In the Lap of the Gods… Revisited (Sheer Heart Attack), You’re My Best Friend (A Night at the Opera), Bohemian Rhapsody (A Night at the Opera), Dead on Time (Jazz) e Was It All Worth It (The Miracle).

*

Transcrição do episódio

Tiago: Olá pra você que escuta o podcast Introvertendo, este podcast que é feito para neurotípicos e neurodiversos, gente que gosta de música, gente que odeia música, enfim para todos. E hoje estamos aqui para iniciar uma nova série, uma série que a gente fala de artistas, que a gente fala de obras musicais e a gente fala também da nossa relação com a música.

Luca: O nosso plano é essa série a cada episódio terminado em zero. Então vinte, trinta, quarenta por aí vai vai ser episódio de temática de alguma banda ou diversos, mas com o foco em música.

Tiago: Inclusive nós aceitamos recomendações também e se a gente conhecer a obra dos artistas, a gente também vai falando sobre eles. Meu nome é Tiago Abreu eu gosto muito de Queen e sim, eu sou uma pessoa que detesta o Hot Space.

Luca: Eu sou o Luca, eu não gosto tanto de Queen e infelizmente eu sou o diferentão que só gosto de músicas underground.

Tiago: Então, fica com vocês esse nosso podcast sobre Queen.

Bloco geral de discussão

Luca: Qual música você gosta mais de Queen? A sua favorita mesmo, aquela que cê realmente gosta.

Tiago: Ah, eu acho que de todas as músicas do Queen, na verdade eu tenho que contar um pouco da minha história com o Queen, né? O Queen eu comecei a ouvir Queen porque na minha adolescência eu era muito ficcionado em Pink Floyd e quando eu ouvi Pink Floyd, eu comecei a trabalhar e a conhecer a discografia solo dos integrantes e tinha um integrante, em especial, que eu gostava muito, que era o Rick, que é o tecladista. O Rick lançou alguns discos solos e em 78 ele lançou um álbum chamado Wet Dream. E aí tinha uma música que eu gostava muito nesse disco que num texto em português que eu li sobre o álbum, um cara comparava e falava, “olha, essa música parece muito Queen”. Eu falei, “nossa, se essa música que eu gosto muito parece muito Queen, então Queen deve ser uma banda ótima”. E aí eu lembro que eu estava terminando o meu ensino médio, eu já tava saindo dessa fase de progressivo, pensei: “vou conhecer bandas e artistas novos e vou ouvir Queen”. E aí eu fui, peguei aquela página do Queen na Wikipedia na versão de 2014, que é uma versão bem curtinha e tal e aí eu comecei a ver os discos. E nossa, toda banda que eu começo a ouvir tem um azar que eu tenho, o primeiro disco que eu ouço eu odeio. Então, eu fui ouvir um disco que seja unânime pra não ter essa coisa.

Luca: Odiou?

Tiago: Pior que não. Aí eu fui e baixei o A Night at the Opera. Eu baixei na internet bem lenta da universidade que eu estudava, em 128kbps, antes do streaming pegar força, mas eu amei. A primeira vez que eu ouvi o A Night at the Opera, minha cabeça explodiu. Eu falei: “gente que legal, existe vida fora do progressivo nos anos setenta”, né? E dentre as músicas uma especial que eu gostei muito que é a minha música favorita do Queen que é You’re My Best Friend. E aí essa música é especial, ela acabou chamando muito minha atenção, mas o disco inteiro acabou assim prendendo de uma forma que fui atrás da discografia inteira, os ao vivos, as coletâneas. As coletâneas foram por último, mas eu sei que em cerca de um ano, mais ou menos, praticamente o que eu mais ouvia era Queen até desgastar e ouvir tudo que era da banda ou comprar disco e tal. E você?

Luca: Cara, meu pai é muito aficionado por Queen. Então sempre escutava as músicas mais famosas no carro dele, o que me fez odiar as músicas mais famosas (risos). Quando ele me apresentou Pink Floyd também gostei bastante, inclusive foi na mesma época, foi em 2014 e eu com 14 anos e ele me apresentou Queen também, agora mostrando outros álbuns e tudo mais. Eu nunca consegui escutar nenhum álbum completo do Queen de cabo a rabo sem parar como eu fazia com outras bandas, com Queen eu faço mais de escutar músicas individuais e montar minhas playlists. Mas nas músicas individuais tinha uma época que eu entrei no shuffle louco e passei pela Sail Away Sweet Sister, cujo vocal não é do Freddie. Eu amo essa música. Eu acho ela bem diferente até das músicas do Queen, que ela é bem doce e melódica, mas é a minha favorita deles. De fato, é bem gostosa de ouvir.

Tiago: Então, o Queen é uma banda muito versátil nesse sentido da identidade. Então, assim, se eu for traçar um marcador sobre três grandes fases do Queen, eu tenho a fase clássica que eu gosto de enumerar que é de 73 até 77, tem a fase de transição do rock mais pro pop que é entre 78 e 1981 e tem a fase pop rock que pra mim é de 1982 até 1991, que é o final da carreira. Então, nós vamos começar falando sobre a fase clássica do Queen. Essa fase clássica, com a sonoridade mais roqueira da banda, é composta por vários discos, todos esses discos trazem uma característica muito forte na banda que é aquela coisa do “sem sintetizadores”, era uma marca deles. A banda era um quarteto formado por Freddie, Brian, Roger e John. Cada um deles tocavam um instrumento, quase todos eles exerciam a função de vocalistas, exceto John porque ele não tinha muitas habilidades vocais e todos eles compunham. O primeiro disco Queen I e Queen II eles foram gravados no estúdios que eram da que era da propriedade do Norman Sheffield era além de empresário e ele também era responsável pelo pelo selo que a banda fazia parte. E a banda durante essa época sofria com muita dificuldades financeiras porque eles eram pobres assim no geral. A diferença um pouco maior do Roger Taylor que era um cara da odontologia, ele já era um pouco mais endinheiradinho, mas não tanto quanto os outros, né? O Brian ele era da física e ele dava aula na escola pra pra se manter, o Freddie era formado em artes e ele também trabalhava como vendedor e o John até um certo tempo ele só estudava mas ele começava a dar os seus também caminhos pra se manter afinal ele tava já entrando no mestrado mesmo estando dentro do Queen.

O Queen I é um disco que já apresenta algumas características clássicas da banda, por exemplo, você tem músicas como Keep Yourself Alive, composição do Brian que já tem aquela coisa mais mais ritmada, até um pouco mais dançante, em termos de hard rock que é uma coisa que o Queen gosta muito, daquela coisa do e você também tem outras músicas como Liar, que acabou acabaram ficando muito tempo na na carreira da banda. Só que esse disco deles não não foi um sucesso, né? Não passou tão tão forte e o disco sucessor que é o Queen II também teve essas características também de não fazer tanto sucesso. Ele fez um pouco mais de sucesso por causa da música Seven Seas of Ryne, que é o único single do disco e foi o primeiro sucesso da banda no território britânico. Ele apresenta algumas características que a banda vai abraçando o resto da carreira, que é tentar fazer efeitos de som com guitarra, com piano, né? Não usar sintetizadores, levar ao máximo essa política, fazer músicas grandiosas, teatrais e o Queen durante essa fase, apesar de ser uma banda muito já criticada pela imprensa, eles eram uma banda muito perfeccionista ao vivo. E isso se reforça no terceiro álbum da banda, que é o Sheer Heart Attack, de 1974. E foi um disco gerado sob muitas crises, porque o Brian teve gangrena e os outros 3 foram pro estúdio, o John Deacon teve que fazer algumas guitarras, mas é um disco que já apresenta alguns dos primeiros grandes sucessos da banda,como Killer Queen, que foi o primeiro sucesso internacional deles.

Luca: Entrando numa tangente meio complicada aqui, tem uma anime que eu gosto bastante chamado JoJo que todos os personagens poderes possíveis o autor coloca nome de música e de banda porque ele gosta muito, então é uma maneira de homenagear e um dos meus personagens principais tem um poder chamado Killer Queen que eu acho muito interessante, e foi a forma que fiquei interessado pela música.

Tiago: Uma questão que eu acho muito legal no Sheer Heart Attack que na verdade já aparece um pouco no Queen II mas nele funciona de uma forma mais clara é que grande parte do álbum funciona meio que um medley. Então cê tem músicas de diferentes composições juntas. É um disco que é o Queen por excelência, então você tem o peso, você tem o lado pop vaudeville, você tem também ao mesmo tempo um mais pop, você tem um um lado mais romântico, você tem um lado mais agressivo, então você tem tudo ali, tudo misturado.

Luca: Bastante características únicas de cada um ali que tão bem misturados.

Tiago: Sim, sim e o Queen, todos os discos, por mais bons ou ruins que sejam, eles sempre trazem essa loucura assim em todos os atos.

Luca: Acho que mais pro final já começa a ficar um pouco monopolizado pelo Freddie, né? Quem fica mais é aquele glam dele.

Tiago: Na verdade eu vou discordar em alguns aspectos com relação a isso, mas a gente vai chegar ainda lá ainda. Mas sim, mas há um monopólio, mas não acho que não é exatamente do Freddie, não é sempre dele, tem momentos que é dele, mas eu acho que não é. Mas enfim, do Sheer Heart Attack, eles já tava atingindo o sucesso já tavam aí fazendo turnês maiores, mas eles continuavam na pobreza, né? Existiam relatos em algumas biografias do Queen que eu li de que o Brian ele tava com a namorada dele morando juntos em Londres e onde eles moravam não tinha nem saneamento básico direito, quarto fedia peixe podre, sabe? Eles tavam vivendo numa situação muito horrível. E aí em 1975, quando eles partem pra trabalhar em A Night at the Opera, que é o disco que muda a vida deles completamente em todos os sentidos, sentido artístico, financeiro e tudo mais, eles rompem com o Norman. E aí é nesse disco que o Freddie faz uma música chamada Death on Two Legs, que é dedicada exatamente a esse ex-empresário. E eles juntam de tudo que eles tavam vivendo, a questão romântica e fazem um disco que tem uma coesão tão boa porque esse disco eles não usam sintetizadores, mas você não sente falta dos sintetizadores.

Quando você ouve Queen II e essa é uma das minhas críticas ao CD porque eu sei que os fãs amam esse álbum, mas eu não acho ele tão bom assim quanto muitos defendem é que você sente falta, o disco ele não é tão preenchido quanto deveria ser. E o A Night at the Opera já não tem nisso, tem tantos instrumentos, tem tantos elementos que você olha para aquilo e cê fala: “pra que sintetizadores aqui? Não faz falta”. E é um disco muito bom, é um disco que todas as faixas você ouve você sente o Queen e sua essência. Então tem músicas românticas, você tem músicas de zoação com o próprio rock, porque ele sempre foram meio autodepreciativos em alguns aspectos. Você tem as composições de ficção científica do Brian May, que ele gosta muito desse tema e você tem as referências históricas que o Freddie faz com relação à música, aos elementos clássicos. Então, é um disco muito completo. E além de tudo tem a grande música do Queen nesse álbum que é a Bohemian Rhapsody.

Luca: Ah, eu achei que cê ia falar Lazy of Sunday Afternoon que por acaso é um dos meus favoritos.

Tiago: Eu gosto muito dela inclusive. Mas Bohemian é melhor e inclusive eu acho que a única música que chega perto de Bohemian nesse disco é You’re My Best Friend. Bohemian tem uma história toda interessante porque ela representa um ponto de virada para o Queen, mas ele representa também um ponto de virada para a vida pessoal do Freddie. Porque muito dessa música é autorreferencial sobre a condição de sexualidade dele. Ele manteve o relacionamento sério com a Mary Austin em até 1975, quando ele chegou pra ela e confessou pra ela sobre sexualidade, ela reagiu muito mal e falou: “não, você é gay!”. Foi meio que uma reação bem adversa e nesse contexto ele compôs Love of My Life, que eu acho super melosa na versão do álbum, a única coisa que eu realmente não gosto de ouvir no CD, mas a música em si é boa. E aí com base nessa condição eu acho que ele também escreveu um pouco Bohemian, porque até 1975 ele não teve nenhum relacionamento homoafetivo, pelo menos do que se sabe popularmente e aí depois que ele termina esse relacionamento com ela e ele fica frustrado aí ele abre o leque e começa a se relacionar com pessoas em geral.

E aí Bohemian tem um pouco disso também, ela não tem um significado muito claro, todo mundo gosta de especular qual que é o sentido real dessa música, mas acho que tem muito a ver também com a condição pessoal dele com relação a isso e aí foi estrelato, essa música ficou nove meses nas paradas britânicas, o disco vendeu muito bem, Bohemian vendeu muito bem e o You’re My Best Friend que foi lançado no ano seguinte vendeu também muito bem, só a música vendeu um milhão de cópias de cópias como single. O Queen saiu da pobreza em 1975 e o John casou nesse ano também. Foi um ano de loucura pra todos eles e eles chegaram a 1976 milionários. E isso também refletiu um pouco na qualidade da composição da banda tanto positivamente quanto negativamente.

Luca: Eu acho que evoluiu muito também essa mudança da vida deles refletiu na própria letra das músicas consequentes.

Tiago: Sim sim.

Luca: Muda a perspectiva que eles tem no mundo bastante.

Tiago: Uma das críticas que fizeram com relação a postura, principalmente do Freddie, com relação a imprensa, foi uma questão de postura de arrogância. Ele já é já era um cara que não gostava de dar entrevista. Quem geralmente dava mais entrevistas pra banda nos registros é o Brian. O Brian sempre assumiu essa função e principalmente agora mais recentemente dos anos 90 pra cá aí que ele começou a dar mais entrevistas mesmo que todo mundo. Quando eles lançaram A Day at the Races, ele é como se fosse um lado B do A Night at the Opera, pelo menos na minha visão. É uma sequência tanto temática quanto musical do A Night at the Opera e é um disco que tem algumas músicas boas, mas é um disco assim que não é um pouco acessível em vários aspectos. Tem Tie Your Mother Down, que é uma música que é bem a cara do Brian assim, mais hard rock, mas cê tem as músicas mais melancólicas do Freddie como You Take My Breath Away, que é uma música que também pega um pouco da consequência do fim do relacionamento dele com a Mary Austin. Muitas coisas que ele fala sobre amor tem um pouco a ver dos relacionamentos que ele teve.

E aí nessa época ele começa também a namorar um executivo da gravadora deles e aí tem essas coisas, aí falavam que o namorado dele fazia a cabeça dele, que deixava ele arrogante, etc, que ele ficou problemático e chato por causa disso e tudo mais e o disco foi mal recebido pela crítica. Porque ele é um disco que não tem a força do A Night at the Opera não tem a vitalidade, ele tem o perfeccionismo da banda, foi a banda que se autoproduziu. Pela primeira vez, diferentemente dos outros quatro CDs, eles não foram produzidos pelo Roy Thomas Baker, que foi o cara que moldou o som do Queen e eles tentaram se autoproduzir sozinho. O resultado é um disco que pra mim é o disco mais limpo do Queen, o timbre é perfeito mas o repertório não tem aquela coisa, sabe? Não tem a força. Muito fraco, esquecível e aí isso deixou eles traumatizados. O que aconteceu? Em 77 vem o último álbum dessa fase clássica pra mim que é o News of the World, que é o disco que traz um monte de sucessos da banda. Mais uma vez eles tentaram se autoproduzir, só que com um co-produtor junto e tentando encontrar aquela direção que eles tinham perdido no disco anterior. E aí eles fizeram algumas músicas que acabaram sucesso, como We Will Rock You…

Luca: Que por sinal eu não consigo escutar essa música mais porque as pessoas me saturaram.

Tiago: Povo de escola gosta de ficar batendo na carteira das mesas…

Luca: Meu Deus, eu queria matar…

Tiago: We Are the Champions é outra que não pode tocar mais em formaturas, pelo amor de Deus…

Luca: Já tem uns trinta anos que não pode mais (risos).

Tiago: Só que News of the World pra mim tem um problema que se vê na maioria dos álbuns do Queen, tem músicas boas, mas parece que elas não funcionam juntas, porque a banda tem tanta influência… então por exemplo, você tem essas duas músicas já na introdução, aí você tem Sheer Heart Attack que uma música do Roger super acelerada e louca.

Luca: Eu amo!

Tiago: Sim, é muito boa, cê tem All Dead, All Dead, que é uma música bem melancólica do Brian de piano que ele mesmo canta.

Luca: As músicas separadas são perfeitas, é isso (risos).

Tiago: Sim. E aí você tem, por exemplo, na quinta faixa Spread Your Wings, que é do John, que já é uma música também que tem um tom melancólico, mas já tão mas não tão leve quanto a do Brian. Então, assim, são músicas muito diferentes em seguida. E aí, isso acaba um pouco assustando. Mas como o disco produziu sucessos, a banda ficou mais segura nesse aspecto porque os shows deles ficaram mais teatrais, eles recebiam tanto críticas com relação aos discos quanto em relação aos shows porque eles não davam conta de tocar Bohemian no show. Bohemian não é uma música pra você tocar ao vivo de jeito nenhum. Pois é e aí o que que eles faziam? Eles tocavam a maior parte da música, mas a parte operística eles colocavam um playback tocando e eles saíam do palco e a crítica odiava isso profundamente, né?

Você tem essa o Queen durante esses anos lançando discos fazendo sucesso, mas eles não eram acomodados.

Luca: Eu só lembrei de uma coisa com você falando do News of the World. Nela tem a Sheer Heart Attack e eu lembrei que essa música tocou num filme que lançou ano passado chamado Baby Driver.

Tiago: Não, o Baby Driver foi Brighton Rock, que é do álbum Sheer Heart Attack, a primeira faixa. 

Luca: É verdade. Mas isso me lembra quais são as representações do Queen que a gente acha legais, o que odiou em filmes.

Tiago: Em filmes? Olha, boa pergunta.

Luca: Aproveitando que vai sair o filme do Queen, né? E tem séries também e tudo mais.

Tiago: É eu assim, eu não lembro imediatamente de tanta representação do Queen em filmes e séries, mas eu lembro que teve Hammer to Fall em Stranger Things, Bohemian fez parte de um filme de 1992 que eu não lembro o nome, mas foi um filme de bastante sucesso inclusive e alavancou a música em termos de popularidade, mas o Queen sempre teve muito presente. Eu acho que mais do que tudo isso, e aí a gente vai falar depois, da trilha sonora de Highlander que eles fizeram.

Luca: Tem a trilha sonora do Flash Gordon que é incrível. A primeira representação do filme que eu lembro é no Galinho Chicken Little, dele com “eu sou o Champion”. Mas de outras assim não me lembro de muitas.

Tiago: Pois é, mas tem muita coisa. E aí você tem essa fase. O Queen já estava um pouco insatisfeito. Eles tinham trabalhado com Roy Thomas Baker, tinham alcançado resultados positivos com ele e em 78 decidiram trabalhar com ele. Eu acho que aí que começa a fase de transição musical, porque nesse disco em si o Queen fica mais pesado e não tão teatral, sabe? Alguns textos até meio agressivos assim, em alguns aspectos. O Jazz musicalmente é um dos melhores discos do Queen, ele é um disco muito forte. O problema dele são algumas letras, ele tem umas letras muito machistas, né?

Luca: Se você não não entender as letras, se você não entender inglês, é um disco perfeito. Lendo elas, não é muito legal (risos).

Tiago: Inclusive a própria polêmica que eles fizeram com os videoclipes na época de Bycicle Race de mulheres seminuas correndo nele.

Luca: Não, mulheres nuas, né? Que eu me lembre são as mulheres completamente nuas nas bicicletas. Só obviamente não filmam de maneira genital e tudo mais, mas elas não tão sem nada de bicicleta.

Tiago: Eu faço questão de não ver também…

Luca: Eu também, mas são clipes bem desnecessários.

Tiago: Por que que eu acho esse primeiro disco da transição? O Queen até 77 foi uma banda que teve mais força por causa das músicas às vezes mais pesadas, mais teatrais e de 78 pra frente eu acho que eles começam a ganhar um aspecto mais de balada nas músicas. Então começa a ganhar muito mais força nas baladas. E o Jazz é o primeiro disco que começa a ter algumas baladas legais… Jealousy…

Luca: Don’t Stop Me Now!

Tiago: Isso! In Only Seven Days, que também é do John, tem algumas músicas lado B que tendem muito com esse lado da balada.

E você tem as faixas mais agressivas, como Bycicle Race, Fat Bottomed Girls.

Luca: Mas Bycicle Race não acho tão agressiva, só é alegre.

Tiago: Sim, é porque quando eu falo eu acabo pensando muito no clipe também, né?

Luca: Isso é verdade.

Tiago: Mas ele é um disco que a grande parte da crítica até viu como ofensivo, né? Tem Mustapha que tem referência religiosa louca ali e tudo mais.

Luca: Pois é, ela é meio sem noção.

Tiago: E aí nessa época você tem a crítica da Rolling Stone de 78, usando muito como referência News Of The World também, falando que o Queen era provavelmente a primeira banda fascista do mundo, né? Que é um exagero também gigantesco. Na verdade, era uma banda arrogante, a gente pode falar assim.

Luca: Banda meio sem noção, que tem muito.

Tiago: E eles provaram muito do veneno depois, com os anos depois.

Luca: Pera, eles?

Tiago: O Queen.

Luca: E você acha que com a fama que eles adquiriram, a crítica começou a pesar mais em coisas desnecessárias ou foi basicamente seguindo o que já ocorria? Porque no Queen II, por exemplo, você já disse que a crítica era bem pesada.

Tiago: Sim.

Luca: Cê acha que pesou mais ou foi a mesma coisa?

Tiago: Olha, do que eu percebo do número de avaliações da crítica, o Queen sempre foi destruído. Até mesmo depois da morte do próprio Freddie, você tem por exemplo o disco que eles fizeram com o Paul Rodgers em 2008, que a gente vai falar, que foi um dos discos que receberam uma das notas mais baixas em toda a década de 2000, sabe? Então assim, eu acho que pra crítica não importou muito isso não, eu acho as pessoas tomaram certo asco.

E por exemplo quando eles não usavam sintetizadores, o pessoal falava que eles eram arrogantes. Quando eles começaram a usar sintetizadores e isso a gente vai falar também…

Luca: …traíram o movimento (risos).

Tiago: É, vão dizer que a banda tá atolada em sintetizadores, eles não são roqueiros de verdade, eles têm muito mais pretensões pop. Então não adiantava mais o que eles fizessem, ia dar escândalo.

E aí Jazz foi produzido de novo pelo Roy Thomas Baker, mas é um disco tecnicamente inferior aos outros discos do Queen. Porque aquela bateria do Roger naquele disco parece uma lata. Eles ficaram muito insatisfeitos com o resultado técnico daquele disco e nunca mais trabalharam com o Roy. Então eles partiram pra Jazz Tour que foi uma das maiores, se não me engano, a maior turnê do Queen. Foi uma turnê muito problemática porque o Freddie começou a ter problemas vocais e isso ele já tinha tido em 1974. Falam que nos shows no Japão ele estava com uma voz muito ruim mas mesmo assim juntaram músicas gravadas em diferentes shows e fizeram o primeiro álbum do Queen lançado oficialmente que é o Live Killers, que é um disco que é geralmente o mais amado pelos fãs em termos de álbuns ao vivo do Queen e que eu não acho grandes coisas assim. Em relação aos discos lançados pela banda em atividade ele é sim melhor. Eu acho ele melhor do que o Live Magic de 1986.

Luca: Live Killers é aquele onde tem o We Will Rock You rápido?

Tiago: Sim.

Luca: Então é esse que eu gosto, porque é a única versão da música que eu acho que eu aceitava era rápida.

Tiago: Mas ela tem versão rápida também em outros ao vivos lançados após o fim do Queen também, porque eles gravaram outras apresentações. Mas dessa época de shows lançados oficialmente, assim, em atividade, eu acho que o Live Killers é melhor. Você tem uma seleção de músicas muito boas, você tem You’re My Best Friend, você tem Bohemian, você tem Don’t Stop Me Now, você tem Bicycle Race, você tem I’m Loving With My Car, você tem We Will Rock You, você tem Let Me Entertain You. Só que assim, como um disco feito durante uma turnê, ele tem algumas músicas do Jazz que são desnecessárias e que poderiam ter ganhado espaço no lugar de outras. Todo o show do Queen ali é um registro do álbum em si, eles valorizam bastante a questão do álbum. Então, não tem muito como exigir.

Aí nesse processo de transição do Jazz, eles estavam insatisfeitos e decidiram procurar outro produtor. E decidiram fazer singles antes de lançar um disco e ver a direção. Quem eles procuraram? Eles procuraram Reinhold Mack, que era um produtor que já tinha um método de trabalho muito diferente do Roy. Então assim, ele chegou pro Queen e falou pra simplificar o som. Eles gastavam muitas horas em estúdio fazendo isso, só pra fazer efeitos e tudo mais. Então, assim, as sessões eram muito longas.

Então, ele falou: não, vamos tentar fazer um negócio mais simples. E aí eles fizeram um chamado que é Crazy Little Thing Called Love, composição do Freddie. Ele foi lançado se não me engano em 1979, eles fizeram uma pequena turnê chamada Crazy Tour para apresentar essas músicas.

Eles começaram a adotar sintetizadores no disco seguinte que viria, mas era pouca coisa assim. A ideia mesmo era fazer um Queen mais simples e mais balada, que eu acho que é o disco mais bem sucedido da banda a fazer uma ponte entre essas duas fases que é o The Game. The Game pra mim tá entre os três melhores álbuns do Queen. E aí eles lançaram Crazy Little Thing Called Love, que é composição do Freddie, eles também lançaram como single Play The Game, que é o primeiro videoclipe que traz ele com o famoso bigode que eu acho horrível, inclusive.

Luca: Eu acho legal!

Tiago: A pior fase visual dele pra mim.

Luca: Não, acho mullet pior, cara.

Tiago: É, realmente. O The Game ele já deixou o cabelo mais curto e começou a deixar o bigode crescer. E o The Game é um disco de baladas, então ele tem músicas muito boas nesse sentido, tem Play the Game, Sail Away Sweet Sister, Need Your Loving Tonight. E tem as músicas mais pesadas ou mais experimentais, como a composição do John Deacon, Another One Bites the Dust.

Luca: Que eu gosto muito, que é outra música que tem referência no JoJo.

Tiago: E Dragon Attack, que é também uma música do Brian mais pesada. Então assim, é um disco que tem um equilíbrio muito grande. Só tem uma música que eu acho que estraga esse disco e não coloca ele no patamar do A Night at the Opera, que é Don’t Try Suicide. É uma das piores músicas do Queen e é a música mais arrogante que a banda já fez e a mais estúpida que o Freddie já teve ideia de compor. Porque você fazer uma musiquinha alegrezinha contra o suicídio é um negócio tão infame, mas tão infame

Luca: É o que eu tô falando… não sei se chega a ser arrogante, mas é muito sem noção cara.

Tiago: Sim, muito sem noção. The Game foi um disco que deu muito certo, não foi um disco que foi louvado pela crítica, mas foi um disco que já teve avaliações melhores, fez muito sucesso com o público, foi o disco da banda mais vendido nos Estados Unidos. Another One Bites the Dust foi o single mais vendido nos Estados Unidos, inclusive muito elogiado pelo Michael Jackson. Michael Jackson amava isso.

Luca: É uma música muito boa.

Tiago: É uma música muito legal e isso eu acho que reforça a força do John Deecon como compositor, porque ele sempre foi o cara menos presente na composição da banda, mas às vezes ele chegava com uma música que estourava tudo ali.

Luca: Sim e dá pra ver muito bem a presença dos sintetizadores, né?

Tiago: Não, essa não tem.

Luca: Não tem? Cara eu achava que era aqueles efeitos.

Tiago: Inclusive é interessante você falar isso, as duas únicas músicas do The Game que tem sintetizadores são Play the Game que tem aquela introdução com efeito e Rock It, que é do Roger. Another One Bites the Dust todos aqueles efeitos foram feitos com guitarra e piano.

Luca: Nossa cara, eu achei que era. Porque é um negócio tão absurdo…

Tiago: Ainda tinha preciosismo deles ainda no negócio, sabe? E aí o Queen dá muito certo, eles fazem muitas apresentações na América do Norte, na Europa, fazem os seus primeiros shows no Brasil em 1981, que foi na época que eles lançaram também a trilha sonora de Flash Gordon, e é nessa época que eles gravam o melhor show ao vivo lançado deles que saiu só em 2007 que foi o Queen Rock Montreal, porque ele tem uma lista muito boa, eles tiram assim algumas músicas que eu senti falta e que tinham no Live Killers mas tem algumas músicas do The Game que não poderiam faltar, né? Então pra mim é o melhor disco assim com relação ao tipo de apresentação do Queen e sem falar nos materiais lançados, ele tem blu-ray então é um material assim com a qualidade bem legal em comparação aos outros registros da banda. Mas aí a partir daí começou a derrocada, né?

Luca: Ah não, a maioria dos músicas que eu gosto começa a partir daí.

Tiago: É? (risos) Isso foi irônico?

Luca: Não, cara, pior que são três músicas, tem do Innuendo, tem do The Miracle e…

Tiago: Não, mas eles tem uma subida aí nesse meio termo, é porque a derrocada vem no chamado Hot Space. Antes deles lançarem o Hot Space, você tem um certo cansaço com relação a shows e é importante eu falar sobre isso porque isso vai servir como a base quando a gente falar lá do The Miracle. Então eles já estavam começando a ficar cansados de shows, as apresentações tinha as longas partes experimentais de guitarra do Brian que o Freddie ficava morrendo de tédio, fora dos shows ele só queria curtir a vida, ir pras baladas e pegar a galera. O John já era um pai de família, já tinha muitos filhos, ele tava querendo ficar na dele e o Roger tava ali na mesma sintonia com o Brian no sentido mais roqueiro.

E aí você tem as especulações de que o sucesso do funk, principalmente por causa do sucesso, da Another One Bites the Dust do John influenciaram a banda a fazer um disco mais dance. Uma imposição comercial, digamos assim. E aí a galera gosta de jogar muito a culpa nesse disco ruim no Freddie e no John. Só que eu não concordo com isso porque todas as composições desse disco são ruins. As composições do Brian são ruins, as composições do Roger são ruins. E além de tudo, não é a questão da falta de guitarra no disco que o pessoal fala porque o repertório é ruim, sabe? Staying Power é ruim, Put on Fire ruim, Calling All Girls é ruim.

Body Language… que música ridícula, né? Inclusive o Foo Fighters usou essa música como um teaser de humor pra turnê deles do álbum de 2011 que é eles tomando banho dentro de um banheiro como se eles tivessem tipo numa quase uma suruba gay tomando banho juntos e dançando a música.

Luca: E olhando uma perspectiva estética, a capa do álbum é horrível. Assim, a arte é bem feita, mas não é legal. Não é o tipo de coisa que me atrairia porque tem muitas capas assim que eu acho muito bem feitas e até do Queen eu acho muito bem feitas, coisa que aquela… 

Tiago: Principalmente as mais artesanais, né?

Luca: Não, até por exemplo Queen I que é só o brasão, eu acho muito legal. Aquela nem  tanto (risos).

Tiago: E a única coisa que se salvou realmente do Hot Space, que você pode falar que é acima da média do Queen é Under Pressure, a composição que eles fizeram junto com o David Bowie.

Luca: Que é uma pessoa assim grande, né?

Tiago: Bowie e eles se encontraram uma vez e aí a ideia era que o Bowie fizesse backing vocals na música Cool Cat, que é uma música horrível também do Hot Space. Bowie não gostou do resultado e parece que foi dias antes do disco ser lançado e pediu pra tirar. Mas aí a coisa não tava andando muito e aí o Bowie falou para fazerem uma música nova juntos e aí dizem que eles saíram e depois quando eles voltaram, não sei, não sei se é exatamente, mas a música surgiu a partir de um riff do John. E aí a coisa começou a acontecer e aí é uma colaboração principalmente dos quatro, mas dizem que principalmente em termos de composição quem escreveu mais pra música foi Bowie e Freddie e o riff do John, e é claro que as coberturas dos outros integrantes.

Luca: Eu imagino que a participação do Bowie na escrita deve ser muito grande porque eles já estavam muito cansados nessa época então ele deve ter assumido algum controle. E mostra uma diferença muito grande das músicas deles da época pro Under Pressure também.

Tiago: Sim e além de tudo também o Bowie sempre foi conhecido como um cara muito controlador. Porque ele como artista solo tava ali em cima do negócio, então ele queria produzir, ele queria trabalhar na mixagem, na masterização, e isso acabou virando certo problema para alguns integrantes do Queen. Porque o Freddie deixou as coisas acontecerem, ele tava bem passivo nessa época. Mas o Brian e o Roger, por exemplo, ficaram extremamente insatisfeitos com relação a mixagem. Tanto é que depois eles mixam de novo em 1992, que inclusive gosto mais.

E aí Hot Space obviamente que foi um disco destruído pela crítica, ele é considerado talvez um dos piores discos de melhores bandas de todos os tempos. É uma queda muito grande em comparação ao The Game e esse disco em termos de consequência fez mal pra banda. Mas enfim, a banda é claro que ela não queria admitir que o Hot Space era realmente ruim, quando eu acho entrevistas eles falando de forma negativa desse disco são coisas mais contemporâneas e eles continuar fazendo suas turnês de normalmente, nos shows aí você tinha pela primeira vez a presença de um tecladista tocando, que primeiro foi um cara da banda Moot the Hoople,e depois substituído pelo Fred Mendel que tocava nas nos shows nos shows norte-americanos. O Fred ele é canadense e ele tocou no The Wall do Pink Floyd.

Luca: Ah sim.

Tiago: E aí ele continuou com o músico de estúdio do Queen até 1984. Até oitenta e quatro na turnê do The Works. E já que a gente tá falando de The Works, o mau resultado do Hot Space fez a banda odiar uns aos outros porque você tinha digamos assim uma divisão. De um lado era Freddie e John, do outro lado era Brian e Roger, né? Principalmente porque Brian e Roger eles já tinham uma amizade antes do Queen ser formado. Eles já vinham de outra banda. E o Freddie e John eles tinham gosto mais parecidos, mais ecléticos, digamos assim, em termos de música.

Luca: É, e cada pessoa já tinha se tornado muito diferente uma da outra. Já crescendo de maneira diferente.

Tiago: É, os caras já tinham trinta e poucos anos, já tinham quase quinze anos de carreira já.

Luca: Então, você não consegue trabalhar 15 anos com a pessoa sem acabar odiando ela.

Tiago: E quando eles foram pro estúdio dizem que o clima era tenso. E aí eles pra meio que coibir a atenção eles resolveram fazer o seguinte: nós vamos lançar quatro singles e cada single é de autoria de uma pessoa. E isso é engraçado porque você sempre teve uma presença muito maior do Brian e do Freddie entre os compositores com músicas de maior sucesso. E o que acontece no The Works é exatamente o contrário. A música do Brian e a música do Freddie não chamam nem um pouco a atenção perto do Roger e do John. Então, o Freddie tem It’s a Hard Life, que é uma música que ele diz sobre a situação também pessoal dele de querer um relacionamento sério, que era bem diferente de Don’t Stop Me Now quando ele cantou que ele tava se sentindo o super-homem e tal. E você tem o Brian com Hammer to Fall, que eu falei que teve na trilha sonora de Stranger Things. Só que Roger escreveu Radio Ga Ga e John escreveu I Want to Break Free, que talvez é o maior sucesso do Queen no Brasil.

Luca: É verdade. Muitas pessoas sequer conhecem como Queen, mas conhecem a música.

Tiago: Sim e foi um sucesso muito grande na América do Sul, mas o Queen em termos de produção eles trabalham de novo com Mac e aí começa aquela coisa. Esse disco é muito datado, muito sintetizador, muita bateria eletrônica.

Luca: Aquela bateria do Phil Collins maldita que dominou a música nos anos oitenta. Cara…

Tiago: Tá vendo? O Queen também teve seus anos Phil Collins.

Luca: Todo mundo nos anos oitenta teve seus anos Phil Collins.

Tiago: E por fim o The Works tem um repertório legal, tem Radio Ga Ga que eu gosto. É uma música boa, mas não é assim grande música, I Want To Break Free eu acho legal, eles tem alguma outras músicas legais também eu gosto bastante. Os quatro singles no geral são muito bons. Aí tem eh a segunda faixa que eu não lembro exatamente o nome Tear It Up, que é uma música mais roqueira também mas aquele disco tivesse tido um timbre dos anos 70 eu acho que ele seria melhor assim.

É engraçado porque quando o Queen não usava sintetizadores parece que a música deles envelheceu melhor do que a música dos anos oitenta.

Luca: Não, eu tenho certeza disso, que músicas dos anos oitenta ficaram muito saturadas. Sim. Chegou um ponto que todo mundo queria parar com isso porque ninguém aguentava mais. Então até hoje fica muito datado como coisa dos anos oitenta com sintetizador exagerado.

Tiago: E quando falam em anos oitenta já penso naqueles clipes escuros, com pessoas com cabelão, fumaça.

Luca: Eu penso em Oingo Boingo cara. Cara, tu é qualquer música desse estilo pra mim é anos oitenta.

Tiago: E aí o The Works fez sucesso, levou a banda de novo pra América do Sul, pra um monte de lugares, só que em 84 o Queen, como você disse ser uma banda sem noção, escolheu tocar no lugar que tava em pleno regime de apartheit na África do Sul e isso pegou mal pra eles. Eles foram muito criticados por isso. Inclusive quando foi lançado aquele single político sobre Natal em 1984 que eu não lembro é do Bob Geldof, o Queen não foi chamado e eles ficaram muito ressentidos por isso, porque eles eram das bandas mais populares da época e aí eles viram que a carreira deles estava afundando mesmo diante do sucesso que eles tinham feito e tudo mais.

E uma coisa que eu preciso falar sobre o I Want to Break Free antes de pular é que é uma composição do John Deacon, não tem um significado exato sobre a música, mas dizem que é uma música muito sobre a timidez dele, porque ele sempre foi um um sujeito muito tímido.

Luca: E muitas pessoas atribuem a Freddie.

Tiago: E quem fez e quem teve a ideia do clipe foi o Roger Taylor, baterista, junto com acho que não me engano o diretor, o David Mallet, então Freddie não teve nada a ver com daquele clipe, inclusive acho que se tivesse rondado uma ideia como essa na cabeça do Freddie, ele não teria topado porque ele não gostava

Luca: … de expressar sobre isso de maneira aberta.

Tiago: É, então eles fizeram um clipe pensando mais no sentido de humor mesmo, mas aí a música acabou ganhando outra conotação, né?

Luca: É, isso ela ganhou mais eu acho depois da morte dele que foi atribuída somente a homossexualidade.

Tiago: E e aí eles tiveram a questão do apartheit, isso pegou muito mal pra eles. Aí fizeram um show no Rock in Rio do Brasil que restaurou o ânimo deles porque eles disseram por várias vezes que foi o melhor show da carreira deles, né? Às vezes eu acho que é…

Luca: Só mesmo pra encantar.

Tiago: É, porque às vezes ele fala eles falam que o melhor show deles foi no Rock in Rio 85 e às vezes eles falam com o melhor show deles veio depois, que foi o Live Aid, que eles foram convocados, que eu acho que faz muito mais sentido que eles foram o seguinte: eles foram convidados pra um show junto com um monte de bandas inclusive novas e antigas que tavam surgindo, você tinha Paul McCartney retornando aos palcos, depois da morte do John Lennon que estava há anos calado na dele. Então já tinham um monte de gente ali com motivos novos de aparecer. E aí aconteceu que o Queen subiu o palco durante vinte minutos e fez um público gigantesco que nem era fã deles literalmente cantar as músicas e fazer todos os gestos. E aí todos os outros artistas e a imprensa falava: poxa, foi o melhor show. Inclusive esse show do Queen é considerado um dos melhores shows de rock da história porque foi muito incrível ele cantando Radio Ga Ga e todo mundo fazendo a coreografia, galera que nem acompanhava.

Luca: Sim!

Tiago: Isso mostrava que havia uma carência muito grande de bandas de estádio nessa época e o Queen era uma banda que conseguia ter um principalmente o Freddie um talento pra isso.

Luca: Ele é uma pessoa muito carismática, então em qualquer show ele conseguia fazer as pessoas ficarem encantadas por ele. Até em músicas que como você disse não são tão boas quanto outras, como Radio Ga Ga, é uma música que eu gosto muito, mas não é o maior hit.

Tiago: Se fosse gravado por uma banda new wave, provavelmente passaria despercebido.

Luca: Se fosse gravado pelo Talking Heads ninguém ia perceber (risos). E olha que eu gosto muito, mas eu admito (risos).

Tiago: E aí o sucesso do Live Aid deu um up na banda. Eles falaram, agora vamos lançar um single, vamos vamos trabalhar porque a gente vai fazer acontecer. E aí eles lançaram em oitenta e cinco mesmo One Vision, foi uma música que eles fizeram quatro com a com a temática política, falando de Martin Luther King e nessa mesma época eles foram convidados para fazer uma trilha sonora do filme Highlander, que tava pra ser lançado, que foi um dos principais filmes dos anos oitenta. Só que o Queen já tinha sido convidado para fazer uma trilha sonora na época do The Works, mas eles acabaram não dando certo a trilha sonora, eles aproveitaram as músicas e fizeram o álbum. Nessa época eles fizeram a trilha sonora de Highlander, fizeram uma série de músicas inclusive que depois eles acabaram usando como A Kind of Magic…

Luca: …que é muito famosa até hoje.

Tiago: Who Wants to Live Forever, Princes of the Universe que inclusive recebeu um clipe bem legal com a participação do ator de Highlander lutando. Aí depois que eles partiram de Highlander, eles falaram em fazer um disco porque eles já davam dois anos sem lançar um álbum. Aí eles foram pro estúdio, pegaram algumas músicas que eles tinham feito em Highlander, remixaram outras, criaram novas ideias. Por exemplo, o Roger tinha feito A Kind of Magic, mas o Freddie ouviu a música e deixou daquele jeito mais dançante que saiu no CD.

E colocaram algumas músicas novas tipo Friends Will Be Friends, que é composição dele com John Deacon, mas a Kind of Magic pra mim é outro disco deles que sabe?

Luca: É meio seco, né?

Tiago: É desconexo, tem música ruim ali, tipo Pain Is So Close to Pleasure que, cara, que música irritante.

Luca: É uma coisa legal do Queen e uma coisa ruim do Queen que você sempre tá citando pelo menos uma música boa dele. Mas o resto do álbum não é legal, não é muito impressionante.

Tiago: O que mais me incomoda em A Kind of Magic é que ele tem essa característica de semi trilha sonora. Aí você tem também a questão da produção, ela num é tão datada quanto a do The Works, mas ela é plástica ainda, sabe? Cê vê aquela coisa de o teclado é muito da época, o timbre da bateria… Então é um disco que sei lá, eu prefiro ouvir as performances ao vivo dessa época. E nessa época eles fizeram a última turnê que foi uma turnê geralmente europeia e eles fizeram algumas gravações de vídeo de todos os shows dessa turnê que foi algo que eles nunca tinham feito.

Inclusive eles tem aquele show deles em Wembley que acabou virando blu-ray que você tinha uma câmera focada em cada integrante e você tinha ainda as câmeras do show. Já me falaram que você consegue angular um integrante só e assistir o integrante inteiro durante o show, sabe? E aí eles tocaram muitas muitas músicas dessa época, é um repertório maioria da década de oitenta e com base nesses shows foi lançado o segundo álbum ao vivo do Queen oficial, que foi o Live Magic, que é um disco que tem uma edição pesada.

Luca: Aquele que tá com a jaquetinha amarela na capa?

Tiago: Sim, exatamente.

Luca: É da fase onde o Freddie tinha a figura pelo menos a imagem dele mais icônica.

Tiago: Sim, sim.

Luca: Que até hoje é como todo mundo se lembra dele. Ele com a jaquetinha amarela, o bigode, o cabelo pequeno.

Tiago: E foi exatamente no final da fase dele com o bigode, porque ele já ia mudar a aparência dele em seguida. E aí durante essa época o Queen já tava em extrema tensão. Eles tinham se odiado durante a época do The Works, já tinham vivido essas crises do apartheit, dos shows, mas eles estavam ainda meio brigados entre si. E aí durante o último show o John que sempre foi o cara mais tranquilo da banda, isso porque durante a turnê ele começou a fumar que era a coisa que ele não fazia.

Luca: Deveria mostrar um estresse muito grande.

Tiago: Ele pegou o baixo dele e saiu arremessando no palco e quebrando tudo e aí todo mundo começou a olhar assim. Aí depois perguntaram, que que cê fez isso e disse assim, pelo menos no que eu li ele falando, ah, eu não sei.

Luca: Estava estressado.

Tiago: E aí o Queen tirou férias, basicamente essa época. O que o John fez? O John foi lá, começou a montar umas uns projetos musicais de funk. O Brian começou a trabalhar em um CD solo que só sairia em 1992 que era o Back to the Light. O Roger já tinha tido alguns discos solo porque ele era o cara que mais escrevia pra banda e muita coisa que ele escreveu era rejeitada. Mas aí ele montou uma nova banda chamada The Cross. E por fim o próprio Freddie primeiro começou a lançar um single solo, um cover chamado The Great Pretender em 1987. Só que nessa época ele foi diagnosticado com HIV.

Luca: Só que ele manteve um certo segredo. Só tava começando o processo de definhar.

Tiago: Ele começou a definhar na verdade um pouco depois. Até 88 ele até manteve a aparência dele de uma forma muito clara. Só que se o problema é que a imprensa britânica sempre foi muito muito agressiva com relação a isso.

Luca: Muito incisiva sempre.

Tiago: Então, assim começavam a falar que ele tinha HIV antes mesmo dele ter pegado a doença antes e ele já tinha já tinha negado isso tipo em 85, 86 que era na época do então ele só fez continuar o que tava acontecendo. O que que aconteceu? Primeiro ele só contou pra Mary Austin, que foi a primeira namorada dele lá nos anos 70 porque ela manteve uma relação com ele de proximidade porque ele gostava muito dela. No fundo ele ainda era apaixonado por ela, ele contou pra ela porque ela era espécie de secretária dele, ele começou a fazer o tratamento.

Luca: Lembrando que na época o tratamento pra HIV era extremamente pesado, destruía a pessoa, se muito te davam alguns anos de vida, sabe? Então ele era muito prejudicial à saúde.

Tiago: Sim. E aí até hoje dizem pessoas com HIV dizem que o primeiro mês de tratamento é horrível assim em termos de dor e tudo mais. E aí basicamente começou a fazer o tratamento e ele foi atrás da Montserrat Caballé, é uma cantora de ópera bastante conhecida, ela inclusive foi presa (risos).

Luca: Não conheço ela (risos).

Tiago: Ela foi presa com alguma coisa de sonegação fiscal, mas enfim.

Luca: Não é muito incomum.

Tiago: Mas ela tá muito muito idosa já hoje, ela tem oitenta e tantos anos. Ela é uma cantora de ópera, bastante conhecida, do qual Freddie era extremamente fã e ele chegou pra ela e fez o convite deles gravarem o disco de ópera Juntos, que era o Barcelona. Ele confidenciou pra ela sobre a questão da doença, porque ele não ia esconder isso pra ela e pediu o segredo. Então a Montserrat sabia e aí eles partiram e gravaram. Juntaram-se com um produtor chamado Mike Moran e fizeram o Barcelona que foi lançado em 88.

No final de 87, início de 88, ele resolveu juntar o Queen. Só que ele não resolveu juntar o Queen por causa da doença dele. Na verdade, foi uma ideia meio que coletiva da banda. E aí como é que fica a questão da turnê? Antes deles terminarem o disco eu acho que o Freddie já tinha em mente que não ia ter turnê, mas não ia ter turnê basicamente por causa da doença dele. Ele já tinha falado pra imprensa tempos antes que em algum momento ele não ia querer mais fazer show pra não ficar parecendo um velho no palco fazendo coisas que ele não dava conta mais de fazer como ele fazia quando era novo.

Luca: Inclusive acontece hoje em dia com Queen (risos).

Tiago: Com muitos rockstars com mais de setenta anos…

Luca: Incluindo o Queen, os Rolling Stones…

Tiago: Os Rolling Stones ainda eles ainda têm uma performance boa, mas por exemplo, se você pegar Motorhead, The Who que só tem dois integrantes, é um negócio triste assim de se ver. Mas enfim, ele já tinha tomado essa decisão. E todos os integrantes decidiram o seguinte, olha, a partir de agora pra acabar com todos os nossos egos, todas as composições serão creditadas como Queen, não interessa se uma pessoa fez sozinha, é de todo mundo. E aí assim eles fizeram, passaram o ano de 88 inteiro trabalhando e aí que que a fase pop eu acho ter uma redenção porque eles começam a pelo menos ter um pouco daquele espírito do The Game de conseguir mesclar um pouco das baladas…

Luca: Só que sem ser tão datado.

Tiago: Sim, sim, porque eles já tavam saindo dessa época já tudo mais e aí 88 eles passam o ano inteiro trabalhando no álbum que se chamaria de The Miracle. Pra mim em termos de performances vocais é o melhor disco que caracteriza Freddie, porque a voz dele tá muito boa nesse disco. Ele tava no início da doença, então a doença ainda não tinha afetado muito ele e como ele tava muito descansado com relação de turnês e tudo mais, dá pra ver que ele volta a ter aquele preciosismo na interpretação que ele tinha que ele tinha na década de setenta ele começou a perder nos anos oitenta com relação dos próprios shows porque a performance nos shows nas turnês, começou a ficar um pouco desgastada. E The Miracle é ele cantando bem, é o Brian novamente entrando com as múltiplas camadas de guitarra, é todos eles participando, então é um disco por exemplo que o John participa bastante escrevendo The Miracle que é uma música muito boa. As duas músicas eles não são tão lá muito boas…

Luca: É só uma pergunta meio idiota, como é que cê sabe quem produziu a música sendo que eles tinham dito esse lance do crédito ao Queen?

Tiago: As entrevistas com o tempo foram meio que falando quem trabalhou. Por exemplo, I Want It All é uma música que mesmo se não soubesse dá pra ver na cara que é do Brian. Aí você tem por exemplo The Invisible Man, que é composição do Roger Taylor.

Luca: Que eu adoro.

Tiago: E a minha música favorita do álbum que é o Was It All Worth It, que é a última música do CD que é a composição do Freddie. Inclusive essa música é muito autobiográfica no sentido de que eu acho que se ele pensou assim que ele poderia morrer logo após aquele disco, um tempo depois, aquela música seria a música final deles. Então a música que ele fala sobre o passado dele, sobre a vida agitada dele e ele fica se questionando se valeu a pena. E aí no final da música ele fala, valeu a pena. É uma música muito boa, muito bem construída, é um muito dos anos setenta. E aí eu acho que é o equilíbrio sabe? Porque você tem o Quindos múltiplos vocais, você tem o Queen das camadas, você tem o você tem Queen roqueirão, você tem os solos, você tem tudo nesse disco.

Pode ser que o repertório não seja a nível de um The Game, não é mesmo, mas bem melhor em termos de consistência do que os três outros discos da década de oitenta. E aí o que acontece? E ele lançou esse disco e não falou pros integrantes sobre a doença, pelo menos o que eu já li, ele manteve escondido. Por isso que a questão das turnês nem era exatamente que a banda decidiu não fazer turnês por causa da doença.

Luca: Eles sequer sabiam.

Tiago: Ele tinha uma suspeita. O David Richards, que era o produtor do Queen, achou que o Freddie tava com câncer.

Luca: Ah sim. Até porque a aparência dizia muito sobre isso, né?

Tiago: Sim. Até aparecer os sinais do sarcoma, né? E tudo mais e aí em 89, quando eles lançaram o disco, eles tinham que fazer pelo menos os clipes e aí eles começaram a pensar ideias mais elaboradas, pra fazer uns clipes legais. Então, The Miracle pra mim tem os melhores clipes do Queen, tem o The Invisible Man que é tipo jogo de videogame, você tem Breakthru em cima de um trem e é ele se performando em cima de um trem em uma velocidade até razoável, inclusive tem uma atriz que performa com eles que era a namorada do Roger Taylor e inclusive eles tiveram um seguro de vida de dois milhões de libras se não me engano por causa dos riscos de morte que eles poderiam ter, principalmente algumas cenas que o Freddie doente tava lá deitando lá no negócio, quase batendo a cabeça no chão mesmo.

Luca: Nossa!

Tiago: Mas é um clipe muito legal, é um clipe enérgico, só que você começa a ver a partir dos clipes do Queen, por exemplo, I Want It All ele tá aparentemente normal, ele deixou a barba crescer, que era que era o novo queria adotar, né? Mas quando você já vê por exemplo no clipe de Breakthru você já vê que ele tá começando a emagrecer, que ele tá mais magro do que normalmente é e as roupas dele geralmente assim cobrem mais a roupa pra esconder algum tipo de lesão e tudo mais. Quando ele lança o clipe de Scandal, o que é se não me engano o quarto single, a música já faz umas referências as polêmicas que a imprensa fazia em torno deles principalmente com relação ao HIV.

Luca: O próprio nome da música já dizia.

Tiago: A composição é do Brian inclusive porque o Freddie não se sentia tão seguro assim nesse sentido. Então quem falava muitas vezes por ele com relação aos sentimentos era o Brian e o Roger. Então acontece que Scandal ele tá muito mais magro, sabe? Tipo muito magro mesmo, embora continuamente movimentando e tudo mais você começa a ver que tem uma coisa errada com ele ali. Quando eles vão fazer o último clipe de The Miracle, eles adotaram uma nova estratégia, nós não vamos performar nesse clipe, nós vamos contratar um grupo de crianças para fazer as cenas do clipe e tudo mais. E aí tiveram as crianças só que no final do clipe os integrantes do Queen aparecem para dar um reforço, né? E tal e aí você vê que o Freddie ele não tá tão magro nesse clipe, mas ele tá com um aspecto envelhecido como se ele tivesse envelhecido muito em poucos meses, sabe? E aí nessa época que eles estavam gravando os clipes, o Freddie voltou pro estúdio.

Luca: Inclusive um dos sintomas dos efeitos colaterais dos remédios até hoje pra HIV é o envelhecimento precoce. Assim, a pele fica mais enrugada, tem aparência mais velha.

Tiago: E ele não era tão velho, ele tava ali com quarenta e um anos.

Luca: Ele já tinha uma aparência de uma galera com cinquenta e muitos, sabe?

Tiago: Sim, sim. Ele já tava bem envelhecido e aí aconteceu de que depois do lançamento de The Miracle eles deram só umas entrevistas, eles não fizeram shows em nada, a especulação da imprensa cresceu muito. Eles foram receber um prêmio de banda do ano em 89 pelo Brit Awards que é uma das maiores premiações britânicas e nessa época o Freddie já tava um pouco mais magro e aí a galera começou a fazer especulações assim enorme. E ele voltou pro estúdio sem falar com os integrantes e ele já começou a trabalhar em algumas músicas, ele pegou uma música que sobrou de Barcelona que foi All God’s People e ele chamou os integrantes da banda e falou: olha galera, eu tô voltando aqui pro estúdio pra trabalhar, não sei o que cês tão entendendo, mas eu preciso contar pra vocês. Olha, eu tenho isso aqui e é isso, pronto. E pelo menos o que eu li foi a única vez que ele mencionou sobre o problema dele pros integrantes. E os integrantes entenderam, mantiveram o silêncio e partiram pro trabalho, pro disco que se chamaria Innuendo. A meta é que o fosse lançado em 1990, mas a saúde dele começou a decair muito e aí o disco acabou sendo atrasado. Então nesse disco em si ele tem algumas faixas muito boas junto com as faixas muito ruins, eu acho ele inferior ao The Miracle. A galera menospreza muito o The Miracle.

Luca: Mas o Innuendo eu gosto muito assim.

Tiago: Sim, ele ele é um disco que tem uma que tem uma coragem maior em algumas músicas, principalmente em termos de experimentações e tudo mais, mas aí tem algumas músicas ali que eu vou te falar… Delilah, que assim, uma música que obviamente eles não tinham como negar, mas é uma música que ele que o Freddie fez pra gata persa dele.

Luca: E falando sobre a capa do Innuendo, eu acho muito boa.

Tiago: Sim. Muito boa. Tem algumas músicas muito boas naquele disco, mas eu não vejo aquele disco muito como Queen, um Queen 100%, porque primeiro lugar, o Freddie tava muito fraco, então as composições dele diminuíram.

Luca: Era quase como músicas de homenagem ao Queen feitas pelo Queen, sabe?

Tiago: Porque assim nos discos ele costumava escrever aí umas quatro a cinco músicas nos álbuns. Nesse disco do que eu me lembro agora de cabeça que ele escreveu sozinho mesmo foi All God’s People que foi sobra do Barcelona e I’m Going Slightly Mad que eu amo aquela música de paixão e Don’t Try so Hard que algumas algumas fontes dizem que foi escrita junto com mas algumas dizem que foi só ele. Eu acho que ela é muito mais Mercury do que Deacon.

Mas enfim, aí a voz dele primeiro tá mais enfraquecida, você consegue ver que a doença já começou a afetar a voz dele, ficou aguda e menos encorpada.

Luca: É, ele perdeu até o fôlego, né? Pra falar forte do jeito que ele falava.

Tiago: Por exemplo, Don’t Try So Hard eu sofro pra ouvir aquela música porque parece que ele tá sofrendo tanto pra cantar aquela música e a música fala Don’t Try So Hard.

Luca: Contraditório pra caramba, né?

Tiago: Só tem duas músicas daquele disco que eu percebo que a voz do Freddie tá mais intacta, que é All Gods People, que foi gravado em 88, ou seja, bem no início da doença, que foi uma sobra, né? E Ride the Wild Wing, que é a composição do Roger. Porque é uma música que não é tão aguda, então não demonstra tanto, mas você vê que a voz dele já tá um pouco afetada ali. Mas Don’t Try So Hard é muito sofrida, These Are the Days of Our Lives já é um pouco também complicada, são músicas bem agudas. Innuendo em si tem uma versão demo na internet que o Freddie gravou em 89 que a voz dele tava muito melhor do que a voz que saiu no CD.

E no aspecto de composição. Como eu falei não tem participação muito grande do Freddie e também não tem muita participação do John. O John não assina nenhuma canção nesse CD.

Luca: Por que?

Tiago: Não sei se ele tá voltado a questão da família porque assim, nas entrevistas do Queen as aparições públicas quem tava fazendo era só Brian e Roger. John e Freddie tinham sumido.

Luca: Até porque os filhos do John deviam estar com uns quinze anos aí, né?

Tiago: É, o filho mais velho dele hoje já tem mais de quarenta anos, então na época…

Luca: Ele já devia ter uns 20.

Tiago: E o John nessa época também eu acho que ele também tava começando a se retirar da vida pública também, ele já não era tão ativo na vida pública e aí nesse disco em si ele não compõe nada, ele apenas faz uma colaboração em The Hitman e em alguns casos algumas fontes falam que ele ajudou Freddie em Don’t Try So Hard, mas que isso não é comprovado em fonte nenhuma.

Nesse sentido, por que que então que não é o disco roqueirão que as pessoas falam que é a volta do Queen dos anos setenta porque esse disco é Brian e Roger.

Luca: Que é a galera mais voltada ao rock.

Tiago: Então, assim, esse disco do Queen não é mais roqueiro por uma questão de consciência da banda. É por uma questão de que o lado mais funk, o lado mais pop, o lado mais balada não tava presente. Então, você pode ver que tem Headlong e outras músicas que o Brian poderia ter usado no primeiro disco dele, que inclusive ele ia usar duas dessas músicas do disco solo dele, né? Então, esse disco do Queen, ele ficou assim, ele é um disco que tem muitas músicas que eu gosto, mas eu acho que ele teria sido muito melhor se a banda tivesse tido mais composições do Freddie e do John individuais e também se eles se eles não tivessem feito o disco num estágio tão pesado da doença. Ou talvez se o Fred tivesse ido antes do lançamento de Innuendo eles teriam feito o que eles fizeram em Made in Heaven, que ficaram mais de um ano trabalhando no CD e trabalharam bem os timbres né? E tal. Eu acho que no Innuendo disco que talvez precisaria de uma de uma sinalização melhor, ele é um disco meio apressado assim porque eles não tinham tempo, eles tinham que correr com o negócio.

Luca: Eu não culpo eles, o disco saiu muito bom e por ter saído no meio dessa confusão toda já torna pra mim pelo menos melhor.

Tiago: Eu acho que se ele estiver sentindo as mesmas condições que eles tiveram no The Miracle pra produzir, ele teria sido um um disco no nível do The Miracle fácil, mas aí a galera supervaloriza ele, sabe? Sei lá, eu já vi gente achando que Innuendo é melhor do que o Jazz. Nunca! Innuendo é bom, mas não é tanto assim.

E aí quando eles foram lançar o disco, eles tinham os desafios do videoclipe, né? Aí eles fizeram um videoclipe que foi feito durante as sessões de Innuendo, mostra um Freddie até saudável, até bem assim. Embora tenha umas cenas dele cantando realmente a música que foram gravadas meses depois que ele tá super magro.

Luca: E muita maquiagem no rosto, né?

Tiago: Sim, pra esconder as coisas e aí depois de Headlong eles decidiram fazer algumas estratégias, que é lançar clipes em imagens de arquivo pra não ficar gravando imagens novas ou coisas assim. Eles fizeram isso com Innuendo e The Show Must Go On que foi bem depois.

Luca: The Show Must Go On é uma música que eu adoro de um jeito, cara. Acho ela muito boa.

Tiago: Inclusive eu fico pensando quão melhor ela seria se o Freddie estivesse em boas condições para ajudar nos backings, porque você percebe que aquela música os backings são só do Brian e você percebe uma coisa mais específica. Se fosse um vocal do Queen mesmo um trio ali cantando, nossa, ia ser demais aquela música em termos musicais. Aí chegou em fevereiro de noventa e um e eles lançaram I’m Going Slightly Mad, que foi um clipe que o Freddie já tava extremamente magro e doente, mas ele tava contribuindo com o roteiro, ele tava feliz naquela situação, aí colocaram roupas pesadas nele pra ele parecer mais gordo, passaram muita maquiagem e fizeram o clipe em preto e branco. Que pra mim é um dos clipes mais divertidos do Queen, mais interessantes, assim, em termos de ideia, né, o clipe sobre a loucura e tudo mais. Aí, depois disso, eles fizeram um clipe que é o clipe tenso da época, né, que These Are the Days of Our Lives, que foi gravada em maio de noventa e um e que mostra o Freddie bem magro e que foi gravado em várias horas…

Luca: Aquele no estúdio?

Tiago: Isso. É o clipe que depois fez a imprensa fazer um alvoroço. Na época do Innuendo, a imprensa britânica, os paparazzis já estavam fazendo porta na casa dele. Eles gravaram o disco nas montanhas suíças se não me engano pra ter sossego porque não tava dando pra gravar ali em Londres naqueles arredores e aí depois desse clipe de These Are the Days of Our Lives se não me engano foi em junho, foi em junho foi o final de maio não tenho certeza, mas eu sei que foi durante três dias nesse tempo, Freddie entrou em estúdio pra gravar, ele já tava começando a gravar desde o final do Innuendo algumas músicas novas e deixando…

Luca: …de arquivos.

Tiago: É, pra eles trabalharem depois. Então, ele fez, por exemplo, a A Winter’s Tale…

Luca: Made in Heaven também.

Tiago: Não. Made in Heaven é do CD solo dele de oitenta e quatro.

Luca: Nossa, tava muito tempo então.

Tiago: Grande parte daquelas músicas já tinham sido gravadas assim em outras em outros discos, mas enfim, ele escreveu três músicas novas para aquele disco, que foi a A Winter’s Tale, que é uma música que ele gravou em uma única vez e ele já deixou uma parte pronta lá pro pessoal fazer os backings inclusive. Ele gravou só pedaços de vozes de uma música chamada You Don’t Fool Me que depois eles acabaram montando e conseguiram montar uma música, uma música ruim, mas é uma música que pelo menos pra satisfazer o desejo dele de de ter aquilo transformado em música e Mother Love, que é composição do Brian com o Freddie que inclusive o Luca uma vez tava lendo a letra e tal.

Luca: Cara, que coisa dolorosa de se ler. 

Tiago: Aí é a questão, Freddie não conseguia exprimir os sentimentos, mas o Brian e o Roger faziam isso por ele e aí ele gravou essa música durante três dias. Você pode até perceber pela gravação que que foi gravado em dias diferentes pela questão do timbre da voz dele, que cê tem um pedacinho ali de corte de edição de áudio, pelo menos eu percebo.

Luca: Eu já não tenho tanta habilidade.

Tiago: Ele gravou aquela música dificilmente em três dias porque ele não tava conseguindo, é uma música difícil e ele cantou muito bem inclusive pra quem já tava nas últimas. E aí ele falou pro Brian: Brian, olha, eu vou voltar aqui outro dia pra terminar, faltava só um verso pra terminar a música e aí ele não voltou mais pro estúdio. E aí o Brian teve que gravar isso depois que Freddie morreu.

Freddie morreu em novembro de noventa e um a morte dele. Inclusive o Freddie fez uma piadinha nos estúdios, é história aí que tem nos livros, eu não sei se é realmente real, que ele chegou pro Brian e falou assim de uma forma indireta que a morte dele faria bem pra pra carreira do Queen em termos de popularidade, porque o Brian ia lançar o primeiro CD solo dele e garantiu que essa carreira solo vai dar certo, mas não deu certo.

Luca: Nossa (risos).

Tiago: Mas não teve nem um perto da popularidade que um artista solo de rock teria.

Luca: Não, mas olhando assim um dos poucos artistas de rock solo que teve sucesso foi o Paul McCartney. Um dos poucos mesmo, sabe? Se for olhar o Roger Waters, qualquer outro até um certo momento também… O próprio George Harrison teve uns álbuns muito bons. Mas em geral o álbum solo de cantores de banda rock não dá muito certo.

Tiago: Realmente. E aí aconteceu de que ocorrendo a morte do Freddie, e as cinzas do corpo dele foram entregues e só ela poderia saber onde que o corpo foi depositado, inclusive essa política se mantém hoje. Eu já li em alguns lugares falando que os membros do Queen também sabem, mas tem outros lugares que eu já li, que é somente ela. Então aí eu não sei quais fatos são reais e aí aconteceu de que após a morte eles pensaram, não, vamos abrir uma instituição para que ajude pessoas. O Freddie foi objeto de muita crítica com relação principalmente a galera da militância, né? Falando que se ele tivesse sido aberto sobre as questões dele, teria ajudado muita gente e tudo mais. O que eu discordo porque assim…

Luca: Se ele fosse um artista atual ajudaria, mas na época não eu não acho.

Tiago: É, eu acho que ficaria muito mais a questão do preconceito.

Luca: Porque como até hoje as pessoas se classificam como homossexual e até hoje muita gente classifica como se como algo errado. Eu não acho que na época ia ser algo muito positivo. E assim, óbvio que quem sofresse com A mesma questão poderia se sentir até bem sabendo que ele tá procurando ajuda e portanto eu também devo procurar mas não acho que ia ser algo muito bem recebido pela mídia ou qualquer pessoa que iam propagar isso como olha a banda do cara que tá fodido, então como até hoje fazem isso.

Tiago: Iam apontar a vida dele como pecaminosa e etc. Eu acho que tanto a questão de você retratar a sua sexualidade em público quanto a questão também de revelar uma questão como essa é um negócio de cunho pessoal. No fim das contas, eu acho que a individualidade da pessoa tem que ser respeitada nesse sentido. Não dá pra fazer com que uma pessoa se force a fazer algo em nome de algo coletivo que talvez vai fazer muito mal a ela também. É essa confusão entre privado, público, sei lá, mas enfim.

Aí eles fizeram concerto de tributo ao Fred em abril de noventa e dois, esse concerto teve participação do Bowe cantando na Under Pressure, a Annie Lennox do Sweet Dreams cantando também junto com ele, Alx Rose, James Hetfield do Metalica cantando Stone Cold Crazy. O Metallica tem um cover dessa música que eu acho ótimo. Tony Iommi do Black Sabbath, Robert Plant, do Led Zeppelin que inclusive às vezes as pessoas ficam pensando, ah qual dos dois é o melhor vocalista? Freddie ou Robert?

Luca: Eu prefiro Freddie.

Tiago: E o Robert foi cantar Innuendo no show e ele não deu conta porque ele tava gripado. E tanto é que ele pediu pra depois tirarem a apresentação dele do filme principal, porque ele não gostou do resultado. Mas enfim, tem uma grande quantidade de artistas nesse show, o show foi um sucesso e aí Bohemian foi relançada como single e vendeu pra caramba, que era o grande sucesso da banda, em noventa e três eles se reuniram de novo em estúdio John, Brian e Roger pra poder trabalhar nas composições restantes, aí eles viram que o material não era suficiente.

Por exemplo, de coisa realmente nova era Is a Beautiful Day, que foi gravado no The Game, que era uma faixa incompleta, cê tinha as três faixas, então eles tiveram que preencher o restante com coisas de outros álbuns já utilizados ou de lado B de singles. Então, por exemplo, teve uns lado B de que eles lançaram que é uma música que eu gosto muito chamada My Life Has Been Saved, e aí eles pegaram essa música, o John refez o instrumental dela, tirou a parte a questão da guitarra do Brian e colocou um negócio mais de piano e refez a música e eles pegaram algumas músicas do disco solo do Freddie e eu não tenho certeza disso, mas eu já cheguei a ler em algum lugar que o título que é baseado na música Made in Heaven que é do disco solo do Freddie, lançado em 85, que é o Mr. Bad Guy, eles foram escolhendo esse nome por causa de uma votação e meio que todas as músicas desse disco falam sobre a eternidade e tudo mais.

Em termos técnicos de produção, ele é um dos melhores discos do Queen, porque ele é muito corretinho em vários aspectos.

Luca: Eles tiveram tempo pra trabalhar também, né?

Tiago: Sim. E mais o repertório é aquela coisa, disco póstumo, sempre tem aquele aspecto inferior aos discos quando você faz em plena vida, então.

Luca: Fechando isso tudo pra entrar no último bloco, se fosse pra recomendar pra uma pessoa que às vezes escutou uma ou outra música do Queen falou, não, não acho tudo isso. Pra recomendar um álbum, qual você recomendaria?

Tiago: Se a pessoa sente que ela vai se interessar por um lado mais roqueiro do Queen é sem dúvida A Night at the Opera ou Sheer Heart Attack. E se a pessoa quiser algo mais pop, mais balada, é The Game. E aí a partir disso o restante.

Luca: Eu já diria o Jazz.

Tiago: É?

Luca: Porque eu acho que Jazz é o mais acessível pra todo mundo. Que você não precisa ser muito fã de rock, nem de nada. Cê escuta o Jazz meio fácil. Eu acho uma boa recomendação. 

Tiago: E até o The Works também de oitenta e quatro, ele também é muito acessível nesse aspecto, né? Agora no aspecto pop realmente além do The Game, o The Miracle também eu acho que ele funciona em alguns porque ele é um é um pouco de tudo ali. Pra finalizar o que que aconteceu com o Queen desses tempos pra cá. O John se aposentou, ele participou da última vez de um single feito em homenagem ao Freddie em 1997, com Roger e Brian.

Roger e Brian resolveram continuar gravando um monte de coisa, fazendo show e o John nunca foi muito simpático a essa ideia. Ele praticamente rompeu com os colegas de banda depois que eles resolveram gravar We Are the Champions Robbie Williams em 2001 pra um filme. E aí durante esse tempo a banda foi indicada à calçada da fama, compositores do Hall of Game, em 2005 eles em dois mil e quatro resolveram se juntar com Paul Rodgers que é um dos grandes cantores de rock, embora pouco conhecido porque ele só se deu mal durante toda a carreira e montaram o Queen+Paul Rodgers. Eles lançaram se não me engano três discos ao vivo e um disco em de estúdio que foi o primeiro disco de estúdio de compositores de integrantes de metade do Queen chamado The Cosmos Rocks, que tem umas músicas legais.

Luca: E eu achei muito legalzinho.

Tiago: Sim, eu gostei e ele é um disco massacrado pela crítica. Depois disso, aí um tempo depois, logo um tempo depois, os integrantes do Queen falaram que a reunião deles com o Paul foi um erro e aí eles conheceram o Adam Lambert, começaram a tocar com Adam Lambert, tão tocando juntos aí a um bom tempão, já lançaram um CD ao vivo e pelo o que eu vi eles não tem planos de lançar um disco inédito, vai sair o filme do Queen e a gente vai falar sobre o filme do Queen, as expectativas no próximo bloco pra finalizar.

Luca: Eu acho que vai ser ruim (risos). Porque como costuma acontecer com filmes que retratam vidas de pessoas, no caso a vida de diversas pessoas ao mesmo tempo ele vai romantizar muitas coisas. Só que ali não tem muita coisa pra se romantizar, já era um clima meio tenso tal, começou pelo menos a ficar tenso ali e não era um lugar muito agradável, vão ter que fazer alguma coisa divertida e que tinha cenas tensos e que não sei o que e que às vezes era só um lugar meio merda, sabe? Eu não acho que vai ser algo verossímil. E começou chato pra caramba, se não for tão verossímil assim, não tem porque eu ver um filme do Queen num vai representar a vida real?

Tiago: É, eu também concordo com isso e fico também com muito pé atrás, justamente pelas coisas que a gente falou que o Brian e Roger representam metade do Queen e um lado do Queen. Então, o John, por exemplo, ele não quis estar envolvido no projeto, o John na verdade ele deu uma benção, digamos assim pro Roger e pro Brian falando olha vocês fazem o que vocês quiserem, só não vou participar e aí o Brian e o Roger ficaram supervisionando o projeto, o que me preocupa bastante porque eles representam um certo tipo de visão sobre o Queen.

Então eu acho que além de concordar totalmente com o Luca que eu acho que além de romantizar eles vão diminuindo a participação principalmente do John com relação a banda porque eu acho que ele é o elemento mais fraco, inclusive o Roger já falou uma vez que o Brian disse em dois mil e quatorze que o John é uma pessoa frágil socialmente, inclusive no episódio sobre autistas na cultura pop eu até falei dos traços autistas que o John tem e aí o Roger disse em 2013 que o John é um sociopata, ele usou essas palavras mesmo, sociopata. Não sei se ele usou em outro contexto, mas a palavra que ele usou foi essa, então eu achei bastante pesado.

Então, eu acho que uma banda com tanta tensão assim, não vai conseguir fazer um retrato legal a não ser se chamasse jornalista, chamasse biógrafo pra trabalhar. Porque a história mais verossímil acerca da história a história acaba demonstrando que o Queen é uma banda de integrantes pobres que ganharam o estrelato, viveram tensões nesse período, crises.

Luca: Passaram a se odiar (risos).

Tiago: Teve momentos de glórias e quedas ao mesmo tempo, mas que no fim da carreira eles se reuniram e passaram

Luca: … não a não se amar, mas pelo menos conviver bem.

Tiago: É, conviver bem e eu acho que talvez quem sabe até não amar, porque a situação era tão de fragilidade entre eles.

Luca: Sim, é verdade.

Tiago: Eles não tinham mais como ficar competindo o ego porque não competiam composições e tudo mais. Mas o trailer já me deixou com o pé atrás em algumas coisas, alguns por exemplo, o trailer foca bastante na questão do sucesso de Bohemian, né?  E a discussão de Bohemian em termos jornalísticos mesmo do que já foi pesquisado é o seguinte, que o Freddie entrou no estúdio e falou defendeu a música e que o Brian e Roger ficaram confiantes, aparentemente sobre o sucesso que aquela música poderia ter e como o próprio Freddie como compositor, só que o executivo executivo da gravadora ficou com o pé atrás e o John tava concordando mais com o cara da gravadora, ele tava com o pé atrás, não que ele tava contra os outros integrantes da banda. Já no trailer, qual que é a cena? O John tá rindo de tudo que o Freddie fala, meio que concordando, sabe?

Luca: Pois é, eles fazem piadinhas assim de minutos. Ah, se você não consegue, cê acha que seis minutos chupando sua mulher é muito tempo não sei o que ela gosta.

Tiago: E é uma coisa que o Freddie falaria, mas não sei se o John…

Luca: Eu sei, mas não tem como ficaria assim, o povo, pô, cala a boca!

Tiago: Inclusive porque o Queen era uma banda emergente ali, eles tinham acabado de fazer o primeiro sucesso, eles não estavam tão em alta.

Luca: Eu não acho que o Freddie teria essa coragem toda porque ele ainda não era o super star

Tiago: Ele tava prestes a se tornar um mas ele ainda não era. E também a questão dos relacionamentos sexuais dele, porque oficialmente o Freddie teve dois relacionamentos sérios assim que duraram o longo que foi a Mary Austin que foi na década de setenta e o Jim Hutton que foi nos anos oitenta, que foi o namorado dele até o último tempo de vida dele. Então ele sempre teve essa coisa de relacionar tanto com homens quanto com mulheres. Pode ser que ele tenha se relacionado mais com homens, mas o filme parece que demonstra meio que esconde esse negócio mais homossexual.

Luca: E falando de mais de fofoca sobre o filme que eu fiquei lendo eu só acho que ele vai ser meio fracassado em algumas coisas porque o clima lá dentro de produção do filme tá horrível tá? O cara tá jogando cabeça no ator porque toda hora tá brigando. Eles nem tavam conversando mais porque o Rami ele tava atuando e o Bryan Singer tava muito descontente com a taça porque infelizmente tem que representar uma figura icônica. E brigaram, o cara jogou cadeira no outro e nem conversava mais, ele passava uma ordem pra uma pessoa e essa outra pessoa falava isso.

Tiago: Ou seja, eles tão representando o Queen até nos bastidores.

Luca: É (risos). Porque não tá legal.

Tiago: Nossa, é realmente muito complicado assim. Eu acho a caracterização dos atores, a maioria deles são muito fiéis, o que faz o Brian é muito parecido, sabe? É o John, pelo menos o ator que faz o John no início da carreira. Eu quero ver como é que vai ser depois da mutação, porque o Brian não muda, né? O Brian continua com o cabelão até hoje. Agora eu quero ver o John porque ele tá com o cabelo curtinho e depois ele junta com aquela cabeleira estranha e tudo mais, enfim a esperança é que Bohemian não seja pelo menos desastroso, né?

Luca: Sim, eu adoraria ver um filme muito bem feito sobre isso, infelizmente eu acho que vai ser ruim.

Tiago: Eu acho muito em termos de filmes de bandas ele ainda tem chance de se tornar um dos filmes mais populares nesse aspecto. Porque pelo menos tecnicamente ele tá parecendo muito bom. O trailer pelo menos tá deixando.

Luca: Não, o trailer foi legal. Eu só sou chato com os detalhes, né? Mas pra galera mesmo eu concordo que vai ser um filme possivelmente muito bom. Eu tenho medo que seja um fracasso por causa das coisas dos bastidores, mas pra mim eu não vou gostar.

Tiago: Até meu irmão de oito anos quer assistir o filme porque ele gosta pra caramba. Mas enfim diga aí nos comentários e também aí nos indique a sua opinião do como é que vai ser o filme do Queen que tá pra ser lançado esse ano né?

Luca: É isso, brigado pela atenção e até mais.

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Equipe Introvertendo Escrito por: