Introvertendo 196 – Sedentarismo

Muitos autistas, assim como população em geral, tem problemas em manter uma regularidade de exercícios físicos e também uma alimentação saudável. No contexto do autismo, ainda também há alguns problemas frequentes com sobrepeso por conta de algumas medicações. Neste episódio, nossos podcasters relembram o que mais odiavam nas aulas de educação física, o que levaram de exercícios para a vida adulta e como tem feito para manter a vida menos sedentária. Participam: Michael Ulian, Paulo Alarcón e Thaís Mösken. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Thaís: Um olá pra você que é ouvinte do Introvertendo, esse podcast feito por autistas para toda a comunidade. O meu nome é Thaís Mösken, eu sou autista, tenho 30 anos e fui diagnosticada em 2018. E hoje eu vou ser host deste episódio em que a gente vai falar sobre sedentarismo.

Paulo: Olá pessoal, sou Paulo Alarcón, diagnosticado em 2018 e já fazem vários dias que eu não alcanço minha meta de dez mil passos da Mi Band.

Michael: E eu sou Michael Ulian, o Gaivota, sedentário profissional há três anos e autista diagnosticado desde os 14.

Thaís: O Introvertendo é um podcast feito por autistas com a produção da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Thaís: Existem alguns estudos que fazem algumas correlações entre autismo e sobrepeso e da atividade física para pessoas com autismo, mas eu queria começar essa conversa falando sobre uma coisa que, apesar de não ter o embasamento científico aqui, tem uma relação com como foi a nossa vivência. É uma coisa que a gente traz bastante aqui no Introvertendo, então o que leva a gente a fazer ou a ser mais sedentário? E, do meu ponto de vista, tem uma questão relacionada tanto ao nosso modo de vida, começando na escola, com a dificuldade de interação que existe ali na aula de educação física e costuma ser um momento mais caótico que muitas pessoas crianças gostam muito e que pra algumas outras crianças é o terror. Eu era uma dessas crianças pras quais nesse momento era terrível porque tinha um monte de gente gritando e se encostando, se empurrando e eu não conseguia entender muito bem o que tava acontecendo ali, era uma uma situação incômoda. E eu comecei a atrelar esse meu problema com a educação física, com vários outros esportes. Então, eu passei a maior parte da minha vida relacionando esportes como algo ruim, algo que pra mim trazia mal estar e eu demorei muito pra descobrir que existiam muitos outros esportes e as coisas podiam ser diferentes. Então, eu queria primeiro saber de vocês, Michael e Paulo, se vocês tiveram também esse tipo de vivência, essa experiência negativa do esporte quando vocês eram, principalmente crianças.

Paulo: Eu era sempre o tipo de pessoa que era o último a ser escolhido, era o que sobrava e ia pro time que tivesse faltando ou era o café com leite, né? Enfim, o time ia ficar com um a mais e esse um a mais ia ser eu. E eu era tão ruim nos esportes que eu não conseguia contar realmente como um um jogador útil. Em algumas situações já chegaram até a falar que eu mais atrapalhava do que ajudava. No princípio, o esporte mais comum era futebol, eu demorei muito tempo para entender quais eram as regras do futebol, então eu não sabia o que fazer a não ser chutar a bola, mas não sabia pra qual lado chutar a bola. Parece que as crianças pegam isso de forma automática, observando os outros, mas eu não compreendia e acabava ficando de lado. Então eu sempre fui uma pessoa péssima na escola, na educação física, isso foi até mais ou menos meus 13 anos quando eu encontrei um esporte que eu gostava mas não significa que eu era bom, que era o basquete. Mas eu peguei gosto e teve gente que me explicou como é que funcionava e aí eu comecei a jogar, mas até aos 13 anos eu era bastante sedentário. Essa foi a primeira fase de sedentarismo que eu tive. Realmente havia essa dificuldade da interação tanto na educação física como com as outras crianças mesmo nas peladas do bairro.

Michael: No meu caso isso foi uma das coisas que eu meio que fui salvo pela minha capacidade de não ligar pra nada. Principalmente nessa época, eu simplesmente estava cagando pra esse tipo de interação social. Por exemplo, quando chegava a hora do recreio, essas coisas, eu simplesmente estava tão focado em: “puta que pariu, que bichinho diferente vai ter debaixo daquela pedra que eu tô olhando já faz um mês no recreio?” do que a “puta que pariu, as outras crianças estão me excluindo porque eu prefiro ficar olhando bicho debaixo das pedras do que ficar interagindo com elas”. Foda-se, eu estou cagando pra elas. Os bichos são bem mais interessantes. Daí o único problema disso que eu tinha era quando chegava na hora da educação física mesmo. Mas assim novamente, eu estava menos interessado naquela situação social ali, eu estava menos interessado do que as pessoas achavam que eu queria com aquela interação social. E era mais um saco de tipo: “puta que pariu, finalmente a gente saiu daquela porcaria de sala, finalmente eu posso andar e eu tenho que fazer algo que tão mandando pra mim. Vá a merda!”. Então basicamente o que me irritava mesmo por exemplo era essa questão de ser sempre o último a ser escolhido. Isso me irritava muito mais, porque puta que pariu, tinha que ficar sentado lá até alguém me escolher e isso é um saco do que: “ah, mas que saco hein? Tão me excluindo de novo”. Eu não tinha essa noção de que as pessoas estavam me excluindo ou de que isso era relevante de alguma forma, não, simples queria me mexer porque eu passei com a maior parte da manhã sentado numa cadeira com o mínimo de estímulo. O que me ferrou um pouco nisso foi no ensino médio porque eu fui pra uma escola em que simplesmente era tudo cimentado, era uma quadra fechada que os professores diziam sabe que era a melhor quadra da cidade e pra mim era um saco porque era basicamente um piso de madeira, estéril com paredes estéreis e nada pra chamar minha atenção lá. Então no ensino médio era obrigado a ficar geralmente sentado porque daí nessa época os professores eram bem mais liberais, você raramente tinha que ser obrigado a fazer algum exercício, fazer alguma coisa. Minhas aulas de educação física já eram compostas de ficar sentado até a aula terminar, porque não tinha nada pra eu fazer lá.

Thaís: É, esse ponto que o Paulo comentou de mais atrapalhar do que ajudar, eu certamente era uma dessas pessoas que mais atrapalhavam do que ajudavam em todos os esportes que a gente teve nas na educação física ao longo dos vários anos. Eu lembro que em muitos momentos eu perguntava pro professor se eu não podia ficar estudando a teoria enquanto as pessoas ficavam ali jogando, não podia ser lá ler um manual, alguma coisa desse tipo, que era alguma coisa da minha preferência. Hoje eu entendo que a ideia de ter os esportes na escola é justamente pra tentar melhorar o entrosamento entre as crianças, melhorar a interação mesmo entre as crianças, mas se a gente for pensar hoje em dia com o que a gente sabe sobre autismo, esse é um processo muito pouco inclusivo. Então programa de educação física como um todo é pra mim pelo menos me parece muito focado em quem é neurotípico e quem não for provavelmente vai ser excluído daquilo, não vai conseguir absorver o que é a proposta, e muitas vezes vai sair com esse tipo de sensação de que aquele é o momento perdido, aquela é a pior aula, a pior disciplina e por aí vai. Não sei se vocês já chegaram a pensar sobre isso, mas vocês tem alguma ideia ou algum conhecimento de programas relacionados a esporte que sejam mais inclusivos nesse aspecto e que realmente funcionem bem para pessoas mais parecidas com a gente?

Paulo: Olha, eu sinceramente não conheço. As minhas experiências positivas com o esporte foram com atividades fora da escola. Eu vejo que a ideia da educação física seria isso de combater o sedentarismo das crianças, incentivar as crianças e as adolescentes depois a praticar uma atividade física, mas talvez ali no meio também identificar alguns possíveis talentos para esportes que depois poderiam ser lapidados. E isso é com certeza muito focado em pessoas neurotípicas. E na prática na verdade acaba sendo alguma coisa como deixar a galera jogar bola, jogar vôlei e não encher o saco, né?

Thaís: É, eu tenho realmente a sensação de que geralmente as experiências positivas que a gente tem em relação aos esportes a gente acaba encontrando por nós mesmos, digamos assim. E depois que eu já era adulta, comecei a fazer caminhada. Gosto muito de sair andando enquanto eu estou ouvindo alguma coisa, por mais que eu não observa bem informação apenas ouvindo, mas eu ficava ouvindo podcast de várias coisas enquanto eu estava andando ou então fazer yoga pra mim também é uma coisa que hoje em dia é bastante agradável. E uma coisa que eu tenho a impressão é que quando a gente começa a gostar de um desse esporte, quando a gente encontra algum que interessa pra gente e começa a estudar mais sobre ele, saber um pouco mais sobre ele, a gente encontra também algumas pessoas com quem a gente pode compartilhar algumas ideias, como fazer alguma coisa melhor, o que que é um problema que talvez outra pessoa já tenha tido e que a gente pode tentar resolver. Então eu acho que tem uma chance maior de a gente conseguir uma interação social a partir de um esporte que a gente gosta com um pequeno grupo de pessoas que também gostam daquilo, compartilhar de fato um tema que interessa pra gente do que simplesmente o oposto, né? Que a gente ser jogado antes do esporte, que a gente não sabe o que está acontecendo e com um monte de gente. Acho que até se a gente for pensar em termos de como funciona o processamento de uma pessoa autista, esse tipo de programa não faz sentido, mas deve existir formas que espero que pessoas estudem pra isso pra criar programas mais inclusivos, para evitar que mais pessoas, mais autistas se afastem do esporte, seja por se sentir excluído, mas seja também por às vezes se sentirem uma situação muito incômoda pelos mais diversos motivos ali.

Paulo: Uma coisa que que me aconteceu foi o esporte que eu mais gostei de praticar e que eu gostaria de voltar a praticar, mas por n razões que não consegui foi quando eu tinha 16 anos que eu comecei a praticar kung fu. E isso até virou um hiperfoco, porque o kung fu foi muito mais do que a arte marcial, tem a questão da história, da filosofia. Acho que foram sete anos praticando, avancei bastante, o problema é que depois eu fui embora da cidade onde eu morava com meus pais e não consegui mais achar academias. Na cidade onde eu moro, não tem academia do Kung Fu e acabei parando.

Michael: Todos os exemplos que a gente deu foram sempre ou esportes que você pode fazer sozinho ou com no máximo outra pessoa do lado. Não tem uma necessidade de um grupo social, por exemplo, geralmente eles vão tender mais esportes sociais, esporte de bola, em que você pode juntar times maiores para ter um engajamento maior, enquanto a nossa preferência é de grupos sociais menores, com interações sociais menores, independente se necessariamente você tem elas ou não porque em todos os casos a gente comentando, você vê que no final do quando você acaba compartilhando isso com outra pessoa mesmo você gostando de você poder fazer sozinho, você acaba interagindo com as pessoas, você acaba participando, porque geralmente você tem turmas que tem muita gente, de 25 até às vezes 40, 50 pessoas numa turma só. Então você tem que achar um jeito de botar toda essa negada pra fazer algo junto.

Paulo: É curioso que você pensa que é uma pessoa só, um professor de educação física pra 40 alunos, como é que ele vai conseguir trabalhar e garantir que toda essa galera tá fazendo atividade física? Até aquele objetivo de você encontrar talentos em esportes, principalmente em esportes incomuns, né? Aqui no Brasil se pensa muito em futebol para homens, vôlei para mulheres, né? Até tem algum vôlei para homens. E o único esporte assim que não é tão famoso, mas que você consegue achar a gente pra praticar é basquete. Depois não se fala em outros esportes. Então você não tem um treinamento por exemplo para atletismo, e triátlon, e não tem como professor avaliar, testar com 40 alunos, ver se alguém pega gosto por aquilo, porque não dá pra botar toda a galera pra jogar simultaneamente, né?

Thaís: Bom, e um outro ponto que não se aplica a todos os autistas, como a maior parte de pontos que a gente levanta, é a questão de que existe uma relação que geralmente se faz entre autistas serem pessoas mais desajeitadas ou pelo menos mais propensas a serem fisicamente desajeitadas. Então, isso acaba levando não necessariamente a pessoa a gostar ou não de fazer alguma coisa, mas às vezes ter um pouco mais dificuldade em executar bem, performar bem dentro de determinado esporte ou atividade física em geral. Vocês querem comentar alguma coisa a respeito disso, pessoal?

Paulo: Eu levava muito tempo e dependia de muita repetição para conseguir aprender um movimento qualquer, seja dos mais simples aos mais complicados. Obviamente conforme eu fui aprendendo certos movimentos, foi facilitando também eu aprender algo um pouco mais complexo. Mas eu nunca tive a mesma desenvoltura que a maioria das outras pessoas da minha idade da do meu porte físico.

Michael: No meu caso de novo, isso acaba sendo muito sazonal, porque eu tenho uma coordenação motora assim, horrível. Como isso me afeta vai depender do meu interesse naquele esporte que eu tô praticando. Eu ia lá, eu era obrigado, tipo, eu tacava uma bola, não importa se era com a mão, com pé, com peito, com a cabeça e ela nunca ia no lugar que eu queria. Eu simplesmente sabia que ela não ia no lugar que eu queria, eu simplesmente só fazia aquilo por obrigação. Porque eu não tinha interesse nenhum naquele esporte, eu tinha noção da minha completa falta de finesse motora, então que se dane, eu simplesmente vou chutar pra dizer que tô fazendo alguma coisa e bora pra próxima coisa. Quando isso acontecia em algo que tinha interesse, por exemplo, na natação, acabava que tinha um efeito contrário. Isso me motivava a fazer algo que eu tenho até hoje muita dificuldade que é repetição. É horrível pra mim repetir qualquer coisa, fazer qualquer tipo de ação repetidamente e que é irônico apesar de ter autismo, uma das coisas mais estereotipadas do autismo é o comportamento estereotipado, o comportamento ser repetitivo e eu sou horrível nisso. Eu tenho uma dificuldade enorme, é algo que leva muitos médicos a dizerem que eu tenho autismo e déficit de atenção junto. Quando entra o interesse no meio disso, acaba que eu simplesmente faço repetições de raiva porque eu começo a ficar puto com a minha falta de coordenação motora. Eu repito, repito, repito. Se eu tenho interesse prévio, acaba que isso é benéfico porque vai ser uma motivação a mais para eu conseguir. Se eu não tenho interesse, vou usar isso como desculpa mesmo e foda-se eu não vou fazer isso. Eu não vou me forçar porque eu sei que eu não vou conseguir. Então foda-se!

Thaís: Então a gente já tratou aqui sobre várias das dificuldades que nós já vivenciamos ao longo das nossas vidas e que tem alguma relação entre o autismo de cada um de nós com a nossa afinidade ou não por práticas físicas e que podem levar muitas pessoas ao sedentarismo ao longo de muitos e muitos anos, talvez ao longo de uma vida inteira de uma pessoa. E agora a gente vai falar um pouco sobre relações entre autismo e sobrepeso, porque o sobrepeso pode ser causado por várias questões relativas ao autismo, incluindo o sedentarismo que a gente tava comentando até agora; a alimentação, dependendo do que a pessoa come, às vezes tem dificuldade em ter uma seletividade alimentar, uma alimentação “boa” e também pode ter relação com medicações que a gente toma. Então, queria que vocês comentassem um pouco a respeito disso.

Paulo: Começando com a questão da medicação, existem vários medicamentos de uso comum nos casos de autismo que têm como efeito colateral o ganho de peso. Pra mim um caso bem marcante foi o caso da Risperidona, que inclusive eu faço uso. Na época que eu comecei a tomar risperidona, eu tava numa situação que eu diariamente fazia uma caminhada até meio forçada para chegar a quase três quilômetros por dia, né? E eu tinha um determinado peso que já permanecia há muitos anos. O meu peso girava na casa dos 75, 76 quilos. E depois que comecei a tomar risperidona, sem fazer nenhuma alteração na dieta e no meu padrão de exercícios, rapidamente esse peso foi aumentando em cerca de 15 quilos em um ano e aí eu estabilizei. E foi bem marcante isso porque, como eu disse, eu não tinha alterado nada na rotina e é de fato um dos efeitos colaterais desse medicamento. Existem outros que também têm efeitos colaterais similares, mas esse parece que é o medicamento que tem maior incidência desse efeito colateral. Vocês tiveram problemas também com alguma medicação?

Michael: Eu já cheguei a tomar risperidona, mas no meu caso coincidiu com a época que eu basicamente tinha dinheiro pra metade das compras do mês. Então meio que se ele deu algum efeito de aumentar peso, definitivamente naquela época eu não ia perceber (risos). Mas no geral tenho um problema de remédios não fazerem o efeito que eles deveriam comigo e mais de eles não fazerem efeito nenhum na melhor das hipóteses.

Thaís: E em relação a alimentação vocês já perceberam alguma mudança nesse padrão?

Michael: Com alimentação já a história já muda, porque como desde quando eu era pequeno o conceito de uma rotina era inexistente pra mim, o mais perto que eu tive de ter alguma coisa parecida com uma rotina era quando eu morava sozinho mas aí mais que eu basicamente não fazia nada o dia inteiro, então eu acho que é forçar a barra em chamar isso de rotina. Alimentação sempre foi um problema pra mim porque como eu não tinha rotina pra nada, isso incluía alimentação, o meu padrão de comer é: se eu tenho uma oportunidade pra comer, eu vou comer porque eu não sei quando vai ser a próxima oportunidade pra comer (risos). Nem sempre isso está relacionado a preocupação de realmente se vai ter comida em casa ou não, mas pela questão de eu não tenho algo parecido como hora pra comer a maior parte do tempo, então é bem capaz se eu ficar aqui e eu não aproveitar a hora que eu tenho agora pra comer, eu simplesmente vou esquecer por um bom tempo de comer e eu não gosto de ficar com o estômago vazio. Ele fica meio zoado, então é melhor aproveitar a oportunidade. Inclusive depois quando isso acabou se tornando um problema mais financeiro mesmo, isso virou algo praticamente mecânico inconsciente. Até hoje se eu tiver oportunidade de comer eu vou parar, eu vou comer porque eu não sei se eu vou comer de novo amanhã. Então é melhor garantir do que mediar. E como eu não tenho rotina, acaba que esse estilo de “puta que pariu, eu vou comer quando dá certo” não é algo muito bom. Porque quando eu estou andando 12 quilômetros por dia, fazendo trilha no fim de semana, praticando esporte ali bonitinho, beleza. Não é nenhum problema. Tenho uma facilidade enorme para perder peso, basicamente só preciso sair e andar, eu já estou perdendo peso. Então isso acaba até sendo benéfico porque se eu tentasse regrar minha alimentação, provavelmente ia acabar comendo menos do que eu preciso. Mas em casa, agora como eu estou, não estou fazendo essas coisas com a mesma frequência que eu fazia e eu dou sorte se eu conseguir andar seis quilômetros num mês, acaba que isso acaba ferrando bastante.

Paulo: É, no meu caso é diferente, eu tendo a ter horários bem definidos para comer. Mas eu tenho um problema. As comidas que eu mais gosto não são exatamente as mais saudáveis. Tenho um grande gosto por massas, por queijos e por doces. Se depender de mim, eu vou comer isso e eu preciso me regrar muito pra variar a alimentação, colocar as saladas e tudo mais. E aí o que eu faço? Eu me forçando a comer a salada e eu começo a comer a salada primeiro porque eu quero deixar o bom pra depois. É isso que eu faço. E essa é uma questão bem complicada na verdade pra bastante autistas. Quando tem essa tendência a ter essa seletividade alimentar, o cardápio acaba ficando muitas vezes com uma alimentação que é muito rica em gorduras e açúcares. É o caso que tende a acontecer comigo. Felizmente eu tenho uma esposa que, pro bem e pro mal, é o oposto de mim. Então ela precisa variar bastante a alimentação dela, se não ela enjoa. Pode ser a comida mais deliciosa do mundo, se ela comer três ou quatro dias ela enjoa. Então eu estou sempre tendo alguma variação aqui.

Thaís: Engraçado que eu imaginei… muita coisa que você falou acontece comigo também. E inclusive essa de comer a salada primeiro e deixar o bom pro final.

Michael: Eu acho que uma coisa que ficou bem clara aqui que no nosso caso, a questão da rotina, sem dúvida é fundamental e transversal. Acho que é uma das poucas coisas dentro do autismo que é universal. Tipo, ter uma rotina muito bem definida é algo muito importante, a gente para de funcionar se a gente não tem uma rotina meio estabelecida. Mas mesmo em casos que nem o meu, o fato de eu não ter uma rotina e estar fora do meu controle não é algo que eu consigo consertar, ainda tem como você se virar. Porque uma coisa que a gente mostrou aqui muito é que você achar algo que é do seu interesse pode mudar completamente sua visão quanto a isso. Eu não sei como que você faria isso tanto com comidas, isso eu acho que vai mais pra um segundo episódio de culinária, mas na questão dos esportes quando a gente demonstrou aqui a diferença é o mundo entre algo que você está interessado em fazer algo que você não quer fazer nem fudendo. E uma vez que você achou algo que você gostou de fazer e você consegue fazer aquilo, vai fluir muito mais fácil do que você tentar se forçar a praticar algo que você não quer, ou pior ainda, se é forçado por alguém, tipo fica muito muito pior mesmo. Então é isso, eu acabei de roubar a finalização do nosso host, espero que vocês tenham gostado. Eu espero ver vocês nos próximos episódios e até mais. Tchau.

(Fim do episódio)

Michael: E provavelmente não é assim que a gente termina os episódios, mas bem pode terminar agora Thaís (risos).

Thaís: Não, mas não precisa ser terminado pelo host também e teve vários episódios, inclusive… Apesar de que eu já falei isso pro Tiago que teve vários episódios que eu achava muito estranho que simplesmente o episódio terminava e não tinha um fechamento. Era tipo: “ah, eu acho tal coisa, ponto” e acabou o episódio e começa o próximo. Ué, mudamos de assunto, o que está acontecendo? (risos)

Paulo: Eu gostava quando os episódios tinham a leitura de e-mails que acontecia muito menos vezes isso, né?

Michael: (Risos)

Thaís: Eu também achei bastante boa, pode colocar inclusive a última parte (risos). Desculpa, Paulo (risos).

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Equipe Introvertendo Escrito por: