Introvertendo 176 – Aventuras Autistas na Cozinha

Comandar um espaço compartilhado de comida não é uma missão agradável para todo mundo, especialmente se você é autista e precisa desenvolver sua autonomia como um pleno adulto. Em torno dessas experiências, desastres viram histórias engraçadas contadas neste episódio. Além disso, nesta conversa, há um anúncio importante a todos os ouvintes do podcast. Participam: Carol Cardoso, Luca Nolasco, Michael Ulian e Yara Delgado. Arte: Vin Lima.

Links e informações úteis

Para nos enviar sugestões de temas, críticas, mensagens em geral, utilize o email ouvinte@introvertendo.com.br, ou a seção de comentários deste post. Se você é de alguma organização, ou pesquisador, e deseja ter o Introvertendo ou nossos membros como tema de algum material, palestra ou na cobertura de eventos, utilize o email contato@introvertendo.com.br.

Apoie o Introvertendo no PicPay ou no Padrim: Agradecemos aos nossos patrões: Caio Sabadin, Francisco Paiva Junior, Gerson Souza, Luanda Queiroz, Luiz Anisio Vieira Batitucci, Marcelo Venturi, Priscila Preard Andrade Maciel e Vanessa Maciel Zeitouni.

Acompanhe-nos nas plataformas: O Introvertendo está nas seguintes plataformas: Spotify | Apple Podcasts | DeezerCastBox | Google Podcasts | Amazon Music | Podcast Addict e outras. Siga o nosso perfil no Spotify e acompanhe as nossas playlists com episódios de podcasts.

*

Transcrição do episódio

Luca: Sejam bem-vindos a mais um episódio do podcast Introvertendo. Eu sou o Luca Nolasco e dessa vez sou eu que apresento. Hoje nós vamos falar sobre as aventuras dos autistas na cozinha e conosco temos a Carol Cardoso…

Carol: Eu sou a Carol e um dos meus maiores prazeres na vida é cozinhar.

Luca: Temos também o Michael Ulian…

Michael: Aqui é o Gaivota. E por mais que eu goste de cozinhar, eu não gosto muito de cozinha, porque sempre tem outra pessoa lá.

Luca: Também temos a Yara Delgado.

Yara: Fala, pessoal, Yara aqui. Cara, também não gosto de cozinha não, eu sou um caos na cozinha. Aliás, não é que eu sou um caos na cozinha. Cozinha é um lugar caótico quando você tem uma família.

Luca: E, antes de tudo, eu queria dar notícia de que esse, infelizmente, é o nosso último episódio com a participação da Yara no podcast. Não por motivos de briga, não por motivos qualquer, e sim pela saúde dela. Vocês vão poder notar que a voz dela não tá muito boa recentemente e esse é um dos motivos pelo qual ela preferiu sair.

Yara: Ah, mas este não precisa ser um episódio triste não, é o contrário, tem que ser um episódio bem legal, por isso mesmo eu sugeri o episódio falando sobre a cozinha, que é pra gente poder dar muitas risadas e fazer uma despedida bem legal aqui com a galera.

Luca: Por último, o Introvertendo é um podcast feito por autistas com a produção da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Luca: Eu queria falar sobre como a gente enxerga o ambiente da cozinha, o ato de cozinhar, o ato de preparar algo e porque que a gente faz isso, se é por prazer ou pela sobrevivência. O Michael tinha dito que gosta de cozinhar, mas sempre tem alguém por perto. Michael, como que é mais ou menos o seu caso, além disso?

Michael: Eu gosto de cozinhar, mas como no momento eu tô morando com a minha família… geralmente, eu tenho ideia de fazer alguma coisa. Eu vou pra cozinha fazer. A minha mãe vai lá. Ela começa a querer fazer as coisas no meu lugar, ou tentar ajudar, só que é a seguinte questão: geralmente, quando tento cozinhar, eu preciso de bastante concentração para conseguir manter a ordem das coisas que eu tô fazendo e tentar não queimar nada. Então, qualquer tentativa de alguém entrar lá no meio, pode vir até só um cara ir lá pegar e tomar água, já é o bastante pra atrapalhar tudo, eu perder a ordem das coisas que tô fazendo e virar tudo um caos. Por mais que cozinhar seja divertido, quando tem mais gente na casa, beira o impossível pra mim.

Luca: E nessas já tem mais gente na casa, eu imagino que o seu caso, Yara, não é exatamente muito diferente, né? Como é que você faz pra conseguir cozinhar com tanta gente na casa, às vezes falando contigo, lá em cima, como é que é?

Yara: Aqui é um caos total (risos). Cara, eu vou pra cozinha, eu coloco já aquele meu superfone pra ouvir o mínimo possível e poder me concentrar no que eu faço, porque tudo que eu faço, eu tenho que colocar muita atenção. Aí, estou eu lá, todos os preparativos, procurando fazer de forma extremamente organizada, mantendo as coisas com um certo espaço pra eu conseguir ter mobilidade e tal. E daí chega alguém miúdo e começa a falar comigo e eu só vejo a boquinha mexendo. Eu não consigo entender mais nada. E aí, tipo, tem a coisa que tá no fogo e a criança falando comigo e o que eu estava tentando me concentrar em fazer. E daí eu fico olhando a panela e a criança, aí eu penso: eu respondo a criança que não tô nem ouvindo? Eu tiro o fone ou é a panela? Cara, não tem como, sempre alguma coisa sai errado, ou eu vou virar pra criança e falar, uh-huh, uh-huh, legal. Ou eu vou olhar pra panela, é impossível fazer as duas coisas, entende? (risos).

Luca: E como é contigo, Carol? Você mora sozinha? Como é?

Carol: Não, quem dera. Eu moro com a minha família, os meus pais. Eu acho que eu me relaciono muito com o que o Michael falou, tipo, super. Eu acho que era muito assim mesmo, de alguém entrar na cozinha e beber uma água e eu já ficava totalmente desestabilizada. E eu precisei aprender a cozinhar, tipo, praticamente tudo, quando eu me tornei vegetariana. Antes disso eu só cozinhava coisas básicas, arroz, farofa, e passar algum bife, sei lá, alguma coisa assim. Mas aí, depois eu tive que fazer tudo. Foi mais uma questão de reafirmação mesmo, do tipo: se eu não cozinhar, eu não vou poder ser vegetariana, então tenho que aprender a cozinhar. E no começo foi bem difícil, porque as pessoas acham que vegetariano só come soja e eu achava isso também. Então, só comia soja e todo dia eu comia e eu ficava: “Meu Deus, essa coisa é horrível! Por que eu tô fazendo isso se a minha culinária era, tipo, muito, muito ruim?”. E sempre que eu ia pra cozinha era uma bagunça e muita gente. Minha mãe empilha muito as louças e fica um caos. E acabava que não dava, não dava certo, ficava um estresse que eu fiquei acho que mais ou menos uns 2 anos comendo ou coisa crua ou coisa queimada.

Luca: Meu Deus! (risos)

Yara: Oito oitenta (risos).

Luca: Em sua defesa, fazer soja ficar bom é um dos trabalhos mais difíceis possíveis, precisa de muito tempero, é bem difícil.

Carol: Percebi isso da pior forma (risos).

Luca: Mas esse negócio de ter dificuldade quando outras pessoas entram no ambiente eu acho que é algo comum pra todo mundo, porque eu cozinho desde os meus 7 anos de idade e eu sempre tive essa dificuldade de cozinhar enquanto minha mãe também tá cozinhando outra coisa ao mesmo tempo e eu cheguei a conclusão de que eu consigo ter muita facilidade com isso se a pessoa seguir o que eu tô falando. Mas se a pessoa tá fazendo independente sem que eu tenha comandado, eu fico completamente confuso e desestabilizado e…

Carol: Nossa.

Luca: …não sei exatamente o que fazer.

Carol: Isso acontecia muito comigo, antes da pandemia, quando eu cozinhava com os meus amigos. Eu tenho um amigo que ele era a pior pessoa pra ajudar na cozinha na vida, porque ele fazia tudo do jeito dele. E a minha cozinha é um lugar que eu sou extremamente autoritária. Então, se eu digo pra fazer de um jeito (risos), eu fico muito irritada se a pessoa não faz desse jeito, assim, é outra Carol. Eu não sou assim com nada, mas com a cozinha eu sou a pior pessoa pra conviver. E eu tenho uma amiga que era a melhor ajudante da vida e eu dizia isso pra todo mundo. Que ela, pra cozinhar, é a melhor pessoa do universo e que ela fazia as coisas até melhor do que eu e eu ficava muito orgulhosa disso.

Yara: A Carol falou que não é assim com outras coisas, mas com a cozinha o negócio é meio maluco. Engraçado que eu tenho isso também com a cozinha. Não sou tão chata, vou dizer assim, com o restante da casa, entende? Cara, tenho filhos. Então, tipo, tem uns brinquedos, umas coisas que acaba saindo um pouco do controle, mas com a cozinha, não sei, cara, não sei. A cozinha tem o dom de tirar a gente do sério, ela é um ser vivo, ela não é, assim, inanimado não, a cozinha tem, tem algum mistério ali, tem uma entidade (risos) governando cozinhas no mundo, porque não é possível. A cozinha, ela é assim: cê vira, de repente, você vira, cê tá ali o tempo todo. Tá tudo bem. Você vira o leite e ele esparrama. Tipo, não tem explicação o negócio, entendeu? (risos)

Carol: É verdade (risos).

Michael: Eu tercerizo o que as meninas falaram porque, no meu caso, simplesmente não falo. Se alguém entra, eu já peço da primeira vez: “por favor, sai”, porque eu não tenho paciência de falar uma coisa e a pessoa ir lá e fazer exatamente o contrário do que eu falei. Isso específico pra cozinha, no caso, é impossível pra mim coordenar. Então, largo a mão já.

Luca: Enquanto vocês tão trabalhando, digamos assim, vocês têm alguma dificuldade com o que chamam de estresse sensorial? Aquilo de problemas específicos com barulhos ou com cheiros, ou com qualquer tipo de desorganização, vocês têm alguma relacionada a isso?

Yara: Caramba, é o que mais tem, né? A louça é um monstro. Cê vai passar a manteiga, pelo amor de Deus, passa um papel toalha depois que você usou a faca. Pra que que vai colocar um negócio melequento no meio das outras coisas que estão limpas? OK, eu lavei a louça, tive todo o trabalho de pegar, lavar louça, tudo com muita concentração, fazendo cada passo totalmente pensado. As coisas vão ficar organizadas, uma coisa menor, nunca vai tá no meio de duas coisas grandes, existe um método pra fazer. Aí, beleza, você tá fazendo isso. Chega alguém e coloca tipo uma faca toda melequenta de requeijão. Ou um prato com comida dentro da pia. Acho que eu viro outra pessoa, não sei. Não sei o que acontece com a minha personalidade. Aí eu viro do avesso. Ter que lidar com qualquer coisa que seja melequento pra mim é muito ruim. Eu não gosto de sensação de molhado, sabe? Então, tipo, OK, eu lido com a sensação de molhado pra tomar banho e pra lavar alguma coisa. Já é uma superação. Aí, alguém vai, coloca um troço melequento, engordurado, no meio das minhas coisas todas limpinhas. Meu, não dá, não dá.

Luca: No meu caso eu tenho um problema muito específico. Primeiro é com barulho de panelas batendo, mas esse problema só ocorre quando eu não tô concentrado na cozinha, quando eu tô não me importo com nada. Eu bato na panela, eu faço qualquer coisa, não me importo com nenhum barulho, mas assim que eu não tô mais completamente focado, barulho me mata, é algo assim que eu já pensei em trabalhar em restaurante e isso é o motivo pelo qual desisti. Eu não vou trabalhar em restaurante nenhum por conta do barulho. Existe o panelaço, muito famoso aqui no Brasil, e pra mim é o ápice do do meu problema sensorial com barulho. Eu me escondo debaixo de um travesseiro, é horrível, é detestável, não consigo suportar esse barulho. Mas, um outro problema sensorial meu muito específico é com cheiro, mas não qualquer cheiro, cheiro de feijoada e buchada, né? Eu não consigo entrar em uma cozinha se alguém estiver fazendo feijoada ou buchada. Eu não entro, não trabalho, eu não faço nada.

Carol: Eita.

Luca: Só fico longe (risos). Eu não consigo nem comer num ambiente que tão servindo feijoada.

Yara: E tu consegue lidar com cheiro de fígado?

Luca: Tranquilo.

Yara: Cara, aqui em casa isso nem entra (risos).

Michael: Nesse sentido, eu também tenho um problema, mas com hortelã. Se alguém colocou mel em chá, ou seja, ferveu e tem um cheiro de mel misturado com o cheiro do chá, é o negócio: só de eu ficar perto, já teve caso de acabar tendo que correr no banheiro, porque eu já estava quase vomitando.

Carol: Nossa.

Luca: Eu não tiro nem um pouco da sua razão. Uma experiência terrível minha foi quando eu fui beijar minha namorada e ela tinha acabado de comer feijoada, eu não sabia, eu fiquei algumas horas sem conseguir beijar ela de novo (risos).

Carol: Eita.

Michael: (Risos)

Carol: É, eu já tive esse problema…

Yara: E cachorro-quente? Cachorro-quente, cara, o negócio é tenso!

Luca: Nenhum neles, não tenho mais problema com nada.

Carol: Sobre essa questão do cheiro, desde que eu era criança, era uma coisa muito sensível pra mim, tanto que nos meus primeiros anos de vida, eu tinha uma coisa de vomitar muito sempre que eu sentia algum cheiro muito forte. Então, eu vomitava sempre, a minha mãe vivia pro médico porque eu vinha vomitando. E agora, especificamente, o que tá acontecendo, é que depois que eu tive Covid, eu comecei a ter uma coisa que é sentir um cheiro horrível nas comidas. Eu tô sentindo o cheiro muito forte, tipo, mais forte do que o normal. O meu olfato sempre foi hipersensível, do tipo que se alguém chegasse na minha casa, eu já sabia quem era porque eu sentia o perfume da pessoa de longe. E agora isso tá sendo pior, porque eu não tô conseguindo comer coisas básicas, tipo cebola, feijão, amendoim, café, porque o cheiro fica horrível. E isso tem causado um estresse gigante nos últimos dias, nas últimas semanas. Porque, realmente, é uma coisa que não dá pra fugir. Se alguém faz café de manhã eu já acordo com o cheiro que me dá vontade de vomitar. Semana passada eu fiquei com ânsia de vômito mesmo, porque estavam fazendo arroz com cebola.

Yara: Ah, eu sou estritamente o oposto, eu vivo alérgica (risos). Eu não sinto cheiro de nada. Aqui o Luiz detesta barulho de palha de aço passando na panela. Ele odeia, ele sai de perto. Lixa, ele também não suporta. E ele é muito hipersensível com cheiro, ele quase vomita também. Imagina pra quem sempre sobra trocar a fralda do bebê, né? Sobra pra mim, porque eu não sinto o cheiro. Aí eu falo: “pô, mas é sacanagem, porque eu não gosto de pôr a mão em coisa melequenta. Eu cismo por causa da margarina. Aí, toda vez pra mim. Põe o troço pro nariz aí, vamos dividir um pouco as coisas, afinal, né? Direitos iguais” (risos). E a cozinha pra mim é a tarefa mais complicada de todas, porque eu não tenho senso de direção, eu bato nas coisas. Vou mexer com o copo, bato na torneira e quebro o copo. Teve uma vez que foi o ápice. Eu fui fritar frango à milanesa, e aí eu peguei, assim, com a mão e fui colocar no óleo e coloquei o dedo junto. Cara, nossa, como dói aquela bagaça (risos). Olha, quente dói demais. Fiquei muito tempo com o dedo na água gelada, assim, para amenizar a dor, doía, doía, doía demais, por pura falta de noção de profundidade. Terrível, terríve (risos).

Luca: Chega num momento da vida que você quer comer alguma coisa específica e seus pais não querem mais fazer. Ou você simplesmente tem que sair da casa dos seus pais e morar sozinho. E aí, você precisa, ou comprar comida, ou fazer você mesmo. Nessa questão já vem a autonomia de vocês com a cozinha. Como vocês lidam com isso? Vocês conseguem cozinhar o que quiserem, vocês dependem mais de outra pessoa, como vocês lidam com a cozinha no dia a dia?

Michael: Quando eu fui morar sozinho, isso sempre foi uma matéria de ir, pegar, procurar a receita do que eu quero fazer, seguir a receita à risca, a ponto de deixar o celular no cronômetro. Se tem que cozinhar algo por 20 minutos, eu vou cozinhar 20 minutos. Praticamente todas as vezes deram certo. Então, é perfeito. É algo extremamente enxergado, algo extremamente simples, não tem segredo, a única limitação real que eu tinha é que eu não tinha um forno. Então, eu tinha que me virar com uma panela elétrica, com o fogão e o microondas. Tirando isso, eu simplesmente não tinha problema em fazer as coisas que eu fazia. Literalmente é o motivo que eu gosto de cozinhar: é algo simples, é algo herdado, é só você seguir as instruções.

Luca: E contigo, Carol?

Carol: Eu acho engraçado, porque pra mim é muito mais livre. Eu gosto de inventar as minhas receitas. No começo eu realmente fazia tudo, mas eu tinha muita dificuldade para seguir as instruções. Por isso que eu tive tanta dificuldade pra realmente aprender a cozinhar. Mas, quando eu fiquei morando com a minha irmã, no ano passado, eu realmente tive que ser bem organizada em termos de cozinha e saber me alimentar. E eu acho que eu me dei superbem nisso, mas acontece que às vezes me dava umas coisas nervosas em que eu achava que eu tinha que cozinhar, adoidado, assim, então, eu passava a semana inteira cozinhando e depois não tinha lugar pra eu colocar a comida na geladeira. E aí, eu tive que dar pra minha amiga, ou, sei lá, alguma coisa assim. E eu acho que eu me dei super bem nessa parte de realmente conseguir lidar com a minha comida. Eu acho que a parte mais difícil nesse processo todo foi fazer compras, porque aí já é outra coisa, assim, quando a gente faz a nossa própria comida, e a gente precisa fazer tudo, a gente tem que fazer compras e o ambiente de fazer compras é bem difícil, pode ser um desafio bem grande, mas a parte de só chegar e fazer quando, principalmente, que não tem ninguém além de mim na cozinha, é uma maravilha. Quando tem outras pessoas, é bem difícil. E tanto que um dos motivos de discórdia com a minha irmã era coisa de louça, né? Eu acho que não tem nada que cause mais discórdia na vida humana do que lavar a louça (risos).

Yara: (Risos)

Michael: É (risos).

Yara: Eu concordo (risos). Lavar a louça também é muito tenso. Sempre falo, né? Você faz todo aquele esforço de deixar tudo limpinho… Eu não consigo cozinhar se a cozinha estiver bagunçada. Então, eu organizo tudo, deixo tudo perfeito, aí eu vou cozinhar. Aí, eu sou mais lenta do que o normal, porque eu presto atenção absurda em qualquer detalhe que eu tô fazendo. E aí, tipo, você termina tudo. A sua recompensa é uma baita louça pra lavar (risos). Isso é muito tenso, isso é muito injusto na vida, entende? (risos). Agora a parte de ir no mercado, cara, eu adoro, eu adoro ficar passando pelos corredores e ficar olhando assim, claro que eu nunca vou em lugar cheio. Muito gostoso, especialmente em lugares onde você pode passar pelos corredores e ter coisas para casa. Tipo, perco horas. Assim, tipo, olhando coisinhas pra casa, tipo um copo, ou procurar uma jarra diferente, ou um quadrinho. Nesse ponto, eu sou diferente de todos os outros pontos e da minha personalidade, né? Nesse ponto eu sou bem dona de casa mesmo e nos outros eu sou mais o tipo mãe atrapalhada. E os meus filhos morrem de dar risada, eles falam: “mãe você é muito engraçada”, porque eles veem que eu vou ficando meio maluca enquanto tô fazendo as coisas, entendeu? Eu tô ficando meio desordenada (risos). Então é um pouco complicado nesse sentido. Eu morei sozinha antes de me casar. Eu morei sozinha por mais ou menos uns dois anos, eu lembro que teve uma vez em que eu coloquei que queria fazer batata frita. Comprei aqueles pacotes congelados de batata frita e pensei: “deve ser muito bom”. Aí deixei o óleo tal do corpo, coloquei a batata frita, só que eu morro de medo de óleo e e o óleo ele também tem vida própria, entende? Se ele vê que você tem medo dele, ele quer pular em você. E aí ele foi querer pular em mim, muito vilão que ele é. E aí eu peguei e tampei a panela. Não sabia que quando eu tapei a panela, cara, aquele óleo subiu, misturou com o fogo no fogão. E o bagulho foi parar quase no teto, quase incendiei minha casa, eu fiquei branca, que nem um papel.

Luca: Meu Deus!

Yara: Acho que eu passei uns quatro anos sem fritar batata (risos), tamanho trauma que eu passei com a batata frita. A última, de ter enfiado o dedo junto com o filé de frango na panela, do óleo quente, o Luiz resolveu comprar pra mim uma panela que dava certinho, tinha aquele, aquela cestinha pra você colocar a coisa da cestinha e depois você coloca a cestinha no óleo. Aquilo mudou a minha vida. Pequenos utensílios que fazem toda a diferença!

Carol: Meu sonho é ter um desse.

Luca: Meu sonho era ter uma air fryer, eu comprei ontem. Aí eu ainda não experimentei, eu não sei dizer como é.

Michael: É muito útil. Muito útil mesmo!

Luca: Vou fazer até arroz na air fryer, vocês vão ver!

Michael: (Risos)

Luca: Agora que a gente já entrou em histórias de nossas anedotas e desventuras na cozinha, vamos falar um pouco da história de cada um e aí já fecha o podcast, tá bom? Eu acho que minha história mais infeliz na cozinha que não terminou com eu me machucando é de quando eu comecei a comer arroz integral que precisava melhorar a minha alimentação e eu tava amando, delicioso, maravilhoso arroz integral. E um dia eu tinha feito ele, fui comprar um complemento pro almoço no restaurante ao lado. Só que quando eu cheguei eu percebi que eu não tinha desligado o fogo do arroz.

Yara: Caraca!

Luca: E então ele já tinha carbonizado completamente. Já estava completamente carbonizado. Mas o problema não foi esse. O problema era o cheiro. Eu não consigo descrever o cheiro. Eu só sei que eu não consigo mais comer arroz integral por conta do cheiro que ele teve quando tava queimado (risos). De maneira alguma, eu não consigo, meu irmão come todo dia até hoje, mas eu não dou conta.

Carol: Já era a panela também, né?

Yara: Panela queimada é o caos pra limpar também, né? Vou te dizer.

Michael: Eu tive um caso parecido com o do Luca, em que eu tava vendo que eu tinha pra comer e por acaso uma batata na geladeira. Já falei: “eu quero comer essa batata!”. Eu peguei, peguei o caneco pra ferver a água, coloquei a batata no caneco, beleza, vou esperar. Vai uns 20 minutos pra cozinhar. Eu dormi.

Carol: (Risos)

Luca: Meu Deus!

Michael: (Risos) Quando eu acordei, a água tinha secado já, mas nada mais grave aconteceu. O maior problema pra mim (e esse é o motivo que me lembro disso até hoje) é que queimou minha batata. Eu queria comer aquela batata! Eu não comi mais nada, porque eu queimei a batata. Eu fiquei tão puto que eu não fiz nada, dane-se. Também depois disso, eu praticamente fiquei um bom tempo sem fazer nada cozido no fogareiro. Se eu queria fazer algum tipo de legume ou batata ou algo do tipo, eu pegava o cestinho que vem junto com a panela de arroz, botava o arroz para ferver e eu botava as coisas que eu queria no cestinho e dane-se. Vai ter que dar na água do arroz se não der nem que eu precise só botar água pra ferver, mas pra não correr esse risco de novo, porque eu queria comer aquela batata.

Carol: Eu tenho uma fama tão grande de comer comida queimada que toda vez que eu vou cozinhar a minha mãe fala: “Vai comer carvãozinho?”.

Michael: (Risos)

Carol: O apelido dela pra minhas comidas é carvãozinho. E aí vê a minha comida no forno e ela fica: “o que é esse carvãozinho?” (risos). Realmente eu já fiz tanta coisa que queimou, que realmente virou carvão, tipo a gente pegava e o negócio tava quebradinho, dava pra fazer churrasco com a minha comida. Só que eu tinha que comer, né? E aí ela falou assim: “olha, isso vai fazer mal pra você”, porque realmente comer carvão não deve ser muito nutritivo.

Michael: (Risos)

Yara: Você comia?

Carol: Comia.

Luca: Meu Deus (risos)! A assertividade com que você falou, como se fosse algo plenamente razoável (risos).

Yara: Olha, uma coisa que é complicado que eu percebi assim, é o seguinte, né? Quando você vira a mãe da família, meio que todos esperam as coisas de você. E aí, dia que você não tá legal, assim, que cê tá doente, cara, dá uma vontade de você ter a sua mãe e a sua mãe fazer uma comidinha pra você, entendeu? (risos). Aí você olha e fala: “nunca mais terei a sopinha da minha mãe” (risos). É a parte triste de você ser a mãe da família e estar distante do restante do pessoal, assim.

Luca: Então, pra fechar aqui, Yara, você quer falar alguma coisa, dar um recado, falar o que você quiser?

Yara: Ah, eu quero me despedir do pessoal, foi muito legal esse tempo com vocês, agradeço fazer parte dessa equipe muito jóia, muito jóia, vocês são muito da hora (risos). E eu vou procurar a Carol, eu acho, pra ela me ensinar alguma coisa sobre culinária vegetariana, porque o glúten está me matando. Enquanto isso, vou continuar trocando fralda sozinha, aqui, na minha casa, fazer o que, Luiz realmente se recusa a sentir o cheiro da fralda (risos). E é isso, gente. Quem quiser mandar compras e pratos feitos via iFood aqui pra mim, fiquem à vontade. Eu adoro lanche!

Luca: (Risos)

Michael: (Risos)

Luca: E se você, ouvinte, tem alguma história sobre cozinha e quer compartilhar conosco ou tem algum episódio favorito que a Yara participa, basta entrar nas nossas redes sociais e mandar uma mensagem. Nós, com certeza, vamos amar saber sobre o que vocês gostam ou não, na cozinha e sobre aventuras. Sempre é um tema legal de escutar. Bom, é isso. Muitíssimo obrigado por ter escutado até agora e até mais.

(Assinatura Superplayer & Co)

Luca: Eu já pensei em trabalhar em restaurante e isso é o motivo pelo qual desisti, eu não não vou trabalhar em restaurante nenhum por conta do barulho, mas o mais…

Tiago: Desculpa só interromper, Luca. Você está falando de bater na panela, seria bom você falar no episódio se você suporta ou não panelaço.

Michael: (Risos)

Carol: (Risos)

Yara: (Risos)

Luca: (Risos) Como foi mencionado aqui pelo Moreno Misterioso…

Michael: (Risos)

Carol: (Risos)

Yara: (Risos)

Luca: Existe o panelaço, muito famoso aqui no Brasil.

(Transição)

Luca: Fala aí, Michael.

Michael: Espera só um pouco.

Luca: Claro.

Michael: Não tá aqui.

Yara: O ovo dele tá queimando (risos).

Luca: (Risos)

Carol: Eu lembrei agora de uma piada que o meu tio mandou hoje, que é bem piada de tiozão mesmo, que tu falou que o ovo do Michael tava queimando, ele mandou hoje uma piada que era assim: “Hoje eu fui cozinhar e o meu ovo tava queimando, e aí eu decidi que eu nunca mais vou cozinhar pelado”.

Site amigo do surdo - Acessível em Libras - Hand Talk
Equipe Introvertendo Escrito por: