Introvertendo 104 – Lidando com Mudanças

Inevitáveis, as mudanças podem se manifestar de formas diferentes. Nós só temos uma certeza: sempre terá situações novas e potencialmente desagradáveis para se lidar. Por isso, é importante discutir as mudanças sabendo que não aceitá-las não é uma opção. Sob esta perspectiva, conversamos como é isso para autistas e formas de desenvolver flexibilidade diante de adversidades.

Participam: Michael Ulian, Thaís Mösken e Willian Chimura.

Links e informações úteis

Para nos enviar sugestões de temas, críticas, mensagens em geral, utilize o email ouvinte@introvertendo.com.br, ou a seção de comentários deste post. Se você é de alguma organização, ou pesquisador, e deseja ter o Introvertendo ou nossos membros como tema de algum material, palestra ou na cobertura de eventos, utilize o email contato@introvertendo.com.br.

Apoie o Introvertendo no PicPay ou no Padrim: Agradecemos aos nossos patrões: Francisco Paiva Junior, Luanda Queiroz, Priscila Preard Andrade Maciel e Vanessa Maciel Zeitouni.

Acompanhe-nos nas plataformas: O Introvertendo está nas seguintes plataformas: Spotify | DeezerCastBox | Google Podcasts | Apple Podcasts e outras. Siga o nosso perfil no Spotify e acompanhe as nossas playlists com episódios de podcasts.

*

Transcrição do episódio

Thaís: Um olá pra você que é ouvinte do podcast Introvertendo, podcast feito só por autistas para toda a comunidade (não apenas para autistas). Hoje nós vamos falar sobre como lidar com mudanças e eu vou ser a host desse podcast. Meu nome é Thaís, eu sou daqui de Florianópolis e vamos apresentar os nossos outros convidados.

Michael: Eu sou o Michael, o Gaivota, e eu mudo mais de casa do que eu mudo de meia.

Thaís: A meia do Michael talvez não seja recomendada.

Willian: (Risos) Olá, eu sou o Willian Chimura, e lidar com mudanças pode ser difícil para todo mundo e para autistas é ainda mais difícil.

Thaís: Lembrando que o Introvertendo é um podcast feito por dez autistas com a assinatura da Superplayer & Co. E agora vamos começar a nossa discussão.

Bloco geral de discussão

Thaís: Como que vocês encaram as mudanças, os aspectos positivos e negativos das mudanças? Porque nem tudo é só desvantagem também, né?

Michael: Acho que eu vou ter que discordar com minha frase mais típica que eu uso aqui no podcast, que é: o lado bom de mudança é que não tem lado bom. No meu caso específico, tenho uma visão bastante negativa de mudança, principalmente de mudanças físicas, ter que mudar de uma casa pra outra ou ter que mudar de uma rotina pra outra.

Thaís: Mas será que as vezes você não muda pra melhor também?

Michael: Deixa eu explicar minha situação. É porque, em média, nos últimos dez anos, eu passei 6 meses morando no mesmo lugar antes de mudar para o próximo. Nos últimos dez anos. O único lugar que eu fiquei por mais tempo na mesma casa foram os dois anos da faculdade em Goiânia. Então eu tenho a experiência dessa questão de ter mudado constantemente elevada ao máximo que eu acho ser possível dentro de uma situação relativamente comum. Ou seja, eu basicamente não tenho o conceito de casa fixa. Eu não tenho conceito de um lugar que possa chamar: “essa é minha casa”. De certa forma, isso me ajudou, porque quando eu mudo pelo menos tenho uma adaptabilidade relativamente rápida pra tentar restabelecer uma rotina. Porém, como é toda hora, acaba sendo muito maçante. Eu acabei criando uma visão bastante negativa das mudanças e isso se reflete também para basicamente qualquer mudança que aconteça, seja na rotina, seja pessoal, seja física, uma mudança já tá associada para mim com ansiedade.

Willian: Eu também passei por algumas mudanças físicas, de casa, como o Michael citou. Acho que a principal mudança na minha vida é o fato de que eu nasci em São Paulo capital e em 2000 mudei para uma cidade pequena do interior do estado de São Paulo. Então isso até que me ajuda em certa parte porque minhas memórias do que aconteceu em São Paulo capital, aconteceu depois de determinada idade. E as memórias do que eu tive em Palmital, onde morei depois, aconteceu depois de determinada idade. E depois disso também tive outras mudanças, tive a oportunidade de estudar fora, morei por um ano nos Estados Unidos, na Califórnia, então realmente há várias mudanças que eu enxergo que, de certa forma, foram realmente boas, porque estavam num contexto. Foi algo divertido porque quando eu morava em São Paulo, capital, eu sempre tinha aquela vontade de, por exemplo, estar mais próximo dos meus primos, porque eles tinham videogame e eu não tinha acesso a outras pessoas que compartilharam do meu hiperfoco. Ter me mudado para o interior foi algo bom na minha vida porque eu tive mais acesso e possibilidades para me socializar com esses meus primos que também tinham esse interesse. E é claro que, quando eu me mudei para os Estados Unidos, também estava num contexto muito agradável. Porque no final das contas era algo que eu queria realmente, queria estudar em uma university na Califórnia e queria muito ter essa experiência. Foi um algo muito motivador que fez eu, digamos, assim, quebrar diversas barreiras ali. Então, em geral, realmente eu vejo que por mais que as mudanças foram muito difíceis, com certeza me ajudou a conseguir lidar minimamente bem com essas mudanças e o fato de ter mudado realmente foi crucial para o desenvolvimento de algumas habilidades, desenvolver mais autonomia da forma que eu tenho hoje.

Thaís: E eu acho que essa é uma grande diferença entre as mudanças que estão sobre o nosso controle e aquelas que são forçadas (que simplesmente acontecem com a gente). Quando tem alguma coisa sobre o nosso controle, a gente vai tentar melhorar a nossa vida de alguma forma, então eu penso, por exemplo, quando eu vim aqui pra Florianópolis, eu tinha me formado em engenharia e eu resolvi mudar completamente da área em que eu ia trabalhar e vim pra um emprego que hoje me faz bastante feliz e me satisfaz, mas não foi uma mudança sem estresse, por mais que eu tenha optado por ela. Ao mesmo tempo, eu tive que mudar de uma casa que era muito grande, muito boa e confortável lá em São Paulo, para um quitinete que é onde eu moro até hoje e teve aspectos que eu escolhi e que não eram exatamente o que eu escolheria se eu tivesse todas as opções possíveis. Mas dado o cenário, eu acho que a gente tenta fazer o melhor possível com as opções que não são dadas. Então eu vejo aspectos positivos nas mudanças sim, apesar de sempre ter um nível de estresse bastante grande neles. E aí eu queria saber de vocês: dado que algumas mudanças são inevitáveis, não vale escolher não ter mudança, vocês preferem que as mudanças sejam súbitas (se é pra acontecer que aconteça logo e vamos passar por isso) ou que sejam mais graduais (e, portanto, ter um tempo maior de se adaptar)? E vocês fazem alguma coisa pra manter esse controle?

Michael: No meu caso, na teoria, eu gosto de trabalhar com a ideia de que qualquer coisa que eu tenha que mudar, que seja da forma mais gradual possível, idealmente. Já tive que mudar o banheiro que eu uso e demorou uns dois anos até me acostumar com isso, dando exemplo bem tosco aqui. Mas, na prática, acontece que graças a senhora ansiedade, quando eu percebo que surge alguma coisa que eu tenho que modificar, eu geralmente tento acelerar o máximo e garantir que esse processo termine o mais rápido possível. Quando eu decidi que eu ia fazer faculdade, faltava três meses pro Enem. Quando deu o resultado de que eu passei na UFG, foram cinco dias para organizar toda documentação, botar minha mudança na mala e aí já tava morando lá em Goiânia. Eu realmente adoraria que as mudanças fossem bem graduais, algo que eu poderia levar no meu próprio tempo mas, na prática, eu tenho que fazer as coisas mais rápido possível para simplesmente acabar logo com isso.

Willian: Idealmente, as mudanças sempre devem ser graduais. Pensando que a lógica de não lidar bem com mudanças é justamente que, se você já tem o seu ambiente muito bem conhecido, você já tem o controle sobre aquele ambiente. E aí não tem motivos para você se arriscar, digamos, e fazer uma mudança muito súbita, muito abrupta. Algumas variáveis vão se comportar de alguma maneira que vai ser imprevisível pra você, que vai te causar algum mal ou que, de alguma certa forma, vai te privar de ter algum benefício. Isso acontece com todo mundo, nós somente com autistas. Por exemplo, se uma pessoa vai ao seu trabalho e sempre toma uma determinada rota pra ir ao seu trabalho, ela não necessariamente vai querer se aventurar a tomar uma outra rota num dia que é importante ela chegar cedo no trabalho. Manter rituais é uma técnica que todas as pessoas fazem para ter certeza de que os resultados esperados serão garantidos. E a gente sabe que os autistas têm uma certa rigidez maior, justamente porque as pequenas mudanças podem afetar muito a gente. Então a gente precisa de mais controle, mais rigidez no nosso ambiente para justamente safar. Mas como a Thaís mesmo falou, mudanças são inevitáveis e infelizmente a gente não pode simplesmente ficar no mesmo ambiente com as mesmas variáveis do mesmo jeito sempre. Por isso que a gente sempre fala o quanto é importante a gente desenvolver essa flexibilidade. E também, como eu disse no meu relato, eu enxergo que foi importante e eu tive sorte de, ao longo da minha vida, essas grandes mudanças sempre estiveram claramente associadas a coisas boas, porque isso fez,com que eu conseguisse lidar com essas grandes mudanças da melhor maneira possível. Ao mesmo tempo, já houve diversas pequenas mudanças que me causaram muita dificuldade e frustração. Mudanças no sentido de que, por exemplo, “eu vou precisar ficar em um quarto que não tem uma tomada com a voltagem correspondente ao meu videogame”. Eu era uma criança/adolescente de rigidez mais acentuada. Tenho até hoje na verdade, mas quando eu era criança definitivamente era mais difícil. Então, por exemplo, essa pequena mudança foi algo inesperado. Na nova casa que os meus pais tinham eu precisaria ficar determinado quarto e naquele quarto realmente não tinha uma tomada com a voltagem correspondente e a gente não tinha um transformador. Transformador na época não era algo tão acessível e não era comum que os eletrodomésticos fossem bivolt. Por mais se houvesse outros argumentos, como por exemplo, “você pode esperar, a gente vai conseguir o transformador,  você pode deixar o videogame na sala ou deixar o videogame em outro cômodo”, eu já tinha aquela expectativa que o videogame estaria no mesmo lugar que eu ia dormir no meu quarto, eu teria aquele meu canto pra jogar. E no momento que eu vejo que a expectativa é rompida, eu perco controle do ambiente e isso acaba sendo uma frustração muito grande. Seria ideal que essa mudança fosse gradualmente, trabalhada no sentido: “olha o videogame tá atrapalhando seus estudos, vai atrapalhar no seu sono”. Vamos supor então  que seria ideal que a gente tivesse dois videogames e aí aos poucos os meus pais e os meus amigos fossem trabalhando comigo, passando tempo comigo em outro ambiente do que no meu quarto e aí, pouco a pouco, a gente ia retirando a disponibilidade do videogame do meu quarto. Mas você entende a inviabilidade de fazer isso? Porque minha família não iria ter dinheiro para comprar dois videogames. Foi um um sentimento muito ruim que eu tive que lidar e que deixa explícito o quanto pode ser relativa essa questão do que que a gente vai considerar como uma mudança grande ou uma mudança pequena, uma mudança súbita ou uma mudança também gradual, afinal uma pequena mudança faz toda diferença pra pessoa com autismo. Então, realmente quando a gente fala sobre mudanças sobre uma ótica autista, os nossos critérios do que é pequeno e do que é grande, pode ser um pouco diferente.

Thaís: Eu achei interessante também que, com essa história do videogame, eu tava pensando que quando a gente é criança, a gente tem muito menos controle sobre a nossa vida de forma geral. Às vezes, eu já fiz umas mudanças bem esquisitas no meu quarto, por exemplo, e não tem ninguém pra falar o que eu posso ou não posso. Então, eu acho que o nosso problema com mudança tem bastante a ver tanto com essa quebra de expectativas. quanto com a falta de controle que a gente tem de nós mesmos. Eu prefiro também uma mudança gradual, mas principalmente no aspecto de que eu gosto de me preparar pra ela, então às vezes também funciona eu ficar sabendo dela antes pra já ir mapeando o que eu posso fazer com relação a aquilo que vai mudar. Como eu sou uma pessoa muito processual, eu preciso sempre fazer mapeamentos das coisas e pensar como eu vou agir dependendo das circunstâncias. Então, dado o esse cenário aqui nessa mudança, mesmo que seja algo que eu não tenho certeza. Se aquilo vai acontecer, eu vou criando ansiedade e dado momento em que eu já tenho esse mapeamento pronto, aí eu concordo com o que o Michael tava falando que aí eu prefiro que a mudança seja de uma vez porque aí eu já tô pronta pra ela, então que venha logo. Mas eu preciso muito ter esse mapeamento pronto antes, porque aí, mesmo que alguma coisa quebre as minhas expectativas, eu já tenho mais ou menos uma direção de como agir. Aquilo ainda pode me estressar, ainda pode me deixar exausta, mas eu já tenho direcionamento. Então eu consigo me focar naquele direcionamento às vezes, inclusive dando ordens muito curtas pra mim mesma. E isso às vezes funciona, eu funciono a base de ordens curtas, de duas ou três palavras apenas.

Willian: É, essa questão da previsibilidade que você citou é importantíssima. Porque justamente uma das técnicas que podem ser exploradas para minimizar os danos é poder oferecer previsibilidade para essa pessoa com autismo, pra ela saber o que que vai vir pela frente. E é importante sempre tentar oferecer a previsibilidade da forma mais precisa possível, porque se ela não for realmente correspondente, pode ocorrer uma quebra de expectativa e vem a frustração, como aconteceu no meu caso que eu tinha falado da história do videogame e a tomada de outra voltagem.

Thaís: A gente já falou bastante sobre como as mudanças podem afetar a gente e contamos algumas das estratégias que a gente usa pra lidar com mudanças. Mas eu acho bem importante, pra lembrar os nossos ouvintes, o que eles podem fazer nessas situações justamente por serem situações às vezes tão difíceis e tão estressantes. Lembrando disso se vocês pudessem resumir o que vocês fazem pra tentar lidar melhor com as mudanças…

Willian: Pelo menos agora na vida adulta, como um autista diagnosticado com Síndrome de Asperger, eu passei anotar agora também o quanto eu não necessariamente considerava que mudanças poderiam ser boas pra mim. Por exemplo, eu estou aqui há mais de um ano morando no mesmo apartamento e acaba ficando muito claro que eu não sou muito atento ao meu próprio ambiente. Por exemplo, em um outro apartamento que eu morei, eu tinha uma garagem, que era associada ao meu apartamento, algo comum dos condomínios, mas eu passei quase dois anos morando naquele apartamento e eu nunca tinha visitado a garagem. Nunca fui sequer uma vez na garagem. Então o ponto é que uma vez que os meus padrões e rituais se revelam, eu me mantenho naqueles padrões e muitas vezes eu nem considero que algumas mudanças podem ser feitas para melhorar a minha qualidade de vida. No momento, a mudança que eu estou considerando agora, por exemplo, é que faz mais de um ano que eu moro nesse apartamento e agora eu tenho pensado em encontrar uma mesa para colocar no meu quarto. E eu acho que vai ser uma mudança muito positiva porque vou ter dois ambientes que eu possa interagir, computador, ler livros, estudar e etc. Eu acho que vai ser algo muito positivo, mas como eu já tinha desenvolvido um ritual que já envolvia o meu computador em determinado lugar, os meus livros em determinados lugares, eu nem sequer tinha considerado que eu poderia alterar o meu ambiente pra me auxiliar em melhorar alguns hábitos. Eu considero desejável essa questão de ter consciência e prestar muita atenção em como o ambiente pode afetar os seus hábitos, tanto minimizar comportamentos que você vai considerar como desagradáveis e maximizar a probabilidade de comportamentos bons. E um profissional pode ajudar bastante. Eu me lembro que quando eu fiz psicoterapia, o que foi me levar ao diagnóstico foi justamente o hábito de começar a prestar mais atenção em como eu me porto em relação às pessoas típicas, porque até antes de ir a psicoterapia, eu nunca tinha parado para realmente prestar atenção em quais comportamentos meus eu iria considerar como comportamentos que me trazem consequências que não são muito legais pra mim ou pras outras pessoas à minha volta. E foi justamente a psicoterapia que me possibilitou começar a prestar atenção nisso, então pra mim essa foi uma habilidade que me trouxe muito benefícios. E eu também vejo que, no caso de um pai ou de uma mãe de uma pessoa com autismo, uma criança, por exemplo, eu considero sim que o desenvolvimento dessa habilidade é importante. E é claro, inevitavelmente, pra você ter os melhores resultados, você tem que necessariamente estar associado a um profissional e contratar algum serviço específico que tem a já experiência para trabalhar com esse tipo de condição. Eu sempre defendo muito que justamente a intervenção para uma pessoa com autismo precisa ser a mais eficaz possível e quando a gente fala de eficácia, necessariamente a gente tem que falar sobre práticas baseadas em evidência. Ou seja, aquelas que historicamente a gente sabe que funcionam e que tem funcionado no passado para pessoas com autismo. A gente sabe com certeza que as práticas que são baseadas na Análise do comportamento aplicada, ou seja, os profissionais que trabalham com essa abordagem, são os que estarão mais aptos a conseguirem resultados positivos para a pessoa com autismo, é claro. E estou falando aqui de profissionais capacitados. Existem sim também outras intervenções que também podem ser consideradas como baseadas em evidências, mas em geral as abordagens comportamentalistas, ou seja, as baseadas na famosa ABA são as que realmente trazem o melhor benefício.

Michael: Acho que a gente já foi sobre isso no episódio Expectativa e Realidade, é que eu tento ao máximo não pensar muito pra frente do que eu tô fazendo. O meu maior problema quando tá acontecendo alguma coisa é pensar no efeito de que isso vai ter pelos próximos dez anos. Ou seja, tento acalmar um pouco, tentar pensar um pouco no máximo para alguns dias.

Thaís: Eu como cheguei a comentar, foi uma pessoa muito processual. Pra mim mapeamento é o que é mais importante pra eu conseguir lidar com mudanças. Diferentemente do que o Michael falou, eu adapto bastante o tanto de tempo que eu penso a frente dependendo de qual é o problema com o que eu tô lidando. Então, por exemplo, se eu tiver que pensar em uma mudança de emprego como aconteceu comigo, uma mudança de casa, eu tento pensar bem a frente, porque pra mim essas são coisas difíceis e impactantes. Eu não mudei tanto de casa quanto o Michael, então pra mim isso é uma coisa impactante ainda hoje. Agora, se for uma mudança um pouco menor, por exemplo, se eu tiver que tirar uma mesa de um lugar e colocar em outro como aconteceu há duas semanas, eu primeiro desenhei como a mesa ficaria, se ela encaixaria bem, se teria uma tomada perto, coloquei todos os aspectos que eu achava relevantes e, sei lá… Em dez, quinze minutos, eu devo ter conseguido tomar a decisão sobre qual seria a nova situação. E uma coisa que eu acho bem importante: eu deixei um espaço para a mesa voltar pro lugar dela se eu precisasse voltar pra situação anterior. Me dá uma segurança aceitar uma mudança sabendo que ela não é definitiva. Agora tem mudanças que são definitivas e às vezes a gente não tem nada a fazer sobre isso. Então, o melhor que eu faço realmente é pensar com calma nos vários cenários. Sempre que possível também eu peço pra avisarem com antecedência de que vai ter uma mudança, por exemplo, no meu trabalho. Porque pode ser que dê muito errado e que me prejudique muito. E se me prejudicar, vai prejudicar a empresa. Então eu acho que explicar bem pras pessoas que é importante a gente saber com antecedência porque a gente vai usar aquela informação de um modo efetivo no nosso dia a dia. Quando as pessoas sabem isso, muitas vezes elas colaboram e dão essa informação pra gente antes. E, por último, uma coisa que eu tenho que tomar bastante cuidado, mas que eu ainda faço muitas vezes sem querer, é falar “não” preventivamente. Então, se alguém me apresenta uma possibilidade de mudança, eu primeiro falo “não” e depois de alguns minutos pode ser que eu pare pra pensar e perceba que aquela possibilidade de mudança realmente vai me ajudar em algo e aí eu volto atrás. Isso pode às vezes causar uns problemas de médio e quem sabe até longo prazo, dependendo da pessoa, se ela não tiver mais disposta a te ouvir depois, se depois você perceber que podia ter mudado de ideia. Eu espero que o que a gente trouxe hoje ajude quem ouviu e te dê ideias novas e que vocês tentem, na medida do possível, viver bem dentro do que vocês entenderem como “bem”.

Michael: Caramba, eu tô achando que este é o episódio mais sério que eu já fiz. Literalmente, a única piada que eu fiz até agora foi no começo.

Thaís: Você acha que essa é uma mudança positiva ou negativa?

Michael: (Risos)

Site amigo do surdo - Acessível em Libras - Hand Talk
Equipe Introvertendo Escrito por: