Introvertendo 114 – Pokémon

Por décadas, o mundo inteiro assistiu e jogou Pokémon, um dos universos mais complexos e instigantes da cultura pop. Mais do que isso, muitos autistas simplesmente amam Pokémon, ao ponto de surgirem especulações de que o criador do universo seria autista. Neste episódio, nossos podcasters trazem suas memórias sobre o jogo original, o anime, a febre em torno de Pokémon e o sucesso de Pokémon GO.

Participam: Otavio Crosara, Thaís Mösken e Tiago Abreu. Arte: Anna Flenik e Vin Lima. 

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Transcrição do episódio

Tiago: Um olá pra você que escuta o podcast Introvertendo, que é o principal podcast sobre autismo do Brasil. Meu nome é Tiago Abreu, sou jornalista, diagnosticado com autismo em 2015 e de uns anos pra cá virei fã dessa franquia que com certeza tem muita relação com o autismo.

Otávio: Olá, meu nome é Otávio, sou diagnosticado desde 2015, eu sei muito sobre Pokémon, mas prefiro Digimon (risos).

Thaís: Olá pessoal, aqui é a Thaís, eu também sou diagnosticada com Síndrome de Asperger. No caso, eu fui diagnosticada em 2018 e já que o Otávio já começou aqui com as polêmicas, pra mim são 151 pokémons e ponto, não tem nada além disso. (risos)

Tiago: (Risos)

Otavio: É perigoso falar isso, porque 151 ou ele não conta o Mew, ou ele não conta o Mewtho.

Thaís: 150 não conta um dos dois, 151 são os dois. O Mew é o 151 e o por Mewtho o 150 por algum motivo, porque pra mim o Mew vem antes do Mewtho (risos).

Tiago: É a primeira vez, inclusive, que Thaís e Otávio estão juntos aqui. O Otávio ficou muitos meses sem participar do podcast, então finalmente um dos nossos fundadores está de volta, espero que continue aqui com a gente muitas vezes.

Otavio: Sempre que me chamarem.

Tiago: Ou seja, ele está insinuando que a gente não tá chamando ele pro podcast, olha só (risos).

Otavio: Na verdade, porque deu problema no meu equipamento, mas daqui pra frente toda vez que vpcê me chamar eu vou participar.

Thaís: A palavra é sempre uma palavra muito poderosa, é perigoso usar isso.

Tiago: (Risos) Vale lembrar que o Introvertendo é feito por dez autistas que participam da comunidade do autismo cujo podcast é uma produção da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Tiago: Pokémon é um dos universos ficcionais mais complexos e bem sucedidos da história. Então, é difícil falar aqui sobre ele detalhadamente sem que estouremos a cota do tempo. Então, vou tentar ser bastante preciso aqui com vocês que ouvem o Introvertendo. Em resumo, a franquia se estabeleceu no ano de 1996, a partir do jogo feito para game boy que inclui a possibilidade de você capturar pokémons e trocar com seus amigos. A franquia foi um sucesso, não só pelo jogo, mas também por uma série de obras. Então, a gente pode encontrar desde mangá, série de TV, filmes e bonecos. Ela pertence a três empresas que são a Nintendo, Game Freak e Creatures. Mas como nosso podcast é sobre autismo, dá pra se presumir que a gente tem que fazer alguma ligação com o autismo aqui e essa ligação começa pelo seu criador que é o Satoshi Tajiri, porque há muito tempo surgiram especulações de que ele era autista. É uma lenda urbana do tipo que a gente falou no episódio anterior sobre o Messi, ou seja, um desses casos que não tem nenhuma confiabilidade, mas as pessoas reproduzem, sabe-se lá por qual motivo. Alguém disse num fórum, alguém comentou no falecido MySpace, um blog publicou um texto e pum, fake news recorrente. Vamos investigar um pouco disso, entender o porquê surgiram essas especulações. Ele era uma criança que amava colecionar insetos e fazer uma luta de insetos com seus amigos. E daí vem a ideia original de Pokémon, inclusive. Na adolescência e o processo de urbanização que ocorrendo no Japão, ele desenvolveu uma paixão muito grande por jogos e abandonou essa parte dos insetos, o que atrapalhou bastante o seu rendimento na escola. Ele preferia ficar muito tempo jogando, matava aulas, reprovava nos conteúdos, era uma criança problemática, digamos assim, por isso ele nem chegou a terminar os estudos direito, embora ele tenha estudado programação para desenvolver os jogos que ele queria na Game Freak. Então, as pessoas que acreditam que o Satochi seja autista se baseiam nesse histórico e naquela ideia distorcida de que autistas são gênios. Só que essas pessoas se esquecem que primeiro, as crianças colecionarem insetos não era algo incomum no Japão, principalmente antes desse processo de urbanização. E jogos, isso é mais óbvio, você conhece um monte de criança que é viciada em jogos e não necessariamente elas são autistas. Tem que tomar muito cuidado com essas associações.

Otavio: É, exatamente, elas são simplesmente crianças. Após o lançamento para Game Boy em 1996, em 1997 foi lançado o anime. A primeira temporada foi baseada na primeira geração e o anime continua até os dias de hoje. A linha de jogos principal já chegou na oitava geração e o anime já tem mais de mil episódios. Um monte de gente assiste ainda, é considerado o anime mais popular entre os derivados de um videogame, uma sensação até entre os adultos que cresceram vendo isso. O único personagem que não muda mesmo é o Ash, que tá presente em todos os episódios. Existe até aquela brincadeira de que o anime existe há mais de vinte anos e o Ash continua com dez anos. Essa é uma das críticas que o Anime recebeu, por ter linha temporal flutuante. Mas o interessante do Pokémon é que ele mantém a mesma fórmula e ter dado certo, qual que é a fórmula? Ash vai para uma área, conhece todos os Pokémons e ele fracassa em virar o mestre pokémon daquela área. Até que, em uma das temporadas mais recentes, que eu não lembro o nome, ele conseguiu vencer o campeonato.

Tiago: É de Alola.

Otavio: Isso, e virou memes. O Ash, depois de vinte e tantos anos, conseguiu realizar o sonho dele. Eu gostaria de dar um adendo, existe um anime de Pokémon chamado Pokemon Red, que infelizmente só tem quatro episódios.

Tiago: Ele é o feito com o Red, né?

Otavio: Exatamente, ele é feito com o que é o nome do personagem nos jogos originais e nesse nesses quatro episódios se limita a primeira geração.

Thaís: O Otávio falou bastante aí do anime em si, eu não sei quantas pessoas que tão ouvindo aqui assistiram originalmente quando o Pokémon passou na TV, passou na Record e era uma febre nas escolas, a gente falando sobre isso, trocando figurinha, era mais do que só o anime, tinham muitos produtos baseados em Pokémon. Então, tinha o álbum de figurinhas colecionáveis. Eu tive o primeiro álbum completo, inclusive, gastei muito do dinheiro de criança para comprar uma figurinha. Eu lembro que eu fiquei muito feliz e aí eu comprei o segundo álbum pra começar tudo de novo, claro. Eu ainda tenho esses álbuns guardados, inclusive, mas não estão aqui em Florianópolis comigo, estão na casa da minha mãe atualmente. E, além das figurinhas, a gente teve também época as pitchulas com pokébolas. Eram como se fosse um guaraná pequenininho que em cima vinha uma pokébola e dentro dela dava pra abrir e vinha uma miniatura de Pokemon. Então, aquilo também era um colecionável que a gente também trocava muito na escola. Eu lembro que eu nunca gostei de guaraná, até hoje eu não gosto e eu comprava, tirava pokebola e passava o guaraná pras outras pessoas.

Tiago: Diferentemente de vocês, eu não tive contato na infância com Pokémon porque eu nasci numa família muito religiosa e também eu sempre fui muito regradinho. Então, de uma forma geral, o meu contexto com desenhos era muito TV cultura. Isso me fez aproveitar muita coisa que outras crianças tiveram, mas esse universo mais de Pokemon, Dragon Ball e etc sempre foram considerados satânicos e eu não tive acesso a eles com facilidade. As coisas começaram a mudar depois que saiu Pokémon Go, que a gente vai falar já já. E depois que eu conheci Pokémon Go comecei a jogar e comecei a aprender um pouco sobre o universo de Pokémon, e eu quis assistir o anime por conta própria depois de adulto. As pessoas geralmente me zoavam assim falando que era estranho assistir “esse negócio tão de criança”, mas eu falava que não tive esse contato com o Pokémon durante a infância, então, de certa forma, é uma forma de recuperar o tempo perdido. Eu assisti até agora até o episódio 705, tô há um ano assistindo, em média. Então, eu vi cinco gerações. Eu tenho dificuldade de dividir Pokémon por temporada, pra mim na verdade cada temporada seria uma geração por completo. E eu percebo que por mais que o Otávio tenha dito mais cedo que Pokémon mantém a mesma história, eu acho que isso também tem um pouco de medo de se arriscar. A gente tem três grandes personagens no início de Pokémon que até hoje são os mais populares. A Misty sai antes da terceira geração e o Brock sai depois da quarta geração. E eu percebo que quando Ash entra em o Unova, que é a quinta geração, a história perde o chão, porque eles começam uma história recomeçando toda aquela questão de Kanto, traz dois personagens que não são muito bem desenvolvidos, eles tentam amadurecer a Equipe Rocket, mas não dá muito certo. Então, eu percebo que Pokémon sempre teve essa dificuldade de se atualizar até um certo momento, porque como o próprio Otávio falou, a linha narrativa é bem zoada. O Ash não envelhece e é engraçado que quando o personagem de um anime, vai ficando poderoso ou experiente e você não tem como evoluir muito, o que que você faz? Você tira todo o poder do personagem e torna ele um bobo. Isso acontece com o Ash várias vezes. Mas eu gosto muito de vários personagens, não só os três principais, mas eu gosto também muito do Max, da May, a Dawn pra mim é uma das personagens que tem um dos arcos mais fortes, eu acho que Sinooh até agora é a geração mais bem desenvolvida, que tem uma vilã bem construída e que realmente impõe respeito, que é a caçadora J, tem todo um arco narrativo legal e Unova estragou bastante a minha experiência. Eu acho que o fator nostalgia pesa muito pras pessoas. É muito frequente fazerem associações de autistas com Pokémon. E Pokémon Go, de uma certa forma, ajudou muito a popularizar isso de anos pra cá.

Thaís: Seguindo aqui com o que a gente tava falando de nostalgia, pra quem assistiu o primeiro filme no cinema deve lembrar que junto com os muitos produtos que foram lançados foi lançado também um CD de Pokémon. Eu acho que era a única categoria de músicas em que eu concordava em ouvir na perua pra ir pra escola, porque em geral eu odiava as coisas que as pessoas escolhiam. Só que, mesmo na época, eu percebi que aquelas músicas não faziam o menor sentido, porque claro, tinha a música de abertura do anime e até hoje eu e alguns colegas do trabalho ouvimos essa música às vezes por nostalgia, mas tinha músicas bem bizarras. E tem uma música da Misty romântica que fala sobre até casamento. E você olha e compara com o anime e não faz o menor sentido. Então, pra mim foi uma das coisas que ficaram muito claras, mesmo quando eu era criança era óbvio que foi um CD com músicas meio que aleatórias, lançadas justamente pra pegar essa onda de gente comprando com esse Pokémon.

Thaís: É engraçado isso, porque a Misty nutre um certo sentimento pelo Ash, mas o anime não deixa isso muito explícito e só mostra algum momento outro de ciúme quando outra menina alerta com ele. Mas os dois mantém um companheirismo. Você falou de música e eu lembrei de uma música muito estranha que toca nos créditos do anime, quando o Ash está nas batalhas da fronteira, que tem um verso chamado “você leva um chute e cai duro no chão”. E eu nunca tirei da minha cabeça o quanto que essa música é bizarra.

Otavio: Meu Deus, não estraguem a minha infância.

Thaís: (Risos)

Tiago: (Risos)

Thaís: Mas realmente, se vocês pegarem as músicas que tem nesse CD tem umas coisas bem estranhas. Eu concordo com a com a impressão que você teve, Tiago, de que parecia às vezes ter um comportamento de ciúmes, mas não chegava a ser um romance desenvolvido.

Otavio: Eu tô achando de que os pais do Tiago estavam corretos em proibir, esse negócio é satanista (risos).

Thaís: Como eu comentei, eu tomei o primeiro contato com Pokémon pelo anime, mas depois que eu já tava virando fã, o meu sonho era ter um Game Boy. Quando eu cresci e aprendi o que era um emulador, eu baixei um no meu antigo computador e eu cheguei a jogar o Pokémon. Mas como o Tiago falou, é um jogo que tem muito aspecto social. Então, jogando pelo emulador, eu não conseguia, por exemplo, fazer as trocas de Pokémon pra ter todas as evoluções que eram necessárias.  Não é tão comum você lembrar de jogos antigos eletrônicos que te forçam realmente a ter contato social. E o Pokémon Go voltou muito com essa ideia, mas infelizmente o meu principal problema com Pokémon Go é que o meu celular era muito ruim. Eu acabei desistindo, porque só a parte inicial do jogo não te dá muitas possibilidades do que fazer. E aí eu nunca mais joguei, só ouço o Tiago falando de Pokémon Go.

Tiago: Inclusive a Thaís falou de experiência com Pokémon Go e eu preciso reforçar que dos dez integrantes do Introvertendo, cinco chegaram a jogar. No caso eu, a Thaís, o Otávio, o Paulo e o Luca. Eu inclusive cheguei no nível 40, que é o nível mais alto de Pokémon Go. O que me atraiu realmente pro universo foi ter um celular melhor, então eu só pude começar a jogar Pokémon Go no final de 2018. Eu queria perguntar pro Otávio, qual foi a experiência dele com Pokémon Go?

Otavio: Quando anunciaram o conceito, todo mundo ficou louco, nunca vi uma nostalgia bater de forma tão prevalente no mundo todo, porque todo mundo só falava nisso. Aqui no Brasil saiu às 22h30min da noite, eu não lembro que dia, mas eu tava jogando. Eu saí pelas ruas e eu vi um monte de gente jogando já naquela noite, sabe?

Thaís: Uma coisa que eu eu percebi que aconteceu na época, não sei se também em Goiânia tinha esse problema, mas em São Paulo é perigoso você andar e tava tendo muito assalto, porque as pessoas estavam prestando menos atenção no que elas estavam fazendo enquanto andavam por aí. Tava tendo atropelamento, tinha gente caindo na linha de metrô, ou pelo menos era o que circulava do que falavam. E eu acho que era verdade, porque no metrô eu vi um cartaz de pedido de atenção, e era uma pessoa segurando o celular e aí ela tinha o bonezinho do Ash. Pra mim ficou muito claro que era um aviso baseado em Pokémon.

Otavio: Aqui em Goiânia também teve muito disso. Houve aviso da Prefeitura e a gente achava engraçado demais.

Tiago: Pra fechar, eu queria saber a opinião de vocês sobre o futuro da franquia, porque a gente sabe que o Ash venceu a liga, eu até converso muito com o meu irmão que tem dez anos e gosta muito de Pokémon, ele acha que tem que durar Pokémon pelo resto da humanidade. Acho que tudo na vida tem que ter um fim, desde qualquer projeto de entretenimento, até o Introvertendo, vai ter um dia de fim, infelizmente, então, tudo tem que acabar….

Otavio: Ou, que merda é essa, velho? Para de falar bosta. Introvertendo vai durar até o final dos tempos!

Tiago: Eu acho que deveria ter um encerramento, agora que o Ash venceu a Liga, eu acho que ele deveria, de certa forma ter uma temporada em que ele reencontrasse pelo menos os protagonistas das outras temporadas e ter um fechamento legal. Já os jogos eu acho que poderia continuar, tem um universo muito vasto para desenvolver.

Otavio: É uma coisa certa, assim que os jogos começarem a decair nas vendas, o anime vai parar também. Eu acredito que o anime é uma consequência dos jogos. E tem muita gente reclamando de que os Pokémons estão ficando muito estranhos. É difícil mesmo num espaço mais de 30 anos você criar mais de oitocentas criaturas. Isso é um problema, quantos mais lendários eles vão criar, sabe? Então, assim, eu acho que não vai acabar por agora, mas vai acabar um dia. Porque, como você falou, tudo acaba uma hora. Então, vamos quanto a gente pode.

Thaís: Eu acho que é muito provável que aconteça como já aconteceu com outros animes longos, ou seja, ou eles terminam de um jeito meio apressado, digamos assim, porque já é algo que tá se desenvolvendo há muito tempo ou então é muito provável que eles não cheguem a dar um final, deixa em aberto, não acho que vá ser um final muito bem planejado, não pra algo que é tão longo. Mas eu não vou falar que eu espero alguma coisa especificamente, porque hoje em dia eu nem tenho mais acompanhado o universo.

Tiago: E você, tem alguma história com Pokémon pra nos compartilhar? Escreva para nosso email e conte a sua história para nós.

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Equipe Introvertendo Escrito por: