Introvertendo 197 – Autistas no ENEM

Anualmente, adolescentes e adultos de todo o Brasil fazem o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM. A prova é um desafio para qualquer indivíduo e para algumas pessoas com deficiência algumas barreiras podem ser ainda maiores. Neste episódio, nossos podcasters relembram os problemas que enfrentaram em edições anteriores, os recursos de acessibilidade que obtiveram e gostariam de ter tido, bem como a estrutura da prova e outras questões. Participam: Luca Nolasco e Willian Chimura. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Luca: Sejam bem-vindos ao podcast Introvertendo, um podcast sobre autismo e hoje sou eu, Luca Nolasco, que vou apresentar. Hoje nós vamos falar sobre autistas no ENEM e conosco temos o grande Willian Chimura.

Willian: Olá pessoal, eu sou Willian Chimura, faço mestrado em informática na educação mas ainda assim continuo fazendo o ENEM. Acho que eu já fiz pelo menos umas quatro vezes ou cinco, eu não consigo mais me lembrar.

Luca: Lembrando sempre que o Introvertendo é um podcast feito por autistas e uma produção da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Luca: Como o Willian tinha dito lá na introdução, ele fez muitos ENEMs, eu fiz entre quatro, talvez três. Nós vamos começar agora já falando sobre uma das partes que me deixa tenso, que é a parte da inscrição. Como que é com o Willian? Você coloca que é candidato com deficiência, como é que você faz geralmente?

Willian: Bom, na primeira vez que eu fiz o ENEM, em 2009, eu morava em uma cidade do interior de São Paulo. Então apenas o fato de conseguir ir para o local de prova já era algo assim grandioso. Então mesmo porque naquela época também não eu não tinha o diagnóstico de autismo. Eu tive um rendimento baixo, uma performance baixa ali. Principalmente por conta de não ter muita tolerância mesmo naquela época. Mas sobre essa questão do autismo em si, eu posso lembrar das duas últimas experiências que em uma certa edição do ENEM que eu fiz a inscrição, pela primeira vez eu notei ali que havia essa opção ali então de você selecionar ou no cadastro como um candidato, como pessoa com deficiência e também havia opção interessante na minha perspectiva de selecionar que eu não precisava necessariamente de apoio.

Ou seja, no cadastro perguntava se eu era pessoa com deficiência, selecionava que sim, mas que daqueles apoios ali eram oferecidos naquela edição eu não precisava deles. Em outra edição do ENEM não havia mais esse fluxo, o fluxo mudou e aí era uma lógica num sentido de que já perguntava diretamente você precisa de apoio? E aí se eu selecionava não e eu não tinha nem sequer a opção de colocar no cadastro que eu era pessoa com deficiência. Então lá no extrato final do cadastro mostrava que eu não era pessoa com deficiência porque eu nem sequer tive a oportunidade de dizer que eu era uma pessoa com deficiência.

Luca: Nossa, você estava falando e no comecinho só estava: “meu Deus, ele fez ENEM em 2009!”. E 2009 literalmente não sabia o que era ENEM, eu via muita gente em minha volta falando, mas eu não tinha nem ideia do que era ENEM, eu estava no ensino fundamental.

Willian: Naquela época a gente tinha pouquíssimas pessoas, na verdade, não era todo mundo que fazia o Enem. Ainda naquela época ainda tinha aquela discussão sobre se valia a pena ou se não valia a pena fazer o ENEM depois de sair do ensino médio. É porque era principalmente vestibular na época. Não existia o SISU, por exemplo. Se eu não me engano ainda naquela época existiam algumas faculdades que usavam o ENEM para compor parte da nota, não era nem de perto tão comum quanto é hoje que até instituições privadas usam o ENEM ou você ganha bolsas dependendo da sua da sua performance no ENEM. Hoje em dia há um cenário bem diferente do que em 2009 certamente.

Luca: O Otávio Crosara, aqui do podcast, foi da primeira turma de medicina que entrou pro ENEM na UFG lá por volta de 2014. Então foi algo bem mais recente. O meu primeiro ENEM, por exemplo, foi em 2016, também não preciso nem dizer que o meu rendimento foi muito baixo. Eu fiquei muito assustado com a opulência da prova, era uma coisa intimidadora, prova gigantesca, diversas pessoas em minha volta, foi uma experiência bastante aterrorizante na época. E eu também não havia marcado como pessoa com deficiência porque na época eu nem tinha diagnóstico. Assim que eu comecei a marcar como pessoa com deficiência, eu não requeria assistência como aumentar o tamanho da prova nem nada disso, porque não precisava. A única coisa que eu exigia na inscrição era mais uma hora de prova porque apesar de eu fazer prova sempre relativamente rápido, eu eu tinha um receio de não conseguir entregar a tempo, não conseguir transcrever a tempo sem ficar com muito medo disso. Então eu exigia uma hora além de prova.

Willian: É interessante você ter falado sobre essa questão do tempo extra, porque eu pensei muito sobre isso. E uma das edições do Enem que eu marquei como pessoa com deficiência, eu marquei ali que era possível que não eu não queria nenhum apoio mas mesmo assim eu fui para uma sala em específico que havia mais pessoas com deficiência. Então eu via outras pessoas com mobilidade reduzida, por exemplo, cadeiras mais espaçadas, haviam mais assistentes ali pra caso houvesse a necessidade de algum apoio. Então na verdade acabou sendo uma experiência bem agradável pra mim mesmo eu não solicitando nenhum apoio formal. Mas o simples fato de estar naquela sala mais espaçada confesso que foi bem mais agradável porque tinha menos estímulos distratores no ambiente. E sobre a questão do tempo extra, eu refleti muito se eu precisava ou não deste apoio. Porque a priori eu sempre pensei num sentido assim: eu sempre fiz provas sem apoio, eu sempre fiz provas sem a necessidade de ter um trato específico para isso. Logo, eu considero que eu não preciso.

Mas depois, pensando melhor, eu começo a anotar por exemplo como as próprias exigências do ENEM se relacionam muito a dificuldades específicas que se relacionam com autismo. Como por exemplo, essa questão de interpretação mesmo. A gente sabe que tem uma tendência de interpretação literal no autismo que não está presente tanto na população típica e o ENEM exige uma dessas competências. E eu entendo, por exemplo, que se fosse pra fazer uma redação com teclado, eu conseguiria fazer muito rapidamente porque as minhas ideias fluem muito mais rápido quando eu estou manejando ali uma interface digital, eu consigo manipular o texto melhor e etc. Mas quando eu vou fazer uma redação com o lápis é muito mais difícil, então tem um custo de tempo muito maior e porque no meu entendimento eu tenho essa tendência de sempre pensar de uma forma mais redundante, de pensar de uma forma mais literal. E se eu tiver um tempo a mais, eu consigo notar: “ah OK, não é isso que é exigido, não é isso que eles estão esperando nesse texto”, e aí eu consigo entender e modificar.

Mas é claro daí a gente tem limitação do tempo e eu sempre acabo tendo uma performance um pouco pior do que eu teria se eu tivesse um pouco mais de tempo. Então neste sentido é um raciocínio recente meu. Mas eu começo a pensar que sim seria totalmente justo solicitar esse tipo de apoio, tanto é que este ano eu farei o ENEM e eu solicitei este apoio de uma hora extra, porque eu entendo que é minimamente justo. Afinal de contas toda prova, todo o exame é delineado pensando nos padrões interpretativos do desenvolvimento neurotípico. E eu sim preciso de um tempo a mais, eu entendo as exigências, mas definitivamente eu preciso sim de um tempo a mais porque eu tenho uma tendência neurológica diferente.

Luca: Sim, e até o meu caso que eu geralmente não preciso porque eu consigo ler a prova inteira e responder meio rápido, eu aconselho a quem tem esse direito de ter uma hora a mais de prova ir atrás dele. Porque mesmo que você talvez não faça o uso dessa hora inteira, essa liberdade de conforto de: “eu não preciso fazer isso aqui correndo, eu não preciso me desesperar porque está faltando uma hora só e eu ainda preciso escrever a redação”, ter esse conforto é algo libertador para fazer a prova. Já é um nervosismo a menos pra passar.

Pra você ter ideia Willian, eu fiz minhas últimas provas sempre em colégios que eram direcionados mais a alunos que marcaram que tinham deficiência como candidatos. Então era realmente também menos pessoas ou era algo com mais funcionários para ajudar, era algo bem mais calmo. Mas ainda assim, quando eu faço uma prova, eu fico tão focado. Eu lembro muito vagamente que algum aluno infelizmente caiu da cadeira, teve convulsão, e cara… eu estava tão concentrado na prova que eu não percebi. Eu simplesmente continuei a escrever e só parei pra pensar o que aconteceu depois que a prova tinha acabado. Tanto é que pra mim isso é só uma nuvem de memória. Nem lembro exatamente o que ocorreu porque passou reto pra mim. Eu estava tão concentrado na minha própria prova que eu não vi mais nada. Pra mim é como se nem tivesse acontecido.

Eu acho que essa é a principal diferença inclusive de quando eu estava fazendo o ENEM nas primeiras vezes e pras últimas, porque conforme eu fui treinando, eu consegui me concentrar mais no que eu estou fazendo. Eu consegui fazer sem me distrair sem ficar olhando pros outros, eu só me concentrava no que eu estava fazendo. Você tem algum jeito específico de fazer a prova ou você só faz questão A, B, C, D E, vai fazendo do começo ao fim normal?

Willian: Então, essa é uma pergunta muito relevante que inclusive eu sinto que eu ainda não desenvolvi uma técnica de prova efetiva. Eu sinto que eu não deveria estar fazendo a prova do jeito que eu geralmente faço. Mas também não há muita motivação de minha parte em querer ter desenvolver mais técnica de prova em específico, porque no final das contas eu não estou precisando desse score ou dependendo dele para entrar em uma instituição ou enfim. Eu realmente faço o Enem porque esse teste de conhecimento sempre me motiva a engajar alguns dias que seja em revisitar o conteúdo do ensino médio, em assistir a correção da prova, então eu acabo aprendendo mais. E eu realmente acho que eu infelizmente desperdicei muito tempo no ensino médio, na verdade não tem nada a ver com autismo. Eu acho que tem a ver com a realidade de todo o brasileiro que tem essa sensação.

Eu acho que o ENEM é uma dessas formas de estar em constante contato e pelo menos uma vez por ano ter esse período aí de uma semana, duas semanas que eu geralmente fico engajado em revisitar esse conteúdo do ensino médio e aprender coisas novas. Então eu não me preocupo realmente com técnica de prova a não ser na redação. Porque eu realmente me sinto um pouco frustrado em não conseguir um bom desempenho na redação. Mas, de resto, não diria que eu não tenho nenhuma peculiaridade autística em fazer a prova.

Luca: Eu estudei em colégio particular onde toda semana eu tinha que fazer um simulado de ENEM. Eu nunca fazia porque eu tinha preguiça, mas nesta os professores eram muito focados em ensinar dicas de como fazer o ENEM, mas nunca funcionou nenhuma dessas comigo. Eu demorei alguns anos pra descobrir o meu próprio jeito de fazer, o jeito que eu fico mais confortável, que no final das contas não é tão convencional assim. Porque eu pego a prova e leio ela como se fosse um jornal mesmo, sabe? Leio do começo ao fim. Perguntas que eu sei responder na hora assim, de num estalo, eu já respondo e marco. Mas no geral, se eu preciso fazer um cálculo, se eu preciso pensar mais do que três segundos, eu passo pra frente. É só pra eu ter conhecimento do que eu vou tratar ali. É a mesma coisa com a redação. A redação eu leio toda a proposta, escrevo um um rascunho muito mal feito, que aí enquanto eu estou fazendo a prova depois eu vou pensando em um corpo pra essa redação.

Então no final das contas eu passo mais de uma hora, quase uma hora e vinte, uma hora e meia, só lendo toda a prova. Aí depois que eu vou começar de novo sabendo que eu vou tratar já fazendo as perguntas com mais calma, fazendo uma por uma. E às vezes, se eu não souber, eu simplesmente pulo. Eu não tenho isso de ficar muito travado em uma pergunta tentando fazer. Só pulo pra próxima, outra hora eu olho.

Diferente do Tiago, que está em quase todo episódio do podcast que quando morava em Goiânia fazia questão de conhecer todos os bairros da cidade, eu não conheço a minha cidade tão bem assim. Então quando eu sou designado a provas, muitas vezes é em bairros que são do que eu fui, em lugares que eu nunca fui. Chamar aplicativo de carro às vezes é inviável porque muita gente chama ao mesmo tempo. Então é sempre um aperto pra mim isso. Então eu sempre tento ir uma semana antes múltiplas vezes num lugar pra ver como é que é, ver onde é o lugar, como que eu vou chegar ali, qual o meu plano B, o meu plano C, tento preparar tudo isso com antecedência. Você tem alguma coisa assim ou é até diferente Willian?

Willian: Eu realmente penso na verdade sobre essa questão de qual suporte é oferecido. E entendo também as dificuldades de se oferecer um suporte que faça sentido para o autista. Afinal de contas, a gente tá falando de uma série de apoios que podem ser necessários de acordo com cada indivíduo. E no meu caso certamente um apoio que eu gostaria de solicitar seria nesse sentido de me localizar ali no ambiente de prova. Não estou querendo me referir ao trajeto em si. O trajeto de fato é complicado e tal, mas eu entendo que isso foge muitas vezes do escopo da realização da prova em si, é difícil de esperar que a equipe de alguma forma forneça esse nível de suporte porque de fato pode ser não razoável.

Mas, por exemplo, quando se trata de uma edição do ENEM em uma universidade, por exemplo, num campus gigantesco, realmente entendo que seria desejável ter alguma espécie de triagem talvez ou identificação ali logo nos portões da pessoa com deficiência, se necessário, ter um guia, ter alguém ali a partir daquele momento para já conseguir oferecer algum suporte pra essa pessoa e dar um pouquinho mais de autonomia pra ela já desde essa etapa aí da passagem do portão.

Luca: É o momento mais difícil para muitas pessoas. Essa correria de chegar apressado no sol, desesperado, muitas vezes é o que deixa muita gente já muito mal antes da prova.

Willian: É, eu historicamente sempre tive problemas na verdade em encontrar não somente no ENEM. Mas isso é comum, sempre eu gostei muito de assistir bancas de defesa pública e também gostava muito de fazer cursos de extensão sempre que disponível e tal, e aí eu ia pras universidades e eu sempre me perdia. Era uma coisa assim realmente difícil de se conseguir localizar.

Eu também falo geralmente que eu gosto muito de aeroportos porque eu nunca me perco nos aeroportos. Eu sempre vejo uma sistemática que faz sentido, eu sempre consigo ver as placas, os trajetos coloridos no chão e muitas vezes vejo esse mesmo sistema sendo adotado em hospitais. Então acho bem bacana, isso funciona. Mas por algum motivo isso não está sendo muito bem adotado nas instituições de ensino. Eu realmente sinto falta de um apoio nesse sentido. E hoje em dia me planejo muito tempo com antecedência, não pensando no Uber que vai falhar, mas sim uma vez que eu pego o Uber e estou lá no campus e dentro do campus para conseguir localizar onde que vai ser o meu local de prova.

Luca: Eu nunca tive que ir pra uma universidade, então não tive esse problema durante a prova. Era sempre só escola municipal que era meio longe sabe? Depois que você já passou por experiências de problema sensorial, às vezes fica incomodado com o cheiro, com barulho de ventilador, alguma coisa assim já te perturbou durante as provas?

Willian: Eu realmente acho que não, na verdade eu definitivamente diria que manter a atenção na prova de fato é um dos maiores desafios do ENEM. Mesmo porque a gente está falando de uma prova de noventa questões, cinco horas, e é realmente complicado. E depois de quatro horas de foco é meio improvável que você não se distraia com algum outro estímulo por menor que ele seja. É claro que no caso do autismo a gente pode ter o efeito contrário a isso, como você disse dessa situação do hiperfoco que você teve na prova e não ficou sensível em relação às outras coisas que aconteciam no seu ambiente.

Mas eu diria que eu não tenho muitos problemas em relação a isso. A não serem algumas exceções. Lembro que teve uma edição do Enem que tinha uma construção do lado, então assim é meio complicado, mas isso não tem a ver com autismo, teria a ver com o bom senso mesmo.

Agora tentando me lembrar de algumas situações que me tiraram do foco da prova, eu consigo me lembrar de algumas situações que eu tenho que interagir com os fiscais, como por exemplo ir ao banheiro. Tem todo aquele protocolo que o fiscal vai lá com o detector de metal pra ver se você está com algum ponto ou alguma coisa assim. E tem um protocolo que eles esperam que você cumpra pra saber se por exemplo na sola do seu sapato tem alguma coisa ali de metal. E eles te dão essas instruções pra você mexer. Abra os braços, levanta a perna, não sei o que e eu realmente não entendia essas essas instruções.

Na verdade eu tenho certeza de que na próxima edição do ENEM eu vou pedir pra ir pro banheiro e já vai vir um pouco dessa ansiedade porque eu sei que eu não vou conseguir entender adequadamente as instruções que são dadas a mim. Porque pra mim me parece instruções abstratas demais e eu não sei exatamente o que fazer. Às vezes eu acabo mexendo algum membro ali que não era para eu mexer e o fiscal pode enfim debochar, dar risada, e isso acaba sendo um pouco chato e de fato me distraindo da prova.

Outra coisa também que geralmente me distrai é a contagem de tempo dos fiscais. Porque eles têm um sistema de colocar os horários na lousa. E eles vão apagando os horários conforme o tempo vai passando. Só que tem um um problema, que eles usam o mesmo espaçamento, a mesma tabulação, para medir o tempo. Na primeira coluna da tabela seria de meia em meia hora e nos últimos intervalos de tempo seria de quinze em quinze minutos. E eles estão ocupando a mesma quantidade de espaço nessas tabulações ali dessa tabela que eles colocam. Isso me confunde, porque eu tenho uma expectativa de que cada uma daquelas células seria equivalente a meia hora. Eu vejo a priori aquela tabela e quantifico a quantidade de horários que estão ali escritos na lousa como o tempo restante e equivalente a meia hora. Eu posso acabar me perdendo aí na minha noção de tempo e então certamente essas são coisas que me distraem da prova. E eu não sei se você tem a mesma sensação sobre algumas coisas ali que te traz alguma ansiedade ou enfim que você sempre sabe que não vai funcionar direito na hora da prova.

Luca: Cara, essa do tempo eu espero que você não passe por isso desta vez porque comigo geralmente os fiscais usavam adesivos disponibilizados do próprio ENEM onde conforme passava meia hora e depois quinze minutos eles arrancavam o adesivo que cobria o tempo e falava: “passou meia hora”, entendeu? Ele vai arrancar um adesivo pra mostrar que passou tal tempo e a diagramação era bem feita, então não tinha esse problema. Eu espero que façam o mesmo durante a sua prova dessa vez.

Mas comigo uma ansiedade que eu tinha grande demais e que no final das contas se fez realidade era que por alguns anos eu tive próteses de metal no tórax. E eu tenho um costume de beber muita água enquanto eu estou fazendo prova, muito muito. Mesmo assim, se eu levo garrafinha pet dessas médias, eu bebo três, quatro delas durante a prova inteira. E com isso eu preciso ir ao banheiro mais de uma vez. Como eu tinha próteses de metal no tórax, eu não só tinha que levar meu laudo provando que eu tenho essas próteses como porque elas apitavam quando passam um detector de metal.

Como ocorreu de eu ter que esperar mais de 10 minutos talvez uns 20 pra que chegasse uma médica ou uma pessoa especializada que olhasse minhas cicatrizes e confirmasse: “não, isso aqui realmente é uma prótese, ele não está tentando colar”. E isso é protocolo, tinha que seguir, mas é algo que me deixava muito ansioso. Aquele processo de ficar esperando em pé do lado do fiscal, sem ter o que fazer, sem ter como voltar para minha prova, vendo o tempo passar e sem poder fazer nada sobre isso. Porque o fiscal também não pode fazer nada sobre isso. Então foi um processo meio difícil que ocorreu duas vezes comigo. Isso era uma ansiedade gigantesca minha que infelizmente se fez verdade. Mas fora isso, minhas experiências foram surpreendentemente boas. Eu nunca tive grandes problemas, nunca me trataram mal e nem debocharam de mim como infelizmente possam ter feito contigo.

E você, ouvinte, você tem alguma história curiosa do Enem? Alguma dificuldade que ocorreu contigo ou até situação engraçada? Se você tiver, fale conosco pelas nossas redes sociais, porque é sempre muito bom ler esse tipo de coisa. Eu acho que é só isso do episódio, então, até a próxima. Muitíssimo obrigado.

(Fim do episódio)

Luca: E conosco é só o Willian Chimura. Não, acho que ficou… ficou muito, ficou muito diminuindo.

Willian: Que coisa pobre (risos)

Luca: Ficou meio condescendente, né…

Willian: (Risos) Sim!

Luca: Eu queria fazer um negócio íntimo, divã e ficou: “ah, só este reles mortal”. Desculpa aí (risos).

Willian: (Risos) 

Luca: Deixa eu fazer de novo, perdão.

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Equipe Introvertendo Escrito por: