Introvertendo 14 – Autistas na balada

Prepare seu copo de bebida e os ouvidos sensíveis a sons altos: Os autistas chegaram na balada. Neste episódio do Introvertendo, nossos podcasters contam experiências que tiveram em festas agitadas e barulhentas ocorridas em boates e em locais da universidade, os pontos de lazer e diversão para um casal, e as situações desagradáveis que presenciaram nas cantadas entre pessoas em espaços de diversão.

Participam desse episódio Guilherme PiresLetícia Lyns, Otavio Crosara e Tiago Abreu.

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Transcrição do episódio

Tiago: Um olá pra você que escuta o podcast Introvertendo. Nós já sobrevivemos mais de dez episódios e agora nós estamos aqui pra falar de um tema que não tem nada a ver com autismo, mas que certamente você pode se identificar ou não. Nós vamos falar sobre as nossas experiências de festas, baladas, eventos sociais e coisas do tipo. Meu nome é Tiago Abreu e eu prefiro dirigir, então, por isso eu não bebo. 

Otávio: Meu nome é Otávio e eu gostaria de ir lá pra fora, mas tem pessoas lá. 

Guilherme: Eu sou o Guilherme e se eu beber, eu viro um cético radical. 

Letícia: O meu nome é Letícia e eu não tenho uma frase retórica legal pra falar agora.

Otávio: Somos de Goiânia, certo? Uma das piores cidades, talvez…

Tiago: A terra da pamonha…

Otávio: Terra da pamonha… 

Tiago: Do sertanejo… e do Césio.

Letícia: Ah, importante!

Otávio: É! E aqui a gente só perde pra Chernobyl.

Letícia: Né?

Otávio: Então, eu vou contar aqui, com meus catorze dedos na minha mão direita, o que a gente tem pra fazer em Goiânia. 

Letícia: Cê tem quatorze dedos?

Tiago: É uma piada.

Otávio: Césio!

Tiago: Muito autista isso (risos)

Letícia: (risos) Desculpa!

Otávio: Começamos bem, como vocês podem ver… É… Goiânia, o que que a gente tem pra fazer à noite aqui? A gente pode ir pra pamonha aí…

Tiago: A gente pode ser assaltado…

Otávio: Pode ser assaltado!

Tiago: Comer pequi…

Otávio: A gente pode comer pequi, a gente pode ser assaltado…

Letícia: Pode cair uma dupla sertaneja da árvore.

Otávio: Exato. A gente pode ir ao cinema, e pronto, acabou!

Tiago: E pode ir numa loja de açaí, onde tem tudo menos açaí.

Otávio: Verdade!

Letícia: E tomar água de coco no parque. 

Guilherme: Tem até terra com reboco de parede, mas não tem açaí.

Otávio: Verdade! E tem cinema, e tem a Villa Mix… e pronto, não tem mais nada!

Tiago: Eu acho muito engraçado, inclusive, que Goiânia, mesmo com a decadência mundial dos shoppings, continue construindo novos shoppings.

Letícia: Sim!

Tiago: Vai ter um novo shopping na Avenida Goiás, na Leste-Oeste.

Letícia: Eu já perdi as contas de quantos shoppings tem aqui.

Tiago: Pois é, e é um shopping mais irrelevante que o outro. 

Otávio: Isso, é pra você ver o quão nós não temos opções de lazer nessa desgraça. 

Letícia: Não tem criatividade pra criar também, né!

Otávio: Exato! Eu levei uma menina, eu levei minha namorada, primeira… primeiro encontro  com a minha namorada…

Tiago: NAMORADA!!!

Otávio: Ai, meu Deus. Tiago, vê se cresce!

Letícia: Agora, ele pode falar, gente, namorada!

Tiago: No podcast, gente, esse é o primeiro episódio oficialmente que o Otávio está namorando, tivemos uma mudança aqui e nós vamos falar sobre namoro futuramente. 

Guilherme: E esse namoro… ela tem conhecimento, né?

Otávio: Guilherme, cala essa boca!

Letícia: Ela existe, ela existe!

Tiago: Ela não é 2D.

Otávio: Graças a Deus, ela não tem orelhinha de gato, ainda bem. Então, voltando, por favor, não vamos nos desvirtuar: Meu primeiro encontro com a minha namorada, foi na onde? Foi no Airsoft! Cê vê o quão ruim é essa cidade…

Letícia: Mas airsoft é legal!

Otávio: Eu sei, mas…

Letícia: Eu queria ser levada no airsoft no meu primeiro encontro. É sempre parque véi…

Otávio: Agora gostaríamos que os donos de banco de airsoft agradecessem a nós, porque a demanda vai aumentar muito, certo? Mas por que que eu falei disso? Pra você ver o quanto falta lazer nessa bodega de cidade, porque só tem o quê? Só tem show de sertanejo: tem a Santa Fé, tem a Villa Mix, tem mais o caralho a quatro. 

Letícia: E boate gay!

Otávio: Não, é… eu não, eu não sei. 

Otávio: Tem o quê? Tem… tem fazenda! E feira…

Letícia: E feira (risos). Fazenda? Sítio, é sítio. 

Otávio: Agora, e o goiano não aprende, o goiano não aprende, ele não procura coisas novas, ele fica naquela mesma mesmice. 

Tiago: Inclusive, evento social de idoso aqui é andar pelo Centro, você pode ver que tem idoso aqui em Goiânia, que a única coisa que ele faz durante o dia é pegar ônibus e ficar andando pelas ruas do Centro. 

Guilherme: E indo em banco. 

Letícia: Ou ir na igreja.

Otávio: Meu Deus!

Tiago: É, ou ir na igreja. Mas, enfim, nós estamos falando de baladas, nós estamos falando de festas, então, eu quero que vocês contem a primeira vez que vocês foram numa festa, como vocês se sentiram? 

Letícia: Nossa!

Otávio: Ah claro que eu lembro a primeira vez que eu fui numa festa, né… lembrei, lembro como se fosse ontem, porque a primeira vez a gente nunca esquece. Como Asperger, eu tenho, eu sempre tive uma dificuldade de interação social, principalmente com sexo oposto, que é o sexo que me atrai.

Tiago: É porque quando você falou “principalmente com o sexo oposto”, [deu a entender] “aí ó, ó, o Otávio tá se dizendo que é bissexual aqui”.

Otávio: Não, porque assim, se eu fosse uma mulher, eu era lésbica. E assim, e eu ia pras festas e eu não tinha sucesso nenhum com o sexo oposto. E isso me deixava muito puto!

Tiago: Mas tinham mulheres que chegavam em você?

Otávio: Não. Por quê? Porque eu tava sempre tenso, eu estava tenso, tava com as pupilas  dilatadas…

Tiago: Ou seja, provavelmente elas olhavam pra você e pensavam, “nossa, se eu falar com ele, ele vai mijar nas calças”. 

Guilherme: Ou “vai explodir”. 

Letícia: Ou “vai me empurrar e eu vou sair voando pela parede”.

Otávio: Isso, ou então, “ele vai sair gritando”. Né?! Então, assim, eu acabei virando um um cara isolado, um cara recluso, caseiro, eu gosto e até hoje é assim. Eu já fui em outras festas em São Paulo, já fui em festas em Goiânia, com taxas diferentes de sucesso, certo? 

E depois de, depois de tantos anos com essas experiências, eu descobri que… Deus do céu, homens e mulheres, vocês não sabem flertar e relacionar uns com os outros. Assim, a gente não sabe flertar direito, a gente não sabe chegar… a gente, a gente sabe flertar, mas a gente não sabe cortejar.

Tiago: Qual é a diferença de flertar e cortejar? Desculpa, eu não sei.

Otávio: No curto e grosso? Quando você corteja dá certo, quando você flerta dá errado! 

Letícia: Tá, explica de novo. 

Tiago: Isso não fez o menor sentido…

Letícia: Explica detalhadamente!

Otávio: Tá, então, o flerte é quando o cara chega e ele faz aquela apresentação…

Letícia: Penetração?! 

(Risos)

Otávio: Eu falei “APRESENTAÇÃO”! Não desvirtue as minhas palavras, por favor. O cara chega: “- E aí gata, tudo bem? Bora lá pro canto? Fazer aquilo?”. Entendeu? 

Letícia: Ah, então o flerte seria o direto? É o cara que já chega pegando no rosto da menina, vira e já tasca o beijo?

Otávio: É o que você vê em todas as festas universitárias.

Letícia: E eu acho isso ridículo!

Otávio: E por que isso dá certo? Porque as mulheres não encontram homens que sabem cortejar, certo? Quer ver um cortejo? O cortejo que eu fiz com a minha namorada: a gente foi ver o Pantera Negra, era o aniversário de um amigo em comum, e eu não conhecia ela antes. Eu vi: “Nossa, que mulher bonita!” Eu senti uma atração, e o que aconteceu? Eu, depois do Pantera Negra, nós fomos comer um hambúrguer, hambúrguer. Tá bom Tiago? Hambúrguer!

Tiago: Mas eu não falei nada…

Otávio: Não, mas eu tô me precavendo antes que comece! E eu escrevi um bilhetinho num guardanapo,  falei “se estiver interessada, liga no meu celular e pede uma Vodka, certo?” 

E ela fez isso! 

Letícia: Nossa, pedir uma vodka, por que vodca? 

Otávio: É porque eu não consigo curtir bebida fermentada, só gosto de destilados. 

Letícia: Ah, entendi.

Tiago: Eu pensei que você solicitou beber pra você ficar mais solto e interagir socialmente.

Otávio: Não, não, não, não, não, gente, vocês estão entendendo errado! Eu pedi, depois do hambúrguer, pra ela ligar pra mim e pedir uma vodka pra mim, entendeu? 

Letícia: Ah, pra você pagar uma vodka pra ela?

Otávio: Isso! Até hoje eu não paguei essa vodka, paguei um monte de coisa, mas não paguei a vodka. E ela inclusive cobrou isso de mim. 

Tiago: Mas agora, mas agora um dia vocês bebem essa vodka e ficam loucões juntos, e…

Otávio: E cala a boca! Mantém o decoro, mantém o decoro, cacete! Ó, eu só queria avisar que isso foi improvisado, eu não sei como porque eu não sei improvisar, entendeu? E aí, é essa a diferença de flerte e cortejo, sabe, cortejo. Porque assim, o que a mulher procura num cara? Mulher procura num cara, segurança, confidência, ela também procura aquela capacidade de se comunicar, ela procura um cara que seja um porto seguro, certo? Só que os homens não percebem isso, os homens querem o quê? Eles acham que quanto mais cabelo no peito, melhor.

Tiago: Quanto mais Alexandre Frota…

Otávio: Quanto mais Alexandre Frota, quanto mais cabelo no peito, melhor.

Letícia: Não gosto de cabelo no peito!

Otávio: Ou seja, eu gostaria também que a Gillette agradecesse, porque agora muitos homens vão comprar Gillette pra depilar o peito. 

Tiago: Ou então, os profissionais da depilação a laser, né…

Otávio: Não, os gays já mantêm essa demanda lá em cima. Então, assim, essa é a necessidade de cortejo, porque você tem que mostrar pra mulher que você é um cara que é sensível, sabe, sensível. Mas você é sensível na hora certa! E na hora certa, você também ser o Alexandre Frota, pra citar o Tiago, certo? Então essa é a diferença de flerte e cortejo, e aqui em Goiânia ninguém sabe cortejar!

Tiago: Mas só uma observação, eu não tenho certeza, vou ter que consultar o dicionário depois desse episódio, mas eu acho que você tá atribuindo sentidos diferentes para palavras que são sinônimas, porque assim, eu uso esse termo, o flertar, pela internet, que é esse negócio… o jogo da sedução. Eu acho que as duas coisas significam a mesma, mas você tá dando um sentido diferente pra ela. 

Otávio: Eu estou mudando a história, eu estou, assim, dividindo… 

Tiago: É, o próximo acordo da língua portuguesa, tem que prestar atenção ao nosso episódio. 

Otávio: Ó, preste atenção, Academia Brasileira de Letras. Qualquer hora vocês podem me mandar, podem oferecer uma cadeira, uma cadeira no… como é que, como é que é o nome? Na… Uma cadeira da academia. Estou à disposição a hora que vocês quiserem. Tá? Inclusive a Academia Brasileira de Letras vai transferir essas atividades pra Goiânia porque eu estou aqui! (risos)

Letícia: Tá certo, jovem!

Tiago: Preciso contar assim, minha experiência em festas, que não são muitas, porque eu sempre evitei muito. Quando eu era criança, pra adolescente, o que eu gostava de festas, eram dois elementos:  comida e música! Música, não porque eu gostava das músicas que tocavam, mas eu sempre gostei dos elementos, do som, do aparelho, dessa parte eletrônica, que eu sempre fui fascinado desde criança, eu fazia mix tape.

Otávio: O Tiago gostava do que ninguém percebia, mas eu entendo isso. 

Tiago: Eu tinha uma festa de aniversário que eu ia, que era da minha melhor amiga. Eu tinha onze anos na época, ela tava fazendo aniversário de quinze anos e eu preparei músicas pra tocar. E as músicas eram CDs musicais do meu pai, então tinha tudo que fazia na época, era funk brasileiro, era Calypso, era Aviões do Forró, Aviões do Forró na época que o Aviões do Forró era underground, não era da Som Livre. 

Letícia: Ó, vai ter show do Aviões do Forró nesse fim de semana. 

Tiago: É verdade. Vai ter no Inter também, se não me engano.

Otávio: Explica o que é o Inter. 

Tiago: O Inter é uma festa da UFG de três dias, que se junta as atléticas, que o pessoal transa e se beija e se diverte…

Otávio: Nessa ordem. 

Letícia: Ó, a Carol, a Carol deu uma risadinha ali, ela sabe como é que é. 

Otávio: Olha só, as polêmicas… 

Tiago: Nessa festa em específico, eu tenho umas lembranças muito boas, porque o que eu fazia geralmente nas festas, eram atividades muito solitárias, eu ficava cuidando do som, eu pegava o aparelho de gravação de fita cassete, que tinha lá dessa minha amiga, e gravei o áudio da festa numa fita cassete, depois eu transferi esse conteúdo pro CD, então assim, era um negócio bem rústico. E nessa festa eu fiquei conhecido como DJ tesoura, porque eu cortava a festa. Aconteceu isso porque, às vezes, eu pulava uma música que tava todo mundo gostando, sabe… Mas a minha relação com festas nunca foi legal, eu morria de tédio. Eu chegava, por exemplo… festa de casamento, por exemplo, é um negócio que eu odeio: Casamento tá marcado pras nove horas da noite, começa às onze. Então, eu sempre fui aquele tipo de pessoa que era o primeiro a ir embora, que comia um pedaço de bolo e ia pra casa, porque eu nunca tive paciência. Quando eu vim pra universidade, nós temos as famigeradas baladas, né, que a dona Letícia aqui tem muita experiência também. 

Otávio: Vasta história… 

Tiago: É… A primeira balada que eu fui, assim, na universidade, foi a Chopada Salva Semestre, que foi em 2017, eu acho. E essa festa eu tava dirigindo, tava com os meus amigos. Era cinco reais, eu acho a entrada… e tinha méh, aquele monte de coisa lá, e eu não podia beber porque eu tava dirigindo e aí os meus amigos foram, todos eles beberam, ficaram doidões, e começaram a pegar todo mundo e eu observando as pessoas em volta, o povo, todo mundo bêbado na festa e a experiência de você tá sóbrio no ambiente de festa, é um negócio muito louco, porque você tem o estímulo do barulho, você tem o estímulo visual das pessoas e você se torna quase que uma espécie de pesquisador ali, fora do processo.

Letícia: Exatamente!

Otávio: Não, não… só faz isso se você tem asperger. 

Tiago: É, entendeu? E é engraçado, porque às vezes as pessoas dão em cima de você e você fica, tipo, “que porra é essa?” Cê entendeu? Eu tava lá na festa com meus amigos, de repente, chegou um cara e me pegou por trás, eu falei: “quê, o que que é isso, uai?” Sabe? E essa foi a primeira festa. Contem as festas de vocês, que depois eu conto as outras que eu fui.

Guilherme: Bom, a minha… ah vou, vou respeitar…

Letícia: Não, a questão de primeiro as damas aqui já foi cortada há tempos. 

Otávio: Aqui nós somos iguais!

Letícia: Tá certo, igualdade é, tá, cês tão vendo aí, né, meninas? Pode falar, pode falar, porque aí, depois, quando eu pegar pra falar aqui também, vou dominar. 

Guilherme: Só semana que vem que cê sai. 

(Risos)

Letícia: Que bom que vocês já sabem. 

Guilherme: Te conheci hoje, já tá desse jeito! Acontece o seguinte, a minha experiência com festas foi na adolescência, ensino médio, tinha meu grupo de amigos dos quais um deles tinha aparelhagem pra iluminação e o irmão dele tinha uma mesa de DJ, então, a gente sempre fazia a festinhas em residência, festinhas de eletrônica, som automotivo, essas coisas. E assim, sempre dava bom e ruim ao mesmo tempo na festa, não tinha como… Numa delas aconteceu que depois de ter acabado a festa, ter se dado bem, tudo mais, junta sete macho pra dormir num lugar com menos de dez metros quadrados, né… então, assim…

Tiago: Teve sexo, basicamente!?

Guilherme: Não, não teve, mas pensa, cê acabar a noite, escorar… escorando duas placas de acrílico. 

Otávio: É, como? Perdão, não entendi a referência. 

Guilherme: A gente foi dormir dentro da sala do pai dele, do escritório do pai dele. Tipo assim, os cara tava tão bêbado que um dele tirou a camisa e o outro vomitou em cima da camisa do outro… 

Letícia: Nossa!

(risos)

Guilherme: Então, assim, sempre tinha alguma coisa, dava alguma polêmica, né. 

Otávio: Depois vocês não entendem porque eu só gosto de mulher, né, gente? Olha isso! Homem é um bicho nojento. 

Guilherme: Demais, demais…

Letícia: É pra falar de festa em geral ou uma balada?

Tiago: De uma balada que você foi, que assim, que foi, marcante, alguma história e tal.

Letícia: Nossa, todas as baladas que eu fui, foram marcantes de uma certa forma, porque, principalmente, olha, teve a que eu conheci um dos meus namorados, só pra deixar bem claro eu sou a que mais namorou aqui do grupo… Eu queria deixar isso muito claro, porque eu tô ganhando, nisso, e eu estou tipo “Wow, yes!”

Mas… eu, eu vi aquele menino e ele cantava e foi numa noite de karaokê, na balada, e aí, e eu canto né, então, assim, falei “nossa gente, além de bonito, ele canta”, e parecia que ele era super divertido e eu gosto de pessoas divertidas, porque eu já sou meio bipolar, assim, de vez em quando, então é legal ter uma pessoa meio descontraída, assim, pra eu igualar minha loucura, né… mas, aí, eu vi e eu fiquei ali sondando, assim, de longe, sem coragem nenhuma de chegar perto dele, de conversar com ele e tal. 

E aí, eu falei “eu vou ali buscar uma cerveja e quando eu voltar, eu vou ver se eu consigo esbarrar nele, se ele olhar pra mim, ficar olhando, é porque ele tá afim, senão é porque ele não tá afim”…

Aí eu fui lá, peguei a cerveja, vim, esbarrei nele e não olhei pra trás pra ver. 

(Risos)

Otávio: Tomem notas ouvintes, habilidade… isso, isso é um cortejo, sabe? Isso é coisa, gente, que é ação da situação que leva a… como é que fala? A afeição pelo outro, sabe?

Letícia: Eu não olhei pra trás… E aí eu não sei se ele olhou pra mim, porque eu simplesmente fui reto, direto. E aí, eu fiquei lá com os meus amigos. Aí fiquei… um tempão… 

Aí eu cheguei na festa, acho que era umas 23:00, e quando foi [entre] 01:00, 01:30, eu já tava desanimando, já tinha bebido, assim, o tanto que, que eu considero aceitável pra mim, assim, que eu sei que não vai me fazer mal, porque meu estômago é muito fraco… Aí, eu já tava cansada de dançar, porque eu só, eu vou pra balada, só se pra eu dançar e ficar louca, porque eu não, eu não consigo não beber na balada, porque senão eu fico super entediada (tanto é que na última balada que eu fui, fiquei jogando Harry Potter no celular, porque eu tava, tipo, super entediada), mas aí tal, já sentei com os meus amigos e aí meu amigo virou pra falou assim:

– Cê quer ajuda?

Aí eu falei: 

– Não, ele não, não vai falar comigo, ele não vai… 

Eu fiquei tipo morrendo de medo, não sabia, eu ficava assim: “e aí, quê que eu vou falar pra ele? Então, se eu for, ah, eu não… não sei”. Eu travei!

E aí, meu amigo falou: “Não, então eu vou ali no banheiro”. 

Aí, ele foi, saiu, foi no banheiro. Quando ele voltou, ele tinha trazido o menino junto com ele, aí falou: 

– Luíz, Letícia… Letícia, Luiz…

Aí eu fiquei assim gente: “Oi, tudo bom?”

Gente, é porque não dá procês verem, porque não tá gravado, mas eu tô fazendo joinha. 

Otávio: É… e ó, ela fez uma uma atuação de como… ela arregalou os olhos assim, como se ela estivesse na frente de um Deus grego. 

Guilherme: A personificação da perfeição!

Letícia: Sim, porque ele era lindo pra caralho, só que aí, o que que aconteceu? Me apaixonei, tipo, de cara, né, porque eu sou muito intensa e o menino era superlegal!

E… teve uma outra vez que eu bebi muito, eu fui pra uma balada de pagode, de samba, tal e foi nesse dia que eu aprendi a sambar, porque eu não sabia sambar. E aí, eu bebi, eu parei de contar quantas bebidas eu tomei, e eu lembro que eu deixei meu celular no banheiro e esqueci onde eu tinha deixado meu celular, e comecei a gritar no meio da balada:

– Me roubaram, me roubaram. Eu vou denunciar, eu vou processar essa balada! E não sei o quê…

Os carinhas que tavam tocando lá em cima na banda, peguei o microfone e falei:

– Avise no microfone que roubaram meu celular e eu tô processando, eu tô processando!

E o meu celular tava no banheiro, e aí tipo… aí eu fui lá fora, falar com o guarda, falei: 

– Revista o povo que sair aqui, porque pegaram meu celular que tava no meu bolso!

Tiago: Sabe o que iria ser irônico? Se o celular realmente estivesse no seu bolso…

Letícia: Não, aí tava no banheiro e alguém realmente tinha pegado, mas tava no banheiro, não tava no meu bolso. 

Mas devolveram meu celular no fim, só que foi muito legal, porque, tipo, eu nunca, eu nunca tinha bebido tantas. 

Otávio: No final, todo aquele barraco serviu pra alguma coisa, porque o celular voltou.

Letícia: É, não, e eu peguei o guitarrista, detalhe!

Otávio: Essa noite… ela faturou a noite inteira!

Letícia: Pois é!

E uma, uma vez que foi muito chato assim, não foi, não foi uma situação engraçada, foi uma situação bem chata, que foi uma das últimas baladas que eu fui também, que eu fui no Diablo, eu nunca tive no Diablo…

Tiago: Odeio aquele lugar com todo o meu coração, tenho que contar coisas de lá. 

Letícia: É, porque. Gente, lá tem os desenhos nas paredes que bugam o meu cérebro, tipo, totalmente…  

Guilherme: Reseta tua mente?

Letícia: Nossa, é uns capeta desenhado lá, com com luz neon, sei lá, que diabo é aquilo, literalmente, diabos desenhados, e eu não sei que merda é aquela que passam na parede. O som lá é extremamente alto, estridente e… 

Tiago: A acústica é horrível!

Letícia: Acústica horrível, eu já fiz show lá, só que não tinha aqueles negócios na parede, aqueles trem antes, aqueles… era bem lá pra trás, antes de reformar e tal, e foi mais de boa por ser show, mas eu nunca tinha ido pra ir na balada mesmo, assim, em festa. 

E aquelas luzes, parece que eles não têm controle nas luzes, eles jogam assim… apertam o automático e deixa… E aí, tipo é muita, muita informação, e aí eu passei mal da última vez, eu tive que… eu fui lá pro lado de fora, lá pra área de fumantes, eu achei que eu ia vomitar, fui pro banheiro, falei assim “nossa, tô tô ruim” pra minha prima que tava lá, aí ela ficou lá comigo, só que, tipo, eu não conseguia vomitar e aí eu, depois, assim, meu coração tava muito acelerado. E aí, eu vi que eu tava tendo o começo de uma crise, né. Aí, eu fiquei lá, fui respirando fundo e foi melhorando… Aí, eu fiquei mais tempo lá na área de fumantes, com a galerinha que tinha lá, conversando. 

Guilherme: E fumando…

Letícia: De vez em quando… Mas eu fiquei mais tempo lá do que lá dentro da balada mesmo, assim, até gravei uns vídeos lá pra falar assim “estou na balada, eu sou uma pessoa normal, ehhhh”, mas o maior tempo eu tava realmente lá na parte da área de fumantes, porque, cara, é insuportável!

Aí eu chego em casa e tô assim: “Tum, tum, tum, tum!” Minha cabeça e meu ouvido… aí fica: “Sabe o que é aquele sininho, piiiiiiiiii…”  Nossa, pelo amor de Deus!

Guilherme: Fiquei uma semana desse jeito depois da formatura.

Letícia: Nossa, e a maioria das baladas que eu vou é desse jeito, então se eu não beber, se eu não tenho uma coisa pra focar… igual nessa última, eu não quis beber muito, fiquei jogando Harry Potter, porque…

Tiago: Eu fico focado nos meus amigos, entendeu? A única vez que eu fui na Diablo, eu acho que foi em agosto, em agosto do ano passado, que nós fomos numa festa que era promovida pela atlética da educação física da UFG lá. E aí, os meus amigos resolveram ir, eu fui junto, dessa vez eu podia beber, mas eu acabei não querendo beber, porque eu não tava afim. E aí, o meu amigo que tava dirigindo, ele entregou a chave na minha mão e falou assim: “você dirige quando a gente ia embora?” Eu falei: “Tá”. Ele falou: “Então, toma aí (entregando a chave do carro)”. 

Ele foi lá e meteu uma garrafa, virou e bebeu inteira. Aí, o que aconteceu? O ambiente tava muito quente, eu odeio aquele lugar pequeno… 

Letícia: O Diablo é muito quente, muito quente…

Tiago: Tem vários ar condicionados que não servem pra porra nenhuma. 

Letícia: Lá tem ar condicionado? Pra mim era um ventilador gigante só!

Otávio: Tem, só que assim, tem os ar-condicionados, só que o ambiente é tão fechado, é tanta gente que eles não são suficientes. 

Tiago: E, e nem sempre todos ficam ligados, eles, às vezes, fazem questão de não ligar todos.

Letícia: Cara, eu acho lá muito mal estruturado.

Otávio: Você sai de lá pra respirar!

Tiago: O DJ que tava lá, não era bom! Ah, tocaram umas músicas assim, umas músicas que as letras constrangeram os jovens, que estavam lá dentro, só pra vocês terem ideia.

Otávio: Isso quer dizer alguma coisa…

Tiago: É, e aí, em alguns momentos a gente ficou do lado de ali onde tem a área do bar, mas tomando todo cuidado pra não gastar dinheiro lá dentro, que era muito caro. Três horas da manhã a gente tava indo embora. Aí, três horas da manhã, a gente tá chegando lá no carro lá do meu amigo, pra quem não sabe, o Diablo fica localizado num bairro em Goiânia, chamado Lado Sul, que é um bairro predominantemente residencial, é um bairro planejado que não tem muitos prédios… Então, assim, é um bairro rico, mas, ao mesmo tempo, bem estranho. 

Otávio: É um bairro que também não deu certo. Na verdade, nada em Goiânia deu certo!

Tiago: É, mas aí, por causa dessas baladas, tem muitos casos de violência. Quando a gente chegou na frente do carro do meu amigo, tava os vidros da frente quebrados, roubaram o aparelho de som e enfim, o carro tava fodidaço. Então, a gente pensou: “a gente vai fazer o BO? Não, já eram três e meia da madrugada”.

Letícia: Não vão de carro nas baladas, viu gente! Vai de Uber, de ônibus, mas não vai de carro. 

Tiago: Ou estaciona dentro do estacionamento de verdade, ao invés de colocar na rua.

Letícia: Quando tem, né, porque no Diablo não tem.

Tiago: A Diablo tem, tem na frente da Diablo, um estacionamento lá. 

Otávio: Nunca vi aquela porra aberta. 

Letícia: Eu também nunca vi. 

Tiago: Ah, no dia que eu fui estava aberta. 

Otávio: Ah, é especial, né?

Letícia: É Vip. 

Otávio: Ah, você vai, vai se decepcionar… 

Tiago: Aí, o que acontece? Aí eles colocaram eu pra dirigir, eu dirigindo lá com os cacos de vidro… Aí a gente deixou cada um nas suas casas, o meu amigo foi dormir comigo lá em casa. E foi isso!

Otávio: Ah, os micos que nós já pagamos nas baladas. E agora, gostaríamos de avisar que como o assunto é um pouco extenso a gente vai ficar falando por umas oito horas. Eu aqui acho que sou o que mais fui em festas, já que eu sou mais velho, certo? E eu já paguei mico demais!

Tiago: A Letícia também, ela todos final de semana tá na balada, viu? 

Otávio: Nossa. Não, mas é assim, mas ela não paga tantos micos como eu. 

Eu sou um cara que já chorou na balada. Por quê? Não… porque… por nenhuma mulher…  porque eu pegava mulher. 

(Risos)

Otávio: Não, falando sério, porque assim, o Asperger, quando ele bota que alguma coisa tem que ser de certo jeito na cabeça, se aquela coisa não for daquilo…

Letícia: Ele surta, né? 

Tiago: Tem que seguir o cronograma. 

Otávio: Tem que seguir o cronograma!

Letícia: Eu sou desse jeito (risos)

Tiago: Você se prepara mentalmente… 

Otávio: Exatamente. Pra mim, desde que eu era, desde a minha adolescência, botaram na minha cabeça, ou eu botei na minha cabeça, não sei: “Vai pra festa… tem que pegar…” Observa o que eu falei: “Tem que pegar!” 

Letícia: Então se você não pegou, você ficou chateado!

Otávio: E eu não pegava!

Tiago: Porque o machismo brasileiro é isso, sabe, homem que não pega mulher ou é frouxo ou é gay.

Otávio: É… aí era isso também nas festas pequenas, onde tinha os meus veteranos, ou seja, paguei mico demais! Tinha festa na área de festas de um apartamento, eu não pegava ninguém, eu ia chorar na garagem. Entendeu? E assim, era um negócio tão humilhante que o pessoal ficava com pena, ninguém ria de mim. 

Tiago: Mas ninguém ficava com você também!

Otávio: Ai!!! Eu vou chorar!!! Eu vou chorar aqui, eu vou chorar! Você machucou lá, muito fundo.

Tiago: Mas hoje você tem uma namorada, então, foda-se todo mundo. 

Otávio: Não, mas cê tá me trazendo aquele passado antigo. 

Letícia: Não, manda todo mundo tomar no cu, cê tá namorando!

Otávio: Foi o Tiago, ele não tá me ajudando muito, sabe? Então, esse negócio, hoje, eu já vi que não é assim, certo? Tem que ter paciência.

Letícia: Mas você tentava? Ou você simplesmente não conseguia? 

Otávio: Bom, 10% das vezes eu tentava, 90% eu ficava com aquele monólogo na minha cabeça, suspirando e não fazendo nada. 

Tiago: Porque assim, todas as vezes que eu fui na balada, eu nem tentava, eu ficava só curtindo a música, etc, etc, porque eu sabia que dava um desastre.  

Letícia: Eu também não tentava não, os meus amigos que iam por mim. 

Tiago: Não, eu ia como motorista, sabe… Eu já não ia nem com o objetivo de ficar com ninguém, eu só ia mesmo pra curtir o ambiente e ficar com os meus amigos, porque eu sabia que se eu tentasse qualquer coisa eu ia passar vergonha. Ah, hoje em dia não, hoje em dia eu já vou ligar o foda-se. 

Guilheme: Cara, uma vez eu fui numa balada, numa festa. Foi duas festas distintas, uma delas eu tava produzindo junto com os colegas lá. E aí, vai administrando… Não, produzindo, a gente tava organizando a festa, os responsáveis pela festa… 

Tiago: Ah, tipo gente que fala resenha, eu falo assim, mas resenha é aquele tipo de texto que é crítica cultural, sabe?

Guilherme: Justamente, você faz sobre determinada obra.

Tiago: Sim, eu acho super estranho quando as pessoas falam resenha. 

Otávio: Se eu fosse pra fazer uma resenha com os amigos assim, seria um sarau, não seria uma porcaria de uma resenha. Continue Guilherme. 

Guilherme: E aí, o que que acontece? Nisso, cuidando do gasto, cuidando das coisas lá, me veio um amigo de quase, pouco mais alto do que o Otávio, quase dois metros de altura… Bêbado não né, só tri-bêbado…  E aí, pega, tem a inteligentíssima ideia de sentar numa mesa oval. Observação…

Tiago: Sentar em cima da mesa, então? 

Guilherme: Tem que sentar na beirada da mesa, se fosse no meio, tava tudo bem, porque a mesa era oval… e pequeno detalhe…

Tiago: Ela era de plástico?

Guilherme:  De granito, cara, cê não tem noção, não… Cê não tem noção do que aconteceu. 

Tiago: Ela quebrou? 

Guilherme: Moço, ela virou, rachou no meio. Não sei nem quantos pedaços virou. Eu olhei assim e falei assim né: Ô, é coisa de bêbado, coisa de bêbado!”

A outra, a outra vez, a outra história, foi que… que nem eu comentei mais cedo aqui, os meus colegas que estavam na festa, eh, a gente deitado assim, organizado num canto, num cômodo lá, cada um deitado dum jeito lá, parecendo peça de puzzle, aí o colega pega, tira a camisa: “Ah, tá calor, véio, vou dormir de camisa.” 

E aí, eu já dormi no meio desses machos. Tinha ganhado a noite, tinha ficado com a gatinha, tudo mais, só que ela tinha ido embora, aí, tem que dormir com aquela nhaca toda dentro de um cômodo… Um dos colega pega, vira de lado, falou assim: – Acho que eu vou vomitar!!!  

Otávio: Vomitaaaaaaar! [fala já vomitando]

Guilherme: O cara pega e, vomita em cima da roupa do outro, velho, nossa, cara…

Tiago: Fez na sua roupa?

Guilherme: Não foi na minha. Tá doido que eu vou tirar minha roupa num quarto com sete macho… Ah, tá me estranhando, é? É aquele momento que cê gruda a bunda na parede, fica de frente pra todo mundo aqui, fala assim: “Ó, num vou nem dormir, num vou nem grudar o olho aqui.” 

Otávio: É uma situação de perigo, sabe? Heterossexualidade é uma coisa muito frágil! Uma vez que você quebra ela não volta! 

Guilherme: Justamente. A outra [festa] foi com os meus irmãos e três primos num bairro aqui de Goiânia, chamado Marista, um local chamado Califórnia. Pensa num lugarzinho bom, pequeno e chato. Porque assim, dá três lugar numa, aliás, dá dois banco, num pedaço de madeira, que eles chama de mesa, num tem um metro quadrado de mesa. E aí é mal ventilado.

Que as pessoas ficam muito perto uma da outra. Nossa, fica colado. Eu tava morrendo de sede, meu irmão mais novo limpou os energéticos  tudo, sobrou só a vodka pra tomar. Eu olhei assim e falei “cara, eu vou tomar esse trem”.

Tomei que eu fiquei tão ruim que eu juro procê, fiquei tão cético, que tinha uma mulher dançando com um cara do meu lado, mulher acompanhada, ela olhou pra mim assim, tentou mexer comigo, viu que eu não dei bola. Meu irmão me deu uma catracada pra poder ir lavar a cara, melhorar do jeito que eu tava. 

Otávio: De tanto álcool que ele tomou, ele não estava cético, ele tava antisséptico!

(Risos)

Guilherme: Palhaço! Olha… e aí, assim, tava tão sério, tava com a cara tão fechada, que o cara que tava com ela, que ele, os cara tudo maior que eu, mas não era muito diferente não. Eu sou mediano. Os cara começou a olhar pra mim assim, eu pedindo licença pra passar assim, tinha caso que não precisava nem pedir licença, os caras já… “Ou foi mal, tudo bem, foi mal, tudo o mais…” Eu: “Mais que isso, o que tah acontecendo, eu tô perigoso hoje, que que tá acontecendo? Eu nem tô armado… Aí eu, se tivesse.. era outra história. 

Tiago: Você dá uma chave de braço nos caras… 

Guilherme: É… Chave de braço, né? Palhaço! Aí, beleza. Eu vim assim no corredor assim, os cara tudo abrindo os corredores assim… Falei “cara, tá acontecendo alguma coisa, que que tá acontecendo, hein?” Tinha um espelho enorme, a hora que eu olhei pro espelho assim, eu via todo mundo, menos eu. Diz assim, espelho do tamanho da parede, cara, eu tava de frente pro espelho, eu via todo mundo na balada e não via eu…

– Cara, eu tô ruim! Velho!“ Eu parei assim cinco segundos assim… “Peraí… Deixa eu filmar o foco.”

Pá, aí beleza, eu me vi, falei assim “puta que o pariu!”. 

Entrei pra dentro do banheiro, aí fui lavar a cara, quem disse que eu fui lavar a cara? 

Entrei pra dentro do banheiro lá, abaixei a tampa do vaso, sentei no vaso, já escorei a cabeça nas duas mãos e fiquei esperando, acabei adormecendo dentro do banheiro lá. E acordando com meu irmão me gritando lá, jogando água lá, lavando minha cara e tudo mais.

Tiago: Letícia!

Letícia: Ah, então, não é bem mico, mico, mico, assim, mas teve uma vez que eu tava lá com os meus amigos na balada, eu também tava com aquela mesma coisa que, que você falou. 

Otávio: Tava chorando, copiosamente, porque você é um fracasso social? 

Letícia: Não, mas eu tava com aquela coisinha, tipo, ah, eu tenho que ficar com alguém, sabe? E aí eu tava com meus amigos e aí meu amigo ficou com um carinha lá, minha outra amiga ela tinha, tem namorado, então… E eu ficava assim “caraca, só eu que não vou pegar ninguém aqui”. E aí gente, do nada, assim, eu falei “Ah, quer saber? Foda-se!” 

E aí, eu subi no palco lá e eu fui dançar com meus amigos dançando. Aí, chegou um cara,  com o amigo dele, o amigo dele chegou no meu, no meu amigo e falou assim: “Olha, eu tenho dois amigos aqui, um quer ficar com você”, falou pra esse meu amigo, que era gay… “Um quer ficar com você e o outro quer ficar com a sua amiga”. Aí, ele falou assim: “Qual delas?” Porque era eu e tinha outra minha amiga… Aí falou: “A ruiva.” 

Otávio: Observação, ela é ruiva!

Letícia: Observação, eu sou ruiva! E aí eu fiquei meio assim, na hora que eu olhei, eu cara… desse tamanho. 

Guilherme: Ou seja, gigante?

Letícia: Não, não gigante.

Otávio: Ah, é que ela tá sentada, tá colocando a mão lá pra cima. Se ela estivesse em pé, era um cara muito grande. Ela tá sentada, é um cara Deive Devito.

Letícia: É… mais ou menos da minha altura, assim, mas um pouquinho mais alto que eu…. Só que, tipo, um homão, saca? Assim, tatuagem… bração e tal…

Tiago: Que homão da porra. 

Letícia: Eu falei assim: “Eita, Giovana…”. Tudo bom, só que tava tudo escuro, né. Piscando, as luzes piscando. 

Otávio: Cê percebeu tudo isso dele? 

Letícia: E aí, eu… não, calma… aí eu fui lá, fiquei com ele e tal… assim, a gente ficou e se pegava o tempo todo e tal, daí até que tem uma hora que chegou um amigo meu, que é bissexual, e aí ele olhou assim pra cima do palco: “Leeeeeeka…” Leka meu apelido… “Leeeeeeca, Leka…” e não sei o quê… “Você aqui…”. E virou assim pro outro menino: “Você também aqui. Peraí, cês tão se pegando?” 

Tiago: Eu peguei vocês dois, já uma vez, tipo era isso?

Letícia: Aí, tipo, o cara que eu tava ficando chegou em mim, falou assim: “Uai, de onde você conhece ele?” Eu falei: “Não, a gente é amigo e tals, do teatro e tudo…”. Ele: “Não, é porque a gente já ficou e por causa, ó…”

Otávio: Fez um ménage à trois. 

Guilherme: Vamos fazer um surubão aqui e agora. 

Letícia: Não. Não teve ménage, mas ele, mas o meu amigo chegou em mim e falou assim: “Nossa, agora realizar meu sonho seria ficar com vocês dois um tempo”, aí eu: “Hoje não, querido, hoje não.”

Otávio: Mas Jesus disse, amai-vos e comei-vos. 

(Risos)

Letícia: Onde é que está escrito isso na Bíblia?

Tiago: E tem aquele versículo que diz que “Deus se alegra daquele que dá com alegria.” 

(Risos)

Guilherme: Pois é, queria fazer um sanduíche francês, ela não quis. 

Otávio: Não, mas sempre há um dia de amanhã, e ela com certeza… 

Letícia: Não, o pior, cês não sabem… O pior de tudo foi depois quando eu descobri quem era o cara, quando dava pra enxergar a pessoa normal e tal, eu descobri que eu tinha ele no Facebook, que era um menino…

Tiago: Feio pra caralho?

Letícia: Feinho da porra, cara, cabelo azul, rapado aqui do lado, assim, os trem assim, ó… eu encontrei com ele na rua outro dia, mas eu não falei com ele, tá? Foi de longe… E eu olhei assim, eu: “Gente, eu fiquei com esse cara?”

Otávio: Eu fiquei com isso?

Letícia: No mesmo dia, eu fiquei com outro cara que a gente fica até hoje, assim, tipo, eu, eu fiquei, eu fiquei com ele lá, aí depois eu namorei que foi o que durou um mês. E aí, quando eu terminei, foi, agora a gente voltou, voltou a ficar. 

Tiago: Você vai namorar com ele, cê sabe né?

Letícia: Eu não sei. Não quero namorar, porque ele é, ele é muito tímido, aí, tipo assim, eu já sou autista, aí com um tímido, aí… Não, foi engraçado…

Tiago: Você tá abraçando o discurso do Michael, e você vai quebrar a cara igual ele, você vai ver…

Letícia: Não, sabe por quê? Porque foi, foi muito engraçado, porque nessa última festa que eu fui jogando Harry Potter, ele apareceu lá com o primo dele, eu não sabia que ele ia, né… E aí, a gente não sabia o que conversar, como conversar, então a gente ficava se pegando, então a gente virava e ficava assim, aquele silêncio… E aí ele: “Ai, não sei, eu tô com uma preguiça, não sei… ah, vamos se pegar…” E a gente não tinha o que falar, não sabia como falar, não sabia o que, o que dizer, como agir então a gente ficava se pegando. 

Aí o primo dele chega e fala assim: ”Ué, mas cês já vão casar?” Porque, porque toda hora que ele chegava perto da gente, a gente tava se pegando.

Otávio: Alguém tinha que estragar o negócio, alguém tinha que falar uma coisa ruim na porra, né? Pelo amor de Deus!

Letícia: Não, mas a gente tá se conhecendo aí, mas assim, ele é muito tímido, tipo, muito tímido, então, é, é meio complicado, porque eu não, eu não, não sei como é que eu vou destravar uma pessoa né.

Otávio: Faz o seguinte, em vez de você beber a cachaça, faz ele beber… ou uma chave de buceta também serve.

Letícia: Nossa, mas ele já bebe demais, ele bebe pô, ele bebe mais que eu…ele ficou mais bêbado do que eu, aquele dia. 

Otávio: Ele perde a timidez?

Tiago: Quando bebe… 

Letícia:  Ah, ele me pediu pra ir pra casa dele umas dez vezes, então. 

Guilherme: Nossa… 

Otávio: A questão é, você foi pra casa dele dez vezes? 

Letícia: Não, filho, eu tava menstruada, tá louco?

Guilherme: Nossa, quanto tempo dura essa menstruação?

Otávio: Um pirata de verdade navega o mar vermelho, gente.

Letícia: Ah, mas eu não gosto, eu sou eu, eu tenho TOC com essas coisas… eu, eu sou muito chata com essas coisas, tenho muito nojinho. 

Guilherme: Espera o tempo certo, fala pra ele assim: “vem cá!” 

Letícia: Não, mas eu não quero namorar não, gente, tô bem, tô ótima! 

Guilherme: Namorar? Tamo falando só de fulano. 

Otávio: Ninguém falou de namorar… Ah, fulano tá namorando… Ah, tá namorando? Contra quem?

Letícia: É que o Tiago já tá aqui “Cês vão namorar, cê sabe, né?” Não sei de nada, querido… Quem sabe do futuro, só Deus, e olha lá… 

Otávio: Manda ele tomar no cu. Vai tomar no cu, Tiago!

Letícia: Vai tomar no cu, Tiago!

Tiago: Gente, vocês gostam de mandar eu tomar no cu né, incrível!

Letícia: Mas você também gosta, você gosta de tomar no cu… 

Tiago: Então, galera, pra terminar, resumão do que que significa um aspie na balada, os  nossos sentimentos: Pra mim, é terror, lágrimas e gente bêbada enchendo o saco. 

Letícia: E quando a gente falar “a gente não quer ir”, não insiste, por favor. 

Otávio: Não é não, caralho!

Guilherme: As minhas considerações finais são que: Não insista, por favor. A gente não curte tudo que as pessoas curtem!

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Equipe Introvertendo Escrito por: