Introvertendo 155 – O Problema dos Fogos de Artifício

O ano mal começa e a vida já está difícil para autistas que reagem mal aos fogos de artifício. Neste episódio, explicamos como são os fogos em diferentes lugares do Brasil, o que há de novo na legislação brasileira sobre o tema e a relação de autistas e animais domésticos com a virada de ano.

Participam: Carol Cardoso, Michael Ulian, Paulo Alarcón e Tiago Abreu. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Tiago: Olá pra você que ouve o podcast Introvertendo, que é o principal podcast sobre autismo do Brasil e um dos poucos do nosso país que lança episódio no dia 1º de janeiro de 2021. Meu nome é Tiago Abreu, sou jornalista, diagnosticado com autismo em 2021. E se você tá ouvindo esse episódio no momento em que ele é lançado, provavelmente você tá vendo shows pirotécnicos no céu. A não ser que você more numa cidade com menos de 50 mil habitantes. 

Michael: Olá, eu sou Gaivota, Michael e eu gosto de coisas que explodem. 

Paulo: Oi, pessoal, sou Paulo Alacon, diagnosticado em 2018 e… burn, baby, burn!

Tiago: Este é o primeiro episódio do Introvertendo de 2021 e a gente já começa com uma novidade: Carol Cardoso é a nossa nova integrante do podcast. Então, se apresente, por favor.

Carol: Oi. Eu sou a Carol e eu sou muito neutra em relação a fogos de artifício. 

Tiago: Pra você que tá ouvindo o Introvertendo agora em 2021, seja muito bem-vindo, seja muito bem-vindo a esse novo ano, bem-vinda também Carol, à equipe do podcast. A Carol já grava com a gente há muito tempo e agora está oficialmente entre nós. Durante esse período agora, o Introvertendo está em fase de férias, o que significa que nós vamos lançar apenas um episódio a cada duas semanas. Então, se você não receber episódio do Introvertendo na semana que vem, não se assuste, tá? É que a gente diminuiu a frequência até o final de fevereiro, afinal a gente precisa de um descanso também. O Introvertendo é um podcast feito por autistas cuja produção é da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Michael: Olha, se vocês quiserem eu posso fazer um resuminho rapidinho, só pegar desde 3.000 B.C., quando a pólvora foi inventada na China, até hoje.

Tiago: Show!

Paulo: É, eu ia fazer, eu tinha pensado isso, né? 

Michael: Não, eu falei ironicamente, nem ferrando eu consigo resumir tudo isso. É, mas só um lance interessante da questão da origem dos fogos de artifício, que ela tá atrelada com a origem da pólvora, é que a pólvora foi desenvolvida não pensando na criação, no desenvolvimento de um explosivo, mas pensando na criação do desenvolvimento de uma forma de um elixir da vida eterna. Então, tipo, o objetivo dos cara era viver pra sempre. O que eles conseguiram foi fazer umas luzes bonitinha… Eu diria que foi lucro. 

Paulo: E aí, eles começaram a ganhar a cor, né, ficar coloridos com os árabes no século VII. Que aí começaram a usar pra apresentações, pra pirotecnia, como a gente faz hoje. Aí os chineses tiveram a brilhante ideia de soltar esses fogos no ano novo deles pra espantar maus espíritos. Com isso, começou o costume aí de queima de fogos no ano novo. 

Tiago: Ou seja, eles espantavam os maus espíritos e espantavam também os cachorros, né? Porque ô negócio infernal, né? (risos)

Michael: Na verdade os maus espíritos tavam disfarçados de cachorros. (risos)

Paulo: Pior que pra aquelas bandas tem uma lenda dum cachorro fantasma que volta pra te assombrar, né? O Inugami.

Tiago: Nós já fizemos um episódio aqui no Introvertendo, lá em 2018, chamado “Boas Festas?” na época que o saudoso Marcos ainda fazia parte da equipe, e uma das coisas que ele falou na época, é que ele tinha ódio de fogos de artifício durante a virada de ano, primeiro por causa da questão estética, né? Que ele dizia que existem fogos de artifício, tipo show pirotécnico, que é uma coisa, e as luzes brancas, toscas, que ele odiava, né? E fogos de artifício são alvo de tretas, principalmente no Brasil recente, há muito tempo. Existe até uma discussão, principalmente voltada aos direitos dos animais, da forma como cachorros, gatos e outros animais sofrem em relação a isso, desde morte, fuga… É muito complicado, porque mexe muito, né? Os animais têm uma sensibilidade muito significativa, os cachorros ouvem num volume muito mais alto do que os seres humanos, mas também existe toda uma discussão em relação ao autismo. Lembrando, nós lançamos o Episódio 119, Hipersensibilidade e Hipossensibilidade, em que nós falamos que autistas podem ter reações muito diferentes ou até exageradas ou fora do padrão comum em relação a várias coisas do dia a dia e do ambiente. E isso tem muito a ver também com o barulho. Por outro lado, também existe a hipossensibilidade e esse episódio também é uma forma da gente falar sobre o problema dos fogos de artifício de uma forma geral no autismo, mas também aos autistas que podem ter uma fixação por isso, né? Tem muitos autistas que não sofrem com o barulho, então aqui a gente quer trazer múltiplas perspectivas. Nos últimos anos, vários estados e pequenos municípios estabeleceram legislações pra impedir o uso de fogos de artifício, principalmente usando como argumento autistas. Tem muita coisa, muita gente mesmo levantando essa bandeira. A nível nacional, a gente tem um Projeto de Lei de número 6.881/2017, que tem como proposta impedir certos tipos de fogos de artifício, principalmente esses que fazem muito barulho, em todo o país. Esse projeto tá andando, ainda não foi concluído e na justificativa o principal argumento que foi usado foi em relação aos animais, não tem nenhuma menção ao autismo, mas eu imagino que a medida que isso for avançando, provavelmente, a galera do ativismo do autismo vai entrar no meio disso porque não só os animais sofrem, mas também muitos autistas. E aí, se você também quiser saber um pouco do porquê que fogos de artifício, e não só a questão do barulho, mas também a questão das cores dos fogos, podem ser muito ruins pra alguns autistas, nós temos alguns links lá no nosso site. Então, agora vamos partir pra um nível mais de experiências.

Carol: Bom, eu acho que na minha região fogos de artifícios estão presentes em praticamente qualquer evento social, então tipo, quando tem alguém que faz aniversário, soltam fogos de artifício, quando tem alguma festa religiosa, também faltam fogos de artifício, quando alguém passa no vestibular… tanto que quando eu era criança, eu sempre dizia que eu não queria passar no vestibular, porque eu não ia conseguir lidar com a festa de passar no vestibular, porque era ,tipo, uma loucura, era muita música alta, muitos fogos de artifício e jogavam ovo nas pessoas e, enfim. Então, eu acho que não só nos fins de ano, mas em qualquer evento grande, porque eu vejo que lá as coisas tomam uma proporção gigantesca, qualquer coisa, motivo de soltar fogos. Eu acho que isso acabou me deixando um pouco mais tolerante pra esse tipo de coisa, sabe? Então, eu vejo que o meu incômodo pessoal agora, em relação aos fogos, não é só aos fogos em si, mas aos contextos em que eles geralmente acontecem, tipo festas com muitas pessoas, muita música. E geralmente as pessoas exigem que a gente abrace elas ou interaja muito e aí isso acaba estressando e eu acho que a minha reação não é no momento, mas depois, assim, a minha cabeça fica meio que latejando, sabe, quando eu tô numa situação assim. E mesmo depois de algum tempo, eu acho que minha sobrecarga sensorial é tipo como se eu ficasse vendo todas as imagens do dia repetidamente na minha cabeça pra sempre, por várias horas, porque o meu cérebro não processa direito todo o estímulo que eu recebi. E no fim de ano, esse tipo de sensação acaba se intensificando, principalmente na minha família que a gente tem uma coisa muito calorosa de que todo mundo tem que abraçar todo mundo, toda hora e aí é bem difícil isso. 

Tiago: Ô Carol, quando você falou que tem todos os eventos, aí, eu fiquei pensando em alguma exceção, sabe? Não tem fogos de artifício em velórios, não, né? (risos)

Carol: Olha, se for velório de político, padre, essas coisas, essas figuras famosas assim, da cidade, tem sim fogos de artifício. (risos)

Carol: Eu não tô brincando, é sério.

Paulo: Eu até entendo soltar fogos de artifício na morte de político, mas de outras figuras…

Carol: Não, e eu esqueci também: futebol, então praticamente sempre que tem jogo do Flamengo, ou do Vasco, ou do Botafogo tem fogos de artifício também. 

Michael: Ironicamente pra alguém que tem sensibilidade com praticamente todo tipo de som, fogos não me incomodam, assim. Eu não sei estaria relacionado a fato de que eu já tenho uma predisposição a gostar de explosivos. Então, o som não, assim, mesmo que o som incomodasse, assim, é algo que eu tô mais predisposto a tolerar, mas, realmente, não. E também o fato de que, apesar de aqui também ser bem como isso, de ter fogo de artifício pra praticamente qualquer coisa, até morte político, principalmente morte político, se o pessoal não gostar deles, ansiedade é relativamente pequena, então assim, a quantidade e, assim, o volume sonoro não me incomoda. O que vai mais me incomodar também é a situação, no caso de tá num evento, que nem o que a Carol falou, de barulhos que acabam sendo consequentes disso, principalmente no caso de criança entrando em pânico com os fogos ou animais entrando em pânico com fogos, né? Isso me incomoda muito, não barulho da explosão em si. E dos fogos aqui, eu acho que o que mais me incomoda não é o barulho, principalmente se é um grande volume novamente, eu dou sorte, porque aqui na nossa cidade é até difícil você ver da onde estão tendo os fogos e a maior parte do cara só pega o fogo pra fazer barulho mesmo, então o show luminoso mesmo, é relativamente modesto. Mas assim, se tem muita coisa brilhando ao mesmo tempo, isso acaba incomodando um pouco. Mas, novamente, como na minha cidade, bem, eu nunca experimentei um show de fogos fora daqui, então, numa quantidade relativamente moderada, não tem um volume muito grande, e mesmo quando tem um volume um pouquinho maior é raro você conseguir ver os fogos mesmo, fazendo brilho. Então, assim, me incomoda um pouco, mas como ainda não tive a oportunidade de ver algo forte, muito, muito, muito, eu não sei dizer se nesse caso o brilho seria algo pra incomodar demais, porque conhecendo minha reação a essas questões luminosas, eu não diria que eu chego a entrar no ponto de epilepsia, mas assim, incomoda demais.

Paulo: Bom, eu tenho uma relação curiosa com fogos de artifício. Quando tava na primeira infância, eu sofria bastante com isso, chorava muito, mas com o tempo eu fui pegando o gosto e muito por causa do ambiente que eu fui criado, que eu fui criado grande parte da minha vida em Ubatuba, uma cidade litorânea aqui no litoral norte de São Paulo, não é? E principalmente uma cidade turística que tem a temporada aí na época das festas de Ano Novo e que tem uma queima de fogos extensiva feita pelos hotéis da região, né? Todo hotel faz sua própria queima de fogos à meia-noite, aí cê imagina como é. E o meu pai, ele trabalhou aí durante toda vida, não toda a vida, mas durante todo o tempo que eu me lembro como gente, em hotéis. E nos hotéis que ele trabalhava uma das responsabilidades dele era organizar a queima de fogos do ano novo. Então, ele sempre levava a gente lá pra praia, na frente do hotel que ele trabalhava, e a gente via a queima de fogos, praticamente debaixo da queima de fogos. E com o tempo eu fui pegando o gosto por isso, principalmente por causa das cores. Eu gosto muito dos fogos coloridos que se formam padrões interessantes do céu, sabe? Por outro lado, eu detesto os rojões que só servem pra fazer barulho.

Tiago: Eu sempre fui muito indiferente a fogos de artifício, na verdade. Até porque quando eu era criança, eu era uma criança muito disciplinada, com hora de dormir, hora de acordar, então eu perdi todas as viradas de ano até, sei lá, meus doze anos de idade. Eu não conseguia ficar acordado até a queima de fogos. (Risos) Aí, digamos assim, a minha primeira queima de fogos, minha primeira virada de ano que, realmente, foi marcante na minha vida, foi de 2008 pra 2009, cara, tem pouco tempo, assim, que eu tava em Brasília, viajei com meus pais e eu tava num evento em frente ao Lago Sul, em Brasília, né, um local superchique. Então, aí, realmente, tava sono ali, né? Não tinha nem como dormir. E aí, daí pra frente eu realmente comecei a ficar acordado durante as viradas. Mas nunca foi algo, assim, que mexeu muito comigo. Porque, assim, a questão da queima de fogos tá muito relacionada à virada de ano, que tem um sentido pra mim e que além de tudo, tem toda essa coisa do clima do final de ano, que é um período merda, assim, na minha vida, porque tem o Natal, aí tem meu aniversário e tem a virada de ano, esses três eventos. Então, assim, são muitas datas importantes pra se ter problemas familiares ou pra se frustrar com coisas que aconteceram durante o ano, ou pra ver que tá todo mundo festejando com amigos e eu não tenho outras pessoas pra passar esse período, sabe? Então, o período da virada de ano, ele me incomoda mais pelo contexto em torno do que a queima de fogos propriamente dita, isso não é algo que mexe muito comigo, nem no sentido positivo, nem no sentido negativo. A última virada do ano que eu passei de 2019 pra 2020, ela foi muito estranha, porque eu tava num momento muito legal da minha vida, tinha acabado de iniciar um relacionamento, mas aí eu tive que viajar pra cidade Natal da minha mãe, pra poder lançar o meu livro, aí eu passei a virada do ano no meio do mato, 28 km do perímetro urbano mais próximo, que é um local que tem 10.000 pessoas também, não tem nada. E com a internet falhando e com todas as pessoas que eu gosto aqui em Goiânia festejando e eu lá sozinho. Então, eu pensei assim, nossa, a virada de 2020 pra 2021, tem que ser muito boa, e aí tá a gente nessa merda agora.

Carol: Eita.

Paulo: Ah, Tiago, na verdade, essa virada de 2020 pra 2021 é a que mais precisa ser comemorada, pô. Sobreviver a 2020 é um grande feito. (risos)

Tiago: É, mas o problema é quando você não tem como aglomerar, né, pra comemorar. (risos) Mas, Paulo, você que tem muitos cachorros em casa, como é que é essa questão em família aí? 

Paulo: Eu tenho, particularmente, uma cachorra que ela sofre muito com fogos, que é a Pitty. Sofre, seja com fogos, seja com trovões também. Então, ela fica bem desesperada. Quando eu comecei a ter cachorros, quando eu vim morar sozinho em 2016, aí eu parei de de acompanhar tanto as queimas de fogos, né? E essas viradas, principalmente depois que chegou a Pitty, elas ficam mais em prol de tentar acalmar ela ao máximo, porque ela fica muito desesperada. Esse ano a gente conseguiu passar bem de boa brincando com ela.

Tiago: Cê tem quantos animais em casa mesmo? 

Paulo: Eu tenho onze cães e oito gatos. 

Carol: Eita. 

Tiago: Nossa, eu imagino a luta seja pra passar uma virada de ano tranquilo, né? 

Paulo: É… Mas cê brinca com eles e eles ficam sossegados. Mas é a Pitty que é a mais problemática, os outros não ligam tanto pra fogos, não.

Carol: Eu tinha um cachorro também que ele não gostava nem um pouco, ele ficava muito agoniado e o latido dele era muito agudo, então eu acho que eu me incomodava mais com o latido dele do que com as outras coisas, mas era muito triste ver quando, quanto que ele ficava eh agoniado, né? E a minha gata, ela tem muito medo de trovão e de fogos de artifício. Ela fica realmente muito nervosa e o ponto ruim, assim, disso, é porque a gente costuma passar a virada do ano na casa da minha bisavó. Geralmente, a gente não leva os nossos gatos, os nossos animais, né? Eles sempre passam sozinhos, a gente tá muito triste…

Tiago: Vocês percebem assim, na qualidade da queima de fogos, dependendo do lugar onde vocês estão, porque eu passei viradas de ano no interior da Bahia, já passei em Brasília, em Goiânia, nos outros estados onde eu já morei e dependendo do lugar onde você tá, a experiência é um pouco diferente, assim. Existe algum tipo de queima de fogos que vocês acham mais chato ou melhor do que as outras? 

Carol: Eu não percebo tanto, mas uma queima de fogos que me chamou muito atenção foi de um ano novo que eu passei no Rio de Janeiro, quando eu era criança, acho que eu tinha de sete anos e foi na praia, então foi bem legal, assim, teve aquela coisa de pular as ondas e tal. E eu achei a queima bem bonita também. Eu acho que talvez porque foi num lugar bem bem aberto e tipo o vento meio que abafava um pouco o barulho dos estouros, né? E eu estava mais animada com com a praia em si, do que com os fogos. Só que mesmo assim eu não consigo esquecer, né? De que forma bonito. E eu já passei também aqui em São Paulo. Em dois mil e dezenove. Que foi muito marcante porque eu não fui pra nada. Eu fiquei sozinha no apartamento. Porque no dia no mesmo dia eu tinha corrido na São Silvestre. Então talvez exausta de de pessoas e etc. E só que me marcou justamente por isso, foi a primeira vez que eu pude ficar sozinha durante a queima de fogos e isso foi muito legal, eu gostei muito, porque eu tava me sentindo muito feliz de ter conseguido correr na São Silvestre, acabou tendo um significado bem grande pra mim, apesar de algumas pessoas acharem, ah, é triste, eu passei sozinha, a virada do ano e etc. Mas eu acho que não, acho que foi uma vitória pra mim, pensar dessa forma. 

Paulo: Pra mim, eu passei a virada de ano, basicamente, em três cidades na minha vida. Ubatuba, São José dos Campos e Caçapava. As duas últimas são cidades vizinhas. Questão de beleza e de animação a queima de fogos no litoral é muito superior até pela forma como é organizada. Aqui no interior a queima não é feita tão estruturada, né? Aqui é basicamente o rojão chato, soltados aí pelos vizinhos, né? Não tem muita graça mesmo e serve só pra estressar os cães. A queima de fogos já em São José, ela tem algumas localizadas, organizadas pela Prefeitura, que são as principais, que aí já são mais legais também, mas não chegam a ter o mesmo tamanho como encontra em Ubatuba, sabe?

Tiago: E como eu falei, eu passei, grande parte delas em Goiânia e, às vezes, em Minas, só que em Minas, eu não lembro porque eu era muito pequeno. E na cidade de interior, não tem muita graça, porque estoura um fogo ali, né, um dos fogos de artifício. Aí, o próximo aparece em quarenta segundos, sabe? Quantidades bem pequenas assim nem parece que é uma virada do ano de fato. Mas eu, como eu disse, eu sou meio indiferente, eu acho que o legal desse momento da virada de ano é você passar com pessoas agradáveis ou você sozinho, se você tiver esse poder de escolha, né? Se você preferir. E eu acho que no contexto do autismo, também, o que a gente precisa pensar, no caso das pessoas, principalmente aqueles que têm maior sensibilidade ou hiperreatividade, como a gente poderia dizer de forma mais específica, é poder garantir um espaço seguro pra essas pessoas estarem, se elas são estimuladas negativamente pelas cores, o fato delas não observarem já ajuda bastante. Agora, se for a questão do som é um pouco mais difícil. Então, tem abafador, ou estar dentro de um local bem fechado, que minimize isso, se a pessoa tiver com fone de ouvido, ouvindo uma música, eu acho que aí já dá pra ajudar um pouco mais. No caso, os animais é um pouco mais difícil, né? 

Paulo: É, uma coisa assim que uso com frequência é algodão no ouvido, isso abafa bastante o som, principalmente pra você tá mais perto, mas mesmo de longe já reduz bastante. 

Carol: Desde que eu comecei a usar abafadores de ouvido, o meu estresse em relação a essas situações diminuiu muito, tipo, consideravelmente. Porque os dois fins de ano que eu passei que foram depois do meu diagnóstico e que eu consegui ter uma intervenção melhor e consegui entender melhor essas crises sensoriais que eu tinha, aí eu comecei a perceber que certos estresses que eu tinha tinham relação com esses sons ambientes. Então geralmente quando eu vou pra alguma situação que tem muita gente, ou que eu sei que vai ter muito barulho, eu sempre levo o meu abafador de ouvido e o último ano novo da virada de 2019 pra 2020 eu passei a festa inteira com com o abafador de ouvido e foi muito bom porque eu sei que eu não teria conseguido se não fosse esse abafador, então eu acho que é um acessório muito importante pra mim hoje em dia e enquanto a gente não resolve de uma forma a longo prazo a questão do excesso causado pelos fogos de artifício, eu acho que vale muito a pena a gente tentar atenuar os efeitos disso nas pessoas, sabe, por meio desses abafadores de ouvido. 

Tiago: E você que ouviu o nosso episódio após a queima de fogos meu desejo é que a sua virada de ano tenha sido agradável ou se ela foi ruim, principalmente por causa de fogos de artifício que você tenha mais sorte em 2022, beleza? Um abraço pra você e até daqui a duas semanas. 

Michael: E é isso.

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