O poder do humor

Atualmente, num mundo individualista, categórico e iconofilico informacional, há uma crescente gama de desinformação e desrespeito às minorias não perceptíveis fisicamente. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é uma exceção à regra, tampouco o mais fácil de ser combatido, mas é uma das mais desconhecidas e estigmatizadas. Felizmente, pode ser combatido por atos simples e diretos, jamais pequenos, conscientes e descontraídos: O humor por meio dos memes.

Diferente dos acometidos pejorativamente -dentro do âmbito das redes sociais da Internet -, esse é um humor comedido consciente. Além de trazer descontração, traz um diálogo de realidades, muitas vezes irônicas: A visão neurotípica versus a visão neurodiversa.

Quebra-se a ideia de que um autista é uma pessoa insana e incapaz, o qual só entra em ataques de pânico nos momentos de sobrecargas, e tem um comportamento cognitivo severopor extrema apatia social e moral. Isso é impossível de ser uma verdade, pois todo o nosso trabalho na liga é majoritariamente feito por nós – aspergers e autistas, jovens e adultos -, os quais nunca seriam diagnosticados por métodos convencionais. Por esta razão, se veio a importância da nossa campanha “tire a máscara”, com o intuito da quebra de estigmas, ela mostra que – a cada simpatizante da campnha – o quão imaterial e abstrato o TEA pode ser em nossa sociedade; tal como é mal dito em grande parte das ideias a respeito. Estes, nítidos em séries e filmes com personagens auto-assumidamente pertencentes do espectro, como o garoto nerd asperger que só debate física e matemática (Sheldon – The Big Bang Theory); ou o adulto autista comprometido socialmente e detentor da síndrome de Savant (Rain Man – Rain Man).

Não é difícil você escutar ou ver alguém cometer um erro ou besteira e dizer que “foi muito autista”; ou “autistei agora”, principalmente entre os jovens da minha geração; tanto no meio virtual, quanto no real. Comediantes que ganham a vida por base do meio virtual (E.G.: Filthy Frank e PewDiePie), já cometeram graves deslizes preconceituosos a respeito das deficiências psico-cognitivas de nossa comunidade. O pior não está nas piadas sem graça deles, mas sim na repercussão que isso causa na juventude despretensiosa e inocente, que nada sabem dos nossos sufocos e sofrimentos de cada dia ao compartilharem e propagarem tal material – uma rede indireta de desinformação.

A supra essência da liga é mostrar que tal ideal não existe, o tornando inválido – como realmente é. Ela torna o ideal preconceituoso inválido, ao mostrar que a imagem errônea de quem não está dentro do espectro não existe; através do conflito simplista, uma imagem mais humanizada do autista é formada e um respeito maior é construído. Gosto de algumas piadas que fazem com a nossa dificuldade na compreensão de metáforas e alguns gestos, pois isso realmente acontece entre nós, apesar de não ser uma regra geral. A nossa compreensão lógica é maior que a emocional, todavia não quer dizer que não temos senso de humor (muitas vezes chegam a ser mais intensos e coesos), tampouco somos anti-sociaveis. Sem dúvidas é um pequeno trabalho, o que não quer dizer que não faça toda a diferença; pessoalmente, posso dizer que fez a toda para a minha vida e a aceitação das minhas limitações.

Dácio Jr.

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